quarta-feira, 25 de fevereiro de 2004

Crônica urbana (Epílogo)
Muito bem, o fascista vai caminhar por esta calçada. Preciso medir a quantidade exata de passos e o tempo que ele vai levar. É neste ponto que ele cruza com os mendigos, vê as pessoas na rua e... no final da quadra... entra no banco. Em certo andar deste banco, uma executiva passou a noite fazendo seu trabalho, que é retalhar empresas e vendê-las etc, etc. Ela vai observá-lo durante dois segundos, do alto da janela, no momento em que vive suas reminiscências hippies. O banco é importante porque é aqui que duas das personagens se cruzam, favorecendo a construção de um quarto episódio. Sim, a história pode ser ampliada, é claro, usando os personagens periféricos. O discurso do candidato a pastor acontece na mesma quadra por onde caminha o fascista. O treino acontece com voluntários da própria igreja, que respondem aos chamados do candidato a pastor na hora da cura de todos os males. O olhar do candidato a pastor pousa, por dois segundos, sobre o fascista que anda pela calçada. No exato momento em que ele fala que o Diabo está à espreita, etc. etc. O fascista passa com nojo pelos mendigos da calçada, olha o candidato a pastor e o odeia. Depois que entra no banco, o fascista e a executiva trocam olhares. Ele na fila, ela saindo com pastas e bolsas e um olhar cansado de triunfo, de vitória. Surpreendentemente ele não pensa em nada sobre a mulher que cruza o saguão do banco apressada. Ela, por sua vez, imagina como seria encerrar a vida de solteira ao lado de um rapaz forte, pobre, mas trabalhador. Pensa melhor e resolve que pagar por uma companhia masculina oferece a melhor relação custo-benefício . A tetralogia (tautologia?) pode encerrar com o pastor já em atividade pregando na Praça da República, enquanto observa mulher de fino trato parar o carro diante de jovem de cabelos muito curtos que ali está à procura de uns trocados. Podemos chamar esse fim de um novo começo, como se faz no cinema de autor. É isso aí. Maravilha.

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Guerra fria