terça-feira, 12 de abril de 2005

Do ecrã à celulose

Divinópolis - As micro-histórias ou micro-contos são tão antigas quanto os micro-escritores. Se Toulouse-Lautrec fosse escritor, seria um micro. Dizem que o Alcorão e a Bíblia Sagrada são coleções de micro-contos. Cortázar era grande micro-contista. Borges também. O guatemalteco Augusto Monterroso é uma celebridade das rapidinhas literárias.

A série de micro-contos que escrevo aqui tem influência de Cortázar, Calvino, Monterroso e do grande nome do gênero em língua portuguesa na contemporaneidade, um blogueiro do Faro que ameaça interromper as atividades virtuais para dedicar-se mais ao papel - quem pode culpá-lo, blogosfera?

Luís Ene lança o primeiro volume de Mil e uma pequenas histórias na Ler Devagar, no Bairro Alto, em Lisboa, dia 16. O livro é retirado do blog homônimo que ele começou ainda no período blogáceo (antes da febre mundial em 2002). Desejar todo sucesso a este companheiro blogueiro d'além mar, é pouco. Que a História dê lugar a este contador de histórias.

sábado, 9 de abril de 2005

Uma canção

Lenda do Pégaso
(Jorge Mautner/Morais Moreira)

Era uma vez, vejam vocês, um passarinho feio
Que não sabia o que era, nem de onde veio
Então vivia, vivia a sonhar em ser o que não era
Voando, voando com as asas, asas da quimera

Sonhava ser uma gaivota porque ela é linda e todo mundo nota
E naquela de pretensão queria ser um gavião
E quando estava feliz, feliz, ser a misteriosa perdiz
E vejam, então, que vergonha quando quis ser a sagrada cegonha

Era uma vez, vejam vocês, um passarinho feio
Que não sabia o que era, nem de onde veio
Então vivia, vivia a sonhar em ser o que não era
Voando, voando com as asas, asas da quimera

E com a vontade esparsa sonhava ser uma linda garça
E num instante de desengano queria apenas ser um tucano
E foi aquele, aquele ti-ti-ti quando quis ser um colibri
Por isso lhe pisaram o calo e aí então cantou de galo

Era uma vez, vejam vocês...

Sonhava com a casa de barro, a do joão-de-barro, e ficava triste
Tão triste assim como tu, querendo ser o sinistro urubu
E quando queria causar estorvo então imitava o sombrio corvo
E até hoje ainda se discute se é mesmo verdade que virou abutre

Era uma vez, vejam vocês...

E quando já estava querendo aquela paz dos sabiás
Cansado de viver na sombra, voar, revoar feito a linda pomba
E ao sentir a falta de um grande carinho então cantava feito um canarinho
E assim o passarinho feio quis ser até pombo-correio
Aí então Deus chegou e disse: Pegue as mágoas
Pegue as mágoas e apague-as, tenha o orgulho das águias
Deus disse ainda: é tudo azul, e o passarinho feio
Virou cavalo voador, esse tal de Pégaso

Pégaso
Pégaso
Pégaso
Pégaso
Pégaso
Pégaso
Pégaso
Pégaso
Pégaso
Pégaso
Pégaso
Pégaso
pega o azul

sexta-feira, 8 de abril de 2005

Reflexões sobre o dia (seguinte) do jornalista

Divinópolis - O Jornalismo é uma selva. As notícias são antílopes. Jornalistas dividem-se. Entre leões e hienas.

quinta-feira, 7 de abril de 2005

Matéria de revista

Em meados de 84, Marcelo Z (teclados), Rocco (bateria), Bidi (guitarra), Andres (baixo) e Supra (sic) (vocal) formaram o grupo Tokyo, banda techno-pop paulista que inclui, em sua linha musical, muito da energia do punk e do bom e velho rock n? roll. Após um mês trancados em um estúdio, tocando de segunda a domingo e num pique que os levava a ficar até 18 horas em atividade, montaram o repertório com o qual sairiam para conquistar Sampa.

(Revista Roll, Ano II, número 23, página 17, 1985. Cr$ 9.000 Para Manaus, Boa Vista, Porto Velho, Rio Branco, Santarém Via Aérea Cr$ 11.700)

Um conselho

Olá meu querido
Por que vc usa seu blog de forma tão superficial? Por que não expõe suas ideías (sic), deve haver algo nesta sua cabecinha a não ser futilidades. Eu sei que há de ter. As pessoas não costumam gostar de perder tempo lendo asneiras praticamente sem sentido. SENTIR as (sic) vezes é bom, sentimentos, vc conhece? Espero que sim. beijos


(Comentário anônimo deixado aqui)

quarta-feira, 6 de abril de 2005

Lusofonia

Divinópolis - Entre os idiomas ocidentais, a língua de Camões, é a que mais cresce na rede. Até o Orkut agora conta com interface em português. Sexto idioma mais falado no mundo (perde para o chinês, hindi, espanhol, inglês e bengali), o português é o mais agradável de se ouvir, com seus fonemas sonoros, quase musicais: cachaça, macumba, firula, bagunça, fissura, anátema, chiste, tautologia, rinoceronte, periferia, paralelepípedo, orçamento, triste, perambulação, armário, jujuba, pilhéria, jactância, mineral, orgulho, papel, girafa, sorvete, costela, mariola, tatu. Qualquer bobagem (bobagem, bobagem) é agradável de se ouvir em português.

terça-feira, 5 de abril de 2005

A metamorfose

Divinópolis - Reduziu o estômago e as coxas, correu milhares de quilômetros na esteira, usou toxinas do botulismo para corrigir rugas e cirurgia plástica no pescoço e peito. Morreu atropelada por um ônibus desgovernado na saída da clínica. Ficou irreconhecível.

segunda-feira, 4 de abril de 2005

You can't allways get what you want

You can't allways get what you want
You can't allways get what you want
You can't allways get what you want
You can't allways get what you want

sexta-feira, 1 de abril de 2005

O infinito, segundo o Google

Divinópolis - A turma do Google garante que atingiu a perfeição no seu serviço de correio eletrônico, o Gmail, que completou hum ano e só está disponível na versão Beta.

A ambiciosa empreitada chama-se (símbolo do infinito) + 1 e prevê o aumento exponencial em gigabytes de armazenamento. A idéia é preservar todas as mensagens para ninguém mais reclamar de espaço. Por enquanto, os usuários têm 2 gigas de espaço. Tenho seis convites para o uso do serviço. Quem quer?

quinta-feira, 31 de março de 2005

Uma canção

Hemingway
(Alvin L.)

Acidentes e automóveis
Pneus cantando prá você e prá mim
Entre as ferragens rebeldes de terno
Revoluções que começam no fim

Eu observo o que não me interessa
Enxergo longe sem prestar atenção
Irresponsável por todas as guerras
Entrando certo pela contra mão

Hoje eu sei
Onde eu errei
Se houver outra vez
Quero ser Hemingway

A vida muda quando menos se espera
Pequenas doses de agonia e prazer
Na minha mão todo o medo do mundo
E certas coisas que eu prefiro esquecer

Acidentes e automóveis
Se repetem como jogos de azar
Atrás de mim a 120 por hora
Bem na frente de quem sabe chegar

Hoje eu sei
Por que eu errei
Se houver outra vez
Quero ser Hemingway

quarta-feira, 30 de março de 2005

Leio O sol também se levanta, de Ernest Hemingway

Divinópolis - O livro é um recorte na vida de um grupo de amigos nos loucos anos 20, com narrativa em primeira pessoa de jornalista apaixonado pela amiga libertária.

Se tem uma coisa que admiro no texto de Hemingway é o desenrolar aparentemente sem controle da narrativa, como se o autor estivesse à mercê dos acontecimentos e, com humildade inesperada, abdicasse da condição de senhor absoluto daquele mundo feito de papel e tinta.

Talvez a economia na prosa de Hemingway cause essa suspeita, com vácuos narrativos que lembram Virgínia Woolf, mas sem arriscar-se na experimentação literária. Hemingway escreve uma literatura taurina, pé no chão.

Talvez a impressão venha dos próprios personagens, em sua boemia caótica. Talvez seja realismo. Para fãs como o Pablo.

Título: O Sol Também Se Levanta
Autor: Ernest Hemingway
Editora: Nova Cultura
Páginas: 127
Preço: R$ 34,90

Guerra fria