domingo, 1 de junho de 2003

Li
Bin Laden: O Homem que declarou guerra à América - Yossef Bodansky.
São Paulo. Ediouro. 2001. 503 páginas.


ou...

O terrorismo, segundo a América
O autor se propôs a escrever a biografia de Osama Bin Laden, mas este livro não diz quase nada sobre o saudita, a não ser o que é de conhecimento público: sua riqueza, sua determinação política. Bodansky foi diretor da Força-Tarefa sobre Terrorismo e Guerra não-Convencional dos Estados Unidos por 10 anos e definitivamente não tem méritos de escritor, mas de autor de relatórios.

O que o livro procura é tão-somente denunciar o terrorismo como ação direta de "Estados terroristas": Arábia Saudita, Irã, Iraque, Sudão, Palestina, Afeganistão, Paquistão... e quando o funcionário público da Defesa de um país escreve contra as atividades militares e faz sérias acusações a outros países, é porque propõe a guerra.

Bin Laden é pouco citado nesse intenso relatório de investigação, cuja maior parte das informações não pode ser comprovada por se tratar de "fontes anônimas". Tais "fontes anônimas" informam bastante sobre a organização de ataques terroristas, como frases ditas em reuniões e um histórico operações abortadas. A política de alguns países do Oriente Médio é considerada "nociva". Atitudes "antiamericanas" são veementemente contestadas.

Escrito em 1999, o livro trata os ataques norte-americanos contra Kosovo, Iraque e Somália como simples "bombardeio", palavra "positiva", geralmente ligada à ação do "nosso exército". Enquanto isso, "terrorismo" é o termo mais utilizado para definir a guerra "dos outros". Um palestino que se explode junto com outras pessoas num ônibus faz "terrorismo". Tropas de Israel demolindo casas de famílias palestinas fazem retaliação, como a mídia bem ensina.

Essa é a lógica de Bodansky, cujo compêndio de informações municiou o gabinete dos belicosos George W. Bush e Donald Runsfeld (o verdadeiro presidente) para efetuar sua "guerra anti-terror" contra o Afeganistão e Iraque, entre 2001 e 2003. O livro traz, em quase todas as páginas menções à palavra terror e seus derivados: terrorismo, terrorista etc, além do neologismo "islamita", para ofender sem ofensa a religião alheia - o que às vezes é impossível e leva Bodansky a classificá-los de islâmicos, mesmo.

Há expressões caricatas, como Devotos e radicais (p. 68), Fúria islamita (p. 13, 394, 397, 450), Fervor islamita (p. 88, 89) e as engraçadíssimas Operações inconfessáveis (p. 148) e Operações menores de molestamento (p. 154). No final do livro, o autor agradece às principais fontes (anônimos desconhecidos de identidades secretas), setores da Defesa dos Estados Unidos e, principalmente aos recortes de jornais enviados de Israel por sua mãe. Ah, bom.

Abaixo, as expressões mais "cativantes" de Bodansky:

Ataque(s) terrorista(s) (p. 13, 15, 20, 26, 208, 215, 216, 217, 238, 261, 271, 273, 345, 402, 402, 405, 420, 421, 422, 450, 465, 472)
Ataque(s) terrorista(s) espetaculares (p.151, 163, 188, 215, 235, 254, 302, 394, 420, 424, 435, 445, 468)
Ações terroristas (p. 254, 309)
Ações terroristas espetaculares (p. 151)
Atentados terroristas (p. 15, 197)
Atentados terroristas espetaculares (p. 156, 458)
Atividades terroristas (p. 111, 124, 143, 158, 164, 245, 318)
Atos terroristas ou Atos de terrorismo (p. 17, 29, 29, 190, 191, 231, 366, 376, 406, 448)
Campanha de terrorismo (p. 57, 150, 169, 196, 223, 271, 305, 310, 366, 441)
Campanha(s) terrorista(s) (p. 152, 156, 208, 253, 267, 320, 421, 423, 423, 435, 435, 484, 485)
Células islamitas clandestinas (p. 480, 482)
Células terroristas (de terrorismo) (p. 13, 151, 164, 165, 225, 302, 376)
Comandantes terroristas (p. 157, 167, 167, 266, 276, 423, 444, 468, 484, 486)
Elite (dos) terrorista(s) (p. 137, 154, 191, 215, 320, 348, 357, 358, 428, 440, 459, 472)
Entidades terroristas (p. 152, 270)
Establishment terrorista (p. 94)
Força(s) terrorista(s) (p. 224, 271, 355, 466, 473, 483, 485)
Grupos terroristas (p. 14, 120, 173, 174, 287, 440)
Líder(es) ou liderança(s) terrorista(s) (p. 83, 154, 157, 158, 254, 265, 267, 282, 296, 305, 417, 433)
Movimento(s) terrorista(s) (p. 83, 167, 174, 219, 348, 356, 419)
Ofensiva terrorista (p. 154, 254, 266, 420)
Onda de terrorismo ou Onda terrorista (p. 218, 222, 222, 240, 277, 282, 313, 334, 335, 420, 432)
Operação(ões) clandestina(s) (p. 297, 302)
Operações islamitas (p. 297, 387)
Operações mortíferas de terrorismo (p. 151)
Operação (ões) terrorista(s) (p. 65, 152, 155, 185, 191, 192, 199, 200, 201, 218, 252, 295, 362, 364, 385, 445, 461, 484, 484)
Operações terroristas audaciosas (p.165)
Operações terroristas espetaculares (p. 65, 151, 162, 167, 204, 241, 309, 320, 322)
Organização(ões) terrorista(s) (p. 77, 78, 79, 81, 169, 173, 210, 237, 252, 271, 295, 344, 388, 416, 443, 444, 444, 459, 486, 486)
Patrocinadores ou patrocínio do terrorismo (p. 32, 155, 159, 174, 209, 209, 210, 221, 223, 225, 229, 241, 262, 267, 287, 293, 297, 305, 326, 330, 337, 338, 339, 342, 344, 380, 392, 399, 411, 413, 413, 417, 461, 487, 489)
Rede(s) clandestina(s) (p. 295, 295)
Rede(s) islamita(s) (p. 225, 227, 227, 227, 295, 302, 317, 395)
Rede(s) terrorista(s) (p. 77, 122, 143, 223, 225, 266, 303, 367, 443, 467)
Sistema de terrorismo ou sistema de terroristas (p. 86, 227, 244, 268, 282, 376, 421, 424, 473, 486)
Subversão (p. 146, 154, 160, 160, 162, 168, 175, 186, 186, 188, 220, 258, 294, 471)
Superterrorismo indiscriminado (p. 16)
Treinamento (de) terrorista(s) ou Treinamento para o terrorismo (p. 65, 86, 90, 93, 121, 229, 244, 253, 253)

Terror (p. 154, 192, 234, 267)
Terrorismo (p. 14, 21, 26, 68, 68, 114, 117, 119, 120, 121, 125, 130, 152, 158, 158, 167, 167, 168, 173, 190, 195, 198, 200, 209, 209, 209, 210, 210, 218, 221, 225, 226, 231, 231, 234, 237, 241, 245, 245, 258, 261, 261, 262, 265, 267, 267, 274, 294, 301, 301, 303, 305, 309, 310, 311, 317, 318, 333, 333, 334, 342, 342, 344, 345, 348, 349, 359, 360, 372, 389, 399, 408, 408, 411, 416, 416, 416, 423, 430, 430, 431, 436, 441, 442, 458, 469, 485, 485, 486, 486)
Terrorismo antiamericano (p. 232, 339, 432, 439)
Terrorismo e subversão (p.18, 35, 57, 113, 258, 277, 284, 298, 347, 397, 459, 466)
Terrorismo espetacular (p.18, 32, 249, 320, 320, 410, 413, 427, 486)
Terrorismo indiscriminado (p. 447)
Terrorismo internacional (p.20, 65, 68, 81, 93, 150, 154, 183, 183, 200, 200, 208, 208, 233, 241, 259, 262, 266, 272, 290, 291, 294, 342, 394, 307, 409, 411, 440, 454, 469, 487, 487, 487)
Terrorismo islâmico (p. 217, 244, 265)
Terrorismo islamita (p. 13, 20, 69, 96, 158, 167, 167, 168, 190, 198, 199, 200, 201, 216, 220, 234, 241, 254, 261, 272, 272, 274, 275, 283, 283, 293, 306, 358, 375, 411, 427, 430, 439, 458, 471)
Terrorismo islamita internacional (p. 66, 121, 208, 409, 410)
Terrorismo radical árabe (p. 68)
Terrorismo sunita (p. 209, 265)

Terrorista(s) (p. 33, 41, 78, 78, 78, 80, 84, 86, 96, 96, 98, 98, 110, 111, 112, 114, 119, 119, 122, 122, 126, 127, 149, 150, 150, 155, 156, 157, 164, 164, 164, 165, 176, 177, 179, 179, 179, 182, 183, 185, 199, 202, 208, 208, 208, 208, 212, 214, 214, 218, 223, 224, 224, 226, 231, 240, 243, 244, 245, 246, 246, 255, 255, 258, 267, 267, 271, 271, 272, 273, 281, 284, 295, 296, 296, 296, 297, 303, 310, 312, 319, 323, 324, 324, 324, 325, 325, 325, 325, 325, 325, 325, 325, 326, 327, 327, 327, 330, 330, 330, 330, 330, 333, 344, 350, 353, 353, 354, 355, 356, 356, 357, 358, 358, 358, 358, 359, 367, 367, 376, 380, 380, 381, 398, 399, 400, 401, 401, 403, 413, 415, 415, 424, 424, 424, 424, 427, 433, 436, 436, 436, 439, 443, 443, 445, 455, 455, 455, 455, 455, 459, 460, 461, 461, 467, 467, 467, 468, 474, 474, 482, 482, 484)
Terroristas afegãos (p. 65, 96, 266, 394)
Terroristas árabes (p. 66, 245, 246, 329, 372, 474)
Terroristas da Caxemira (p. 199)
Terroristas de elite (p. 137, 223)
Terroristas de primeira linha (p. 224)
Terroristas egípcios (p. 212, 282, 317, 472, 473, 474, 486)
Terroristas especialistas ou especializados (p. 227, 258, 401, 424, 460, 467)
Terroristas experientes (p. 124)
Terrorista(s) iraniano(s) (p. 266)
Terrorista(s) indiano(s) (p. 460)
Terrorista(s) islâmico(s) (p. 68, 319, 319)
Terrorista(s) islamita(s) (p. 65, 66, 68, 83, 88, 89, 89, 96, 119 121, 124, 125, 131, 160, 196, 204, 204, 209, 210, 246, 272, 274, 284, 291, 319, 338, 358, 358, 380, 394, 399, 400, 413, 439, 450, 465, 468, 484, 486, 487)
Terroristas palestinos (p. 124)
Terroristas paquistaneses (p. 394)
Terroristas somalis (p. 111, 122)
Terrorista(s) sunita(s) (p. 208, 208, 208, 215)

quinta-feira, 29 de maio de 2003

Sobre preguiça
Acordei mais cedo para assistir à palestra de Domenico De Masi às 10h30, na USP. Ele atrasou um pouco, mas mandou bem - como sempre - suas idéias sobre trabalho e ócio criativo. Vejam só: o nome do cara já é Domingo (dia de descanso) e ele ainda cria uma teoria absolutamente revolucionária sobre o uso do tempo vago.

Ao contrário do que dizem seus críticos - que pra variar, desconhecem sua obra - De Masi não faz elegias à inércia e à preguiça. É visão mais que superficial. O que De Masi propõe é a utilização tripartite do tempo de vida, a partir da junção entre trabalho, estudo e diversão. Trabalho, estudo e DIVERSÃO, cara pálida.

Vivemos uma época pós-industrial, em que já não faz sentido a vida em linha de montagem. Cabe ao ser humano exercitar sua criatividade em tempo integral, e não apenas trabalhar por trabalhar. O burro trabalha na lavoura. A máquina trabalha na fábrica. Cabe ao homem pós-moderno viver bem. E viver bem, diferente da visão anglo-saxônica que o Brasil insiste em adotar, não consiste em trabalhar duro para a aquisição de bens materiais. Se trabalhamos em apenas uma parte da vida, devemos saber o que fazer com o tempo restante, geralmente dois terços. Para o sociólogo napolitano, é preciso aproveitá-lo bem. Cabe ao ser humano compatibilizar diversão, estudo e trabalho para que viva como... ser is warmth. My family members always think that I am this quiet child, but actually this is not so, and I don't intend to explain. To not get one's understanding and yet wasting my energy trying to explain is tiring.
Actually, what I want is not sympathy as you would think, what I want is help. Even if it's a pat on the shoulder or such small gestures can also give me encouragement. Just like I am an insecure lost child, I desperately need the protection of others.
I tell myself, forget it. No one understands me, and I do not want others to understand me. I like the feeling of isolation, I do not want the interference of others, I am free, I am happy, I am lucky......
BUt, the more I encourage myself, the more I feel that I am just a poor kitten, walking in the harsh winds and rains in the streets where no one cares. The raindrops pelting on my body no longer hurt because I got used to this along time ago.I cannot find a shelter that has the capacity for a broken heart.
I tell myself I can't cry, crying shows my weaknesses, I cannot cry......
The rain outside has stopped, the couple on the streets
Leio
Os versos satânicos - Salman Rushdie
Duas surpresas e uma mesmice
* Um dos maiores atletas do basquete, imortal nas camisas de três times, Oscar Schmidt finalmente se aposentou, perto dos 50 mil pontos.
* Ariel Sharon admitiu que Israel ocupa terras palestinas e é preciso devolver os territórios conquistados em 1967.
* O Brasil tem taxas de juros de paraíso fiscal.

quarta-feira, 28 de maio de 2003

Das coisas estranhas que a gente encontra na Internet

Com esse (sic) fragmento de informação podemos crer que os Orcs foram criados por Morgoth no noroeste da Terra-Média da P.E., quase certamente em Angband para onde este voltou depois do seu primeiro cativeiro pelos Valar. No Sil (p. 83) está escrito o seguinte: "...e se tornaram incontáveis as hostes dos seus animais e dos seus demônios, e a raça dos Orcs, criada muito antes, cresceu e multiplicou-se...".

Tava aqui.

segunda-feira, 26 de maio de 2003

Hackers
Um furo bloguístico. A página de Michael Moore está em fundo branco com horrenda bandeira norte-americana no alto da página e texto com a seguinte mensagem:
Mr. Moore, your documentary "Bowling for Columbine" is fictitious, not factual. David Hardy's Truth About Bowling is simply damning. You deliberately deceive your viewers, who are only expecting a slightly biased factual report. Mr. Moore, my personal hope is that you publicly apologize, not for your ideas, but for dubbing your lies the truth. Please see revoketheoscar.com Love always, NHA Crew.
Greets to: Colin L. Powell, DoubleOh, xyral, qu3da, Rav3n, GOD, Zombie *good luck in the marines*, kluster, Ruder, OSS, YuY, Bill O'Reilly, Tyger, Avangel, sub_pop_culture, AcIdR3IgN, Renegade

Não dá pra esperar outro tratamento dos neoconservadores - só recentemente aceitei esse termo - para quem revela os crimes de guerra do seu país.

Updating: O site voltou ao normal na terça-feira (27) pela manhã.

quinta-feira, 22 de maio de 2003

Tempo de violência
1 - Tiros em Columbine é um trabalho de ativista. Por mais que o método de Michael Moore seja criticado, o documentário atinge seu propósito, que é discutir a violência latente no povo norte-americano. Querem que os documentários limitem-se a planos fixos, sem música e sem cortes. Se a intenção é criar um movimento de volta às raízes, fique à vontade, mas deixe Moore tocar seu rock n' roll. Não vejo mal nenhum em provocar o artrítico Charlton Heston, defensor da luta armada. Se não quer aparecer como velho, não envelheça. Aliás, era isso que Peter Pan Heston pretendia ao conceder entrevista diante do cartaz de Ben-Hur.

2 - Carandiru é o típico Babenco, e isso é muito bom, porque no embate entre oprimidos e opressores, há sempre uma busca por redenção. Meio clichê, mas é assim mesmo. Carandiru é Hip Hop em celulose. É longo, mas passa rápido, porque não relaxa. Retrata com fidelidade o clima na grande cadeia. As cenas do sangue lavado nas escadas e a conversão de Peixeira estão entre as minhas preferidas, mas todo o filme é ritmo e poema. Quem esteve entre aqueles muros sabe do que estou falando. Eu estive lá. Leia aqui.

segunda-feira, 19 de maio de 2003

Versos satânicos
Salman Rushdie não é, definitivamente, o sujeito paranóico que o imaginário popular (ok, nem tão popular assim) plasmou, com a ajuda da imprensa. Rushdie detém refinado british humour e é dono de uma inteligência aguçada, menos engajada que a ala sartriana, porém, não menos sarcástico. É que Rushdie, assim como sua obra, vem de uma sociedade pluriétnica (ele nasceu em Bombain, mas foi morar em Londres aos 13 anos) e dá a seus livros um conteúdo cósmico semelhante à profusão de deuses hindus. Gosta de Machado de Assis, Borges e García-Marquez, não acredita em estados teocráticos e acha que poderia ter escrito mais livros se não tivesse sido condenado à morte pelo Aiatolá Khomeini. Em tempo: ele não recomenda a ninguém ser incluído numa fátua. Apresentado por Milton Hatoum (Os dois iros) ao público do MASP, Rushdie é orador fascinante, freqüentemente inquirido sobre seus personagens - que garante, são absolutamente fictícios.

domingo, 18 de maio de 2003

Entrevista a Abujamra
Há tempos quero escrever algo sobre Antonio Abujamra e seu programa Provocações (TV Cultura), mas faltam-me palavras para definir este excêntrico entrevistador. Dizer o quê, sobre Abujamra? Que reinventa o déspota inteligente, meio Kerouak-Brecht, meio Becket-Hemingway? Jornalista fake, autor de pseudo-document?rios com outsiders e miseráveis da Praça da Sé? Em meio ao bloqueio criativo resolvi conceder - eu que detesto ser entrevistado - uma entrevista (fict?cia) a Abujamra:

- Quem você pensa que é?
- Um sujeito comum, desses que se olha na rua e não se dá nada por ele, enquanto lá vai ele se achando um gênio incompreendido. Não do tipo boêmio-toxicômano, que sonha morrer louco e esfarrapado em Paris, ou que poderia ter escrito algo genial aos 17 e desaparecido aos 22. Mas aquele que tece obra lenta e multi, como a daquele escritor irlandês, porém, sem a menor chance de comparação ou resultado parecido.
- A quem você acha que convence com essa conversa mole?
- A ninguém, nem a mim mesmo, ou a você. Talvez a um punhado de amigos otimistas demais.
- Blog, o que é isso? Para que serve isso?
- Blog é um lugar para escrever, espécie de registro hipócrita disfarçado de diário virtual. Blog não é livro ou poema. Blog não é nada, só algumas palavras escritas.
- E em que isso ajuda os 42 milhões de brasileiros que passam fome nesse país?
- Em nada. Blog é só exercício de vaidade.
- Você me faz perder tempo. Afinal o que você faz que pode reverter em alguma coisa positiva para a sociedade?
- Eu leciono e...
- Professor? E você acha que uma categoria mal paga e desprestigiada como os professores podem ser úteis em alguma coisa?
- Talvez, se indicarem os livros certos para seus alunos...
- E você não acha que isso é uma função da internet ou dos bibliotecários?
- Desde que conheçam seus acervos e que a busca na internet seja inteligente.
- Já que falamos de livros, qual foi o melhor autor que você já leu? E que grande autor você nunca leu?
- James Joyce e William Faulkner.
- Você é realmente muito previsível. Uma pena ter escolhido para entrevistar alguém tão medíocre.
- Azar o seu.
- Estamos chegando ao final da entrevista.
- Sorte a minha.
- Agora olhe para aquela câmara e diga tudo o que quiser: suas críticas, suas angústias, seus pesadelos. olhe ali e enforque-se na corda da liberdade.
- Abujamra sucks.
- Me dá aqui um abraço, que é a parte mais hipócrita de nossa entrevista...
- Só se for da sua parte.

Enquanto sobem os créditos, riem da encenação.
Averys

sexta-feira, 16 de maio de 2003

A um amigo em crise
Sim, você levou um grande susto esta semana. Depois foi assaltado pela terceira vez, pouco dias após o seqüestro do Alessandro. Está down e acha que a vida é pouco mais que lixo nesta cidade de São Paulo. E quase tem razão. Na verdade, vale menos que a taxa de lixo que o município nos cobra. Sabemos que a vida alcança cotação melhor noutras cidades, e que esta nos transforma em Geny do Zeppelin, em Bebel que a cidade comeu. É uma cidade partida, como o Rio de Zuenir Ventura. Estamos em blecaute. Mas acredite: bom mesmo é estar vivo, ter irmãos, ter amigos. Vá, se voc6e precisa ir. Mas lembre-se dos poetas e que o padecimento da matéria eleva o espírito.

Guerra fria