Porlamar - Porlamar. Décadence sans elégance. Ruas sujas, terrenos baldios, fachadas encarquilhadas e o comércio informal crescendo agressivamente. Haverá retorno para o charme perdido?
segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012
sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012
Güíria - A estrada para Macuro é apenas licenca poética dos mapas. Barcos fazem o transporte costeando o Atlântico venezuelano, mas lembram a inseguranca dos que fazem a travessia de Corriverton a Nieuw Nickerie. Acabei em Güíria, damned fucking town of broken promises. Volto aqui depois de 15 anos e tudo continua igual. Hibridismo caribenho embalado ao ritmo da soca que vem da vizinha Trinidad e Tobago.
quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012
Away
Carúpano - Estou a pouco mais de 100 quilômetros de Güíria, mas nao vou pra lá. Güíria é uma cidade onde promessas sao quebradas. Mas nao descarto uma ida a Macuro, no extremo oriental da Venezuela.
quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012
1984
Carúpano - A Venezuela aprovou uma lei contra desestabilizacao política e terrorismo. Agora cidadaos podem ser abordados a qualquer momento por suas opinioes. Chama-se Ley Orgánica contra la Delincuencia Organizada y Financiamiento al Terrorismo. Estrangeiros que emitam juízos desfavoráveis ao regime também estao sujeitos à lei. Para quem critica os Estados Unidos por suas posicoes conflitantes em relacao a liberdade política, o retrocesso é evidente.
Sabe aquela lei que permite a qualquer norte-americano denunciar imigrantes ilegais? O artigo 13 da Ley Orgánica contra la Delincuencia Organizada y Financiamiento al Terrorismo afirma que qualquer sujeito, natural ou jurídico, é obrigado a denunciar o que o governo considera tentativa de desestabilizacao política. Ou terrorismo, segundo a novilíngua chavista.
Sabe aquela lei que permite a qualquer norte-americano denunciar imigrantes ilegais? O artigo 13 da Ley Orgánica contra la Delincuencia Organizada y Financiamiento al Terrorismo afirma que qualquer sujeito, natural ou jurídico, é obrigado a denunciar o que o governo considera tentativa de desestabilizacao política. Ou terrorismo, segundo a novilíngua chavista.
terça-feira, 7 de fevereiro de 2012
O Coronel em seu labirinto
Hugo Chávez: que revolucao mesmo? |
Uma maioria cada vez mais evidente de artistas e intelectuais venezuelanos deixa de acreditar na suposta revolucao bolivariana, que mudou o nome e a constituicao do país, mas nao mudou o estado de miséria como se esperava. Cerca de 37% da populacao venezuelana continua a viver abaixo da linha de pobreza e 20% nao recebeu educacao formal.(2006). Um terco da populacao nao tem acesso a saneamento básico, segundo a ONU e 17 por cento nao tem água potável. Conheco bem quase 80 por cento do território venezuelano e pelo que vejo, essa estatística está subfaturada.
terça-feira, 31 de janeiro de 2012
Li Pesadelo Refrigerado, de Henry Miller
Em Pesadelo Refrigerado, escrito no começo dos anos 40 depois de uma longa viagem pelo país, Henry Miller abre as vísceras dos Estados Unidos para a gente menos interessada em conhecê-las. É que o povo mais belicoso e gordo do mundo preza demais a própria visão obtusa para fazer qualquer juízo. A atual resistência à socialização dos serviços de saúde é muito ilustrativa.
"Somos uma turba vulgar e opressiva cujas paixões são facilmente mobilizadas por demagogos, jornalistas, charlatães, religiosos, agitadores e que tais. Chamar isso aqui de sociedade de povos livres é uma blasfêmia." (p. 23)
Miller faz a viagem acompanhado inicialmente pelo pintor Abe Rattner. A ideia de produzir um livro ilustrado com bolsa da Fundação Guggenhein não dá em nada, mas ele viaja assim mesmo, esperando que pelo menos parte de seus compatriotas entenda o projeto. Um propósito que Miller sabia de certa forma inútil, mas poderia servir como terapia para um ex-expatriado expulso pela guerra da Europa.
"Os únicos artistas do presente que vêm sendo regiamente recompensados por seu trabalho são os charlatães; entre eles estão não apenas a variedade importada, mas também os filhos nativos que são capazes de levantar uma nuvem de poeira quando se trata de questões reais." (p. 146)
Milhares de quilômetros e centenas de páginas escritas depois, a análise de Miller é preciosa e pouco compreendida. Ainda que a America seja desvendada por gente como Miller, Kafka, Morgan Spurlock, Tzvetan Todorov, Allen Ginsberg, John Harris ou Bill Maher, o capítulo conclusivo parece perpetuamente escrito por Halliburton, GE, Taco Bell....
"A América não é lugar para artistas: ser artista é ser um leproso moral, um desajustado econômico, uma obrigação social. Um porco alimentado a milho tem vida melhor que um escritor criativo, um pintor ou um músico. Ser coelho é melhor ainda." (p. 19)
Talvez o problema esteja nas promessas de leite e mel advindas de uma formação religiosa capitalista e excludente. Um problema messiânico. Terras prometidas têm um quê de perfeição incapaz de ser modificado. Quando o cultivo dos próprios valores supera qualquer outra visão contraditória; quando cânones e tabus são respeitados geração após geração apesar do esforço de intelectuais, vanguardistas, visionários; quando o amor pela terra e seus frutos é maior que o amor pelas pessoas, percebemos a inutilidade de qualquer discurso de auto-crítica. Por isso temos Estados Unidos. Por isso temos Roraima.
Livro: Pesadelo Refrigerado
Editora: Francis
Ano: 1945 (Ed. 2006)
Preço: R$ 39
"Somos uma turba vulgar e opressiva cujas paixões são facilmente mobilizadas por demagogos, jornalistas, charlatães, religiosos, agitadores e que tais. Chamar isso aqui de sociedade de povos livres é uma blasfêmia." (p. 23)
Miller faz a viagem acompanhado inicialmente pelo pintor Abe Rattner. A ideia de produzir um livro ilustrado com bolsa da Fundação Guggenhein não dá em nada, mas ele viaja assim mesmo, esperando que pelo menos parte de seus compatriotas entenda o projeto. Um propósito que Miller sabia de certa forma inútil, mas poderia servir como terapia para um ex-expatriado expulso pela guerra da Europa.
"Os únicos artistas do presente que vêm sendo regiamente recompensados por seu trabalho são os charlatães; entre eles estão não apenas a variedade importada, mas também os filhos nativos que são capazes de levantar uma nuvem de poeira quando se trata de questões reais." (p. 146)
Milhares de quilômetros e centenas de páginas escritas depois, a análise de Miller é preciosa e pouco compreendida. Ainda que a America seja desvendada por gente como Miller, Kafka, Morgan Spurlock, Tzvetan Todorov, Allen Ginsberg, John Harris ou Bill Maher, o capítulo conclusivo parece perpetuamente escrito por Halliburton, GE, Taco Bell....
"A América não é lugar para artistas: ser artista é ser um leproso moral, um desajustado econômico, uma obrigação social. Um porco alimentado a milho tem vida melhor que um escritor criativo, um pintor ou um músico. Ser coelho é melhor ainda." (p. 19)
Talvez o problema esteja nas promessas de leite e mel advindas de uma formação religiosa capitalista e excludente. Um problema messiânico. Terras prometidas têm um quê de perfeição incapaz de ser modificado. Quando o cultivo dos próprios valores supera qualquer outra visão contraditória; quando cânones e tabus são respeitados geração após geração apesar do esforço de intelectuais, vanguardistas, visionários; quando o amor pela terra e seus frutos é maior que o amor pelas pessoas, percebemos a inutilidade de qualquer discurso de auto-crítica. Por isso temos Estados Unidos. Por isso temos Roraima.
Livro: Pesadelo Refrigerado
Editora: Francis
Ano: 1945 (Ed. 2006)
Preço: R$ 39
segunda-feira, 30 de janeiro de 2012
A chave de Chávez
Las Claritas - A tal revolucao bolivariana é um fracasso. A oposicao unida vai escolher um candidato único no dia 12 e a parte venezuelana da família Veríssimo já se posiciona contra Hugo Rafael Chávez Frías. O grande problema, segundo meu pai, é o alto índice de abstencao. Cinco candidatos disputam a chance de enfrentar o chavismo. Os favoritos sao os governadores de Miranda, Capriles Radonski e de Zulia, Pablo Pérez.
sexta-feira, 30 de dezembro de 2011
Li O Prisioneiro, de Erico Verissimo
Boa Vista - Deixei O Prisioneiro na estante por mais de dez anos, esperando
a chance de ser lido. Poderia tê-lo feito antes de 11 de setembro de 2001, da
invasão do Iraque e do Afeganistão pelos Estados Unidos e ampliaria ainda mais
minha propalada e turva verve anti-imperialista. Mas são águas passadas. Ou não,
já que as preocupações dos personagens invasores e invadidos (numa guerra que
não é identificada, mas sabemos que se trata do Vietnã) não mudaram.
Assim como os males da sociedade globalizada. “Não
estaria longe o dia em que os homens todos fossem apenas números num computador
descomunal. E esse computador bem poderia então transformar-se num deus duma
nova era”, diz o profético Verissimo à página 102.
Comprado em junho de 2001 num sebo em São Paulo, a 1ª edição
é de 1967 e foi produzida na deliciosa gramática pré-reforma de 1971 e contém atualíssimos apontamentos sobre o papel das grandes potências na mudança
de valores como liberdade, direitos civis, racismo. Percebemos que a consciência
de Verissimo está presente nas palavras de uma professora vítima da guerra. A
de seus inimigos podem ser ouvidas nas vozes do Coronel racista e assassino e
do Sargento torturador.
Erico Verissimo teve a ideia de escrever O Prisioneiro numa
tarde em Washington, observando os três netos (nascidos lá) brincando no
jardim. Na mente do escritor, a mangueira usada pelas crianças poderia muito
bem transformar-se, num futuro próximo, num lança-chamas nas mãos de jovens
enviados para morrer em países distantes.
Livro: O Prisioneiro
Autor: Erico
Verissimo
Editora: Globo
Ano: 1967
Páginas: 205
Preço: Esgotado
sábado, 24 de dezembro de 2011
Saturnais
Ouço Coltrane e a memória recua no tempo até noites como esta, quando depois de cear com as famílias, um bando de adolescentes se reunia para tocar violão, planejar peças de teatro e decidir os destinos do mundo. Antes da faculdade, dos casamentos, dos filhos, das separações, das mortes, antes de marcar reencontros que não podiam ser cumpridos porque estávamos espalhados pelo mundo. Antes do Anastase ir pra Grécia, a Marcela pra Brisbane, o George pra campinas, a Analu pra Curitiba, eu pra São Paulo, o Marcus e o Marcelo pra Brasília, . Antes da internet e da telefonia celular, a gente se encontrava em noites saturnais naqueles verões dos anos 80. Passado um quarto de século, permanecemos amigos. Nos encontramos na rede.
sexta-feira, 16 de dezembro de 2011
Li Serafim Ponte Grande, de Oswald de Andrade
Serafim Ponte Grande ficou oito anos na estante antes que
me decidisse a lê-lo. O livro e o anti-herói Serafim em parte explicam a
personalidade controvertida e hedonista do intelectual paulista miseravelmente
burguês que irritou Florestan Fernandes e Monteiro Lobato.
A obra é particularmente brilhante, mas tende a ser
diminuída quando comparada a trabalhos publicados na mesma época (a virada dos
anos 1920 para 1930) como Ulisses, O Quarto de jacó e Heliogabalo. O que não é nenhum crime, afinal
ninguém pode ser por James Joyce, Virginia Woolf e Antonin Artaud a não ser os
próprios.
Sem copiar os medalhões e mantendo a brasilidade modernista
engavetada entre francesismos e uma necessidade maníaca de globalização de ideias,
palavras e sensações, Oswald de Andrade prova que viveu o mesmo zeit geist de Joyce. Porém, com muito
mais dinheiro.
Um problema nesta edição de 1990 é que o livro começa com
um prefácio (“Um grande não-livro”) hermético, inoportuno e pretensioso de Haroldo
de Campos, com irrelevantes considerações semióticas sobre um trabalho que no
fundo não compreende bem. Aliás, é característica fundamental da semiótica
interpretar de forma absolutamente descabida e pessoal, obras de artistas que
não queriam em nenhum momento expressar o que está apenas na mente dos
semiotas.
Livro: Serafim
Ponte Grande
Autor: Oswald
de Andrade
Editora: Globo
Ano: 1990
Páginas: 161
Preço: Esgotadosexta-feira, 9 de dezembro de 2011
Li Led Zeppelin: Quando os gigantes caminhavam sobre a Terra, de Mick Wall
Mick Wall conta quase tudo (afinal há coisas que não pôde
testemunhar e nem lhe contaram depois) sobre o Led Zeppelin. A biografia não-autorizada
da maior banda de rock de todos os tempos é repleta de referências musicais e literárias,
ocultismo e savoir-vivre. Acompanha desde
o surgimento do projeto ainda na seminal banda Yardbirds (por onde passaram simplesmente
Brian Jones, Eric Clapton Jeff Beck e Jimmy Page) ao auge do sucesso e à
decadência inevitável de um projeto ambicioso e de sucesso indiscutível.
São especialmente interessantes as narrativas em primeira
pessoa, espécie de fluxo de consciência onde os quatro músicos e o empresário
Peter Grant contam as próprias histórias num modelo de escrita muito pessoal do
jornalista inglês especializado em música. Ensina, por exemplo, que a pronúncia
galesa de Bron-Yr-Aur é “bron-raaar”. Mas, claro, se você não conhece Led
Zeppelin, isso não terá a menor importância.
Livro: Led
Zeppelin: Quando os gigantes caminhavam sobre a Terra
Autor: Mick
Wall
Editora:
Larousse
Ano: 2010
Páginas: 549
Preço: R$ 86,00
segunda-feira, 5 de dezembro de 2011
sábado, 3 de dezembro de 2011
quarta-feira, 30 de novembro de 2011
Li No Direction Home, de Robert Shelton
A edição brasileira está cheia de erros, mas vale o investimento. |
No Direction Home é uma mistura equilibrada de jornalismo,
pesquisa bibliográfica e brilhantes interpretações histórico-filosóficas sobre
movimentos de direitos civis, música folk e contracultura nos anos 1960s. As
frases de Dylan estão lá. Sua polifonia está lá. Suas aparentes contradições,
na verdade quebra-cabeças oferecidos aos interlocutores, algumas só
compreendidas pelos amigos mais próximos, estão lá. Mas ele não está lá – piadinha
com o filme do Michael Winterbottom. Dylanistas entenderão.
“Tenho relações com as pessoas. Pessoas como eu, que também
são desligadas (...) Não acho que exista algum tipo de organização de pessoas
desligadas.”, afirma Dylan durante um voo na página 281.
A pesquisa e o compromisso de Shelton, jornalista do New
York Times e agitador cultural da Nova Iorque pré-Aids, Pré-World Trade Center e
pré-Occupy Wall Street é uma lição de dedicação para qualquer jornalista-escritor-biógrafo.
Por isso considero abuso a presença na capa dos nomes da dupla que atualizou
alguns dados e notas.
A primeira edição brasileira, que foi vendida com uma
camiseta de brinde, infelizmente é repleta de erros. Encontrei alguns nas
páginas 122, 355, 384, 437, 447, 448, 482, 552, 566, 578, 591, 592, 596, 600,
620, 641 e 644. Nada que comprometa Robert Shelton e este livro-reportagem de altíssima
qualidade. Mas a revisão da Larousse precisa se esforçar mais.
Livro: No
Direction Home
Autor: Robert
Shelton
Editora:
Larousse
Ano: 2011
Páginas: 784
Preço: R$ 99,00
quinta-feira, 24 de novembro de 2011
Saddam Hussein morreu.
Osama Bin Laden morreu.
Muamar Kadafi morreu.
Hosni Mubarak caiu.
Ali Abdullah Saleh caiu.
Bashar Al Assad vai cair.
A primavera árabe pode ser interpretada como mera alternância de poder em regiões onde o tempo de gestão é mais flexível. Mas é apenas parte de eventos maiores, onde culturas milenares vivem um mesmo refluxo social. Enquanto no Ocidente acentua-se o fundamentalismo religioso, o Oriente Médio usa tecnologias de comunicação para (re)viver a diversidade. Não falta muito para que o pentecostal Brasil comece a falar sobre a decadência do oriente e considere a teocracia uma opção.
Osama Bin Laden morreu.
Muamar Kadafi morreu.
Hosni Mubarak caiu.
Ali Abdullah Saleh caiu.
Bashar Al Assad vai cair.
A primavera árabe pode ser interpretada como mera alternância de poder em regiões onde o tempo de gestão é mais flexível. Mas é apenas parte de eventos maiores, onde culturas milenares vivem um mesmo refluxo social. Enquanto no Ocidente acentua-se o fundamentalismo religioso, o Oriente Médio usa tecnologias de comunicação para (re)viver a diversidade. Não falta muito para que o pentecostal Brasil comece a falar sobre a decadência do oriente e considere a teocracia uma opção.
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