sexta-feira, 17 de junho de 2016

Astrolábio
(Orblua)
Oh mar, doce mar, que segredos tu escondes?
Ninguém sabe quem ou o que é que tu és
O velho no cimo do monte avistava
Um navio partia sem rumo ao destino
Apenas um velho astrolábio guiava
Aquele frágil barco que por certo naufragava
Astrolábio, velho lobo do mar
Tu que tornas redondo este plano mundo
Ensina-me o rumo a tomar como certo
Conduz-nos a todos por marés e por mares
Que marinheiros nós somos deste mar oceano
Habitantes nós somos deste Grã Portugal
Portugal, Portugal, nobre país de mar
Tão parco de terra e tão rico de água
O fogo já extinto, no ar paira saudade
No oceano encontramos a certeza de estar
E tens um astrolábio e uma vela de pano
E nós navegaremos por esse mundo nosso

segunda-feira, 13 de junho de 2016

Sobre crianças e armas

A empresa chama-se Fairchild. Child significa criança. Fair é feira, mas pode significar justo, correto. Ambas as traduções são interessantes.

Nos anos 1950, a Fairchild desenvolveu a ideia de Eugene Stoner para um fuzil de assalto leve, que permitia matar mais em menos tempo. O fuzil chama-se AR-15. Ao longo do tempo passou de 4 para pouco mais de 2 quilos de peso. Aperfeiçoado, hoje mata pessoas com impecável qualidade a 600 metros de distância. Despeja 800 balas por minuto. Quando disparadas, as balas voam a 3,5 mil quilômetros por hora. Cada bala pesa 20 gramas. É o fuzil preferido de assassinos em série, responsável por 14 massacres nos últimos 10 anos. Dezenas de vítimas eram crianças. Fairchild...

No último fim de semana, o norte-americano Omar Mateem saiu de casa em Port St. Lucie e dirigiu 200 quilômetros para matar gays na Boate Pulse, em Orlando. Usou o fuzil e outras armas. Foi bem-sucedido em 50 assassinatos. Deixou 53 feridos e alcançou um novo recorde com a maior chacina individual do país. A título de comparação, no Brasil 50 pessoas são assassinadas de 8 em 8 horas. O país do samba promove três massacres-recorde a cada dia.

Quanto a Eugene Stoner, é considerado o maior designer de armas de fogo de todos os tempos. Morreu aos 75 anos em 1997, em paz, rico e ao lado da família. Tem lugar garantido na História. As vítimas de sua grande obra são esquecidas pouco depois de assassinadas. Exceto pelas famílias.

sexta-feira, 10 de junho de 2016

Sete samurais

Toda estrada tem um preço. A beleza que os olhos veem poucas vezes é partilhada com a família; a felicidade de ter muitos amigos convive com a frustração de nunca ver todos reunidos. Porque estão em toda parte: em cidades com nomes de santos, de pedras, de acidentes geográficos. Em clima equatorial, sub-tropical, temperado, desértico. São orientais, negros, mestiços, caucasianos, índios, hindus. Vivem nas alturas andinas, em praias, no alto de edifícios em super cidades, no meio da selva amazônica, em aldeias, savanas e planaltos. Uma lista interminável lembrou do 9 de junho. Não poderia nominá-los. Então pensei em listar as cidades, mas também seriam muitas. Listar países é maçante. Nunca poderei reuni-los, mas ontem em Faro um grupo representou bem a todos. Scott Fitzgerald dizia que as melhores reuniões têm sete convidados. A noite foi especial, e por isso agradeço Luís, Paula, Pedro, Laura, Nuno, Teresa e Rogério.

quinta-feira, 9 de junho de 2016

Jazz e novembros

Na noite de 9 de novembro do ano da graça de 1971 d.C., a boa, velha e fria Copenhague estremeceu diante de Thelonious Monk, Dizzy Gillespie, Art Blakey e outros monstros. 

Flanei pela velha e fria Copenhague e comprei CDs de jazz em novembro do ano errado.

sábado, 4 de junho de 2016

A intolerância e o pensamento obtuso crescem na mesma velocidade que morrem os que lutam por justiça. Um dia, só restarão lobos e cordeiros e haverá uma felicidade artificial por ver todos os pássaros mortos.

quinta-feira, 2 de junho de 2016

Educar pressupõe que salvar vidas e exercer a cidadania têm a mesma importância. O sucesso do Projeto Alemão deriva de uma habilidade rara na limitada selva do capitalismo: nunca reduzir o papel da educação na vida das pessoas.

sexta-feira, 27 de maio de 2016

Flôr Varela

Casal brasileiro. Terceira idade. Retirados. Aposentados. Férias. Restaurante. Melhor idade. Europa. Lugar-comum. Assoberbados. Elitistas. Impaciência. Crítica. Economia. Inconsciência. Neo politizados. Lugar-comum. Memória? Não. História? Não. Imóveis. Sim. Armas. Sim. Consumo. Sim. Memória? Não. História? Não.

quinta-feira, 26 de maio de 2016

Na era da informação de massas, a direita e a religião (separação retórica para fins didáticos) elevam o conceito de hipocrisia a patamares nunca atingidos. A aceitação só depende do prefixo "ex": ex-criminoso, ex-prostituta, ex-drogado, ex-umbandista, ex-homossexual, ex-qualquer coisa. Todos terão lugar em suas fileiras. A redenção torna-os fortes e militantes. Quando qualidade importa menos que número, a ciência perde significado

segunda-feira, 23 de maio de 2016

Um sonho

Sonhei que estava em Amsterdã, com minha mãe. Andávamos de mãos dadas, entre a Overtoom e o Vondelpark. Conversávamos sobre a minha infância. Chovia, mas não estava frio. Tão longe, tão perto. 

sexta-feira, 20 de maio de 2016






O ódio só faz mal a quem o sente. Rouba o ar. A pessoa que sofre de ódio engasga, sufoca, convive com o afogamento. Porém, o ódio pode ser criado artificialmente, manipulado, canalizado. Pode entranhar na cultura. Para isso, basta usar perversamente a comunicação de massa. Pelo poder, a elite dissemina o ódio sem nenhum remorso. Este será cada vez mais ampliado e direcionado até transformar-se em violência.

quinta-feira, 19 de maio de 2016

O pobre capitalista reclama
e nunca compreendeu
onde foi parar a grana
que pediu e Deus não deu
fica com ódio ao saber
que mesmo sem oração
qualquer socialista ateu
tem maior satisfação
é o azar de Prometeu
e a sorte de Pandora
o primeiro ora e chora
o outro aplica o que leu
um ajoelha e clama
o outro segue sem drama
um vive da vassalagem
e defende a opressão
no fim comerá lavagem
talvez um pouco de pão
pois quem louva o capital
perde de Deus o perdão
comete pecado mortal
e não vai para o céu, não

domingo, 15 de maio de 2016

O pobre capitalista reclama
e nunca compreendeu
onde foi parar a grana
que pediu e Deus não deu
fica com ódio ao saber
que mesmo sem oração
qualquer socialista ateu
tem maior satisfação
é o azar de Prometeu
e a sorte de Pandora
o primeiro ora e chora
o outro aplica o que leu
um ajoelha e clama
o outro segue sem drama
um vive da vassalagem
e defende a opressão
no fim comerá lavagem
talvez um pouco de pão
pois quem louva o capital
perde de Deus o perdão
comete pecado mortal
e não vai para o céu, não

(Milton Lagos)

sexta-feira, 6 de maio de 2016

Mudanças sociais não surgem da massa em sua eterna espera de comando, de direção. Surgem de um pequeno grupo de pessoas, ideias e vozes. Gente que se dedica a melhorar a vida dos que ignoram, criticam ou atacam a vanguarda. Mudanças sociais não devem ser confundidas com convulsões sociais.

quinta-feira, 5 de maio de 2016

Hoje é Dia da Língua Portuguesa. Dia da sonora, romântica, proparoxítona, musical, rica língua portuguesa, quinto maior idioma do mundo, com 280 milhões de falantes. São pelo menos 10 milhões (!) de palavras. Insondável idioma. Língua é pátria, não é umbigo. Essa visão coxinha de identidade nacional, que atinge todos os estratos, de políticos a cientistas; de artistas a religiosos; de poetas a escritores, é confete auto-indulgente. PAREM JÁ COM ISSO! A grandeza da pátria não é medida em cores, metros quadrados, linhas imaginárias, esse misto de ingenuidade e canalhice que manipuladores na política, nas artes, nos meios de comunicação chamam de patriotismo. Pátria é outra coisa. Valorizar a língua portuguesa é valorizar o ouvido. Não é valorizar o umbigo. Chega desse comportamento obsequioso, alto-indulgente, orgulhoso. Dessa incapacidade de diálogo com a América Hispânica. Dessa incapacidade de diálogo inter-regional. Dessa incapacidade de diálogo com lusófonos de África, Ásia e Europa. Parabéns a quem escreve, que mantém a língua viva. Mas não há mérito nenhum no desconhecimento de outras. O monoglota morre de uma fome que não sabe que é fome, porque escolheu ignorar outros sons, outras palavras. Ou em bom português (brasileiro): chega de papo furado, cambalacho, disse-me-disse, babaquice, essa bagunça cívica sem sentido. Português é lindo. Ridículo é o fascismo.

sexta-feira, 29 de abril de 2016

No ano passado o Facebook subiu sem parar. Sessenta milhões de novos usuários entraram na rede. Lucro maior que o PIB do Suriname. Acionistas curtem isso. Mas no fim, bem lá no fim, o que interessa são as pessoas. O que fazem na rede. Se compreendem o fim.

Guerra fria