sábado, 9 de abril de 2016

Faro - Tavira tem um castelo, escadarias, 37 igrejas históricas e apenas 27 mil habitantes. Tavira respira e transpira cultura. Álvaro de Campos, o heterônimo mais "selvagem" de Fernando Pessoa, nasceu em Tavira. A plateia do lançamento de um livro é formada por poetas, músicos e escritores. Na Casa Álvaro de Campos há livros, pinturas, souvenires e camisetas que fazem de Pessoa legítimo e merecido popstar. Porque assim devem ser tratados os poetas.

sexta-feira, 8 de abril de 2016


Virou a esquina da
Sete de Abril
e sumiu
disse que
tinha que ir embora
do Brasil
que não queria mais
ter que pagar
pra respirar.


Uma letra que comecei a escrever em São Paulo há muito anos. Como outras, é devir.

quinta-feira, 7 de abril de 2016

Lisboa - No começo do século éramos um punhado de escritores impublicáveis espalhados pelo mundo, mas orgulhosamente integramos (e mudamos o foco) da primeira geração de blogueiros. Comunidade pequena, mas respeitável, interligada, nossos blogues já surgiram com propostas novas, dos microcontos de Luís Ene aos metatextos deste aqui. 

Deixei São Paulo ao mesmo tempo em que Luís publicava o excelente A Justa Medida. Eu curtia dias tranquilos no interior de Minas quando o livro chegou por uma amiga que o comprou em Lisboa. Devorado em dias, considero A Justa Medida um grande livro, saraivada de sensações, filosofias e fino humor. Além de escritor, Luís é agitador cultural e junto com amigos portugueses criou uma revista eletrônica com vários colaboradores ibero-americanos, entre eles Ricardo Divino e Edgar Borges, que já publicou seu livro de microcontos. 

Depois que mudei para Belo Horizonte, Luís aportou no Brasil, um Estado acima, provavelmente por conta de uma namorada goiana. Não pudemos nos encontrar. E novo desencontro rolou em Portugal quando estive aqui no outono de 2014. Bom, neste abril de 16, em que lanço meu Índio na Rede por uma editora alemã, Luís faz lançamento de seu novo livro: "Escrever é dobrar e desdobrar palavras à procura de um sentido". Será em Tavira, na Casa Álvaro de Campos. É amanhã à noite. E eu vou.

quarta-feira, 6 de abril de 2016

Professor é agredido por dizer que é petista

Bruxelas - Salomão Nunes Santiago​ está sempre de bem com a vida. Ele é querido por todos no ANDES-SN por sua capacidade de trabalho e simpatia. Quando uma pessoa assim é atacada gratuitamente por quem perdeu o controle das finanças "graças ao PT", devemos reconhecer um princípio de convulsão social. Um episódio de desequilíbrio mental que não é isolado de outros, como o desequilíbrio moral do deputado que defende a suspensão armada da democracia ou o desequilíbrio ideológico de uma população repetidora de discursos de ódio, que adora televisão, mas odeia professores. A sequência de uma convulsão social é o estado de sítio, como o que vive esta cidade repleta de soldados do exército à caça de pessoas incapazes de conviver com as diferenças. A sequência de um estado de sítio é a anomia, a guerra civil. Os brasileiros que se cuidem: os canibais estão na sala de jantar. E eles são nossos vizinhos, colegas de trabalho, amigos e parentes. Os atentados de Bruxelas demonstraram que o inimigo não é mas externo. Ele está no meio de nós. Leia no Pragmatismo Político

terça-feira, 5 de abril de 2016

Varsóvia - "Ele recebe da Lei Rouanet, nhenhenhém. Ela recebe da Lei Rouanet, blá blá blá. Porque o Chico Buarque, Lei Rouanet, mi mi mi...". Essa impressão de que, de repente, ficou muito fácil comprar consciências, de onde veio? De um ambiente viciado, em que tudo está a venda, especialmente aqueles que dizem que tudo está à venda. Claudia Leitte recebe da Lei Rouanet. Alguém?! Pelo jeito, só os ídolos dos roteadores de memes podem receber financiamento público. Já não se trata mais de avaliações superficiais. Estamos na era da levitação magnética da produção de asneiras. Sílvio Brito, quero descer na mesma parada que você, falou?

segunda-feira, 4 de abril de 2016

Sobre Impeachment

Varsóvia - Informação nunca é demais. O texto de Felipe Pena, entretanto, é mais que isso. É educativo. Dialogar sobre a crise política exige conhecimento e desprendimento de preconceitos para os quais a maioria dos brasileiros neopolitizados está incapacitada porque é da nossa natureza ler pouco e assistir muita televisão. Quem gosta de aprender, lê Mein Kampf, Alcorao, bula de remédios, O Globo, Voltaire e o escambau. Quem não gosta, fica na plateia, assiste e levanta com a ola. Quem não gosta, veste o abadá, segue o trio elétrico, levanta a mãozinha, tira o pezinho do chão e grita. Mas, falando, sério, toda crise gera oportunidades, inclusive a de produzir textos excelentes e esclarecer o público. Esse é o papel de professores, jornalistas e intelectuais: porque um pouquinho de aufklarüng nunca fez mal a ninguém. Leia "Não é golpe, é muito pior", aqui.

domingo, 3 de abril de 2016





Zakopane - Há 15 anos o Canaimé surgiu como primeiro spotlight do racismo praticado em Roraima contra os povos indígenas, embora tenha sido criado entre cervejas e rockabilly no bar Little Darling, em Indianópolis, num já distante inverno paulista.
Varsóvia - A 9.163 quilômetros de casa, mas a apenas 8.599 quilômetros de Tóquio.

sábado, 2 de abril de 2016

Zdiar - O negócio é o seguinte: sou oposição a este governo porque ele retira direitos dos trabalhadores e abre o cofre para empreiteiros, banqueiros e outros saqueadores. Porque este governo quer construir uma hidrelétrica no rio Branco. Governo conivente com a corrupção histórica. Este governo NÃO TEM e NÃO TERÁ meu apoio. Mas se você, brasileiro, acha que os sujeitos de braços erguidos da foto (PMDB) salvarão o Brasil, por favor aceite um certificado de Idiota ou Mal-Caráter. O Brasil é um país surreal, mas acreditar que eles são herois ultrapassa qualquer absurdo. Não é nada pessoal, as carapuças só servem a quem as experimenta. Se você está descontente com o governo, vote no Aécio em 2018. Mas não puxe o tapete. Não seja revanchista. Aceite que existe um processo em curso e espere seus resultados. Eu NÃO apoio o GOLPE. Sou lobo da estepe egoísta e ensimesmado, sem apreço por ideologias baratas ou teleguiados de ocasião. É minha declaração e meu posicionamento político. O seu, brasileiro, é O SEU.
Ždiar - Na paz deste lugarejo encravado sob os Montes Cárpatos e um céu absurdamente azul, sento na colina e observo o passar do tempo. Silêncio. Dois falcões planam 300 metros acima de mim. Um homem empilha pedaços de lenha. Crianças passam de bicicleta. Carros na estrada, os faróis acesos sob o sol brilhante. Silêncio. Nenhum som. Meu corpo afunda lentamente entre pedras, grama e restos da neve que a primavera conservou em consideração ao inverno. Não sou ninguém. Não sou Avery Veríssimo. Não, este não sou eu. Avery Veríssimo é um canalha egoísta, uma aliteração desagradável. Um viajante solitário metido a Jack Kerouac. Lobo da estepe. Um escritor medíocre, um professor relapso, péssimo pai, filho e amigo. Inútil acúmulo temporário de átomos que um dia será completamente esquecido. Átomos que começam a se desintegrar. Homogênese com plantas, folhas e larvas de insetos à espera do calor que lhes permita voar. A grama cresce nos meus braços, peito, pernas e olhos. Desapareço lentamente sob a relva, desintegro-me. Em pouco tempo serei parte da colina e não lembrarei mais quem fui. Há muito tempo me desterritorializei, abandonei a província e me esgueirei na multidão de grandes cidades. Conheci oceanos e povos exóticos, escalei montanhas, cachoeiras, tepuys e vulcões, escrevi tolices, fui drogado por yanomamis e cristãos, fiz inimigos e fãs e filhos. Nada disso parece ter significado neste vilarejo e seu impronunciável Z com circunflexo invertido. Sou um pedaço de tábua da fantasmagórica casa de madeira abandonada entre os pinheiros secos à beira da estrada. Sou um monge franciscano. Um japonês que pesca. Um brasileiro que não reconhece mais o próprio país. Um viajante sem lar. Hoje todas as minhas roupas cabem numa mochila polonesa de 50 litros. Doei móveis, sapatos, tempo, roupas, livros e discos e conselhos que não foram seguidos. Busquei anonimato, mas encontrei fama. Busquei o socialismo, mas fui parar entre esnobes. Minha casa ainda é minha. E agora é meu este lugar. A desintegração se completa. Meus olhos merecem toda a beleza que já viram? Enfiados nas dobras de meu cérebro, 500 livros que não sei se devia ter lido. Minhas composições, letras, poemas, artigos, matérias e livro, a que servem? E se formos dizimados por asteroides, Hercolubus, Melancholia? E se tudo for sonho de Vishnu? E se Jesus destruir tudo para o bem da cristandade? E se o céu cair? Desapareço completamente. Sou pedra, grama e logo vento. Uma pinha obedece à gravidade e atinge o solo. Um galho seco sob o cotovelo me convoca à realidade. O silêncio é rompido. Pássaros gorjeiam como os de lá. Amazônia dos Tatras. A vida é caos e ordem e não sei o significado de progresso. Ao emergir do solo, sou tomado por tanta beleza que tudo o mais se perde. Levanto e caminho em direção à estrada. Pouco tempo depois cruzo a pé o rio Bialka até Polônia, que deixarei em três dias para voltar à tumultuada Bélgica. O valor de um homem é confirmado por sua trajetória. Construo a minha, ambições sob estreita vigilância. Sou um.

sexta-feira, 1 de abril de 2016

O insight

Homens de bem e herois do Brasil

Zakopane - Preciso de férias, mas o Brasil não permite. Meu país e sua corja de assassinos, covardes, estupradores e ladrões é também a nação de teleguiados que imagina ter atingido novo insight. Povo que idolatra televampiros, pastores, soldados e jogadores. Povo que maltrata intelectuais, artistas e professores. Somos o terceiro país mais ignorante do mundo apenas por enquanto. Ainda seremos  primeiro. Porque somos marionetes de entidades sinistras, corporações acima da lei, sofismas e patos amarelos. Ontem sans-culotte, hoje sans-savantE se há algo pior que o cheiro de 1963 é a sensação de anomia.

quinta-feira, 31 de março de 2016

A vida em alerta laranja

Varsóvia - As coisas estavam calmas pela manhã. Bandeiras da Bélgica, poucas, pendiam das sacadas. A Grand Place esvaziada devido aos últimos acontecimentos. Os mesmos mendigos de anos atrás, nos mesmos lugares. Turistas visitavam o Atomium. Uma feira multiétnica coloria as ruas próximas da estação Carmelite. Garotos exibiam a nova moda do Cabelo Boi Lambeu.

Um pouco desbotada, a lateral do edifício com o Tintin gay gigante guardava a área GLS. Soldados patrulhavam as estações de metrô, prédios públicos e outros pontos nevrálgicos da capital belga. Gentis, posavam para fotos.

Por volta das 13 horas, as sirenes começaram. Inicialmente, poucas e raras. Depois se multiplicavam, se sobrepunham, soavam em uníssono. Carros da polícia e de forças especiais percorriam velozmente a Boulevard, principal avenida do centro. Sim, havia algo de errado. Instalado num hotel a 1,5 quilômetro da estação Malbeek, evitei o local porque dentro de cinco horas deveria estar de cinto afivelado na fileira 32 do voo da Ryanair para Varsóvia.

O voo sairia do Aeroporto Charleroi, que fica a 42 quilômetros de Bruxelas e passou a receber todo o serviço destinado ao bombardeado Zaventen. A corrida para deixar a Bélgica começaria às 14 horas na Garre du Nord, onde os trens nunca atrasam a não ser quando se está em Alerta Laranja. Informes em francês e holandês diziam que havia um atraso programado de 15 minutos para o IC12, que leva direto ao aeroporto. Por motivos óbvios: segurança, vigilância, revistas. Mas havia algo mais.

De 15h17, o trem mudou para 15h32. Depois 15h38, 15h42, 15h44, 15h48, 15h52 e finalmente chega, às 16h02, mas na IC11, o que provoca uma corrida de passageiros por escadas para o outro lado da linha. Embarcamos ao mesmo tempo em que um alerta de bomba no Charleroi é confirmado.
O trem fica imóvel por 3 minutos e sai lentamente. Um aviso (desta vez também em inglês) desanimador sai dos alto falantes: o trem até o aeroporto foi cancelado. As alternativas para não perder voos e reservas em hoteis para centenas de pessoas eram táxis a 120 euros (mais de R$ 500), ônibus lentos a 17 euros ou a melhor descoberta do dia: lotações a 15 euros. Me uno a uma italiana e um coreano com o mesmo problema. Fretamos um lotação junto com dois portugueses e um escocês e corremos em direção ao Charleroi.

O tempo voa. São 17h20. A primeira entrada do aeroporto foi fechada, o que nos obriga a dar uma grande volta. Muitos soldados na entrada. Revistas. Exatamente 45 minutos antes do aviaão decolar faço o check-in e pago uma estranha multa de 45 euros  por "mudança de voo". Sinto que fui enganado. Mas a viagem para a Polônia estava garantida. Sento no fundo da aeronave que deixa um país abalado para seguir rumo aos Cárpatos.
Faro - A Casa Grande sofre com as mudanças sociais, aceitemos o fato. E parte da Senzala, solidária, late em sua defesa. É emocionante ver a patinha levantada, o deitar e rolar obediente, na esperança de que sinhozinho lhe afague a cabeça. Porque as transformações sociais dos últimos anos serviram até para isso: deu dinamismo aos dormentes; o direito de rosnar por uma classe/espécie a qual não pertencem. O fenômeno do escravo contente não é novo, mas a Sociologia agradece. Eis porque prefiro gatos a cães.

quarta-feira, 30 de março de 2016

Bruxelas - Uma semana depois dos atentados, a vida segue normal na capital da União Europeia.
Pessoas circulam, normais.
A temperatura é normal.
Trens e metrôs pontualmente normais.
Bruxelas é a mesma da semana passada a não ser um pequeno acréscimo no policiamento. É provável que o ataque tenha sido mais direcionado à capital da União Europeia que à capital da Bélgica.
A estação Maalbeek fica a poucos metros da sede do governo. Entretanto o recado ainda é confuso. O que querem provar os fanáticos religiosos da Europa?
O que querem provar os fanáticos religiosos do Brasil? 








terça-feira, 29 de março de 2016

Amsterdam - O Experimento Brasil, realizado com sucesso há 50 anos pelas Organizações Globo, ensina como criar artificialmente a identidade nacional via futebol, jornalismo e telenovelas. Nesse experimento nazistóide-orwelliano, a nação teleguiada aprende a odiar os vilões de telenovela  como aprende a odiar as personae non gratae do telejornalismo. O desconhecimento programado da linha que separa realidade e ficção leva o brasileiro neopolitizado a amar o Grande Irmão, ainda que não entenda seu significado.

terça-feira, 22 de março de 2016

Boa Vista - Vinte e oito mortos e 106 feridos em explosões no aeroporto e no metrô de Bruxelas. Milhares de imigrantes do oriente médio, europeus do leste, sírios e turcos encontram trabalho e vida digna neste belo e receptivo país. O terrorismo é mais inveja que ódio.

terça-feira, 15 de março de 2016

Boa Vista - Meu livro "Índio na Rede: Ciberativismo e Amazônia" será lançado oficialmente em 19 de abril (Dia do Índio), na Alemanha. A primeira leitura ocorre daqui a pouco na sala 140 do Bloco I (CCLA) da UFRR. No Colóquio "Ciberativismo e Amazônia", teremos a participação de profissionais de diversas áreas do conhecimento. Debateremos ambiente, povos originários e tecnopolítica.

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2016

Wouldn't it be nice


Cinebiografias de músicos são facas de dois gumes, como provam Bird e Dois Filhos de Francisco. No ano passado, Jimi Hendrix e Brian Wilson tiveram suas vidas transplantadas para o cinema.

O primeiro (All is by my side) vale pela interpretação de André Benjamin, também conhecido como André 2000 do Outkast (Hey Yaaaaa!). Mas tem direção irregular, silêncios deslocados e desfocagens sem sentido, talvez na tentativa de recriar uma atmosfera lisérgica.

Já o filme sobre Brian Wilson acerta no alvo. Love & Mercy recria casas, ambientes e shows com acuidade. Mostra a doença mental do talentoso músico sem clichês e com detalhes audiovisuais críveis. John Cusack está bem, mas a interpretação de Paul Dano é fina, brilhante Filme digno do compositor de algumas das mais belas melodias já criadas.

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2016

Polaris

Não é rotular, nem ideologizar. A oposição socialismo x capitalismo tem erro de natureza do julgamento. Não se trata de moeda, mas de outros valores que uma certa leitura/agenda liberal não encontra tempo (tempo é dinheiro) para refletir. O conceito de América Latina é mais complexo que uma nota do Radar:  não dá conta de que transformações culturais são mais importantes que crescimento econômico. O ser humano não precisa de dinheiro, precisa de Tecnologia. Inclusive na política. É bom que os dois lados, esquerda e direita, se acostumem à tecnopolítica. É o que farão no momento em que socializarem as ideias, o conhecimento, a lógica. Isso está além de sustentar um mercado fictício que não tem outro destino além da quebra. A sociedade é, naturalmente, socialista. Sem entrar no mérito político ou econômico. É um relacionamento, uma forma de convivência natural que surgiu do convívio. O capital é artificial e, pior ainda, fictício.

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2016

O cavalo mais bonito do mundo



Curioso com a imagem, busco informações sobre o cavalo mais bonito do mundo de 2013 e descubro uma história de glória e tristeza. Ele pertence a Kurbanguly Berdimuhamedow, presidente do Turcomenistão, e é um dos pouco mais de 3,5 mil cavalos Akhal Teke vivos: a raça está em risco de extinção. Criadores ao redor do mundo reproduzem-no para salvar a espécie. Kurbanguly Berdymukhamedow é dentista, doutor em Ciências Médicas, foi ministro da Saúde e coleciona cavalos. Eleito presidente em 2006, foi reeleito em 2012 com 97 por cento dos votos. Se isso parece pouco democrático, convém lembrar que o antecessor, Saparmurat Niyazov, passou 20 anos no poder e chegou a mudar os nomes dos dias da semana e dos meses do ano para homenagear poetas, militares e a própria mãe. Mudou o Juramento de Hipócrates para um juramento a si mesmo. Cancelou 10 mil aposentadorias durante crise econômica. Concursos de música e dança eram promovidos em sua homenagem cada vez que visitava as aldeias do interior do país. Proibiu ópera, balé e circo. Desviou 3 bilhões de dólares para contas no exterior e morreu no poder, mas sua cara ainda estampa cédulas de Manat, a moeda local.

O presidente atual desfez a maioria das excentricidades do ditador e goza de prestígio popular. Apesar de reduzir o culto à personalidade, ainda mantém características pouco ocidentais no trato democrático.

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2016

Deus

O homem
cada vez mais
des-homem
lobisomem
maquinomem
oferece holocaustos

ao deus dinheiro
pede como FaUSTo 

fim da McFome
diante do clamor
o deus dinheiro 

fica sensível
e cada vez mais invisível
some

terça-feira, 26 de janeiro de 2016

Escola brasileira pública de qualidade? Sim, isso existe.

Venezuela, Guiana, Estônia, Barbados, Cazaquistão, Mongólia e outros 60 países estão à frente do Brasil em índices educacionais. Dois terços de nossos alunos de 5º ano não diferenciam formas geométricas básicas como círculos, triângulos e retângulos e 70 por cento dos estudantes no 3º ano do ensino médio não identifica a informação principal em uma notícia curta.
ENTRETANTO, quatro escolas públicas no interior do Ceará, Rio de Janeiro e São Paulo atingem índices de excelência superiores aos de Suíça e Canadá. Como conseguiram? Veja aqui.

terça-feira, 12 de janeiro de 2016

Da ostentação



A perda de memória causa efeitos dolorosos, o que é estranho num brasileiro: povo que se lixa para tradições e memória histórica e só costuma lembrar do último Carnaval, quando lembra. A mídia não contribui com isso. Apenas comanda. Reedifica o Grande Irmão em programas feitos para se pensar que o que acontece ali é realidade. E vomita uma quantidade de "informação" calculada para o efeito amnésico. Aos domingos, a profusão de cores berrantes e os dois ou três estilos musicais determinam a "diversidade". Algaravia, mistureba de lixo pós-moderno, reciclado, tornado lavagem e empurrado goela abaixo de telespectadores gansos, logo transformados em foie-gras.

Recentemente, perdi dois HDs com cerca de 20 mil fotografias. A soma de backups em DVDs e na nuvem salvou cerca de 10 mil imagens. Programas de recuperação de dados escavaram mais 5 mil. Desapareceram definitivamente cerca de 5 mil fotos. A maioria dispensável, mas há pelo menos 500 perdas significativas, registros que jamais voltarão. Como há 10 anos em Minas Gerais, quando roubaram meu notebook repleto de imagens de família. Efeitos da vida digital que me tornaram mais cuidadoso e a fazer backups perenes. Mas os arquivos ficam maiores a cada ano e exigem HDs e dispositivos externos que quebram com frequência capitalista.

Só há duas memórias-arquivo: uma no cérebro, outra em dispositivos físicos e eletrônicos. Para a primeira, decoro sequências numéricas, letras de músicas e brinco com idiomas na Netflix. O segtredo de Jeremias Nascimento, por exemplo, é ouvir músicas do século 20. Os dispositivos eletrônicos entopem seu cérebro com informação desnecessária, mas podem ser úteis. Precisamos das duas memórias, mas como garantir a sobrevivência dos arquivos?

É aí que entra a Schirley e o Projeto Ostentação: estávamos na casa dela a falar sobre nossas viagens - sabiam que ela morou em Aruba? Num certo momento, Schirley diz com seu sotaque gaúcho jamais lapidado: "Mas Averyyyyy, você faz tantas viagens interessantes, por que não publica no Facebook?". "Schirley, isso é turismo-ostentação. Sou mochileiro e mochileiros detestam ser confundidos com turistas". Semanas depois dessa conversa, dou total razão à minha amiga.

Os programas de recuperação de dados (usei o Wondershare) não são perfeitos, mas ajudam muito. Depois de algumas horas, fotos apagadas há tempos, por acidente ou vontade própria, saltam na tela e oferecem novo significado à vida e à memória de longo prazo. Imagens que ficaram apenas na retina pulam na sua tela e trazem um mundo novo dentro de um velho mundo. Lembranças que serão usadas por algum tempo e depois, de mortos, vaporizadas na grande nuvem.

De agora em diante, usarei mais o blog e o Facebook para "upar" fotos e evitar novas perdas. Portanto, Timeline, preparai-vos para o Projeto Ostentação.

Post Scriptum: Sobre os programas de domingo, ainda me pergunto se o sujeito de chapeu-coco e óculos sem lentes veio de uma festa com Spike Lee e Russel Westbrook ou se ele não tem ideia de onde veio seu "personal style".

terça-feira, 22 de dezembro de 2015

Sou favorável ao colapso imediato e sem recuperação do sistema financeiro global. A onda de suicídios duraria pouco tempo. E deve ser encarada como seleção natural. A ideia é simples: Se tivermos que perder massa populacional, que dancem primeiro os consumidores compulsivos, que são responsáveis DIRETOS pela degradação ambiental. Todos os yuppies eliminados pela mesma praga: o bug no sistema.

sábado, 31 de outubro de 2015

People who died

Porlamar - Antonio Vieira dizia coisas engraçadas, como "jazz é um monte de sons pequenininhos, separadinhos, que fazem sentido" ou "tu é socialista porque nasceu na Amazônia, desconhece escassez", entre outras observações lúcidas/bizarras sobre vida, religião, economia e o algo mais e era exatamente por esse motivo que conseguíamos manter aqueles diálogos notáveis entre liberalismo e socialismo, quando atribuía meu bem-estar a Adam Smith, e claro que pensei sobre isso no sétimo andar daquele hotel no estrangeiro. O ateu Antônio é reintegrado à terra de onde saímos bilhões de anos atrás nalguma forma primitiva e ordinária até redundar no ser humano e seus feitos extraordinários, seus equívocos letais. E percebo que não vi mortos meu cunhado, o Mário Wander, nem o Simões ou o Laucides, somente Feutmann dias antes de Murilo e Zequinha, enterrados no mesmo horário em cemitérios diferentes, e todos se foram e porque caímos como moscas num Brasil polarizado entre o fascismo e o setentismo pré-revolucionário, eterna vítima de auto-indulgência, insensível ao cheiro de podre que vem da TV, ex-indústria cultural atual cultura bacteriológica, produtora de autômatos nessa inexplicável amálgama de niilismos yuppies, ruralistas, reacionários, religiosos, racistas, catequizadores, manipuladores e toda sorte de lunáticos dispostos a desinstalar o Iluminismo, jogar tudo fora, a certeza de que o tempo só é vencido pela fotografia, como a dos tênis na varanda em respeito à imaculada brancura do chão da minha sala.

domingo, 18 de outubro de 2015

Listen like thieves

http://m.jb.com.br/pais/noticias/2015/10/17/nova-denuncia-acusa-odebrecht-de-pagar-r-138-milhoes-em-propina/?from_rss=None

quinta-feira, 15 de outubro de 2015

Os Educadores

Hoje é dia do professor. Uma profissão cuja retórica geral reputa como importante. Na Câmara dos Deputados houve vários pronunciamentos. Na mídia, muito dinheiro investido pelo governo em propagandas institucionais. Nas escolas e universidades, homenagens, salgadinhos, pequenos discursos de auto-estima, tapinhas nas costas... Mas o que significa realmente esta data? O Brasil acaba de passar pela maior greve da educação na história. Foram 140 dias com universidades sem aula. Professores de norte a sul protestaram contra as condições de trabalho. Exigimos valorização salarial de carreira estruturada. Fomos tratados com total indiferença pelo Ministério da Educação. Nossos atos em Brasília foram reprimidos pela polícia, que atacou com cacetetes e bombas de gás professores, professoras e estudantes. Enquanto isso, a sociedade assistia tranquilamente sua novela, seu futebolzinho, seu programinha de polícia onde pode concordar com apresentadores ignaros que os problemas sociais serão resolvidos com a redução da maioridade penal. Também teve tempo de avaliar nas poucas e deturpadas notícias sobre a greve que professores são irresponsáveis vagabundos sem- vergonha que prejudicam a nação. Preocupada com as ameaças de impitimam, a presidente ignorou o caos na educação para cuidar do próprio cargo. Em resumo, assim é tratada no Brasil a atividade mais respeitada no Japão. Que este Dia do Professor por aqui seja o primeiro em que esta profissão retome seu papel, recupere suas forças e resgate sua honra. Os educadores estão vivos.

sábado, 10 de outubro de 2015

Um som

(Finis Africae - Ask the dust)
Atendendo a tua desilusão
Atendendo a tua desilusão
Roubaram as cores do meu reino
Roseiras murcharam no jardim
As dores aumentam no meu peito
Teus olhos são tão cruéis pra mim
Povos esqueceram suas lendas
Fendas se abriram pelo chão
Flechas de fogo incendiaram tendas
Atendendo a tua desilusão
Monges abandonaram templos
O vento não sabe aonde ir
Pararam teus movimentos
Teus pés, já não pisam mais aqui
Teus pés, já não pisam mais aqui
Atendendo a tua desilusão
Atendendo a tua desilusão

terça-feira, 22 de setembro de 2015

Bolsomita

http://www.msn.com/pt-br/noticias/nacional/bolsonaro-chama-refugiados-de-esc%C3%B3ria-do-mundo/ar-AAeCfze?li=AAaB4xI&ocid=mailsignoutmd

sexta-feira, 18 de setembro de 2015

Um texto de Eduardo Galeano

Barbie vai à guerra

Existe mais de um bilhão de Barbies. Só os chineses superam essa população tão enorme.

A mulher mais amada do mundo não poderia falhar. Na guerra do Bem, contra o Mal, Barbie se alistou, bateu continência e foi para a guerra do Iraque.

Chegou à frente de batalha vestindo fardas de terra, mar e ar, feitos sob medida, que o Pentágono examinou e aprovou.

Ela está acostumada a mudar de profissão, de penteado e de roupa. Também foi cantora, esportista, paleontóloga, dentista, astronauta, bailarina e sei lá mais o quê, e cada novo ofício implica um novo look e um novo vestuário completo, que todas as meninas do mundo estão obrigadas a comprar.

Em fevereiro de 2004, Barbie também quis mudar de par. Fazia quase meio século que estava ao lado de Ken, que não tem no corpo outra saliência além do nariz, quando foi seduzida por um surfista australiano que a convidou para cometer o pecado do plástico.

A empresa Mattel anunciou, oficialmente, a separação.

Foi uma catástrofe. As vendas desabaram. Barbie podia, e devia mudar de ocupação e de vestidos, mas não tinha o direito de dar mau exemplo.

Então a empresa Mattel anunciou, oficialmente, a reconciliação.

terça-feira, 1 de setembro de 2015

Bola ao cesto

Brasília - Finalmente veremos o brasileiro Marcelinho Huertas (ex-Barcelona) jogar na NBA. E finalmente, uma aquisição decente feita pelo Los Angeles Lakers. Na próxima temporada, haverá oito brasileiros no maior campeonato de basquete do mundo. Pena que o Brasil não valorize esse esporte e nossos atletas sejam obrigados a mostrar seu talento em quadras estrangeiras.

domingo, 30 de agosto de 2015

Da Plebe

Brasília - Hoje eles são Milton Santos, Eric Hobsbawn, Octavio Ianni, Edgar Morin, Florestan Fernandes, Karl Marx, Friederich Nietzsche e outros. Mas aos 15, 16 anos, minha formação política começa com duas bandas de Brasília: Legião Urbana e Plebe Rude. Depois eu descobriria Jean-Paul Sartre, Bob Dylan etc. Mas tudo começa aqui, a Torre de TV aonde acabo de ver Plebe Rude lançar seu primeiro CD (Nação Daltônica) em 2 milhões de anos.

sábado, 29 de agosto de 2015

Polícia para quem precisa

Brasília - "A presença ostensiva da polícia militar desde o início do ato, impedindo inclusive a entrada do carro de som e tensionando durante toda a manifestação, culminou em ação repressiva com lançamento de bombas e gás de pimenta e agressão corpórea a docentes e estudantes. Tais fatos revelam que este governo não hesita em recorrer à repressão policial contra a juventude e os trabalhadores que lutam contra as medidas econômicas que retiram direitos e precarizam os serviços públicos, notadamente, de saúde e educação. Foi bastante perceptível a disposição da categoria para a luta." 

(Trecho do Comunicado do ANDES-SN sobre os atos públicos em Brasília. Leia na íntegra aqui.) 

sexta-feira, 28 de agosto de 2015

Europa

Brasília - Refugiados sírios cruzam a fronteira da Macedônia com a Grécia. Imagens chocantes. Fronteiras, cercas elétricas, muros gigantes, nada detém o caos originado na concentração de renda, na exploração e na expropriação dos indefesos. O mundo ferve.

Sobre Política

Brasília - Definitivamente não entendo o eleitorado de Roraima. Talvez queira ultrapassar o de São Paulo como o mais irresponsável do país. Não vai ser fácil barrar uma cidade que elege Titirica, Paulo Maluf, Netinho de Paula, Afanásio Jazadji, Celso Russomano e terá Zé Luís Datena como candidato a prefeito. Mas os roraimenses se esforçam: elegem pastores e mais pastores, apresentadores de 'pograma de puliça', semi-analfabetos (há os que reúnem essas três virtudes), parentes de políticos e outras figuras aberrantes. O que esses políticos têm em comum em seu favor chama-se TELEVISÃO. O povo elege qualquer idiota que aparece na tela achando que o idiota é quem está na tela.

quinta-feira, 13 de agosto de 2015

Sobre a greve

O Conselho de Ensino, Pesquisa e Extensão (CEPE) da UFRR reúne-se amanhã às 14 horas no prédio da Reitoria para deliberar a suspensão do calendário acadêmico, dez semanas depois de iniciada a greve dos docentes federais. Não há risco de ocupação, como ocorreu na UFPA. O Campus Paricarana estará esvaziado. Homens encapuzados, com máscaras e jatos de veneno atacarão sem piedade mosquitos que infernizaram alunos, professores, técnicos e comunidade nos últimos meses. O combate acontecerá em plenas férias e época de reprodução, no final das chuvas, sob os trovões de agosto. Até as aulas retornarem, novas gerações de mosquitos terão história e cosmogonias próprias. Famílias de insetos contarão como seus ancestrais foram exterminados por homens impiedosos e como se tornaram mais fortes, Monsanto e HSBC do entomundo. Dispostos a tornar exangue a comunidade acadêmica. Ninguém assistirá à grande batalha, tipo Pink Floyd em Pompeia. Isolados no único prédio a não ser borrifado, os conselheiros decidirão. Neste 2015, enquanto empolávamos nos criadouros/salas de aula, o governo que mais precarizou o ensino na-história-desse-país retirou R$ 12 bilhões da educação pública. Destinou R$ 5 bilhões para instituições de ensino superior privadas, alegando crédito estudantil. Milhares de jovens trabalhadores tornaram-se reféns do sistema financeiro e de uma formação precária numa só cajadada. Na TV, o ministro da Educação descreveu um país irreal e todos acreditaram..

Sobre a juventude

Os estudantes não deixaram de ser a vanguarda do pensamento, da liberdade e das artes para defender futilidades. Quem se perdeu foi a sociedade, auto-incapacitada para discernir educação, política, liberdades, moda, economia, música e cozinha sem a orientação da mídia. Transforma suas crianças em filhas da tela. Rouba revistas dos consultórios e os talheres da Varig (Varig?!) mas culpa os políticos pela corrupção arraigada. Quem se perdeu foram papai e mamãe, crianças. Quem se perdeu foi o jornalismo. Quem se perdeu foram nossos representantes. Os jovens não se perdem. Se encontram. E viram as coisas de cabeça pra baixo, sempre que querem.

quarta-feira, 12 de agosto de 2015

Sabe aquele poema do Drummond?


Boa Vista - Renan amava José que amava Jader que amava Romero que amava aquele cara atrás dele que amava Henrique que amava Eduardo que amava Luís que amava Michel que amava Eunício, que não amava ninguém. Renan foi para os Estados Unidos com cartão institucional, José dominou o Amapá e Jader o Pará, Romero escapou de desastre, Eduardo cometeu suicídio eleitoral, Eunício continua a não amar ninguém e Michel casou-se com Marcela Tedeschi, que não tinha entrado na história.

segunda-feira, 10 de agosto de 2015

Educação em crise

A secretária de Educação de Roraima, Selma Mulinari, está neste momento no interior de três círculos concêntricos. O primeiro é seu gabinete de onde não sai desde as primeiras horas da manhã. Depois há um círculo com dezenas de policiais do grupo tático da PM, protegendo o prédio do lado de dentro dos portões. E, finalmente, do lado de fora, um círculo com professores, sindicalistas, movimentos sociais e estudantes indígenas indignados. Os professores da rede regular de ensino, iniciaram hoje uma greve, com 90 por cento de adesão e engrossaram as fileiras. Todos querem a cabeça da secretária, que é irmã da governadora Suely Campos. O ANDES-SN enviou representantes, que já prestaram seu apoio à causa dos professores indígenas em forma de moção e agora, pessoalmente, com membros do Comando Local de Greve. A greve é forte. A greve é multi-étnica. A greve é nacional. A greve é geral.

sexta-feira, 7 de agosto de 2015

Dilma em fuga

Boa Vista - Neste momento, são apenas 32 graus à sombra. Mas a sensação térmica sob o toldo de lona facilmente ultrapassava os 40, quando a presidenta discursou aos povos. Havia movimentos sociais "casca grossa", como o MST, quietinho, quietinho. Havia indígenas em seus trajes, LGBTs em tons dourados aproveitando a alta luminosidade e um punhado de servidores da Educação, Justiça Federal e Previdência. O protesto quase não se ouviu. Defensores do governo, olhar misto de espanto e indignação, vaiaram. Pedir "Justiça e Educação" aqui, com esse calor, onde já se viu?! 

Os clientes do plano habitacional de maior sucesso na-história-desse-país exultavam. E havia a imprensa. E convidados VIPs, cujo critério de escolha é mistério. E finalmente o palco, onde os donos do poder dividam a mesa principal. Dois senadores e uma senadora eleitos por Roraima conversavam alegremente num evento quase privado, dado o esquema de segurança. Não fosse o Exército, Polícia Federal, Polícia Rodoviária Federal, seguranças oficiais e espiões em meio à turba suada, facilmente se confundiria com espetáculo de música. Tipo Wesley Safadão ao vivo no Mané Garrincha. 

Antes da presidenta, houve falas. A prefeita foi simpática e gentil. Same as it ever was. A governadora exigiu menos terras indígenas e áreas de proteção ambiental. Same as it ever was. Um ministro/pastor perguntava à plateia quem pagava aluguel acima de 500 reais. E 400 reais?! E 300?! E 200?? E 100, quem pagava mais de 100 reais de aluguel, minha gente? Braços suados em riste. Assessores políticos de bracos erguidos também. Leni Riefenstahl se refestelaria. Leques com a logo do Município foram distribuídos. Ventos a 4km/h. A presidenta falou até as 13h, abatida pelo calor. Disse que já resistiu a muitas dificuldades e não admite que haja desestabilização política. Só econômica. E só um pouco. O Brasil é forte. E já esteve pior. Quando a oposição foi governo, por exemplo... 

Depois entrou num helicóptero e se mandou sem falar com jornalistas. Parecia ter adivinhado que entre microfones, filmadoras e bloquinhos de papel havia um não-credenciado que cruzou cada uma das barreiras de acesso, sem crachá, como o alien de Gilberto Gil. Ou talvez o assessor tenha notado a camiseta vermelha do Comando Nacional de Greve do ANDES num jornalista que por acaso é professor federal em greve, portanto gente da pior espécie. Cinejornalistas frustrados, fotógrafos suados e decepção geral para quem entrevistaria a primeira celebridade. Repórteres maquiadas e lívidas, perderam a paciência e silenciosamente decidiram não votar em Dilma na próxima eleição.

domingo, 26 de julho de 2015

Um poema

Não digo adeus 
Eduardo Galeano
 
Em 1872, por ordem do presidente do Equador, Manuela León foi fuzilada. Em sua presença, o presidente chamou Manuela de Manuel, para não deixar registro de que um cavalheiro como ele estava mandando uma mulher para o paredão, embora fosse uma índia bruta.
Manuela havia alvoroçado terras e povoados e havia alçado a indiada contra o pagamento de tributos e contra o trabalho servil. E como se tudo isso fosse pouco, havia cometido a insolência de desafiar para um duelo o tenente Vallejo, oficial do Governo, diante dos olhos atônitos dos soldados, e em campo aberto a espada dele tinha sido humilhada pela lança dela.
Quando este último dia chegou, Manuela enfrentou o pelotão de fuzilamento sem venda nos olhos. E perguntada se tinha algo a dizer, respondeu, em sua língua:
- Manapi (Nada)

sábado, 25 de julho de 2015

Eduardo Galeano

Faz pouco mais três meses, deixou-nos Eduardo Galeano, o mestre uruguaio que dedicou a vida a retratar o continente latino-americano sob uma perspectiva histórico-humanista como poucos conseguiram fazer. Texto econômico, jornalismo de profundidade, maestria acadêmica lhe caracterizavam. Era capaz de falar sobre qualquer coisa, desde que tivesse importância suficiente para desestabilizar os inertes e deleitar seus muitos fãs com análises precisas sobre sociedade, consumo, política, história. Seu legado permanece. Poucos seres humanos reuniram tantas qualidades ignoradas. Não troco minha vida por nenhuma outra: repleta de aventuras, viagens, paisagens e amigos que me fazem vivo e relevante. Trabalho com a palavra e não conseguiria fazer outra coisa. Tenho poucos desejos, porque estes são sofrimento. Mas um dia espero escrever como Galeano.

quarta-feira, 22 de julho de 2015

Brasília - Indignado com a morte de seu Rafael, que meu pai conheceu há 50 anos na fronteira norte, um vindo do maranhão, outro do Rio Grande do Norte. Atuaram na mineração artesanal na Venezuela e na Guiana, instalaram-se no bairro São Francisco em Boa Vista. Quando sua mulher deu sinais de que iria entrar em trabalho de parto, fretou um pequeno avião em Ourinduque e foi até Georgetown, Guyana, onde nasceu meu amigo Rubem Leite, que conheço de toda a vida. Rubinho é pai do Lucas, que é amigo da Nagisa, minha filha; assim como meu filho Liu é amigo do seu filho Mateus. Hoje, nossas netas Jasmim e Ísis já são amiguinhas. Famílias amigas há quatro gerações. Que os criminosos não fiquem impunes. Que a Polícia Civil faça bem seu trabalho e entregue os assassinos deste homem forte e trabalhador que escolheu viver perto da natureza.

terça-feira, 21 de julho de 2015

Pátria Educadora

Brasília - Permaneço como delegado no Comando Nacional de Greve pela Seção Sindical Dos Docentes Da Ufrr até 1 de agosto. Mandato confiado por companheiros de todo o Brasil que consideraram as peculiaridades regionais e distâncias continentais que caracterizam nosso imenso país. Represento, com responsabilidade, 571 professores efetivos e um sem-número de substitutos da UFRR. Minha ideologia é bem limitada: educação, política e liberdades individuais. Por isso o Andes-SN não é apenas meu sindicato. É meu time de futebol e meu partido político. Amanhã estaremos ao lado de 5 mil servidores da União numa grande marcha em Brasília. Por uma pátria que faça jus ao título de "Educadora".

quarta-feira, 15 de julho de 2015

Cinema

"Por que nos sentávamos tão perto? Provavelmente porque queríamos ser os primeiros a receber as imagens que chegavam, quando elas estavam ainda novas, ainda frescas, antes que saltassem para as fileiras seguintes. Antes que se espalhassem de fila em fila, de espectador em espectador, até que se esgotassem, em segunda mão, do tamanho de um selo e voltassem para a cabine do projetista."
Os pensamentos de Matthew (Michael Pitt) foram escritos por Gilbert Adair com base num provável estado de graça. Mas ao fazer a câmera despencar da Torre Eiffel ao som de 3rd stone from the sun (Jimi Hendrix), Bernardo Bertolucci mostra que seu maior barato é desafiar a literatura.

domingo, 12 de julho de 2015

Bola ao cesto


Boa Vista - Já temos dois campeões brasileiros na NBA: Leandro Barbosa e Gustavo Splitter. Na próxima temporada estreiam Cristiano Felício (que assinou hoje com o Chicago Bulls) e Raul Neto, que jogará pelo Utah Jazz, time que não anda bem das pernas desde o fim da era Malone-Stockton no começo dos 1990. 
Sou fã de basquete desde que me entendo por gente e não conheço esporte mais emocionante, estratégico, veloz, aéreo. O Brasil já foi uma potência do basquete, mas nos últimos anos, por força de uma Mídia comprometida e de uma sociedade indiferente, parece que praticamos apenas um esporte coletivo. Enquanto o primeiro é jogado com a cabeça, o segundo é conhecido por tirar meninos das escola
Sim, o Brasil já foi uma potência do basquete. Nossa seleção masculina estreou em 1922: antes do rádio! O Brasil foi vice-campeão mundial em 1954; campeão mundial em 1959 e em 1963, quando derrotamos os EUA por 85 a 81. Os ex-jogadores, treinados pelo lendário Kanela, ainda se encontram uma vez por ano.
Nas Olimpíadas, temos uma medalha de prata e quatro de bronze, além de outras quatro semifinais. Em Jogos Pan-Americanos, temos Medalha de Prata em 1963 e Medalha de Bronze em 1951, 1955 e 1959. Em 1970 conquistamos o vice-campeonato mundial. Em 1971, vencemos o Pan-Americano de Bogotá. Temos medalha de Bronze nos Jogos Olímpicos de 1960 e de ouro no Sul-Americano em 1959, 1960, 1961, 1963 e 1971. Ubiratan, "o rei do tapinha", foi nosso primeiro jogador a atuar no exterior, pelo Sprungen, da Itália. Foi eleito para o Basketball Hall of Fame da FIBA há cinco anos.
Em 1985, detonamos os EUA no pan-americano por 120 a 115, com brilhante atuação de Oscar Schmidt, considerado o maior pontuador deste esporte, com cerca de 49,7 mil pontos. Oscar já media 1,85 metro aos 13 anos. Foi campeão brasileiro e sul-americano inúmeras vezes. Jogou onze temporadas na Itália (algumas com o Joe, pai de Kobe Bryant) e outras duas na Espanha. Não ingressou na NBA porque até 1989 a liga não permitia que estrangeiros atuassem por suas seleções. Oscar pertence a dois Basketball Hall of Fame: da FIBA e da NBA, mesmo sem ter jogado nos EUA.
Em 1994, nossa seleção feminina ganhou o campeonato mundial. Dois anos depois, foi medalha de prata na Olimpíada de Atlanta. No sul-americano ganhamos medalha de ouro "apenas" em 1954, 1958, 1965, 1967, 1968, 1970, 1972, 1974, 1978, 1981, 1986, 1989, 1991, 1993, 1995, 1997, 1999, 2001, 2003, 2005, 2006, 2008, 2010, 2013 e 2014.
Cabem algumas perguntas: Por que o Ministério dos Esportes não investe no nosso basquete? Por que as grandes empresas não financiam o Novo Basquete Brasileiro? Por que não vemos notícias sobre esse esporte nas principais emissoras de TV aberta? Por que as quadras são tão poucas nas cidades e as que existem estão deterioradas?
No basquete, tudo pode mudar numa fração de segundos. É o mais competitivo e equilibrado (por conta dos tempo restrito de ataque) dos esportes coletivos. Pratiquei na escola e acompanho o que posso, da NBA à NBA; da Euroliga às peladas no Complexo Ayrton Senna. Infelizmente, pouco significa no Brasil contemporâneo, da uniformidade religiosa, cultural e política que nos esmaga.
O futebol brasileiro, corrompido e cheio de mazelas, programado para ter os mesmos campeões ano após ano, é nossa aposta equivocada de unidade nacional: nos identificamos com nossos craques semi-analfabetos; com cartolas mafiosos e com o jabaculê midiático que promove jogadores folgados e incapazes. Nosso futebol foi eliminado (7 a 1!) em casa pela Alemanha no ano passado e defenestrado há poucas semanas da Copa América pelo Paraguai. E ainda nos achamos os tais. Infelizmente, o Brasil continua a falhar gravemente em todos os campos. E em todas as quadras.

sábado, 11 de julho de 2015

Capitalistas

Brasília - A pobreza não é apenas de caráter, mas também de conhecimento e de... grana. Liberais contemporâneos são produzidos em linha de montagem, mas como bons replicantes (ah, essa polissemia), se consideram originais. Para Isaac Asimov, falta-lhes alma. Para Walter Benjamin, falta-lhes aura. Para socialistas convictos, alguma cultura e vergonha na cara.

sexta-feira, 10 de julho de 2015

Brasília - O cerco se fecha. Universidade Federal de Ouro Preto deflagra greve em três dias. Será a IFE número 42 a paralisar suas aulas. E aí, UFMG, que tal seguir o exemplo que vem do interior?
Brasília - O Ministério da Educação, cercado por edifícios militares na Esplanada, é uma triste alegoria sobre como o livre pensar está constantemente cercado pela repressão.
Brasília - Amanhece no Planato Central. Por enquanto, 17 graus, mas o dia promete ser quente, literal e figurativamente. A luta do ANDES-SN com o governo já se tornou um caso cabalístico e numerológico: Completamos 41 dias em greve, com 41 universidades e institutos federais sem aulas. A resposta do Executivo foi conceder aumentos de 61 por cento para o Legislativo e 72 por cento para o Judiciário. Aos professores, ofereceu 21 por cento para os próximos quatro anos. Isso é caso de polícia. Federal. ‪#‎patriaeducadorasqn‬

quarta-feira, 8 de julho de 2015

Enquanto o cone sul (Chile, Uruguai e Argentina) avança socialmente, elegemos pentecostais homofóbicos e racistas; enquanto lá as greves são iniciadas por estudantes, aqui professores furam greve com ajuda de alunos; Enquanto torturamos e matamos adolescentes infratores, países mais civilizados protegem suas crianças com educação universal. E sobre a questão das drogas, o óbvio nunca parece fazer sentido por aqui: "Podemos negar que, quando os jovens usam maconha e não podem cultivá-la devem recorrer ao tráfico para comprá-la, abrindo a porta para drogas mais pesadas como a cocaína e a pasta base? Todos nós sabemos que isso acontece, e quem não sabe provavelmente precisa ir mais às ruas" (Deputada chilena Camila Vallejo).

Por que os banqueiros não aparecem?

"O salário do servidor público não está na internet? Por que os detentores da dívida não estão? Nós temos que criar uma campanha nacional para saber quem é que está levando vantagem em cima do Brasil e provocando tudo isso."

terça-feira, 7 de julho de 2015

A imagem é horrível, mas este é o melhor momento para limpar a timeline de gente violenta. Os comentários estão disponíveis. Mas ao invés de me fazer perder tempo excluindo quem é favorável a esta barbaridade, faça a gentileza de sair por conta própria. Não me siga. Afinal, defendo os direitos humanos e isso inclui de criminosos famélicos como este até os parlamentares canalhas que as 'pessoas de bem' gostam de reeleger. Todos têm direito a um julgamento justo. Ninguém pode admitir a tortura. Ninguém tem direito de fazer justiça com as próprias mãos. A Idade Média acabou em 1453.

segunda-feira, 6 de julho de 2015

Café a Manhã Sindicial. É agora na UFRR. Depois de renovar as forças com cafezinho tem caminhada no Campus. Professores fura-greve e pelegos de toda ordem, correi para as montanhas. Se querem ser professores, lutem pela educação ou tornem-se personæ non gratæ. Traidores da própria classe não são dignos de indulgência.

domingo, 5 de julho de 2015

Em Brasília, é cada vez mais evidente o Efeito House of Cards: com greves em vários setores do governo, corrupção arraigada e sérias ameaças de impeachment, Dilma Rousseff sai do Brasil por uma semana e deixa o cargo com Michel 'Underwood' Temer. Este já declarou que a presidenta não corre nenhum risco. Kevin Spacey ficaria orgulhoso. A vida imita a arte.

sábado, 4 de julho de 2015

Boa Vista - Sobre futuros exilados: este novo Brasil conservador, violento, religioso e ignorante é resultado de uma sociedade que faz questão de demonstrar em seus automóveis, na moral adquirida e na espúria e manipuladora programação da TV, que a educação tem importância mínima. Essa guinada à direita e o pentecostalismo unido à Bancada da Bala prognosticam nossa reentrada na década de 1970. Com adolescentes pobres na cadeia, um livro sagrado que explica tudo e Regina Casé vendendo cultura no domingo, vai ser difícil salvar a nossa violentada, mas ainda de pé, educação pública
www.youtube.com/watch?v=7wL9NUZRZ4I

Sim, continuo a ouvir The Next Day, do David Bowie e sim, aquele site de letras com nome de inseto continua a usar o google translator. Dedicada a amigos expatriados; ex-expatriados; repatriados e a futuros exilados.
O AMOR ESTÁ PERDIDO
Esta é a hora mais escura, você tem 22
A voz da juventude, a hora do pavor
É a hora mais escura e sua voz é nova
O amor está perdido. Perdido é o amor
Seu país é novo. Seus amigos são novos
Sua casa e até mesmo seus olhos são novos
Sua empregada é nova e seu sotaque também
Mas seu medo é tão antigo quanto o mundo
Diga adeus às emoções da vida
Quando o amor era bom
Quando o amor era ruim
Diga adeus à uma vida sem dor
Diga olá, você é uma garota linda
Diga olá para os lunáticos
Conte-lhes seus segredos
Eles são um túmulo
Oh, o que você fez, oh o que você fez
O amor está perdido. Perdido é o amor
Você sabe tanto, que isto lhe faz chorar
Você se recusa a falar, mas pensa como louca
Você se livrou de sua alma e de sua face pensativa
Oh, o que você fez, oh o que você fez
Oh, o que você fez, oh o que você fez?

segunda-feira, 29 de junho de 2015

No final dos anos 90 ouvíamos uma série de bandas que misturava soul, jazz e techno para uma turma que ainda curtia Nirvana, Beck e Chico Science. O som multifacetado que chamávamos de jazz-rap fazia a cabeça da chamada Geração X, os últimos jovens do milênio, nascidos na virada dos 60 para os 70, turma que se encontrava para trocar ideias sobre música, livros, cinema, minorias e o algo mais, num tempo em que a internet não tinha a menor graça e não se cogitava o sucesso a qualquer preço. A fusion defendida pela Geração X se estendeu da música para as artes e logo implodiria os velhos conceitos de tribo, num big bang reverso que absorveria para sempre detritos culturais e ideológicos de décadas passadas, exauridos de sua aura e jogados no caldeirão que gerou a Cultura Smiley e todo aquele êxtase tomado nos anos 2000, quando o Verão do Apito já era uma distante lembrança. Ali, na fenda entre dois milênios, o jazz-rap virou acid jazz e depois desapareceRIA PARA SEMPRE. Ficaram os CDs do Jamiroquai, do US3 e do Digable Planets. Mas o que eu mais curtia na época era um cara chamado James Taylor e seu quarteto, que... ok, you've got a friend.

quarta-feira, 6 de maio de 2015

Panelaço Classe A

Boa Vista - Sim, todos temos preconceitos, mas a realidade é inegável em algumas circunstâncias. Temer pentecostais, torcidas de futebol organizadas e conservadores faz sentido porque são grupos dedicados mais ao ódio do outro que às próprias ideologias: conceitos morais que pretendem universalizar, embora a maioria desconheça o termo.
Não quero irritar ninguém (pelo menos 20 'amigos' de Facebook já me excluíram por conta de minhas opiniões. #vácomdeus), mas quando afirmo que o último intelectual de direita vivo é Delfim Netto é porque considero Arthur Gianotti seu áulico e Olavos, Azevedos, Pondés e Mainardis, meros bonecos de ventríloquo.
É essa falta de cabeças que gera manifestações absurdas, como a defesa de intervenção militar por monoglotas em inglês errado e panelaços (uma manifestação criada por famintos) promovidos nas grandes cidades pela Classe A #chatiada. Por isso Roraima não é um estado de absurdos políticos à toa. Tem a quem puxar. Será o Brasil um país sério?!

terça-feira, 7 de abril de 2015

Sem olhos em Gaza

Olho a estante e ele permanece lá, impávido, há quase 30 anos. Não esta edição, que comprei num sebo em São Paulo há apenas uma década e meia, mas a Obra em si. Nunca concluído desde que o conheci na Biblioteca da Escola Gonçalves Dias, adolescente. Não terminei de ler à época como não terminei de ler em mais seis ou oito tentativas. A verdade é que Sem olhos em Gaza (Aldous Huxley, de quem li quase tudo) me assombra menos pela perspectiva de ser concluído (e ainda será) que por ter influenciado um dos meus primeiros contos de ficção, lá pelos 16 anos, uma novela pretensiosa sobre seres manipulados geneticamente, dilemas bioéticos e as reflexões de um cientista inclinado a protagonista. Quanto ao livro do Huxley, continuo sem olhos para ele.

terça-feira, 10 de março de 2015

RBS defende legalização da maconha

http://diariocatarinense.clicrbs.com.br/sc/geral/noticia/2015/03/opiniao-contra-as-drogas-pela-legalizacao-da-maconha-4713971.html

quarta-feira, 14 de janeiro de 2015

Sociedade Hashtag

Facebook? O que ainda me mantém por ali é o contato com familiares e amigos espalhados pelo mundo. Vejo um maniqueísmo atroz crescer entre os usuários, como se tudo fosse cara e coroa, certo e errado, bom e mau. Jogados uns contra os outros, amizades e relacionamentos derivam num mar de insanidade burguesa, com os traumas de infância enterrados sob torrentes de selfies e autojactância. A inexplicável vaidade, seguida de elogios hipócritas, reifica o rótulo como forma de sobreviver na Sociedade Hashtag: sociedade cínica, sígnica.


Há oito anos, ao perceber que a profusão de comunidades de ódio era maior que as de música, troquei o Orkut pelo Facebook, que parecia uma opção mais interessante, com mais privacidade e sem propaganda. Havia poucos usuários e não precisávamos saber o que fulano comentou na publicação de um estranho, ou se ele segue a página de um banco aonde não tem conta. Hoje, a deliberada espionagem que chamam de propaganda direcionada e a propaganda de cursos de inglês e hebraico apostam no sionismo velado, uma nova revolução cultural para aumentar ainda mais o abismo entre Oriente e Ocidente.

Durante um tempo usei o Twitter. Mas o desafio dos 140 caracteres, que é interessante para escritores, jornalistas e publicitários, virou veículo de agressão fácil. Raciocinar em 140 caracteres pode ser dolorido. Preferem esculhambar. Nada contra, desde que haja justificativa. Defendo a crítica e a opinião embasada ou o silêncio perpétuo. Liberdade de expressão não é liberdade de agressão.

Nas duas redes, paguei pelo crime de pensamento. No Twitter, gente subalterna aos que me elegeram sua nêmesis vociferaram com ódio, manipulados pelos Charles Manson modernos. Queriam importância. Já no Facebook, gente de importância duvidosa como um deputado federal e um ruralista me ameaçaram. Normal, mas não desejo esta guerra. A defesa da ditadura militar, da homofobia, da expropriação de terras indígenas, do aborto e do conceito de família nuclear podem ser admitidas em qualquer espaço, desde que esse espaço dê margem ao diálogo e encerre com mecanismos de regulação de convivência da alteridade.


O episódio do assassinato dos jornalistas da Charlie é emblemático. Dizer que morreram muito mais pessoas na Nigéria, no World Trade Center, na queda da Bastilha ou na Segunda Guerra virou estribilho de um pseudoativismo de ocasião, que mais confunde que explica. Que enxerga na polêmica um combustível para a democracia, mas não reconhece que toda vida é preciosa e ignora que adquiriu esse raciocínio matemático das corporações de comunicação que tanto critica.
 
Somos Charlie, mas também somos a Palestina, a maior prisão do mundo: 5 milhões espremidos em 6 mil quilômetros quadrados. Densidade populacional de 830 pessoas por quilômetro quadrado. Somos Ahmed, o policial assassinado no ataque à Revista, mas também somos o Menino Ali, que perdeu os dois braços num bombardeio ao Iraque por forças americanas. Somos políticos sorridentes e perdulários e somos os telespectadores aviltados em suas concessões ilegais de rádio e televisão.

Somos a arrogante raça humana, que apesar de existir há apenas 150 mil anos, vive num planeta com 4,5 bilhões de anos e no último século dizimou os recursos naturais pelo extrativismo indiscriminado; esburacou a terra atrás de pedras preciosas, carvão mineral, petróleo e ferro; produz veículos de cinco lugares para apenas uma pessoa e lança dióxido de carbono na atmosfera para o deleite das corporações e seus governos marionetes. Somos o garimpeiro da Libéria, o lapidador israelense e a madame Toussard ou Ward ou Iglesias ou Marinho com seu colar de diamantes de sangue.

Somos tudo isso, mas meu direito à tranquilidade não pode ser exterminado pelo seu direito à iniquidade. Minha próxima rede será o Pinterest, onde a vida é fácil e divertida. Mas estas e-pístolas continuam. Há 14 anos online, é um dos blogs mais velhos e menos lidos do mundo. Aqui, na solidão do hipertexto, filtro o mundo por meu olhar. Nada pode ser mais tolo e demasiadamente humano, Mr. Nietzsche. E, francamente, Mr. Shankly, você é um pé no saco. Boa noite, Mr. Waldhein. Quem sair por último apaga a luz.

sábado, 20 de dezembro de 2014

Quadrilha Suprapartidária

Cascadura - O delator
Ao entregar uma quadrilha de 28 políticos de diversos estados e partidos, o ex-diretor de Abastecimento da Petrobras, Paulo Roberto Costa, presta-nos um serviço impagável: revela que no Brasil as siglas partidárias nada significam e que nossos representantes não têm pruridos ideológicos. Desviam, roubam, compram e vendem o país com tranquilidade e paciência. Nessa hora, a música do Cascadura me assalta os tímpanos - no melhor sentido. Leia, veja e escute O delator. O Brasil em cinco minutos.


O Delator
(Fábio Cascadura)

Só digo o que mandam e o que vejo
Só digo o que sei
Apontei o culpado com um beijo
Beijei mais de cem
Quem mais poderia resolver?
Quem mais poderia? Me diga! I’m in love!
Você sabe os detalhes, eu te contei
Esqueça o que eu disse...
Porque eu fiz por bem
Aquilo que eu fiz, foi por bem
E isso fica entre nós
Ninguém precisa saber
Não é confissão
É só porque eu preciso dizer
Na minha forca, o teu nó
Eu deveria saber
Minha língua tem trava, eu não ligo
Eu nem gaguejei
A minha verdade, eu não finjo
Minha voz é lei
Te olho no olho e você não vê
Eu chamo seu nome: meu bem, I’m in love!
Te disse, você sabe, eu te contei
E esqueça o que eu disse
Porque eu fiz por bem
Aquilo que eu fiz, foi por bem
Isso fica entre nós
Ninguém precisa saber
Não é confissão
É só porque eu preciso dizer
Na minha forca, o teu nó
Alguém tinha que sofrer

sexta-feira, 19 de dezembro de 2014

A doença da "normalidade"

Uma doença que se alastra no universo acadêmico, mas principalmente nas relações humanas. Quando o direito à alteridade é confundido com antipatia; amor com submissão; público com privado; ensino com educação. 
Vale a pena ler o texto de Renato Santos de Souza no Pragmatismo Político.  Uma análise lúcida sobre o reinado do quantitativismo no governo da papercracia.


Guerra fria