domingo, 28 de maio de 2006

Meu Basquiat

Belo Horizonte - O Basquiat que ilustra o sistema de comentários deste blog há um par de anos ("Florence", de 1983) pertence ao banqueiro Edemar Cid Ferreira, que está preso em mais uma empreitada quimérica do judiciário brasileiro pelo Estado de Direito - embora este mesmo sistema não resista a um bom pedido de habeas corpus. Edemar era conhecido pelos originais de Henry Moore, Roy Lichtenstein e Fernand Leger, misteriosamente desaparecidos após a falência do Banco Santos. A Justiça pediu o seqüestro dos bens para o pagamento da dívida bilionária, mas necas.

terça-feira, 23 de maio de 2006

Desaparecidos (12)

Belo Horizonte - A O Chamado, de Marina Lima, chamamos de disco conceitual por falta de melhor definição. Aqui a cantora e compositora desenluta da morte em família, de inquietações políticas e depressão. Sua composições lembram a noite, vulcões italianos, meus irmãos. Riqueza blue da música popular brasileira, Marina era também o maior ídolo de meu amigo Haddad, misto de piloto de avião, músico e contador de histórias, Saint-Exupéry particular para seleto grupo de amigos. Haddad costumava brincar: "Um dia seqüestro a Marina no meu avião só pra conversar e tocar violão com ela. Já pensou?". Pensava. Até torcia. Mas Haddad morreu ao mergulhar com seu pequeno avião meio da selva amazônica. Fez mulher, filhos e amigos todos fãs da cantora. Ouça no avião.

quarta-feira, 17 de maio de 2006

Toque de recolher (o caixa)

Belo Horizonte - Medo? Absolutamente. Quando vi meus funcionários indo embora às 15h, pensei no prejuízo. O que eu vi na rua foi um misto de pânico e euforia, porque estava todo mundo indo para casa. Parecia o dia em que Tancredo Neves morreu, e ligaram da escola avisando que seria feriado. Fiquei felicíssimo.

Alexandre Herchovitch, estilista, sobre a guerra urbana em São Paulo.

terça-feira, 16 de maio de 2006

Surrealismo

Belo Horizonte - Tensão e medo em SP: criminosos aterrorizam a população dizia a legenda sob a imagem de Paulo Maluf na TV, causando breve sentimento de justiça, como se a verdade finalmente viesse à tona. Ex-presidiário, Maluf é identificado nos créditos como "doutor" e discursa contra a bandidagem, atropelando a ética profissional. Diz que se sente seguro em Nova Iorque, no que é apoiado por Sônia Abrão, fiel cabo eleitoral. A dupla contribui generosamente para manter a Rede TV líder no ranking do baixo nível na teledifusão brasileira.

sábado, 13 de maio de 2006

Uma canção

May I
(Kevin Ayers)

I just came in off the street
Looking for somewhere to eat
I find a small cafe
I see a girl and then I say
'May I sit and stare at you for a while?
I'd like the company of your smile'
You don't have to say a thing
You're the song without the sing
The sunlight in your hair
You look so good just sitting there
'May I sit and stare at you for a while?
I'd like the company of your smile'

quarta-feira, 3 de maio de 2006

Yupanqui

Belo Horizonte - A nacionalização dos recursos naturais é uma necessidade da Bolívia, que age corretamente ao propor percentual de ganho sobre a exploração das reservas de gás e petróleo. Cabe aos investidores decidir se aceitam ou não tais imposições. A isso se chama liberalismo.

quarta-feira, 19 de abril de 2006

A luta continua

Belo Horizonte - Primeiro tiveram sua humanidade questionada. Depois sua religião virou motivo de escárnio. Sua liberdade, subtraída. Sua cultura, descaracterizada. Suas terras, roubadas. Suas mulheres, estupradas. Seus filhos sub-empregados. Sua imagem, deturpada. Seu futuro, ameaçado. Quinhentos anos depois, os índios do Brasil lutam por justiça e dignidade.

terça-feira, 11 de abril de 2006

Belo Horizonte - IMOLAR SUZANNE RICHTHOFEN não vai diminuir a sensação geral de que nosso judiciário é ineficiente e pesado. E de que brasileiro endinheirado não vai para a cadeia. Suzanne vai como bode expiatório. Além de tudo, dificilmente vai botar as mãos na herança dos pais, o que lhe veda acesso a bons advogados e às benesses do nosso sistema.

terça-feira, 28 de março de 2006

Green is the colour

Belo Horizonte - Filhos do Carnaval é bom porque soma Shakespeare a três Thomas: Mann, Anderson e Winterberg. Rei Lear, Festa de Família, Magnólia e os Buddenbrook comparecem nesta saga particular que está mais para Mike Leigh que Fernando Meirelles.

terça-feira, 21 de março de 2006

Como extinguir pássaros

Belo Horizonte - A fronteira agrícola na Amazônia não destrói apenas matas e rios. O desequilíbrio provocado pela monocultura de arroz no extremo norte do Brasil afeta, em diferentes instâncias, os bichos e os homens.

O desaparecimento de espécies de pássaros como o João-de-barba-grisalha (Synallaxis Kollari), que só existe em Roraima, é um indício.

Matérias como as de Vandré Fonseca, além de bem-elaboradas (jornalismo se faz assim) chamam a atenção para um problema mais que sério: urgente.

segunda-feira, 20 de março de 2006

Demônios

Belo Horizonte - No conjunto de mímicas do país do futebol e do carnaval destaca-se à crítica ao sistema, ao Hip-Hop e à TV Globo. É muito fácil demonizar a Globo ou ao Hip-Hop. É fácil berrar contra o sistema, culpar o poder público pela degradação social das grandes cidades.

Por isso Falcão: Meninos do Tráfico, dói em nossa alma pequena, desacostumada à vida real. O cotidiano de crianças em risco social, acompanhados pelo olhar atento e nem sempre passivo de uma câmara, nos é apresentado em imagens e depoimentos dolorosos, que insultam nosso comodismo social. Fazer o quê, agora?

sexta-feira, 10 de março de 2006

Desaparecidos XI

Belo Horizonte - Funcionários pouco éticos da Expresso Araçatuba também levaram o CD A vida é doce, do Lobão, um dos melhores, senão o melhor trabalho de João Luiz Woerdenbag Filho.

Músicas como universo paralelo, amanhecendo na lagoa, el desdichado II, além da própria faixa-título, são mísseis musicais e poéticos que não têm par na história da música popular brasileira.



Com a mesma falta de vergonha na cara eu procurava alento no
Seu último vestígio, no território, da sua presença
Impregnando tudo tudo que
Eu não posso, nem quero, deixar que me abandone
Não posso, nem quero, deixar que me abandone
Não posso, nem quero, deixar que me abandone não
São novamente quatro horas, eu ouço lixo no futuro
No presente que tritura, as sirênes que se atrasam
Pra salvar atropelados que morreram, que fugiam
Que nasciam, que perderam, que viveram tão depressa,
Tão depressa, tão depressa (A Vida é doce)

Guerra fria