domingo, 18 de maio de 2003

Entrevista a Abujamra
Há tempos quero escrever algo sobre Antonio Abujamra e seu programa Provocações (TV Cultura), mas faltam-me palavras para definir este excêntrico entrevistador. Dizer o quê, sobre Abujamra? Que reinventa o déspota inteligente, meio Kerouak-Brecht, meio Becket-Hemingway? Jornalista fake, autor de pseudo-document?rios com outsiders e miseráveis da Praça da Sé? Em meio ao bloqueio criativo resolvi conceder - eu que detesto ser entrevistado - uma entrevista (fict?cia) a Abujamra:

- Quem você pensa que é?
- Um sujeito comum, desses que se olha na rua e não se dá nada por ele, enquanto lá vai ele se achando um gênio incompreendido. Não do tipo boêmio-toxicômano, que sonha morrer louco e esfarrapado em Paris, ou que poderia ter escrito algo genial aos 17 e desaparecido aos 22. Mas aquele que tece obra lenta e multi, como a daquele escritor irlandês, porém, sem a menor chance de comparação ou resultado parecido.
- A quem você acha que convence com essa conversa mole?
- A ninguém, nem a mim mesmo, ou a você. Talvez a um punhado de amigos otimistas demais.
- Blog, o que é isso? Para que serve isso?
- Blog é um lugar para escrever, espécie de registro hipócrita disfarçado de diário virtual. Blog não é livro ou poema. Blog não é nada, só algumas palavras escritas.
- E em que isso ajuda os 42 milhões de brasileiros que passam fome nesse país?
- Em nada. Blog é só exercício de vaidade.
- Você me faz perder tempo. Afinal o que você faz que pode reverter em alguma coisa positiva para a sociedade?
- Eu leciono e...
- Professor? E você acha que uma categoria mal paga e desprestigiada como os professores podem ser úteis em alguma coisa?
- Talvez, se indicarem os livros certos para seus alunos...
- E você não acha que isso é uma função da internet ou dos bibliotecários?
- Desde que conheçam seus acervos e que a busca na internet seja inteligente.
- Já que falamos de livros, qual foi o melhor autor que você já leu? E que grande autor você nunca leu?
- James Joyce e William Faulkner.
- Você é realmente muito previsível. Uma pena ter escolhido para entrevistar alguém tão medíocre.
- Azar o seu.
- Estamos chegando ao final da entrevista.
- Sorte a minha.
- Agora olhe para aquela câmara e diga tudo o que quiser: suas críticas, suas angústias, seus pesadelos. olhe ali e enforque-se na corda da liberdade.
- Abujamra sucks.
- Me dá aqui um abraço, que é a parte mais hipócrita de nossa entrevista...
- Só se for da sua parte.

Enquanto sobem os créditos, riem da encenação.

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