quarta-feira, 28 de setembro de 2005

Belo Horizonte - ACREDITO NA BLOGOSFERA como novo espaço público habermasiano, lugar de gestação de novas políticas de comunicação, onde a liberdade de pensamento e a possibilidade de intervenção sejam plenas. Os sistemas de comentários dos blogs serão fantasmas assombrando a grande imprensa, num futuro muito próximo. Os mass media precisam se render à manifestação da audiência, ou seu modelo entrará em colapso. Políticas públicas globais de comunicação, já!

segunda-feira, 26 de setembro de 2005

Belo Horizonte - MANTENHO ESTE BLOG HÁ ANOS e os resultados de audiência para uma nova proposta de texto em quatro dimensões (quer entender, leia os arquivos, cansei de desperdiçar HTML) são pífios. O que faz pensar se a manutenção deste espaço vale a pena. Não trato blog como terapia, passatempo ou modismo, nem condeno sua utilização dessa forma. Escrevo para formar leitores, uns trezentos a quinhentos, que possam consumir minha produção literária chinfrim no futuro. Blogar cria atalhos no percurso literário.

sexta-feira, 23 de setembro de 2005

Belo Horizonte - NOSSOS ESCRITOS DIGITAIS SÃO GARANTIA DE ETERNIDADE? Teremos, com nossos blogs encontrado a solução para o grande dilema sartriano? Teremos oportunidade, como nas crenças monoteístas, de que um grande backup salve nossos textos toscos da destruição e forje uma Bíblia do futuro, destinada a uma nova humanidade, bárbara e destecnologizada?

quinta-feira, 22 de setembro de 2005

Belo Horizonte - BLOGS SÃO COMO DRUGS. Ao tornar-se usuário, nunca se sabe quando parar. A dependência pode durar anos. Mais da metade dos blogs (e eles existem aos milhões) morrem em 24 horas. Há uma quantidade absurda de cadáveres de blogs por aí. A maior parte não merece leitura, mas bons blogs também acabam. O André Muggiati não bloga mais. A Sidênia parou de blogar. A Lili e a Chris também pararam. O Luís Ene, querido crítico insuspeito d'além mar, matou o Ene Coisas. Já meus amigos Humberto e Vandré são mortos-vivos da blogosfera: vivem ressuscitando. Morrem os blogs, mas morrem também os autores de blogs, caso da Eduarda, que deixa órfão o Caderno de Sonhos, eternamente congelado em pixels, lacrado por senha inexpugnável.

Leio Alta Fidelidade, de Nick Hornby

Belo Horizonte - DEZ ANOS APÓS o seu lançamento e standartização como literatura pop e é a mesma coisa que lê-lo na época. O personagem Rob Flemming encarna tipo xiita que briga com fãs do Simple Minds e mantém uma mente de 16 anos em corpo de 35. Fui assim aos 23. Mais do que a Síndrome de Peter Pan, subsiste no protagonista o (bom?) e velho conservadorismo britânico, agregado à incapacidade de amadurecer um relacionamento. Tudo isso no meio dos milhares de discos que compõem a trilha sonora da sua vida. A complexidade psicológica de Flemming pode ser subestimada pelo leitor mais afoito ou demasiado exigente. Mas ela não comparece nos trechos abaixo:

A loja tem cheiro de fumaça choca, umidade e capas plásticas, e é estreita e lúgubre e suja e apinhada, em parte pórque é isso que eu queria - é assim que toda loja de discos devia ser, e só os fãs de Phil Collins dão bola para as que parecem limpas e saudáveis feito casa de subúrbio. (p. 40)

Antes de a banda subir ao palco, tudo é genial. Antigamente levava um tempo até as pessoas esquentarem, mas hoje elas estão a fim de cara. Em parte isto é porque, na sua maioria, os freqüentadores desta noite estão alguns anos mais velhos do que estavam há alguns anos, se vocês entendem o que eu quero dizer - em outras palavras, este é exatamente o mesmo pessoal, e não seus equivalentes de 1994 - e eles não querem esperar até meia noite e meia ou uma hora para deixar cair: estão cansados demais para isso hoje em dia, e de qualquer forma alguns deles têm que ir para casa render as babysitters. (p. 257-58)

O livro é a prova da difícil convivência entre uma mulher normal e um homem com um enorme coleção de discos. Para colecionadores de discos e suas cara-metades.


Livro: Alta fidelidade
Autor: Nick Hornby
Preço: R$ 29,00
Editora: Rocco
Páginas: 267

quinta-feira, 8 de setembro de 2005

Emera

Belo Horizonte - Nossa amiga (minha, da Andréa, do Liu) Eduarda morreu. Seu nome verdadeiro está na lista do e-pístolas: Eduarda Matos. Era mais conhecida por Emera, que rima com blogosfera.

Seu blog era um sucesso no Brasil e fora dele. Foi através de seus escritos que meu amigo Carlos Saraiva a conheceu. O namoro virtual virou realidade e um dia os dois pintaram na nossa casa em São Paulo, onde fiz a foto que aparece no Orkut.

Saraiva deixou Sampa e foi pra Fortaleza por causa dela. Dona de texto econômico, escreveu no lendário blog coletivo Canaimé, comigo, o Nei, Vítor, o Saraiva e o Vandré. Leitora de Clarice e Mishima, fã de bom cinema e boa música, era mística e já correu o mundo, fazendo o próprio caminho. Na segunda-feira, depois de uma cirurgia mal-resolvida, Eduarda morreu.

Atribuir culpas ou cultivar ressentimentos contra erros médicos, cada vez mais comuns porque cada vez mais tolerados, não a trará de volta. O Saraiva, em Fortaleza, curte sua dor ao lado dos pais de Eduarda. Não deixe comentários aqui. Vá ao blog dele ou ao dela e diga qualquer coisa. Que Eduarda, como persona virtual, vive.

Guerra fria