sexta-feira, 8 de abril de 2016


Virou a esquina da
Sete de Abril
e sumiu
disse que
tinha que ir embora
do Brasil
que não queria mais
ter que pagar
pra respirar.


Uma letra que comecei a escrever em São Paulo há muito anos. Como outras, é devir.

quinta-feira, 7 de abril de 2016

Lisboa - No começo do século éramos um punhado de escritores impublicáveis espalhados pelo mundo, mas orgulhosamente integramos (e mudamos o foco) da primeira geração de blogueiros. Comunidade pequena, mas respeitável, interligada, nossos blogues já surgiram com propostas novas, dos microcontos de Luís Ene aos metatextos deste aqui. 

Deixei São Paulo ao mesmo tempo em que Luís publicava o excelente A Justa Medida. Eu curtia dias tranquilos no interior de Minas quando o livro chegou por uma amiga que o comprou em Lisboa. Devorado em dias, considero A Justa Medida um grande livro, saraivada de sensações, filosofias e fino humor. Além de escritor, Luís é agitador cultural e junto com amigos portugueses criou uma revista eletrônica com vários colaboradores ibero-americanos, entre eles Ricardo Divino e Edgar Borges, que já publicou seu livro de microcontos. 

Depois que mudei para Belo Horizonte, Luís aportou no Brasil, um Estado acima, provavelmente por conta de uma namorada goiana. Não pudemos nos encontrar. E novo desencontro rolou em Portugal quando estive aqui no outono de 2014. Bom, neste abril de 16, em que lanço meu Índio na Rede por uma editora alemã, Luís faz lançamento de seu novo livro: "Escrever é dobrar e desdobrar palavras à procura de um sentido". Será em Tavira, na Casa Álvaro de Campos. É amanhã à noite. E eu vou.

quarta-feira, 6 de abril de 2016

Professor é agredido por dizer que é petista

Bruxelas - Salomão Nunes Santiago​ está sempre de bem com a vida. Ele é querido por todos no ANDES-SN por sua capacidade de trabalho e simpatia. Quando uma pessoa assim é atacada gratuitamente por quem perdeu o controle das finanças "graças ao PT", devemos reconhecer um princípio de convulsão social. Um episódio de desequilíbrio mental que não é isolado de outros, como o desequilíbrio moral do deputado que defende a suspensão armada da democracia ou o desequilíbrio ideológico de uma população repetidora de discursos de ódio, que adora televisão, mas odeia professores. A sequência de uma convulsão social é o estado de sítio, como o que vive esta cidade repleta de soldados do exército à caça de pessoas incapazes de conviver com as diferenças. A sequência de um estado de sítio é a anomia, a guerra civil. Os brasileiros que se cuidem: os canibais estão na sala de jantar. E eles são nossos vizinhos, colegas de trabalho, amigos e parentes. Os atentados de Bruxelas demonstraram que o inimigo não é mas externo. Ele está no meio de nós. Leia no Pragmatismo Político

terça-feira, 5 de abril de 2016

Varsóvia - "Ele recebe da Lei Rouanet, nhenhenhém. Ela recebe da Lei Rouanet, blá blá blá. Porque o Chico Buarque, Lei Rouanet, mi mi mi...". Essa impressão de que, de repente, ficou muito fácil comprar consciências, de onde veio? De um ambiente viciado, em que tudo está a venda, especialmente aqueles que dizem que tudo está à venda. Claudia Leitte recebe da Lei Rouanet. Alguém?! Pelo jeito, só os ídolos dos roteadores de memes podem receber financiamento público. Já não se trata mais de avaliações superficiais. Estamos na era da levitação magnética da produção de asneiras. Sílvio Brito, quero descer na mesma parada que você, falou?

segunda-feira, 4 de abril de 2016

Sobre Impeachment

Varsóvia - Informação nunca é demais. O texto de Felipe Pena, entretanto, é mais que isso. É educativo. Dialogar sobre a crise política exige conhecimento e desprendimento de preconceitos para os quais a maioria dos brasileiros neopolitizados está incapacitada porque é da nossa natureza ler pouco e assistir muita televisão. Quem gosta de aprender, lê Mein Kampf, Alcorao, bula de remédios, O Globo, Voltaire e o escambau. Quem não gosta, fica na plateia, assiste e levanta com a ola. Quem não gosta, veste o abadá, segue o trio elétrico, levanta a mãozinha, tira o pezinho do chão e grita. Mas, falando, sério, toda crise gera oportunidades, inclusive a de produzir textos excelentes e esclarecer o público. Esse é o papel de professores, jornalistas e intelectuais: porque um pouquinho de aufklarüng nunca fez mal a ninguém. Leia "Não é golpe, é muito pior", aqui.

domingo, 3 de abril de 2016





Zakopane - Há 15 anos o Canaimé surgiu como primeiro spotlight do racismo praticado em Roraima contra os povos indígenas, embora tenha sido criado entre cervejas e rockabilly no bar Little Darling, em Indianópolis, num já distante inverno paulista.
Varsóvia - A 9.163 quilômetros de casa, mas a apenas 8.599 quilômetros de Tóquio.

sábado, 2 de abril de 2016

Zdiar - O negócio é o seguinte: sou oposição a este governo porque ele retira direitos dos trabalhadores e abre o cofre para empreiteiros, banqueiros e outros saqueadores. Porque este governo quer construir uma hidrelétrica no rio Branco. Governo conivente com a corrupção histórica. Este governo NÃO TEM e NÃO TERÁ meu apoio. Mas se você, brasileiro, acha que os sujeitos de braços erguidos da foto (PMDB) salvarão o Brasil, por favor aceite um certificado de Idiota ou Mal-Caráter. O Brasil é um país surreal, mas acreditar que eles são herois ultrapassa qualquer absurdo. Não é nada pessoal, as carapuças só servem a quem as experimenta. Se você está descontente com o governo, vote no Aécio em 2018. Mas não puxe o tapete. Não seja revanchista. Aceite que existe um processo em curso e espere seus resultados. Eu NÃO apoio o GOLPE. Sou lobo da estepe egoísta e ensimesmado, sem apreço por ideologias baratas ou teleguiados de ocasião. É minha declaração e meu posicionamento político. O seu, brasileiro, é O SEU.
Ždiar - Na paz deste lugarejo encravado sob os Montes Cárpatos e um céu absurdamente azul, sento na colina e observo o passar do tempo. Silêncio. Dois falcões planam 300 metros acima de mim. Um homem empilha pedaços de lenha. Crianças passam de bicicleta. Carros na estrada, os faróis acesos sob o sol brilhante. Silêncio. Nenhum som. Meu corpo afunda lentamente entre pedras, grama e restos da neve que a primavera conservou em consideração ao inverno. Não sou ninguém. Não sou Avery Veríssimo. Não, este não sou eu. Avery Veríssimo é um canalha egoísta, uma aliteração desagradável. Um viajante solitário metido a Jack Kerouac. Lobo da estepe. Um escritor medíocre, um professor relapso, péssimo pai, filho e amigo. Inútil acúmulo temporário de átomos que um dia será completamente esquecido. Átomos que começam a se desintegrar. Homogênese com plantas, folhas e larvas de insetos à espera do calor que lhes permita voar. A grama cresce nos meus braços, peito, pernas e olhos. Desapareço lentamente sob a relva, desintegro-me. Em pouco tempo serei parte da colina e não lembrarei mais quem fui. Há muito tempo me desterritorializei, abandonei a província e me esgueirei na multidão de grandes cidades. Conheci oceanos e povos exóticos, escalei montanhas, cachoeiras, tepuys e vulcões, escrevi tolices, fui drogado por yanomamis e cristãos, fiz inimigos e fãs e filhos. Nada disso parece ter significado neste vilarejo e seu impronunciável Z com circunflexo invertido. Sou um pedaço de tábua da fantasmagórica casa de madeira abandonada entre os pinheiros secos à beira da estrada. Sou um monge franciscano. Um japonês que pesca. Um brasileiro que não reconhece mais o próprio país. Um viajante sem lar. Hoje todas as minhas roupas cabem numa mochila polonesa de 50 litros. Doei móveis, sapatos, tempo, roupas, livros e discos e conselhos que não foram seguidos. Busquei anonimato, mas encontrei fama. Busquei o socialismo, mas fui parar entre esnobes. Minha casa ainda é minha. E agora é meu este lugar. A desintegração se completa. Meus olhos merecem toda a beleza que já viram? Enfiados nas dobras de meu cérebro, 500 livros que não sei se devia ter lido. Minhas composições, letras, poemas, artigos, matérias e livro, a que servem? E se formos dizimados por asteroides, Hercolubus, Melancholia? E se tudo for sonho de Vishnu? E se Jesus destruir tudo para o bem da cristandade? E se o céu cair? Desapareço completamente. Sou pedra, grama e logo vento. Uma pinha obedece à gravidade e atinge o solo. Um galho seco sob o cotovelo me convoca à realidade. O silêncio é rompido. Pássaros gorjeiam como os de lá. Amazônia dos Tatras. A vida é caos e ordem e não sei o significado de progresso. Ao emergir do solo, sou tomado por tanta beleza que tudo o mais se perde. Levanto e caminho em direção à estrada. Pouco tempo depois cruzo a pé o rio Bialka até Polônia, que deixarei em três dias para voltar à tumultuada Bélgica. O valor de um homem é confirmado por sua trajetória. Construo a minha, ambições sob estreita vigilância. Sou um.

sexta-feira, 1 de abril de 2016

O insight

Homens de bem e herois do Brasil

Zakopane - Preciso de férias, mas o Brasil não permite. Meu país e sua corja de assassinos, covardes, estupradores e ladrões é também a nação de teleguiados que imagina ter atingido novo insight. Povo que idolatra televampiros, pastores, soldados e jogadores. Povo que maltrata intelectuais, artistas e professores. Somos o terceiro país mais ignorante do mundo apenas por enquanto. Ainda seremos  primeiro. Porque somos marionetes de entidades sinistras, corporações acima da lei, sofismas e patos amarelos. Ontem sans-culotte, hoje sans-savantE se há algo pior que o cheiro de 1963 é a sensação de anomia.

quinta-feira, 31 de março de 2016

A vida em alerta laranja

Varsóvia - As coisas estavam calmas pela manhã. Bandeiras da Bélgica, poucas, pendiam das sacadas. A Grand Place esvaziada devido aos últimos acontecimentos. Os mesmos mendigos de anos atrás, nos mesmos lugares. Turistas visitavam o Atomium. Uma feira multiétnica coloria as ruas próximas da estação Carmelite. Garotos exibiam a nova moda do Cabelo Boi Lambeu.

Um pouco desbotada, a lateral do edifício com o Tintin gay gigante guardava a área GLS. Soldados patrulhavam as estações de metrô, prédios públicos e outros pontos nevrálgicos da capital belga. Gentis, posavam para fotos.

Por volta das 13 horas, as sirenes começaram. Inicialmente, poucas e raras. Depois se multiplicavam, se sobrepunham, soavam em uníssono. Carros da polícia e de forças especiais percorriam velozmente a Boulevard, principal avenida do centro. Sim, havia algo de errado. Instalado num hotel a 1,5 quilômetro da estação Malbeek, evitei o local porque dentro de cinco horas deveria estar de cinto afivelado na fileira 32 do voo da Ryanair para Varsóvia.

O voo sairia do Aeroporto Charleroi, que fica a 42 quilômetros de Bruxelas e passou a receber todo o serviço destinado ao bombardeado Zaventen. A corrida para deixar a Bélgica começaria às 14 horas na Garre du Nord, onde os trens nunca atrasam a não ser quando se está em Alerta Laranja. Informes em francês e holandês diziam que havia um atraso programado de 15 minutos para o IC12, que leva direto ao aeroporto. Por motivos óbvios: segurança, vigilância, revistas. Mas havia algo mais.

De 15h17, o trem mudou para 15h32. Depois 15h38, 15h42, 15h44, 15h48, 15h52 e finalmente chega, às 16h02, mas na IC11, o que provoca uma corrida de passageiros por escadas para o outro lado da linha. Embarcamos ao mesmo tempo em que um alerta de bomba no Charleroi é confirmado.
O trem fica imóvel por 3 minutos e sai lentamente. Um aviso (desta vez também em inglês) desanimador sai dos alto falantes: o trem até o aeroporto foi cancelado. As alternativas para não perder voos e reservas em hoteis para centenas de pessoas eram táxis a 120 euros (mais de R$ 500), ônibus lentos a 17 euros ou a melhor descoberta do dia: lotações a 15 euros. Me uno a uma italiana e um coreano com o mesmo problema. Fretamos um lotação junto com dois portugueses e um escocês e corremos em direção ao Charleroi.

O tempo voa. São 17h20. A primeira entrada do aeroporto foi fechada, o que nos obriga a dar uma grande volta. Muitos soldados na entrada. Revistas. Exatamente 45 minutos antes do aviaão decolar faço o check-in e pago uma estranha multa de 45 euros  por "mudança de voo". Sinto que fui enganado. Mas a viagem para a Polônia estava garantida. Sento no fundo da aeronave que deixa um país abalado para seguir rumo aos Cárpatos.
Faro - A Casa Grande sofre com as mudanças sociais, aceitemos o fato. E parte da Senzala, solidária, late em sua defesa. É emocionante ver a patinha levantada, o deitar e rolar obediente, na esperança de que sinhozinho lhe afague a cabeça. Porque as transformações sociais dos últimos anos serviram até para isso: deu dinamismo aos dormentes; o direito de rosnar por uma classe/espécie a qual não pertencem. O fenômeno do escravo contente não é novo, mas a Sociologia agradece. Eis porque prefiro gatos a cães.

quarta-feira, 30 de março de 2016

Bruxelas - Uma semana depois dos atentados, a vida segue normal na capital da União Europeia.
Pessoas circulam, normais.
A temperatura é normal.
Trens e metrôs pontualmente normais.
Bruxelas é a mesma da semana passada a não ser um pequeno acréscimo no policiamento. É provável que o ataque tenha sido mais direcionado à capital da União Europeia que à capital da Bélgica.
A estação Maalbeek fica a poucos metros da sede do governo. Entretanto o recado ainda é confuso. O que querem provar os fanáticos religiosos da Europa?
O que querem provar os fanáticos religiosos do Brasil? 








terça-feira, 29 de março de 2016

Amsterdam - O Experimento Brasil, realizado com sucesso há 50 anos pelas Organizações Globo, ensina como criar artificialmente a identidade nacional via futebol, jornalismo e telenovelas. Nesse experimento nazistóide-orwelliano, a nação teleguiada aprende a odiar os vilões de telenovela  como aprende a odiar as personae non gratae do telejornalismo. O desconhecimento programado da linha que separa realidade e ficção leva o brasileiro neopolitizado a amar o Grande Irmão, ainda que não entenda seu significado.

terça-feira, 22 de março de 2016

Boa Vista - Vinte e oito mortos e 106 feridos em explosões no aeroporto e no metrô de Bruxelas. Milhares de imigrantes do oriente médio, europeus do leste, sírios e turcos encontram trabalho e vida digna neste belo e receptivo país. O terrorismo é mais inveja que ódio.

terça-feira, 15 de março de 2016

Boa Vista - Meu livro "Índio na Rede: Ciberativismo e Amazônia" será lançado oficialmente em 19 de abril (Dia do Índio), na Alemanha. A primeira leitura ocorre daqui a pouco na sala 140 do Bloco I (CCLA) da UFRR. No Colóquio "Ciberativismo e Amazônia", teremos a participação de profissionais de diversas áreas do conhecimento. Debateremos ambiente, povos originários e tecnopolítica.

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2016

Wouldn't it be nice


Cinebiografias de músicos são facas de dois gumes, como provam Bird e Dois Filhos de Francisco. No ano passado, Jimi Hendrix e Brian Wilson tiveram suas vidas transplantadas para o cinema.

O primeiro (All is by my side) vale pela interpretação de André Benjamin, também conhecido como André 2000 do Outkast (Hey Yaaaaa!). Mas tem direção irregular, silêncios deslocados e desfocagens sem sentido, talvez na tentativa de recriar uma atmosfera lisérgica.

Já o filme sobre Brian Wilson acerta no alvo. Love & Mercy recria casas, ambientes e shows com acuidade. Mostra a doença mental do talentoso músico sem clichês e com detalhes audiovisuais críveis. John Cusack está bem, mas a interpretação de Paul Dano é fina, brilhante Filme digno do compositor de algumas das mais belas melodias já criadas.

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2016

Polaris

Não é rotular, nem ideologizar. A oposição socialismo x capitalismo tem erro de natureza do julgamento. Não se trata de moeda, mas de outros valores que uma certa leitura/agenda liberal não encontra tempo (tempo é dinheiro) para refletir. O conceito de América Latina é mais complexo que uma nota do Radar:  não dá conta de que transformações culturais são mais importantes que crescimento econômico. O ser humano não precisa de dinheiro, precisa de Tecnologia. Inclusive na política. É bom que os dois lados, esquerda e direita, se acostumem à tecnopolítica. É o que farão no momento em que socializarem as ideias, o conhecimento, a lógica. Isso está além de sustentar um mercado fictício que não tem outro destino além da quebra. A sociedade é, naturalmente, socialista. Sem entrar no mérito político ou econômico. É um relacionamento, uma forma de convivência natural que surgiu do convívio. O capital é artificial e, pior ainda, fictício.

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2016

O cavalo mais bonito do mundo



Curioso com a imagem, busco informações sobre o cavalo mais bonito do mundo de 2013 e descubro uma história de glória e tristeza. Ele pertence a Kurbanguly Berdimuhamedow, presidente do Turcomenistão, e é um dos pouco mais de 3,5 mil cavalos Akhal Teke vivos: a raça está em risco de extinção. Criadores ao redor do mundo reproduzem-no para salvar a espécie. Kurbanguly Berdymukhamedow é dentista, doutor em Ciências Médicas, foi ministro da Saúde e coleciona cavalos. Eleito presidente em 2006, foi reeleito em 2012 com 97 por cento dos votos. Se isso parece pouco democrático, convém lembrar que o antecessor, Saparmurat Niyazov, passou 20 anos no poder e chegou a mudar os nomes dos dias da semana e dos meses do ano para homenagear poetas, militares e a própria mãe. Mudou o Juramento de Hipócrates para um juramento a si mesmo. Cancelou 10 mil aposentadorias durante crise econômica. Concursos de música e dança eram promovidos em sua homenagem cada vez que visitava as aldeias do interior do país. Proibiu ópera, balé e circo. Desviou 3 bilhões de dólares para contas no exterior e morreu no poder, mas sua cara ainda estampa cédulas de Manat, a moeda local.

O presidente atual desfez a maioria das excentricidades do ditador e goza de prestígio popular. Apesar de reduzir o culto à personalidade, ainda mantém características pouco ocidentais no trato democrático.

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2016

Deus

O homem
cada vez mais
des-homem
lobisomem
maquinomem
oferece holocaustos

ao deus dinheiro
pede como FaUSTo 

fim da McFome
diante do clamor
o deus dinheiro 

fica sensível
e cada vez mais invisível
some

terça-feira, 26 de janeiro de 2016

Escola brasileira pública de qualidade? Sim, isso existe.

Venezuela, Guiana, Estônia, Barbados, Cazaquistão, Mongólia e outros 60 países estão à frente do Brasil em índices educacionais. Dois terços de nossos alunos de 5º ano não diferenciam formas geométricas básicas como círculos, triângulos e retângulos e 70 por cento dos estudantes no 3º ano do ensino médio não identifica a informação principal em uma notícia curta.
ENTRETANTO, quatro escolas públicas no interior do Ceará, Rio de Janeiro e São Paulo atingem índices de excelência superiores aos de Suíça e Canadá. Como conseguiram? Veja aqui.

terça-feira, 12 de janeiro de 2016

Da ostentação



A perda de memória causa efeitos dolorosos, o que é estranho num brasileiro: povo que se lixa para tradições e memória histórica e só costuma lembrar do último Carnaval, quando lembra. A mídia não contribui com isso. Apenas comanda. Reedifica o Grande Irmão em programas feitos para se pensar que o que acontece ali é realidade. E vomita uma quantidade de "informação" calculada para o efeito amnésico. Aos domingos, a profusão de cores berrantes e os dois ou três estilos musicais determinam a "diversidade". Algaravia, mistureba de lixo pós-moderno, reciclado, tornado lavagem e empurrado goela abaixo de telespectadores gansos, logo transformados em foie-gras.

Recentemente, perdi dois HDs com cerca de 20 mil fotografias. A soma de backups em DVDs e na nuvem salvou cerca de 10 mil imagens. Programas de recuperação de dados escavaram mais 5 mil. Desapareceram definitivamente cerca de 5 mil fotos. A maioria dispensável, mas há pelo menos 500 perdas significativas, registros que jamais voltarão. Como há 10 anos em Minas Gerais, quando roubaram meu notebook repleto de imagens de família. Efeitos da vida digital que me tornaram mais cuidadoso e a fazer backups perenes. Mas os arquivos ficam maiores a cada ano e exigem HDs e dispositivos externos que quebram com frequência capitalista.

Só há duas memórias-arquivo: uma no cérebro, outra em dispositivos físicos e eletrônicos. Para a primeira, decoro sequências numéricas, letras de músicas e brinco com idiomas na Netflix. O segtredo de Jeremias Nascimento, por exemplo, é ouvir músicas do século 20. Os dispositivos eletrônicos entopem seu cérebro com informação desnecessária, mas podem ser úteis. Precisamos das duas memórias, mas como garantir a sobrevivência dos arquivos?

É aí que entra a Schirley e o Projeto Ostentação: estávamos na casa dela a falar sobre nossas viagens - sabiam que ela morou em Aruba? Num certo momento, Schirley diz com seu sotaque gaúcho jamais lapidado: "Mas Averyyyyy, você faz tantas viagens interessantes, por que não publica no Facebook?". "Schirley, isso é turismo-ostentação. Sou mochileiro e mochileiros detestam ser confundidos com turistas". Semanas depois dessa conversa, dou total razão à minha amiga.

Os programas de recuperação de dados (usei o Wondershare) não são perfeitos, mas ajudam muito. Depois de algumas horas, fotos apagadas há tempos, por acidente ou vontade própria, saltam na tela e oferecem novo significado à vida e à memória de longo prazo. Imagens que ficaram apenas na retina pulam na sua tela e trazem um mundo novo dentro de um velho mundo. Lembranças que serão usadas por algum tempo e depois, de mortos, vaporizadas na grande nuvem.

De agora em diante, usarei mais o blog e o Facebook para "upar" fotos e evitar novas perdas. Portanto, Timeline, preparai-vos para o Projeto Ostentação.

Post Scriptum: Sobre os programas de domingo, ainda me pergunto se o sujeito de chapeu-coco e óculos sem lentes veio de uma festa com Spike Lee e Russel Westbrook ou se ele não tem ideia de onde veio seu "personal style".

terça-feira, 22 de dezembro de 2015

Sou favorável ao colapso imediato e sem recuperação do sistema financeiro global. A onda de suicídios duraria pouco tempo. E deve ser encarada como seleção natural. A ideia é simples: Se tivermos que perder massa populacional, que dancem primeiro os consumidores compulsivos, que são responsáveis DIRETOS pela degradação ambiental. Todos os yuppies eliminados pela mesma praga: o bug no sistema.

sábado, 31 de outubro de 2015

People who died

Porlamar - Antonio Vieira dizia coisas engraçadas, como "jazz é um monte de sons pequenininhos, separadinhos, que fazem sentido" ou "tu é socialista porque nasceu na Amazônia, desconhece escassez", entre outras observações lúcidas/bizarras sobre vida, religião, economia e o algo mais e era exatamente por esse motivo que conseguíamos manter aqueles diálogos notáveis entre liberalismo e socialismo, quando atribuía meu bem-estar a Adam Smith, e claro que pensei sobre isso no sétimo andar daquele hotel no estrangeiro. O ateu Antônio é reintegrado à terra de onde saímos bilhões de anos atrás nalguma forma primitiva e ordinária até redundar no ser humano e seus feitos extraordinários, seus equívocos letais. E percebo que não vi mortos meu cunhado, o Mário Wander, nem o Simões ou o Laucides, somente Feutmann dias antes de Murilo e Zequinha, enterrados no mesmo horário em cemitérios diferentes, e todos se foram e porque caímos como moscas num Brasil polarizado entre o fascismo e o setentismo pré-revolucionário, eterna vítima de auto-indulgência, insensível ao cheiro de podre que vem da TV, ex-indústria cultural atual cultura bacteriológica, produtora de autômatos nessa inexplicável amálgama de niilismos yuppies, ruralistas, reacionários, religiosos, racistas, catequizadores, manipuladores e toda sorte de lunáticos dispostos a desinstalar o Iluminismo, jogar tudo fora, a certeza de que o tempo só é vencido pela fotografia, como a dos tênis na varanda em respeito à imaculada brancura do chão da minha sala.

domingo, 18 de outubro de 2015

Listen like thieves

http://m.jb.com.br/pais/noticias/2015/10/17/nova-denuncia-acusa-odebrecht-de-pagar-r-138-milhoes-em-propina/?from_rss=None

quinta-feira, 15 de outubro de 2015

Os Educadores

Hoje é dia do professor. Uma profissão cuja retórica geral reputa como importante. Na Câmara dos Deputados houve vários pronunciamentos. Na mídia, muito dinheiro investido pelo governo em propagandas institucionais. Nas escolas e universidades, homenagens, salgadinhos, pequenos discursos de auto-estima, tapinhas nas costas... Mas o que significa realmente esta data? O Brasil acaba de passar pela maior greve da educação na história. Foram 140 dias com universidades sem aula. Professores de norte a sul protestaram contra as condições de trabalho. Exigimos valorização salarial de carreira estruturada. Fomos tratados com total indiferença pelo Ministério da Educação. Nossos atos em Brasília foram reprimidos pela polícia, que atacou com cacetetes e bombas de gás professores, professoras e estudantes. Enquanto isso, a sociedade assistia tranquilamente sua novela, seu futebolzinho, seu programinha de polícia onde pode concordar com apresentadores ignaros que os problemas sociais serão resolvidos com a redução da maioridade penal. Também teve tempo de avaliar nas poucas e deturpadas notícias sobre a greve que professores são irresponsáveis vagabundos sem- vergonha que prejudicam a nação. Preocupada com as ameaças de impitimam, a presidente ignorou o caos na educação para cuidar do próprio cargo. Em resumo, assim é tratada no Brasil a atividade mais respeitada no Japão. Que este Dia do Professor por aqui seja o primeiro em que esta profissão retome seu papel, recupere suas forças e resgate sua honra. Os educadores estão vivos.

sábado, 10 de outubro de 2015

Um som

(Finis Africae - Ask the dust)
Atendendo a tua desilusão
Atendendo a tua desilusão
Roubaram as cores do meu reino
Roseiras murcharam no jardim
As dores aumentam no meu peito
Teus olhos são tão cruéis pra mim
Povos esqueceram suas lendas
Fendas se abriram pelo chão
Flechas de fogo incendiaram tendas
Atendendo a tua desilusão
Monges abandonaram templos
O vento não sabe aonde ir
Pararam teus movimentos
Teus pés, já não pisam mais aqui
Teus pés, já não pisam mais aqui
Atendendo a tua desilusão
Atendendo a tua desilusão

terça-feira, 22 de setembro de 2015

Bolsomita

http://www.msn.com/pt-br/noticias/nacional/bolsonaro-chama-refugiados-de-esc%C3%B3ria-do-mundo/ar-AAeCfze?li=AAaB4xI&ocid=mailsignoutmd

sexta-feira, 18 de setembro de 2015

Um texto de Eduardo Galeano

Barbie vai à guerra

Existe mais de um bilhão de Barbies. Só os chineses superam essa população tão enorme.

A mulher mais amada do mundo não poderia falhar. Na guerra do Bem, contra o Mal, Barbie se alistou, bateu continência e foi para a guerra do Iraque.

Chegou à frente de batalha vestindo fardas de terra, mar e ar, feitos sob medida, que o Pentágono examinou e aprovou.

Ela está acostumada a mudar de profissão, de penteado e de roupa. Também foi cantora, esportista, paleontóloga, dentista, astronauta, bailarina e sei lá mais o quê, e cada novo ofício implica um novo look e um novo vestuário completo, que todas as meninas do mundo estão obrigadas a comprar.

Em fevereiro de 2004, Barbie também quis mudar de par. Fazia quase meio século que estava ao lado de Ken, que não tem no corpo outra saliência além do nariz, quando foi seduzida por um surfista australiano que a convidou para cometer o pecado do plástico.

A empresa Mattel anunciou, oficialmente, a separação.

Foi uma catástrofe. As vendas desabaram. Barbie podia, e devia mudar de ocupação e de vestidos, mas não tinha o direito de dar mau exemplo.

Então a empresa Mattel anunciou, oficialmente, a reconciliação.

terça-feira, 1 de setembro de 2015

Bola ao cesto

Brasília - Finalmente veremos o brasileiro Marcelinho Huertas (ex-Barcelona) jogar na NBA. E finalmente, uma aquisição decente feita pelo Los Angeles Lakers. Na próxima temporada, haverá oito brasileiros no maior campeonato de basquete do mundo. Pena que o Brasil não valorize esse esporte e nossos atletas sejam obrigados a mostrar seu talento em quadras estrangeiras.

Guerra fria