sábado, 7 de setembro de 2002

Subversiva no Brasil

São Paulo - Intelectuais como Susan Sontag, Noam Chomsky e outros menos ilustres, provam que ainda existe opinião própria e lúcida na América pós-11 de setembro. Na entrevista à Folha, a escritora diz que têm usado os ataques de 11/9 como um pretexto para uma extensão da política externa americana. "Eles usam o termo guerra para cobrir isso", diz a imolada Sontag, que foi comparada a Osama Bin Laden e Saddam Hussein pela revista de direita New Republic.

quinta-feira, 5 de setembro de 2002

Publis

São Paulo - A idéia é excelente: cobrar uma taxa das produtoras de publicidade pela veiculação e das TVs a cabo pelo uso do éter. Mas há controvérsias. Tema da matéria que fiz para a Tela Viva sobre impostos, produções independentes de cinema e vídeo e o futuro do audiovisual brasileiro.

quarta-feira, 4 de setembro de 2002

Delfos

São Paulo - ... porque sentados diante da tela, somos como a estátua do parque, não ferimos a paisagem.

Blogar, muito mais que ser observado é observar. Observar.

Foreign Affairs

São Paulo - Simpatizo, absolutamente, com a carreira diplomática. Quem não?

Timor Lorosae - Timor Leste

São Paulo - Se você tem uma televisão por perto - é provável que tenha, considerando nossa necessidade por telas -, assista à entrevista de Gabi com Sérgio Vieira de Melo, alto secretário de Direitos Humanos da ONU. O cara administrou o Timor depois da saída da Indonésia.
O pior dia da sua vida: uma bomba num mercado em Sarajevo, em 1994, que despedaçou 45 pessoas. Ele chegou ao local 10 minutos depois.

terça-feira, 3 de setembro de 2002

A Bruxa de Blair é Saddam Hussein

George Michael, que no clipe de Shoot the dog transforma o primeiro ministro da Inglaterra em cãozinho do governo dos Estados Unidos, está absolutamente certo. Como fiel animalzinho do presidente Bush 2, Tony Blair segue à risca a cartilha da guerra fria e deu agora pra dizer que o Iraque pretende uma cadeira no clubinho atômico.

Na anômala ética da guerra, bombas atômicas são menos covardes que armas químicas, quando não passam da mesmo coisa em diferentes doses. "A América não deve enfrentar essa questão sozinha", disse, solícito.

Tesouro musical, o release

Há um blog chamado Brazilian Music Treasure Hunt que faz um dossiê completo da música popular brasileira do bem. Há de Guinga a Jorge Mautner; de Cássia Eller a Renato Borghetti; de Ritta Lee a Maria Rita. Parece ser trabalho de clipping eletrônico, de autor desconhecido para público idem. Na descrição, a seguinte mensagem: notes from a search for musical treasure from Brazil - a quest for insight and understanding with a tendency to lapse into compulsive shopping. Ah, bom.

Entenda a América com a Turma do Chaves

Copiei daqui esta paródia que faria Jesús Martin-Barbero abandonar suas pesquisas sobre televisão assim que pusesse os olhos sobre essa interessante visão da vida política da América a partir do programa de humor do Chavo.

CHAVES (Venezuela) : Representa a pobreza na América Latina, que sofre na mão da burguesia, mas luta (ainda que os métodos nem sempre sejam corretos) para fazer valer os direitos do povo.


SEU MADRUGA (Brasil) : pobre, feio, passa fome e sempre dá um jeitinho de não pagar as dividas, apesar de ter sua vida controlada pelo Seu Barriga (FMI), por causa de seus problemas financeiros.


BRUXA DO 71 (Argentina) : Ninguém gosta dela, e ela fica sempre atrás do Seu Madruga tentando foder com ele. Sempre se dá mal, cada vez mais.


KIKO (Paraguai): o mais chacoteado de todos, e sua característica principal é possuir brinquedinhos caros que nem sempre funcionam.


NHONHO (Canadá) : grande e rico, mas ninguém dá importância. É o aluno preferido do Prof. Girafales (EUA). Sempre que aparece apanha.


PROFESSOR GIRAFALES (EUA) : Tem poder sobre todos. Tenta passar sua "cultura" para todo mundo, apesar de alunos como Chaves (Venezuela) sempre dar uma zoadinha e sair por cima no final.


CHIQUINHA (Cuba) : É a melhor amiga do Chaves (Venezuela). Pequena, mas faz um barulho danado, o que incomoda todo mundo, principalmente o Prof Girafales (EUA).


DONA FLORINDA (México) : Vive atrelada ao Prof. Girafales (EUA). É neurótica e gosta de mandar nos outros. Seu maior sonho é juntar os trapinhos com o Professor.


GODINES E SEU JAIMINHO (Suriname e Guiana Francesa): Aparecem de vez em quando, mas ninguém lembra que existem.

segunda-feira, 2 de setembro de 2002

Mofo


Madrugada de segunda-feira. O termômetro marca 12 graus. As idéias embaralhadas por um sono estranho, que se anuncia, mas não permanece. Sensação de limbo, de intervalo. Ansiedade típica da semana que começa: uma nova versão para a dissertação, fazer frilas.

domingo, 1 de setembro de 2002

Memória

Somente agora entendi completamente o que Proust quis dizer com a memória das sensações – ou, neste caso, da memória reavivada por um sensação auditiva. Percebi isso alternando Bm e E, os acordes de uma canção antiga que lembram, de imediato – trazendo brisa, calor, cheiros e sons – bons amigos e música à margem de um rio.
Fito
No atrasado frio deste inverno, que só dispõe de mais três semanas para cumprir seu ritual cíclico, vejo Fito Paez no People + Arts. Rosário siempre estuvo cerca.

sábado, 31 de agosto de 2002

Literatura e blogs

São Paulo - A matéria sobre blogs e literatura de umbigo do Estadão é esclarecedora, embora, por força das circunstâncias, tenha limitações. Primeiro assusta-nos o ufanismo da primeira parte, Conheça (a) nova geração de escritores - personagens da literatura brasileira, mas o retrato fiel do fenômeno da literaturaemprimeirapessoa está em Máquina de Pinball veio para sujar. E ainda há uma tentativa insólita de conseguir dos leitores um esforço mental extra (me dei ao trabalho, contrariado) para entender aonde quer chegar o autor de Na medalha, o que conta é a figura.

sexta-feira, 30 de agosto de 2002

Coisas estranhas

O deputado Eurico de Miranda propôs, em 1965, a criação de uma lei que faria a importação de um milhão de portugueses para povoar a Amazônia. Muito estranho. Em Goiânia (GO), uma lei determinava que o dono de uma propriedade tinha a obrigação de exterminar todos os formigueiros nela existentes, caso contrário seria multado. Muito estranho. Outra lei goiana previa que o proprietário de papagaios que quisesse andar com o penoso pelas ruas, deveria manter amarrado junto ao pescoço do animal um colar que lhe identificasse o sexo. Essas e outras coisas estranhas em Estronho e Esquésito. Sinistro.

Três notas e meia sobre rock n'roll

'Tô cansado de ouvir bandinhas new metal tipo Korn e todos as que rimam com link, como Blink, Limp, Linkin e N'Sync. Linkin Park tem a capacidade de transformar o que era barulho no rock em apenas barulho.
'Tô cansado de bandas indie oficiais, como Smash Mouth e Guided By Voices.
E também 'tô cansado de ver bandinhas de rock retrô tentando imitar Strokes cedo demais e gravando clipes minimalistas, tocando em fundo branco. Só White Stripes e o supracitado podem manter a alquimia. O resto sucks. E Hives é um saco.

quinta-feira, 29 de agosto de 2002

Inteligências coletivas

Digeratti de todas as idades e tribos reuniram-se há poucas horas no Sesc da Vila Mariana para ver Pierre Lévy dizer que a revolução sócio-antropológica que vivemos com o ciberespaço equivale à da invenção do microscópio no século XVII. Porque estamos descobrindo um novo mundo, o mundo da inteligência coletiva.

Para exempificar suas teorias sobre o grande cérebro eletrônico que estamos criando com os conteúdos que são disponibilizados na web - da qual participamos em maior ou menor escala -, Lévy comparou os seres humanos aos animais e disse, com eufemismos acadêmicos, que somos mais bem resolvidos que o outros mamíferos porque temos capacidade de perguntar, dialogar e transferir conhecimentos. Achei um exagero, afinal os animais fazem isso telepaticamente e telepatia parece ainda não estar entre os interesses de mounsieur Lévy.

Depois falou que uma multidão de seres humanos é menos inteligente do que o indivíduo - Aldous Huxley não foi citado, mas talvez tenha sido o primeiro a falar sobre esse veneno gregário no Regresso ao admirável mundo novo. E, claro, que uma multidão de abelhas é mais inteligente que uma abelha só, ocorrendo o mesmo com as formigas e as zebras. O ciberespaço, essa grande biblioteca, seria o ecossistema das idéias humanas na qual elas crescem como plantas - disso eu gostei -; o fim do copyright para idéias abstratas e a expansão do software livre foram temas tocados en passant.

Pouco critério na seleção das perguntas enviadas ao filósofo. Vi a minha sobre ciberativismo e povos indígenas da Amazônia começar a ser lida, mas teve que ser interrompida pelo próprio Lévy para responder as duas das três perguntas em seqüência que o professor da Unicamp lhe empurrara. Ouvi uma promessa de uma resposta por e-mail. E estou registrando.

A impresão que eu tive, olhando o solitário professor francês no centro do palco, a cinqüenta metros de altura no pior lugar do teatro, é de que a tela é muito mais que o objeto à nossa frente neste momento.

Copyright e desenvolvimento humano

Em 1992, quando a rede tinha pouco mais de um milhão de usuários, criou-se a Internet Society, que estabeleceria acordos e adotaria protocolos para que o desenvolvimento da web pudesse ser produzido e compartilhado por toda a humanidade. A idéia era excelente, como tem provado o acesso à rede, a produção de softwares em escala global e os 11 mil membros da ISOC em 182 países.

O problema é que os detentores de royalties, acionistas e toda sorte de especuladores virtuais - incluindo desenvolvedores de programas e autores de obras artísticas disponibilizadas na Internet - querem restringir o acesso de uma substancial parcela da humanidade a essas maravilhas. Justamente a que mais necessita de conhecimentos compartilhados para sobreviver à desterritorialização de trabalho, capital e cidadania: os ciberexcluídos.

Pelo amor do sotware livre, leia mais sobre isso no site da Internet Society.

Guerra fria