segunda-feira, 9 de outubro de 2006

Caricatura



Avery Veríssimo, por José Alves Neto.
Belo Horizonte, Outubro de 2006

Totem 2

Belo Horizonte - Numa cantina italiana, oito amigos discutem a vida pós-estouro da bolha da blogosfera. A discussão já dura uma hora e estamos num momento impreciso da cronologia, pois que no virtual esta frase tem a mesma (val)idade que esta e enquanto isso não se sabe mais com quem está a palavra. A mistura de discursos exige uma tomada de providência. Resolvo assumir a parada, embora sem nenhuma intenção de encerrar o assunto.

- Não, não, interrompi. Acho que vivemos algo parecido com a transição da literatura para o cinema e daí para a televisão. Da mesma forma que as pessoas passaram a ler menos com o audiovisual, o hipertexto passou a ser desprezado se se mantém apenas como texto. Os internautas deste século querem ver, ouvir. Viajar em sensações programadas, ser conduzidos pela grade de opções da rede, como telespectadores dos programas de domingo à tarde.

- É, mas isso não é de todo verdade, diz Leãdro Wojak. O cinema, por exemplo, já foi tido como destruidor da literatura, mas não conseguiu fazer isso, e nem era essa sua intenção. Assim como a televisão não destruiu o cinema. As mídias podem conviver umas com as outras, tranqüilamente.

- Sim, mas isso não explica a queda brutal de audiência do meu blog, ri Edgar Borges.

- É que você é um ciberdissidente, gargalha Vandré Fonseca, reconhecendo logo depois a própria condição de publicador bissexto.

- O problema é que a gente não ocupa bem esse território anárquico do ciberespaço. Nós temos que avançar, rapaziada, entrar de sola nas outras formas de sociabilidade, com áudio, vídeo e o escambau, propõe um empolgado Israel Barros.

- Rapaz, não tenho certeza disso. Falta afetividade. Em vários lugares a territorialidade é importante. E não falo só do Acre. Em Guarulhos, não há campanha na TV. A eleição se decide com santinho e cartazete na rua. Ao mesmo tempo, a política é exercida de forma cada vez menos territorial e mais virtual. Portanto acho que é a possibilidade de falar, isso mesmo, simplesmente falar, que vai garantir nossa sobrevivência, atesta um messiânico Maurício Bittencourt.

- Mas isso só aumenta a dispersão, avalia Nei Costa. A internet é um punhado de lixo, muitas vezes reciclado, a maior parte inútil. Garimpar algo bom é tão difícil quanto garimpar mesmo. Por isso é que temos de instigar o povo a assumir os media.

- Falas como um comunicólogo, meu caro. O que todos nesta mesa, de certa forma, são, observo.

- E o corporativismo, onde fica? Não é assim não, qualquer um metendo o bedelho na nossa mais-valia?, grita Rogério Christofoletti, posando de sindicalista radical.

- Ó pá, mas que diabos vocês estão a dizer? Blogue é edição. Blog é edição. Blogging is editing. Mesmo, Avery, que um bandalho como tu, armado em chico esperto na terra da pavórnia, venha a dizer o contrário. E peçamos algo para comer, decreta Luís Ene.

- Só se for agora, atalha Leãdro, ávido por umas saltenhas chilenas das que têm na Vila Madalena. Saltenhas!

- Chico Esperto, como é que é isso?

- É comida italiana, italiana, grita o Vicenzo.

- Então mande mais algumas biras, grita Edgar.

- Você não era assim, diz Nei.

- Ô vida dura.

domingo, 8 de outubro de 2006

Manifesto

Estão abolidas, a partir de agora, todas as novas idéias sobre como manter as coisas do jeito que estão.

terça-feira, 3 de outubro de 2006

Lula x Alckmin

Belo Horizonte - E agora, votar em quem? Faça nos comentários sua sugestão para o segundo turno da eleição para presidente do Brasil.

segunda-feira, 25 de setembro de 2006

Desaparecidos XV, XVI, XVII e XVIII

Belo Horizonte - Perder discos dos Smiths é sempre doloroso. Se são LPs de vinil, a perda é maior. Especialmente quando estes estão entre os primeiros discos que você comprou.

The Smiths - O primeiro disco dos caras de Manchester é repleto de melancolia e cinismo pós-punk. Muita filosofia existencial, cinema e crimes. Da série de discos que salvaram nossas vidas.

Hatful of Hollow - Heaven knows i'm miserable now, How soon is now e Handome Devil estão entre as 50 melhores músicas que começam com a letra H. Tem ainda a mediterrânea Please Please Let Me Get What I Want e outras pérolas, como Girl Afraid e This charming man. Gravado parte no estúdio, parte ao vivo no programa John Peel com alta inspiração, Hatful of Hollow é o melhor disco da banda. Embora digam por aí que o melhor é o The Queen is Dead.

Meat is murder - Ainda não tinha esse, o terceiro, quando Nasser Hamid propôs trocar pelo recém-lançado Momentary Lapse of Reason, do Pink Floyd. Topei. O estranho terceiro disco tem coisas pouco executadas, mas não menos brilhantes, como Well i wonder, What She Said, That Joke Isn't Funny Anymore e Barbarism Begins at Home, além da música mais anti-açougue da história, Meat is Murder.

The queen is dead - Ela ainda está viva, mas sua majestade havia sofrido pouco nas mãos dos Sex Pistols. Faltavam algumas pancadas dos Smiths. Querido charles, você não anseia aparecer na primeira página do Daily mail vestido com o véu de noiva de sua mãe?, provoca Morrisey. No final dos 80, algumas garotas eram bigger than others. Lembra as idas da velha turma aos Cemetry Gates. Lembra quantas vezes acabamos a festa ouvindo I know it's over. Certas luzes nunca se apagam.

segunda-feira, 11 de setembro de 2006

Leio Cinzas do Norte, de Milton Hatoum

Belo Horizonte - Entre outras estórias, um artista que deixa a Amazônia para cumprir auto-exílio noutras plagas. Mais do que isso, um livro sobre amizade, arte, dramas familiares, sobre a morte, sobre destinos não-cumpridos, sobre natureza devastada, sobre natureza humana, sobre política. A narrativa original de Milton Hatoum permite que o retrato do inconformismo e da inadequação ganhe cores surpreendentes neste livro sobre o(s) desterro(s).

Algumas pessoas fazem o impossível para deixar seu lugar e às vezes vão longe demais.
(p. 160)

Pensei: todo ser humano em qualquer momento de sua vida devia ter algum lugar aonde ir. Não queria perambular para sempre... morrer sufocado em terra estrangeira. (p. 308)

Cinzas do Norte
Companhia das Letras
311 Páginas
R$ 41,00

O Onze

Belo Horizonte - Há cinco anos um grupo de estudantes de pós-graduação assistia, pela internet, aviões sendo lançados contra o World Trade Center e o Pentágono, no coração do Império Americano. O local: um dos laboratórios de informática da ECA-USP. Os estudantes eram, salvo engano, o autor deste blog, o cartunartista Marcelo D' Salete; o jornambientalista Alberto Gonçalves; o criador do Barata Elétrica, Derneval Cunha e Antônio Filho, excêntrico pesquisador do cinema de Carlos Prates Correia. Aplausos e apupos da turma socialista. Agora o império pensaria duas vezes antes de começar uma nova guerra? O tempo provaria que não. E onde estaria Leãdro Wojak em data tão simbólica?

Abraços, camaradas, aonde quer que estejam.

segunda-feira, 4 de setembro de 2006

sexta-feira, 1 de setembro de 2006

Desaparecidos (Cap. XIV)

Belo Horizonte - Gosto das veres de "Perfect Day", "Riptide" e "Busload of faith" contidas nesta Perfect Night in London, do mestre do new-journalism em versos, Lou Reed. Hoje toca em algum lugar de São Paulo, presa de algum receptador de CDs roubados.

Guerra fria