quinta-feira, 21 de abril de 2005
quarta-feira, 2 de fevereiro de 2005
quinta-feira, 16 de setembro de 2004
Do conservadorismo
A vida é constante movimento. As tentativas de interromper esse fluxo, por mais assimétrico, desconcertante e vertiginoso que seja, devem ser consideradas crime contra a humanidade. Mudar está previsto no código genético de todos os seres. A própria palavra ser indica inconstância. Em inglês, francês e italiano os verbos ser e estar têm o mesmo significado. Em português têm interpretações diferentes, mas isso, longe de ser ruim, só amplia o signifcado. Todo estar é momentâneo. Nós estamos mais do que somos.
Mudar a disposição dos móveis, mudar de lugar, de cabelo, de cidade, de leitura, mudar de canal, mudar de moda sem entrar na moda da mudança não é mero exercício de vaidade, mas uma proposta de retorno à natureza. Porque assim como a natureza, somos seres em permanente transformação.
Tudo se transforma, mas é da natureza do ser humano achar que pode viver de forma independente da... natureza. E julgar-se extra-natureza é como declarar-se extra-terrestre. A tentativa de se conservar explorando os recursos naturais (recursos em mutação) traz conseqüências já conhecidas. A natureza, como os homens-bomba, vinga-se indiscriminadamente.
Nossa necessidade de mudança não precisa ser necessariamente uma renúncia ao que gostamos. Ficam os bons livros, os bons discos, os bons amigos, as boas maneiras. Manter um estado de coisas somente "porque é mais fácil" atesta nossa falência enquanto seres. Todo conservadorismo é uma opção pela barbárie. Resistir às mudanças é barbárie. Religiões dão a medida da barbárie. Códigos penais reproduzem a barbárie. A política partidária é a barbárie.
Entendo a necessidade da quietude e da meditação, esse esporte para evitar o pensamento, quando a velocidade das mudanças parece ter perdido o controle. Mas essa postura não deve ser estendida a todos os momentos da vida. O conservadorismo é absurdo porque tenta dar ordem ao que foi feito para ser apenas caos. A vida é o Samba do Lavoisier doido: Na natureza (na natureza!) Nada se cria (nada se cria!) Nada se perde (nada se perde!) Tudo se transforma (transforma!! transforma!!).
A vida é um rio.
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