sexta-feira, 8 de abril de 2016


Virou a esquina da
Sete de Abril
e sumiu
disse que
tinha que ir embora
do Brasil
que não queria mais
ter que pagar
pra respirar.


Uma letra que comecei a escrever em São Paulo há muito anos. Como outras, é devir.

quinta-feira, 7 de abril de 2016

Lisboa - No começo do século éramos um punhado de escritores impublicáveis espalhados pelo mundo, mas orgulhosamente integramos (e mudamos o foco) da primeira geração de blogueiros. Comunidade pequena, mas respeitável, interligada, nossos blogues já surgiram com propostas novas, dos microcontos de Luís Ene aos metatextos deste aqui. 

Deixei São Paulo ao mesmo tempo em que Luís publicava o excelente A Justa Medida. Eu curtia dias tranquilos no interior de Minas quando o livro chegou por uma amiga que o comprou em Lisboa. Devorado em dias, considero A Justa Medida um grande livro, saraivada de sensações, filosofias e fino humor. Além de escritor, Luís é agitador cultural e junto com amigos portugueses criou uma revista eletrônica com vários colaboradores ibero-americanos, entre eles Ricardo Divino e Edgar Borges, que já publicou seu livro de microcontos. 

Depois que mudei para Belo Horizonte, Luís aportou no Brasil, um Estado acima, provavelmente por conta de uma namorada goiana. Não pudemos nos encontrar. E novo desencontro rolou em Portugal quando estive aqui no outono de 2014. Bom, neste abril de 16, em que lanço meu Índio na Rede por uma editora alemã, Luís faz lançamento de seu novo livro: "Escrever é dobrar e desdobrar palavras à procura de um sentido". Será em Tavira, na Casa Álvaro de Campos. É amanhã à noite. E eu vou.

quarta-feira, 6 de abril de 2016

Professor é agredido por dizer que é petista

Bruxelas - Salomão Nunes Santiago​ está sempre de bem com a vida. Ele é querido por todos no ANDES-SN por sua capacidade de trabalho e simpatia. Quando uma pessoa assim é atacada gratuitamente por quem perdeu o controle das finanças "graças ao PT", devemos reconhecer um princípio de convulsão social. Um episódio de desequilíbrio mental que não é isolado de outros, como o desequilíbrio moral do deputado que defende a suspensão armada da democracia ou o desequilíbrio ideológico de uma população repetidora de discursos de ódio, que adora televisão, mas odeia professores. A sequência de uma convulsão social é o estado de sítio, como o que vive esta cidade repleta de soldados do exército à caça de pessoas incapazes de conviver com as diferenças. A sequência de um estado de sítio é a anomia, a guerra civil. Os brasileiros que se cuidem: os canibais estão na sala de jantar. E eles são nossos vizinhos, colegas de trabalho, amigos e parentes. Os atentados de Bruxelas demonstraram que o inimigo não é mas externo. Ele está no meio de nós. Leia no Pragmatismo Político

terça-feira, 5 de abril de 2016

Varsóvia - "Ele recebe da Lei Rouanet, nhenhenhém. Ela recebe da Lei Rouanet, blá blá blá. Porque o Chico Buarque, Lei Rouanet, mi mi mi...". Essa impressão de que, de repente, ficou muito fácil comprar consciências, de onde veio? De um ambiente viciado, em que tudo está a venda, especialmente aqueles que dizem que tudo está à venda. Claudia Leitte recebe da Lei Rouanet. Alguém?! Pelo jeito, só os ídolos dos roteadores de memes podem receber financiamento público. Já não se trata mais de avaliações superficiais. Estamos na era da levitação magnética da produção de asneiras. Sílvio Brito, quero descer na mesma parada que você, falou?

segunda-feira, 4 de abril de 2016

Sobre Impeachment

Varsóvia - Informação nunca é demais. O texto de Felipe Pena, entretanto, é mais que isso. É educativo. Dialogar sobre a crise política exige conhecimento e desprendimento de preconceitos para os quais a maioria dos brasileiros neopolitizados está incapacitada porque é da nossa natureza ler pouco e assistir muita televisão. Quem gosta de aprender, lê Mein Kampf, Alcorao, bula de remédios, O Globo, Voltaire e o escambau. Quem não gosta, fica na plateia, assiste e levanta com a ola. Quem não gosta, veste o abadá, segue o trio elétrico, levanta a mãozinha, tira o pezinho do chão e grita. Mas, falando, sério, toda crise gera oportunidades, inclusive a de produzir textos excelentes e esclarecer o público. Esse é o papel de professores, jornalistas e intelectuais: porque um pouquinho de aufklarüng nunca fez mal a ninguém. Leia "Não é golpe, é muito pior", aqui.

domingo, 3 de abril de 2016





Zakopane - Há 15 anos o Canaimé surgiu como primeiro spotlight do racismo praticado em Roraima contra os povos indígenas, embora tenha sido criado entre cervejas e rockabilly no bar Little Darling, em Indianópolis, num já distante inverno paulista.
Varsóvia - A 9.163 quilômetros de casa, mas a apenas 8.599 quilômetros de Tóquio.

sábado, 2 de abril de 2016

Zdiar - O negócio é o seguinte: sou oposição a este governo porque ele retira direitos dos trabalhadores e abre o cofre para empreiteiros, banqueiros e outros saqueadores. Porque este governo quer construir uma hidrelétrica no rio Branco. Governo conivente com a corrupção histórica. Este governo NÃO TEM e NÃO TERÁ meu apoio. Mas se você, brasileiro, acha que os sujeitos de braços erguidos da foto (PMDB) salvarão o Brasil, por favor aceite um certificado de Idiota ou Mal-Caráter. O Brasil é um país surreal, mas acreditar que eles são herois ultrapassa qualquer absurdo. Não é nada pessoal, as carapuças só servem a quem as experimenta. Se você está descontente com o governo, vote no Aécio em 2018. Mas não puxe o tapete. Não seja revanchista. Aceite que existe um processo em curso e espere seus resultados. Eu NÃO apoio o GOLPE. Sou lobo da estepe egoísta e ensimesmado, sem apreço por ideologias baratas ou teleguiados de ocasião. É minha declaração e meu posicionamento político. O seu, brasileiro, é O SEU.
Ždiar - Na paz deste lugarejo encravado sob os Montes Cárpatos e um céu absurdamente azul, sento na colina e observo o passar do tempo. Silêncio. Dois falcões planam 300 metros acima de mim. Um homem empilha pedaços de lenha. Crianças passam de bicicleta. Carros na estrada, os faróis acesos sob o sol brilhante. Silêncio. Nenhum som. Meu corpo afunda lentamente entre pedras, grama e restos da neve que a primavera conservou em consideração ao inverno. Não sou ninguém. Não sou Avery Veríssimo. Não, este não sou eu. Avery Veríssimo é um canalha egoísta, uma aliteração desagradável. Um viajante solitário metido a Jack Kerouac. Lobo da estepe. Um escritor medíocre, um professor relapso, péssimo pai, filho e amigo. Inútil acúmulo temporário de átomos que um dia será completamente esquecido. Átomos que começam a se desintegrar. Homogênese com plantas, folhas e larvas de insetos à espera do calor que lhes permita voar. A grama cresce nos meus braços, peito, pernas e olhos. Desapareço lentamente sob a relva, desintegro-me. Em pouco tempo serei parte da colina e não lembrarei mais quem fui. Há muito tempo me desterritorializei, abandonei a província e me esgueirei na multidão de grandes cidades. Conheci oceanos e povos exóticos, escalei montanhas, cachoeiras, tepuys e vulcões, escrevi tolices, fui drogado por yanomamis e cristãos, fiz inimigos e fãs e filhos. Nada disso parece ter significado neste vilarejo e seu impronunciável Z com circunflexo invertido. Sou um pedaço de tábua da fantasmagórica casa de madeira abandonada entre os pinheiros secos à beira da estrada. Sou um monge franciscano. Um japonês que pesca. Um brasileiro que não reconhece mais o próprio país. Um viajante sem lar. Hoje todas as minhas roupas cabem numa mochila polonesa de 50 litros. Doei móveis, sapatos, tempo, roupas, livros e discos e conselhos que não foram seguidos. Busquei anonimato, mas encontrei fama. Busquei o socialismo, mas fui parar entre esnobes. Minha casa ainda é minha. E agora é meu este lugar. A desintegração se completa. Meus olhos merecem toda a beleza que já viram? Enfiados nas dobras de meu cérebro, 500 livros que não sei se devia ter lido. Minhas composições, letras, poemas, artigos, matérias e livro, a que servem? E se formos dizimados por asteroides, Hercolubus, Melancholia? E se tudo for sonho de Vishnu? E se Jesus destruir tudo para o bem da cristandade? E se o céu cair? Desapareço completamente. Sou pedra, grama e logo vento. Uma pinha obedece à gravidade e atinge o solo. Um galho seco sob o cotovelo me convoca à realidade. O silêncio é rompido. Pássaros gorjeiam como os de lá. Amazônia dos Tatras. A vida é caos e ordem e não sei o significado de progresso. Ao emergir do solo, sou tomado por tanta beleza que tudo o mais se perde. Levanto e caminho em direção à estrada. Pouco tempo depois cruzo a pé o rio Bialka até Polônia, que deixarei em três dias para voltar à tumultuada Bélgica. O valor de um homem é confirmado por sua trajetória. Construo a minha, ambições sob estreita vigilância. Sou um.

sexta-feira, 1 de abril de 2016

O insight

Homens de bem e herois do Brasil

Zakopane - Preciso de férias, mas o Brasil não permite. Meu país e sua corja de assassinos, covardes, estupradores e ladrões é também a nação de teleguiados que imagina ter atingido novo insight. Povo que idolatra televampiros, pastores, soldados e jogadores. Povo que maltrata intelectuais, artistas e professores. Somos o terceiro país mais ignorante do mundo apenas por enquanto. Ainda seremos  primeiro. Porque somos marionetes de entidades sinistras, corporações acima da lei, sofismas e patos amarelos. Ontem sans-culotte, hoje sans-savantE se há algo pior que o cheiro de 1963 é a sensação de anomia.

quinta-feira, 31 de março de 2016

A vida em alerta laranja

Varsóvia - As coisas estavam calmas pela manhã. Bandeiras da Bélgica, poucas, pendiam das sacadas. A Grand Place esvaziada devido aos últimos acontecimentos. Os mesmos mendigos de anos atrás, nos mesmos lugares. Turistas visitavam o Atomium. Uma feira multiétnica coloria as ruas próximas da estação Carmelite. Garotos exibiam a nova moda do Cabelo Boi Lambeu.

Um pouco desbotada, a lateral do edifício com o Tintin gay gigante guardava a área GLS. Soldados patrulhavam as estações de metrô, prédios públicos e outros pontos nevrálgicos da capital belga. Gentis, posavam para fotos.

Por volta das 13 horas, as sirenes começaram. Inicialmente, poucas e raras. Depois se multiplicavam, se sobrepunham, soavam em uníssono. Carros da polícia e de forças especiais percorriam velozmente a Boulevard, principal avenida do centro. Sim, havia algo de errado. Instalado num hotel a 1,5 quilômetro da estação Malbeek, evitei o local porque dentro de cinco horas deveria estar de cinto afivelado na fileira 32 do voo da Ryanair para Varsóvia.

O voo sairia do Aeroporto Charleroi, que fica a 42 quilômetros de Bruxelas e passou a receber todo o serviço destinado ao bombardeado Zaventen. A corrida para deixar a Bélgica começaria às 14 horas na Garre du Nord, onde os trens nunca atrasam a não ser quando se está em Alerta Laranja. Informes em francês e holandês diziam que havia um atraso programado de 15 minutos para o IC12, que leva direto ao aeroporto. Por motivos óbvios: segurança, vigilância, revistas. Mas havia algo mais.

De 15h17, o trem mudou para 15h32. Depois 15h38, 15h42, 15h44, 15h48, 15h52 e finalmente chega, às 16h02, mas na IC11, o que provoca uma corrida de passageiros por escadas para o outro lado da linha. Embarcamos ao mesmo tempo em que um alerta de bomba no Charleroi é confirmado.
O trem fica imóvel por 3 minutos e sai lentamente. Um aviso (desta vez também em inglês) desanimador sai dos alto falantes: o trem até o aeroporto foi cancelado. As alternativas para não perder voos e reservas em hoteis para centenas de pessoas eram táxis a 120 euros (mais de R$ 500), ônibus lentos a 17 euros ou a melhor descoberta do dia: lotações a 15 euros. Me uno a uma italiana e um coreano com o mesmo problema. Fretamos um lotação junto com dois portugueses e um escocês e corremos em direção ao Charleroi.

O tempo voa. São 17h20. A primeira entrada do aeroporto foi fechada, o que nos obriga a dar uma grande volta. Muitos soldados na entrada. Revistas. Exatamente 45 minutos antes do aviaão decolar faço o check-in e pago uma estranha multa de 45 euros  por "mudança de voo". Sinto que fui enganado. Mas a viagem para a Polônia estava garantida. Sento no fundo da aeronave que deixa um país abalado para seguir rumo aos Cárpatos.

Guerra fria