terça-feira, 5 de junho de 2012

Brasília - Depois de duas semanas de trabalho exaustivo no Comando Nacional de Greve, encerro minha participação em Brasília e volto à base em algumas horas, consciente do processo histórico que desencadeamos no dia 17 de maio.

Neste momento, professores de 53 universidades federais e alunos de 42 instituições estão em greve. É a maior paralisação na história do Brasil. Uma greve incompreendida por parte da população, que ignora as condições de nossas universidades, mas aplaude a construção de estádios (como o Nacional de Brasília) que se tornarão obsoletos depois da Copa do Mundo. Enquanto latifundiários, banqueiros e indústria automobilística faturam, subsidiados pelo país “emergente”.

Emergente em quê? Temos uma emergência em curso, sim: a falência do ensino superior público, aquele que produz cientistas, que são cooptados por países mais conscientes do valor dos professores, dos pesquisadores, dos pensadores. Não exportamos apenas soja, milho, café. Exportamos cérebros. A falta de atenção do governo faz pesquisadores abandonarem a Amazônia e o Nordeste pelo Sul-Sudeste. E estes, o Brasil pela Europa e outros centros avançados.

Nossa maior dúvida, no princípio, era se teríamos apoio dos principais interessados numa educação de qualidade: os estudantes. A adesão foi surpreendente. Os estudantes perceberam que é preciso parar e repensar o ensino superior público. Querem uma universidade laica, livre de preconceitos e socialmente referenciada. Os professores querem uma carreira estruturada e salário digno.

Este movimento é coletivo. Hoje não se dissocia mais a greve dos professores da dos estudantes. A universidade brasileira está em greve de Roraima ao Rio Grande do Sul. É bom que a sociedade e governo atentem para isso. A arrancada de professores e estudantes indica que chegou a hora de valorizar quem pensa, de preservar a inteligência antes que a debelemos das prioridades nacionais, conformados em ser a grande roça do mundo.

Na baixa umidade
do cerrado
do planalto
duas torres entre cuias
que me tomam de assalto

quinta-feira, 31 de maio de 2012

Brasília - Deputado Francisco Praciano (PT-AM) visita o Comando de Greve dos professores federais. "Sou do PT, mas não sou governista.", afirma Praciano, cujo índice de votos favoráveis ao governo é de 86 por cento. Afirma que é favorável à greve. "Aprendi com o PT a apoiar os movimentos. Apoio sua pauta e a reestruturação da carreira."

Praciano defende tratamento diferenciado para a Amazônia nas áreas de saúde e educação. Um óbvio ululante que somente a cegueira política nacional não consegue perceber. "Nenhum profissional médico ou professor com nível superior quer atuar no interior da Amazônia. É preciso atrair profissionais com salários atrativos. Ou então não há desenvolvimento nacional"

quarta-feira, 30 de maio de 2012

Há quatro anos, neste blog

Boa Vista - Em janeiro de 2003, o índio Aldo da Silva Mota estava ajoelhado e com os braços levantados quando levou um tiro que lhe atravessou o tórax. Foi enterrado numa cova rasa na Fazenda Retiro. A conclusão dos legistas é de que ele estava no chão, de joelhos, com os braços levantados, dominado e indefeso. 

Em Roraima, ações terroristas em terras indígenas acontecem há muito tempo, mas uma eficiente soma de omissão política e propaganda racista nos meios de comunicação permitiu que esses grupos permanecessem atuando ao longo dos últimos 30 anos sem punição.

Desde 1981, houve 21 homicídios; 21 tentativas de homicídio; 54 ameaças de Morte; 51 agressões físicas; 80 casas destruídas; 71 prisões ilegais; cinco roças destruídas e cinco pessoas mantidas em cárcere privado - dados de 2003. já desatualizados.

A milícia travestida de agronegócio já espancou e matou índios e missionários. Suas ações já renderam a morte por tiros do índio Paulo José de Souza, em Uiramutã, em fevereiro de 1999. No mesmo mês, foram assassinados os índios Regelino Nascimento Souza (estrangulado) e o adolescente Renan Almeida André, de apenas 14 anos. No mesmo mês, o padre Egon Heck foi esfaqueado e um grupo de índios espancado.

Em janeiro de 2004, um grupo invadiu a Missão Surumu e seqüestrou os padres Ronildo França e Cezar Avallaneda e o diácono João Carlos Matinez, mantendo-os reféns por três dias. Em 2005, um grupo de 150 homens incendiou a missão do Surumu, destruindo uma escola, um hospital e uma igreja. Um professor foi espancado e um homem ficou queimado. O mesmo grupo provocou três incêndios e alguns espancamentos em 2004.

Atualmente, a Vila Surumu está isolada. Pontes foram destruídas e uma bomba caseira fabricada para novas ações terroristas explodiu nas mãos de Renato Quartieiro, filho do líder da resistência do agrobussiness em Raposa Serra do Sol, Paulo César Quartieiro. Centenas de policiais federais já chegaram e novos grupos continuam a chegar em Roraima para tentar a desapropriação exigida pela lei.

Roraima ficou de fora

Brasília - Havia deputados e senadores de vários estados do Brasil presentes ao lançamento da Frente Parlamentar em Defesa do Piso Nacional dos Jornalistas. Da Amazônia, Pará, Amazonas e Rondônia tinham representantes. De Roraima, ninguém se interessou pelo tema. Pra lamentares.

Piso Nacional dos Jornalistas

Brasília - Hoje participei do lançamento da Frente Parlamentar em Defesa do Piso Nacional dos Jornalistas, no Salão Verde da Câmara dos Deputados. Meu nome foi citado pelo mestre de cerimônias. Chique. Mas não é isso que os jornalistas querem. A defesa de um piso nacional é mais do que garantia de vida digna para os profissionais de imprensa. É uma chance a mais para a sociedade receber notícias de qualidade.

Jornalistas são uma das categorias mais desvalorizadas, não obstante seu peso político no equilíbrio democrático. Em alguns estados, o piso é inferior a R$ 1 mil. Em Roraima, os veículos pagam o que dá na telha. O maior piso do Brasil é pago em Alagoas: R$ 2,4 mil.
Brasília - Professores em greve por educação de qualidade acreditam em utopia.

Governo entrincheirado entre discurso e prática promove distopia.

Sociedade alienada por futebol e telenovela viceja na entropia.

Guerra fria