Belo Horizonte - Compradores compulsivos de
discos são uns incompreendidos. A maioria das pessoas acha suficiente ouvir música no rádio, em lojas de roupas, em carros "
tunados" ou na TV, e que portanto não precisa
dela. A música é etérea, logo a tentativa de aprisioná-la configura egoísmo, instinto de propriedade, atitude pouco sociável diante da mais bela e intangível arte. Argumentos bons, mas insuficientes para convencer os colecionadores de discos.
W
alter Ben
jamin disse que a reprodução indiscriminada de bens
culturais destrói o valor de culto da obra genuína. Na era da reprodutibilidade técnica, o valor de exposição assume a liderança. Esse paradigma ganha roupa nova no século 21, onde CDs, livros e filmes são bens culturais que passaram a concentrar, na era da pirataria cibernética, o mesmo valor de culto que as pinturas de
Vermeer. Um dia esses objetos deixarão de ser fabricados, submersos na digitalização desenfreada de conteúdos. P
assado humano ainda presente.
Entre a reprodutibilidade técnica e a
pirataria cibernética, o colecionador de discos busca aprisionar a música para lhe dar o devido valor de culto. Há gente que vive muito bem com menos de 600 discos. Não é meu caso. Os 50 CDs desaparecidos que tentarei lembrar e comentar aqui reaparecem, fantasmagóricos, em forma de expiação e terapia. Sugestão do An
tônio Marcos, ainda às voltas com a tese.
PS: Como prometido, a série começa no dia seguinte a uma segunda-feira, com a volta do bom e velho sistema de comentários
Haloscan.