terça-feira, 20 de abril de 2010

Um poema

Ghost Song
(Jim Morrison)



Awake.
Shake dreams from your hair
My pretty child, my sweet one.
Choose the day and choose the sign of your day
The day's divinity
First thing you see.

A vast radiant beach and cooled jeweled moon
Couples naked race down by it's quiet side
And we laugh like soft, mad children
Smug in the wooly cotton brains of infancy
The music and voices are all around us.

Choose they croon the Ancient Ones
The time has come again
Choose now, they croon
Beneath the moon
Beside an ancient lake

Enter again the sweet forest
Enter the hot dream
Come with us
Everything is broken up and dances.

Indians scattered,
On dawn's highway bleeding
Ghosts crowd the young child’s,
Fragile eggshell mind

We have assembled inside,
This ancient and insane theater
To propagate our lust for our life,
And flee the swarming wisdom of the streets.

The barns have stormed
The windows kept,
And only one of all the rest
To dance and save us
From the divine mockery of words,
Music inflames temperament.

Ooh great creator of being
Grant us one more hour,
To perform our art
And perfect our lives.

We need great golden copulations,

When the true kings murders
Are allowed to roam free,
A thousand magicians arise in the land
Where are the feast we are promised?

One more thing

Thank you oh lord
For the white blind light
Thank you oh lord
For the white blind light

A city rises from the sea
I had a splitting headache
From which the future's made

terça-feira, 13 de abril de 2010

Um poema

Receita para arrancar poemas presos
(Viviane Mosé)

Você pode arrancar poemas com pinças buchas vegetais óleos medicinais
com as pontas dos dedos com as unhas com banhos de imersão com o pente
com uma agulha com pomada basilicão alicate de cutículas massagens e hidratação  

Mas não use bisturi nunca
em caso de poemas difíceis use a dança
a dança é uma forma de amolecer os poemas 
endurecidos do corpo. uma forma de soltá-los das dobras dos dedos dos pés.
das vértebras dos punhos. das axilas. do quadril
   
São os poema cóccix.
Os poema virilha.
Os poema olho.
Os poema peito.
Os poema sexo.
Os poema cílio.

segunda-feira, 5 de abril de 2010

140

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se agisse depois de pensar
querem a urgência do discurs
um incriminador duplipensar

sábado, 27 de março de 2010

Bodas Wapishana


            Eunice segura nervosa o buquê de flores, minutos antes da cerimônia. Está mais calma agora, mas ainda há pouco respirava com dificuldade, como se o longo vestido branco tivesse ficado mais justo. Uma parenta lhe ajuda com a saia. Ajeita delicadamente os cabelos diante do espelho. Está quase pronta para o casamento.
            Na mesma sala, Anacleto comporta-se de forma exemplar. Não aparenta nervosismo, mas parece muito sério. O terno lhe cai bem. Confere a altura da calça em relação aos sapatos pretos, encolhe a barriga e anda empertigado sem se importar com a velha superstição de que o noivo não pode ver o vestido antes da cerimônia.
            Do outro lado da rua, os convidados começam a chegar e a ocupar mesas onde mais tarde serão servidos bolo, refrigerante, churrasco e damorida. A festa é na comunidade de Truaru, uma vila Wapishana localizada no oeste de Roraima.
Os Wapishana falam uma língua Arawak, tronco que agrupa diversos povos. Há falantes de Arawak nas Antilhas, no Caribe, na Amazônia, na Argentina... Quando Cristóvão Colombo chegou à Américas foi recepcionado pelos extintos Tainos, falantes de uma língua Arawak. Em Roraima os Wapishana formam uma exceção entre falantes de línguas Karib como os Makuxi, Taurepang e Ingarikó.
            Eunice conheceu Anacleto há mais de meio século, quando a vila não era muito diferente de hoje, exceto pela luz elétrica, carros e antenas parabólicas. Hoje os dois comemoram 50 anos de casamento. Bodas de Ouro. Filhos, netos, bisnetos, parentes distantes, vizinhos e amigos prestigiam o evento, que só vai terminar quando o dia amanhecer.
O pastor espera impaciente a preparação do som e do cerimonial de entrada. Tem pressa em realizar as bodas, uma atividade inédita no seu currículo. Quer falar sobre a sabedoria do rei Salomão, um homem que teve 700 mulheres e certamente inspirará um casamento próspero.
Está preparado para repetir as palavras de Deus sobre a boa esposa, descritas em Provérbios 31. Dirá que a mulher virtuosa é esposa e mãe ideal e exemplo a ser seguido. Que é empreendedora, supervisiona empregados, cuida da família, fia roupas para marido e filhos, produz lucros, faz caridade, está sempre ocupada e trabalha até tarde. “Enganosa é a graça, e vã, a formosura, mas a mulher que teme ao Senhor, essa será louvada”, diz.
O carro de som aumenta a trilha sonora. Depois reduz o volume. O pastor fala sobre a importância do amor diário como forma de preservar o casamento. “Porque ela é tua. Deus que te deu”, reforça. “Querem que eu fale mais?”, pergunta. A platéia diz que não. Ele dá o troco: “Só não quer ouvir quem pensa em trair a sua esposa ou seu marido. Pois vou continuar...”. Minutos depois de falar sobre preguiça, desleixo, trabalho e sexo diário - “Viagra e Ciallis não adiantam nada sem o amor de Deus” – encerra, para alívio do grupo de adolescentes que espera bolo e refrigerantes.
            O bolo chega, trazido por garçons e garçonetes mirins que podem muito bem ser um dos 35 netos ou 5 bisnetos de Seu Anacleto, pecuarista e ex-tuxaua, um dos líderes que conquistou na década de 70 a homologação da terra onde moram.
Uma fila se forma na parte de trás do malocão, onde são servidos churrasco de boi, farofa, arroz, pernil de carneiro, macarronada, damorida e caldo de carne.  
As músicas de Tom Cléber e Chitãozinho e Chororó, um mix de Parabéns pra Você, sucessos dos anos 80 e música sertaneja, logo dão lugar ao forró, que só termina de manhã.  Para desgosto do pastor, as letras falam de bebedeira, traição e violência. Seu Anacleto e dona Eunice, evangélicos, deixam a festa para os mais jovens. Afinal, é noite de núpcias.

quarta-feira, 24 de março de 2010

Li "Boa Vista, 1953 - Uma Aventura", de Laucides Oliveira

Boa Vista - Quando Laucides Oliveira chegou a Boa Vista, nos idos de 1953, havia dois cinemas na cidade e os boêmios tocavam chorinho. Hoje há apenas um cinema e os boêmios ouvem forró, mas certas coisas não mudaram: o jeito de fazer política, as artimanhas do serviço público, a natureza bela e ultrajada.

Mais fiel à história de Roraima que certos livros já publicados com o carimbo da política partidária e anti-indígena, Laucides acerta ao misturar memórias pessoais e história. Lembra Eric Hobsbawn em "Tempos Interessantes". Laucides jantou com Juscelino Kubitschek nas obras de Brasília e assistiu à final da Copa de 1950: uma vida rica. Vida de jornalista.

Há passagens poéticas, como a que narra a confusão entre o som de um avião distante e o barulho do vento na boca de uma garrafa perdida no Maciço das Guianas. Tem Dick Farley, Jazz e Still Pan. Tem classe, artigo em falta na imprensa hodierna. Tem saborosos lugares-comuns que só ficariam bem no texto de Laucides, um de meus gurus pessoais da profissão.

Para quem vive a era dos relacionamentos fugazes e divórcios em série, o eterno romance com a mulher Clotilde surpreende. A mistura eficiente de biografia, romance e história que compõe o primeiro livro de Laucides merece uma segunda edição mais cuidadosa de seus poderosos patrocinadores. Nosso dinossauro mais ilustre merece.

quinta-feira, 18 de março de 2010

O petróleo é nosso

Cariocas e capixabas estrebucham, mas o dinheiro do pré-sal tem que beneficiar as regiões mais pobres do Brasil. Afinal, somos uma federação.  O petróleo é do País, fica a 300 milhas da costa, a quilômetros de profundidade e não à flor da terra, em Macaé.

Guerra fria