sábado, 31 de dezembro de 2016

Voa, gaivota de Lagos
bisneta dos dinossauros
que o céu que veloz te rapta
caia sobre os autocarros

domingo, 18 de dezembro de 2016

Meu filho conta
que viu o rio Amstel
da janela do avião
anos antes da saudade
de andar à sua margem
nos tempos da
universidade

domingo, 11 de dezembro de 2016

Liu

Estalajadeiros, deixeis leitos vagos ao longo da estrada, que vem lá meu filho. Ferreiro, forjai espada do melhor aço, que a empunhará meu filho. Menestrel, cantai sagas heroicas. 

Despede-te, saudade mourisca. Este que chega é meu filho.  

UPDATE: Liu conta que viu o rio Amstel da janela do avião anos antes 
de andar à sua margem  nos tempos de universidade.
Ansiedade.

terça-feira, 6 de dezembro de 2016

Bancos determinaram que você vai arrastar a velha e enferrujada carcaça para o trabalho todos os dias até aposentar-se precariamente sem direito a remédios gratuitos ou aposentadoria integral, que são coisas de governos socialistas. Na solidão da poltrona bolorenta pousará os olhos sobre a parede suja onde está a reluzente medalha do MBL. Um fio de baba escorrer-lhe-á da boca que anda aberta mas nada fala desde o derrame cerebral. O brilho nos olhos indicará que nunca se sentiu tão certo

quinta-feira, 1 de dezembro de 2016

terça-feira, 22 de novembro de 2016

Pró-vida não é pró-feto.
Professor não é profeta
Porteiros não dão acesso
Possessos não são poetas


domingo, 20 de novembro de 2016

Querido diário, hoje uma significativa parcela da população com muito ódio represado aprendeu a alegar censura para seus pontos de vista radicais e reclamam direito de expressão. Sem saber o que é direito ou o que é expressão. Que expressão é uma síntese e só se faz síntese após o pensamento. E que o pensamento não é instintivo, mas o final de um processo interno. A falta de abertura para o diálogo que caracteriza esse novo homos politicus é uma anomalia (ou ajuste) na matrix que destruiu o debate dos últimos 100 anos. E vejo pessoas nesta rede intimidados por amigos e parentes de discurso radical, numa tentativa de silenciar pelo grito que muitas vezes funciona. Estamos submetidos à autocensura para tentar costurar, remendar, recuperar vínculos que foram cortados por outras pessoas declaradamente contra os direitos humanos. Algo que encerra qualquer negociação. Mas tudo tem suas vantagens. Chegou o momento de reconhecer o que é recuperável e o que é irrecuperável nessa luta.  Guardemos as energias para o que tem conserto.

terça-feira, 15 de novembro de 2016








Pierre-Joseph Proudhon (18091865)



"Consultei os mestres da ciência, li centenas de volumes de filosofia, de direito, de economia política e de história: e queira Deus que eu tivesse vivido num século em que tanta leitura me fosse inútil! Fiz todos os esforços para obter informações exatas, comparando as doutrinas, opondo às objeções as respostas, fazendo sem cessar equações e reduções de argumentos, pesando os milhares de silogismos à luz da lógica mais escrupulosa. Neste penoso caminho, reuni vários fatos interessantes, de que darei conhecimento a meus amigos e ao público assim que tiver tempo. Mas, é preciso que eu o diga, primeiramente julguei reconhecer que nós jamais compreendemos o sentido destas palavras tão vulgares e tão sagradas: justiça, igualdade, liberdade; que sobre cada uma destas coisas nossas ideias eram profundamente obscuras; e que enfim esta ignorância era a única causa do pauperismo que nos devora e de todas as calamidades que afligiram a espécie humana." (Pierre-Joseph Proudhon escreveu isso há duzentos anos, talvez a imaginar que a mensagem fosse compreendida no futuro. O que não imaginava era a inutilidade da leitura no século 21. Perdeu, Proudhon. Perdeu.)

domingo, 13 de novembro de 2016

O cinema da minha infância ficava a três quadras de casa. Aos 9, 10 anos, já ia sozinho ver filmes dos Trapalhões. Ali descobri George Lucas e Steven Spielberg e mais tarde Stanley Kubrick. Tinha poltronas vermelhas e música de abertura antes de cada sessão. Um dia foi comprado pela IURD e transformado em templo para o culto a outras fantasias. A seita cristã fechou um número incalculável de cinemas e casas de espetáculo no Brasil e em outros países, inclusive o Marquee (Londres), onde tocaram Jimi Hendrix e Bob Dylan. Esta semana, um movimento contrário começou no Algarve, onde igrejas centenárias exibirão clássicos do cinema. O primeiro filme é Aurora, de Friederich Murnau, considerado a maior obra-prima do cinema por um certo François Truffaut. 

Guerra fria