Ouço Coltrane e a memória recua no tempo até noites como esta, quando depois de cear com as famílias, um bando de adolescentes se reunia para tocar violão, planejar peças de teatro e decidir os destinos do mundo. Antes da faculdade, dos casamentos, dos filhos, das separações, das mortes, antes de marcar reencontros que não podiam ser cumpridos porque estávamos espalhados pelo mundo. Antes do Anastase ir pra Grécia, a Marcela pra Brisbane, o George pra campinas, a Analu pra Curitiba, eu pra São Paulo, o Marcus e o Marcelo pra Brasília, . Antes da internet e da telefonia celular, a gente se encontrava em noites saturnais naqueles verões dos anos 80. Passado um quarto de século, permanecemos amigos. Nos encontramos na rede.
sábado, 24 de dezembro de 2011
sexta-feira, 16 de dezembro de 2011
Li Serafim Ponte Grande, de Oswald de Andrade
Serafim Ponte Grande ficou oito anos na estante antes que
me decidisse a lê-lo. O livro e o anti-herói Serafim em parte explicam a
personalidade controvertida e hedonista do intelectual paulista miseravelmente
burguês que irritou Florestan Fernandes e Monteiro Lobato.
A obra é particularmente brilhante, mas tende a ser
diminuída quando comparada a trabalhos publicados na mesma época (a virada dos
anos 1920 para 1930) como Ulisses, O Quarto de jacó e Heliogabalo. O que não é nenhum crime, afinal
ninguém pode ser por James Joyce, Virginia Woolf e Antonin Artaud a não ser os
próprios.
Sem copiar os medalhões e mantendo a brasilidade modernista
engavetada entre francesismos e uma necessidade maníaca de globalização de ideias,
palavras e sensações, Oswald de Andrade prova que viveu o mesmo zeit geist de Joyce. Porém, com muito
mais dinheiro.
Um problema nesta edição de 1990 é que o livro começa com
um prefácio (“Um grande não-livro”) hermético, inoportuno e pretensioso de Haroldo
de Campos, com irrelevantes considerações semióticas sobre um trabalho que no
fundo não compreende bem. Aliás, é característica fundamental da semiótica
interpretar de forma absolutamente descabida e pessoal, obras de artistas que
não queriam em nenhum momento expressar o que está apenas na mente dos
semiotas.
Livro: Serafim
Ponte Grande
Autor: Oswald
de Andrade
Editora: Globo
Ano: 1990
Páginas: 161
Preço: Esgotadosexta-feira, 9 de dezembro de 2011
Li Led Zeppelin: Quando os gigantes caminhavam sobre a Terra, de Mick Wall
Mick Wall conta quase tudo (afinal há coisas que não pôde
testemunhar e nem lhe contaram depois) sobre o Led Zeppelin. A biografia não-autorizada
da maior banda de rock de todos os tempos é repleta de referências musicais e literárias,
ocultismo e savoir-vivre. Acompanha desde
o surgimento do projeto ainda na seminal banda Yardbirds (por onde passaram simplesmente
Brian Jones, Eric Clapton Jeff Beck e Jimmy Page) ao auge do sucesso e à
decadência inevitável de um projeto ambicioso e de sucesso indiscutível.
São especialmente interessantes as narrativas em primeira
pessoa, espécie de fluxo de consciência onde os quatro músicos e o empresário
Peter Grant contam as próprias histórias num modelo de escrita muito pessoal do
jornalista inglês especializado em música. Ensina, por exemplo, que a pronúncia
galesa de Bron-Yr-Aur é “bron-raaar”. Mas, claro, se você não conhece Led
Zeppelin, isso não terá a menor importância.
Livro: Led
Zeppelin: Quando os gigantes caminhavam sobre a Terra
Autor: Mick
Wall
Editora:
Larousse
Ano: 2010
Páginas: 549
Preço: R$ 86,00
segunda-feira, 5 de dezembro de 2011
sábado, 3 de dezembro de 2011
quarta-feira, 30 de novembro de 2011
Li No Direction Home, de Robert Shelton
A edição brasileira está cheia de erros, mas vale o investimento. |
No Direction Home é uma mistura equilibrada de jornalismo,
pesquisa bibliográfica e brilhantes interpretações histórico-filosóficas sobre
movimentos de direitos civis, música folk e contracultura nos anos 1960s. As
frases de Dylan estão lá. Sua polifonia está lá. Suas aparentes contradições,
na verdade quebra-cabeças oferecidos aos interlocutores, algumas só
compreendidas pelos amigos mais próximos, estão lá. Mas ele não está lá – piadinha
com o filme do Michael Winterbottom. Dylanistas entenderão.
“Tenho relações com as pessoas. Pessoas como eu, que também
são desligadas (...) Não acho que exista algum tipo de organização de pessoas
desligadas.”, afirma Dylan durante um voo na página 281.
A pesquisa e o compromisso de Shelton, jornalista do New
York Times e agitador cultural da Nova Iorque pré-Aids, Pré-World Trade Center e
pré-Occupy Wall Street é uma lição de dedicação para qualquer jornalista-escritor-biógrafo.
Por isso considero abuso a presença na capa dos nomes da dupla que atualizou
alguns dados e notas.
A primeira edição brasileira, que foi vendida com uma
camiseta de brinde, infelizmente é repleta de erros. Encontrei alguns nas
páginas 122, 355, 384, 437, 447, 448, 482, 552, 566, 578, 591, 592, 596, 600,
620, 641 e 644. Nada que comprometa Robert Shelton e este livro-reportagem de altíssima
qualidade. Mas a revisão da Larousse precisa se esforçar mais.
Livro: No
Direction Home
Autor: Robert
Shelton
Editora:
Larousse
Ano: 2011
Páginas: 784
Preço: R$ 99,00
quinta-feira, 24 de novembro de 2011
Saddam Hussein morreu.
Osama Bin Laden morreu.
Muamar Kadafi morreu.
Hosni Mubarak caiu.
Ali Abdullah Saleh caiu.
Bashar Al Assad vai cair.
A primavera árabe pode ser interpretada como mera alternância de poder em regiões onde o tempo de gestão é mais flexível. Mas é apenas parte de eventos maiores, onde culturas milenares vivem um mesmo refluxo social. Enquanto no Ocidente acentua-se o fundamentalismo religioso, o Oriente Médio usa tecnologias de comunicação para (re)viver a diversidade. Não falta muito para que o pentecostal Brasil comece a falar sobre a decadência do oriente e considere a teocracia uma opção.
Osama Bin Laden morreu.
Muamar Kadafi morreu.
Hosni Mubarak caiu.
Ali Abdullah Saleh caiu.
Bashar Al Assad vai cair.
A primavera árabe pode ser interpretada como mera alternância de poder em regiões onde o tempo de gestão é mais flexível. Mas é apenas parte de eventos maiores, onde culturas milenares vivem um mesmo refluxo social. Enquanto no Ocidente acentua-se o fundamentalismo religioso, o Oriente Médio usa tecnologias de comunicação para (re)viver a diversidade. Não falta muito para que o pentecostal Brasil comece a falar sobre a decadência do oriente e considere a teocracia uma opção.
quarta-feira, 9 de novembro de 2011
Uma canção
Os Tempos Estão Mudando (Bob Dylan)
Venha pessoal
Por onde quer que andem
E admitam que as águas
Á sua volta aumentaram (cresceram)
E aceitem que logo
Estarão cobertos até os ossos
Se seu tempo para você
Vale a pena ser poupado
Então é melhor começar a nadar
Ou irá se afundar como uma pedra
Pois os tempos estão mudando
Venham escritores e críticos
Aqueles que profetizam com sua caneta
E mantenham seus olhos abertos
A chance não virá novamente
E não falem tão cedo
Pois a roda ainda está girando
E não há como dizer
Quem será nomeado
Pois o perdedor de agora
Mais tarde vencerá
Pois os tempos estão mudando
Venham senadores, congressistas
Por favor escutem o chamado
Não fiquem parados no vão da porta
Não congestionem o corredor
Pois aquele que se machuca
Será aquele que nos impediu
Há uma batalha lá fora
E está rugindo
E logo irá balançar suas janelas
E fazer ruir suas paredes
Pois os tempos estão mudando
Venham mães e pais
De toda a terra
E não critiquem
O que não podem entender
Seus filhos e filhas
Estão além de seu comando
Sua velha estrada
Está rapidamente envelhecendo
Por favor saiam da nova
Se não puderem dar uma mãozinha
Pois os tempos estão mudando
A linha foi traçada
A maldição foi lançada
E lento agora
Será o rápido mais tarde
Assim como o presente agora
Será mais tarde o passado
A ordem está
Rapidamente se esvaindo
E o primeiro agora
Será o último depois
Pois os tempos estão mudando
Todo meu apoio aos estudantes da USP
Não, senhores. Os estudantes não deixaram de ser a vanguarda do pensamento, da liberdade e das artes para defender futilidades. Quem se perdeu foi a sociedade, que já não possui capacidade cognitiva para discernir temas como educação, política, liberdades individuais, moda, economia, música e cozinha sem a orientação da mídia.
A pentecostal sociedade brasileira, que ama carnaval, churros e não perde a novela porque depois tem futebol, desconhece a primavera democrática que ocorre no mundo todo. Uma sociedade que contamina deliberadamente crianças, jovens, comércio e meios de comunicação com uma ética bíblico-capitalista de vulto eminentemente repressor. Uma sociedade que tem Paulo Maluf e apresentadores de programas policialescos como heróis populares; que se corrompe em todos os níveis e é guiada por José Nêumane Pinto e Victor Civita pouco merece a consideração que os estudantes da USP lhes dedica
A pentecostal sociedade brasileira, que ama carnaval, churros e não perde a novela porque depois tem futebol, desconhece a primavera democrática que ocorre no mundo todo. Uma sociedade que contamina deliberadamente crianças, jovens, comércio e meios de comunicação com uma ética bíblico-capitalista de vulto eminentemente repressor. Uma sociedade que tem Paulo Maluf e apresentadores de programas policialescos como heróis populares; que se corrompe em todos os níveis e é guiada por José Nêumane Pinto e Victor Civita pouco merece a consideração que os estudantes da USP lhes dedica
segunda-feira, 7 de novembro de 2011
Feedback post for two died friends
Murilo Souza comandou o Rock do Finado por duas edições na Pizzaria Ícaro's, que fundou depois que saímos do Jornal Última Hora, onde trabalhamos com Sylvio de Carvalho, Zuleida Viana, Flávio Rabello, Marcelo Bussachi, Alfredo Maia e escrevíamos ouvindo rock em nossos gravadores cassete sincronizados. Tocaram por ali Odely Sampaio, Mário Wander, Elton Russo e outros caras importantes para a cena rock local. Mário morreu. Sylvio também. Há uma semana, Murilo deixou de ouvir hard rock, ele que há mil anos me apresentou Deep Purple e aquele disco do Jon Lord com um elefante de tromba amarrada que ele quis me dar mas, não sei porque, recusei. Recentemente baixei o disco (Before I forget) e voltei a ouvir por vezes seguidas a interpretação de Elmer Gantry de Where are you. Ia dar uma cópia para o Murilo, mas não houve tempo.
Zequinha Neto 1960-2011 |
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