segunda-feira, 5 de abril de 2004

Cidadania
Para doações em dinheiro às vítimas do Catarina: Banco do Brasil (agência 3226-13 ­ conta-corrente 7.285­0) e BESC-Banco do Estado de Santa Catarina (agência 0680, conta-corrente 802.500-5).

terça-feira, 30 de março de 2004

Pelo telefone
Os grupos Telefônica, Telemar e Brasil Telecom uniram-se no Consórcio Calais para comprar a Embratel da falida MCI. Cobriram a oferta da Telmex argumentando que o consórcio é nacional (tem nome de cidade portuária da França), que o negócio será o melhor para o Brasil etc. A intempestiva reunião das gigantes da telefonia guarda o vírus do oligopólio, já visível na reduzida diferença entre preços nos serviços e a falta de transparência nas tarifas cobradas por cada empresa. A Telmex pode ser estrangeira, mas nenhuma das que já dividem os lucros da telefonia brasileira é genuinamente nacional. A entrada de novo grupo pode, eventualmente, evitar a disparada dos preços que essa estranha união de "concorrentes" pode provocar. A Anatel precisa exercer um papel pró-consumidor.
Sociedade alternativa
Isaías viu shows do cantor em São Paulo, Santos, Santo André, São Bernardo, por toda parte. Fotografava, colecionava reportagens, gravava entrevistas. Tinha discos que não acabava mais e fotos na sala, cozinha, banheiro, até em cima do tanque. "A casa dele parecia um museu", diz Valdenice. Depois que entrou para a Igreja Universal, Isaías encerrou esse capítulo. "Quebrei e botei fogo em tudo", conta. "A verdade é uma só: Jesus. Como eu não conhecia o superior a ele, para mim Raul era o máximo. Mas eu me libertei."

Isaías Sena Souza, marceneiro do Itaim Paulista (Zona Leste de São Paulo) que nos velhos tempos conseguiu batizar a própria rua com o nome de Raul Seixas, domingo, no Estadão.

sexta-feira, 26 de março de 2004

Na vitrola
Elza Soares - Do cóccix até o pescoço
George Harrisson - All things must pass
Laurie Anderson - Life on a string
Projeto Igor - Mande minhas lembranças ao Onze
Nico - Chelsea Girl

segunda-feira, 22 de março de 2004

Contos do extermínio
Ariel Sharon mandou matar o líder-fundador do grupo Hamas, o fanático Ahmed Yassin, que jaz em pequenos pedaços em algum lugar da Palestina. Simples como um ato de governo, o assassinato de um idoso tetrapélgico é visto como solução para o problema do terrorismo. Afinal, não será Sharon ou sua família que serão despedaçados pelos explosivos dos kamikazes palestinos na vingança já prometida. O corrupto Sharon evita a imprensa e a Justiça com a morte do líder do Hamas. No céu dos déspotas, faraós egípcios e velhos nazistas contentam-se em saber que seu trabalho prossegue pelas mãos de Ariel Sharon.

domingo, 21 de março de 2004

Farinha do mesmo saco
Charlie Brown Jr.
Skank
Matanza
KLB
Detonautas
Jota Quest
CPM22

continua...

sexta-feira, 19 de março de 2004

Os Ladrões
O ex-presidente da Câmara Municipal de São Paulo, Armando Melão, foi preso hoje pela Polícia Federal em flagrante de extorsão. Anda cobrando propina para proteger supostos envolvidos no escândalo do Banestado. Disse que era inocente. "Sou totalmente inocente. Eu estou assustado, não sei o que está acontecendo". O cheque nominal de R$ 531 mil, argumenta, é uma tentativa de incriminá-lo. Igual às contas milionárias que abriram, na Suiça, em nome de fiscais do Rio de Janeiro. Já Paulo Maluf nega todas as acusações.

segunda-feira, 15 de março de 2004

Notas internacionais
* O povo espanhol deu o troco a José María Aznar (eu azno, tu aznas...), que envolveu o país numa guerra inútil e provocou o atentado em Madri, na semana passada. José Luís Rodríguez Zapatero, o novo chefe de governo, já anunciou que vai desmobilizar as tropas espanholas no Iraque, a partir de abril. A melhor decisão política tomada pela Espanha nos últimos anos.

* A Polônia acredita que pode ser vítima de atentados porque apoiou a invasão do Iraque. Muito perspicaz, o presidente Aleksander Kwaśniewski.

* Vladimir Putin, o czar da Rússia, reelegeu-se presidente, apesar das acusações de corrupção, autoritarismo, cerceamento da imprensa e (não é acusação, mas de realidade) carnificina na Tchetchênia. Ex-agente da KGB, Putin segue o estilo Bush e não se preocupa em eliminar inocentes para atingir seus objetivos. Foi assim quando autorizou a matança de centenas de inocentes com gás venenoso durante o seqüestro no teatro de Moscou por separatistas tchetchenos. Quando o submarino Kursk afundou, a mãe de um dos marinheiros exaltou-se numa coletiva de imprensa e foi imediatamente sedada por droga injetável, aplicada por uma funcionária do governo. É o Gulag revisitado.

quinta-feira, 11 de março de 2004

Europa
Previsível, o atentado terrorista que matou 200 e deixou 1,4 mil feridos em Madri, hoje pela manhã. A Espanha deu apoio à invasão do Iraque em momento infeliz da História, tornando-se porta de entrada do terrorismo internacional, que se enraiza na Europa.

Mesmo com o povo (oito em cada dez) contra, o país de Colombo, de Pizarro e de Franco foi à guerra. Da mesma forma que o ouro asteca, os petrodólares falaram mais alto ao conservador José María Aznar, assim como já haviam seduzido o trabalhista Tony Blair e o retrô Silvio Berlusconi.

Em nome da unificação européia, o trio culpa os separatistas bascos, que preferem executar políticos e juízes. Mas pelas características, os inocentes nos trens foram imolados por radicais islâmicos enlouquecidos armados até os dentes, desses que tratam civis como peões, sacrificados para favorecer um xeque.

De olho nas próximas eleições, Aznar dificilmente assumirá que levou a guerra para seu país, deliberadamente. Intriga da oposição, dirá nos programas eleitorais, diante da queda na receita do Turismo.

Os responsáveis pelas 13 bombas instaladas no sistema de trens da capital da Espanha deixaram uma mensagem indicando os próximos alvos: Itália, Inglaterra, Japão...

quarta-feira, 10 de março de 2004

Fina ironia
Três anos à procura da matéria perfeita.

Marcelo D2, sobre a revista MTV, na MTV.
Os ladrões
Em Alfenas, cidade do sul de Minas Gerais com expressiva população universitária, filmaram o prefeito José Manso entregando maços de dinheiro para seus vereadores. O pronome possessivo (seus vereadores) se justifica. Parlamentar, no Brasil, é como notícia: um produto à venda (Cremilda Medina). Endinheirado que se preza tem o seu deputado, seu advogado, seu jornalista...

domingo, 7 de março de 2004

Michael Schumacher vence o GP da Austrália. Barrichello em segundo
Impressão minha ou a Fórmula 1 ficou muito, muito monótona?

sábado, 6 de março de 2004

Na tela
O filme O Poder e a fé apresenta-nos um vendedor de Bíblias de estilo incomparável. A mistura de religião, violência e humor é pura crônica urbana. O roteiro é insano, mas denuncia desemprego, charlatanismo e a solidão da metrópole. Cordel do Século 21.

quinta-feira, 4 de março de 2004

Contos da Anta (3)
Companheiro Bush
Tom Zé

Se você já sabe
Quem vendeu
Aquela bomba pro Iraque,
Desembuche:
Eu desconfio que foi o Bush.


Foi o Bush,
Foi o Bush,
Foi o Bush.


Onde haverá um recurso
Para dar um bom repuxo
No companheiro Bush?
Quem arranja um alicate
Que acerte aquela fase
Ou corrija aquele fuso?


Talvez um parafuso
Que tá faltando nele
Melhore aquele abuso.
Um chip que desligue
Aquele terremoto,
Aquela coqueluche.

terça-feira, 2 de março de 2004

O Poder e a Fé
O curta-metragem O Poder e a Fé, escrito e interpretado por Felipe Saraiva, estréia quinta-feira no The Bar, na Vila Olímpia, São Paulo, Brasil.

O autor-ator é filho do poeta Carlos Saraiva e radicaliza na estética urbana.

A direção é de Beto Schultz e Thiago Luciano.

sexta-feira, 27 de fevereiro de 2004

Gasp
Entre todas as onomatopéias dos quadrinhos, minha preferida sempre foi gasp.

Também gosto de humpf e chuif.
Na vitrola
John Cale - Paris 1919
Mumiy Troll - Morskaya*

*Glam-rock russo irado. Ouça Utekay, Vdrug ushli poezda e Vladivostok 2000 e caia na festa.

quarta-feira, 25 de fevereiro de 2004

Crônica urbana (Epílogo)
Muito bem, o fascista vai caminhar por esta calçada. Preciso medir a quantidade exata de passos e o tempo que ele vai levar. É neste ponto que ele cruza com os mendigos, vê as pessoas na rua e... no final da quadra... entra no banco. Em certo andar deste banco, uma executiva passou a noite fazendo seu trabalho, que é retalhar empresas e vendê-las etc, etc. Ela vai observá-lo durante dois segundos, do alto da janela, no momento em que vive suas reminiscências hippies. O banco é importante porque é aqui que duas das personagens se cruzam, favorecendo a construção de um quarto episódio. Sim, a história pode ser ampliada, é claro, usando os personagens periféricos. O discurso do candidato a pastor acontece na mesma quadra por onde caminha o fascista. O treino acontece com voluntários da própria igreja, que respondem aos chamados do candidato a pastor na hora da cura de todos os males. O olhar do candidato a pastor pousa, por dois segundos, sobre o fascista que anda pela calçada. No exato momento em que ele fala que o Diabo está à espreita, etc. etc. O fascista passa com nojo pelos mendigos da calçada, olha o candidato a pastor e o odeia. Depois que entra no banco, o fascista e a executiva trocam olhares. Ele na fila, ela saindo com pastas e bolsas e um olhar cansado de triunfo, de vitória. Surpreendentemente ele não pensa em nada sobre a mulher que cruza o saguão do banco apressada. Ela, por sua vez, imagina como seria encerrar a vida de solteira ao lado de um rapaz forte, pobre, mas trabalhador. Pensa melhor e resolve que pagar por uma companhia masculina oferece a melhor relação custo-benefício . A tetralogia (tautologia?) pode encerrar com o pastor já em atividade pregando na Praça da República, enquanto observa mulher de fino trato parar o carro diante de jovem de cabelos muito curtos que ali está à procura de uns trocados. Podemos chamar esse fim de um novo começo, como se faz no cinema de autor. É isso aí. Maravilha.

terça-feira, 24 de fevereiro de 2004

Contos da Anta (2)
Na última eleição presidencial norte-americana, que George W. Bush ganhou por impressionantes 537 votos, democratas culparam o Partido Verde de roubar votos (tiveram pouco mais de 2 por cento) e favorecer o Partido Republicano. O candidato dos verdes, Ralph Nader, tinha como cabo eleitoral nada menos que Michael Moore, que narra episódios interessantes dessa eleição no seu livro Stupid White Men. Bem, Nader está de volta, desta vez como candidato independente. Precisa conquistar eleitores em primárias por todo o país antes de arvorar-se candidato oficial. Mas se a apuração ficar travada na Flórida ou no Texas, Nader deve se preparar para ser enxovalhado pelos democratas outra vez. Se, por outro lado, os democratas vencerem, o homofóbico Bush deve declarar o ambientalista milionário culpado por associar-se aos comunistas, artistas de vanguarda, pacifistas, ativistas e alternativos de toda espécie contra a ordem natural do mundo.
Crônica urbana (3) - terceira e última parte de peça audiovisual em três atos e um epílogo
Quem ficou curado levante a mão em nome de Jesus. Isso, levantem as mãos para eu poder ver. Um, dois, quatro, cinco, seis, sete, nove, dez, doze, quatorze, dezesseis, vinte, vinte e dois, vinte e quatro, vinte e cinco, somente vinte e cinco?, vinte e sete, trinta, trinta e dois, trinta e quatro. Alguém mais? Vamos orar e pedir a Jesus para que cure todos os nossos males. E reconhecer, irmãos. Reconhecer que o sangue de Jesus tem poder, reconhecer como essas pessoas que estão aqui, que foram curadas. Ficar calado não adianta nada. É preciso revelar a ação de Jesus na sua vida. Trinta e seis, trinta e sete. Não vamos deixar que o mal volte, irmãos, porque se Jesus curar e você não reconhecer, o mal volta. O Maligno traz o mal de volta para a casa dos cristãos que são curados e não reconhecem isso na Casa de Deus. Vamos lá. Quarenta, quarenta e dois. A senhora ali em cima, quarenta e três. Quantas vezes você já ficou curado de uma dor de cabeça, de uma dor na coluna, de um aperto no peito, de nó nas tripas, de pneumonia, de febre braba, de cansaço e não reconheceu diante de Deus? E o que aconteceu depois, irmãos? A dor voltou, o mal voltou. O demônio lançou sua mão maligna sobre os filhos de Deus e os manteve na enfermidade. É assim que age o Diabo, nas nossas pequenas imperfeições, nas falhas que mais desprezamos. E ele está sempre à espreita, o Demônio. O cão. Mas não como Deus, que está com a gente o tempo todo. Desde que estejamos dispostos a estar com Ele. É nesses momentos de fraqueza, quando a gente não reconhece o que Deus faz por nossas vidas, quando nos perguntamos se o dízimo vale a pena, que o maligno nos ataca. Então é preciso ter fé. É preciso recusar toda essa informação errada que a televisão passa. Reconhecer a boa televisão também, como a TV Nova Graça, que transmite esse programa. Então oremos. Então? Ficou bom? Se quiser gravo de novo, olha minha mãe diz que eu sou muito bom com as palavras. Posso voltar na segunda-feira? O senhor fala sério? Obrigado, muito obrigado, Deus lhe pague. Vou contar para a minha mãe agora mesmo. O sonho dela sempre foi ter um filho missionário. Eu, um missionário.
Sem título

Encontrei no blog da .

segunda-feira, 23 de fevereiro de 2004

Crônica urbana (2) - segunda parte de narrativa literária ou peça em três atos e um epílogo
Aimeudeus, de novo. Já estou cansada disso. Toda vez é assim. Se eu conseguisse sair um pouquinho mais cedo talvez pegasse o final da novela. Mas todo dia acontece alguma coisa. Todo dia é um preço trocado, é uma conta que não fecha. Dia de liquidação é assim mesmo. Vidinha desgraçada, essa minha. Bom mesmo é ser como aqueles artistas lá embaixo, fazendo malabarismo nos sinais. Uma vida livre, sem tanta loucura, sem tanta preocupação. Mas que é isso que eu estou pensando? Eu não nasci pra isso. Eu nasci pra isso que estou fazendo. Condenada a ser o que sou para sempre. Ou a ser sempre o que fui. Reclamo porque estou viva, sei que tem gente em melhor situação, mas ter o que eu tenho é melhor do que nada. É melhor do que nada. Pronto, fechei a última conta. Agora é esperar a reunião dos acionistas e anunciar... que estou fora. Estou fora e vou viver de quê? Acorda, isso aqui é o melhor que você poderia conseguir. Os anos sessenta acabaram há muito tempo, cara mulher independente. Ah, mas aquela sim é que era época boa, de mudanças nos costumes, de liberdade. Hoje estamos aprisionados, assistindo à violência tomar conta de tudo. Meninos assassinos, ladrões de apartamentos, sequëstros-relâmpago, corrupção nos governos. Esse mundo não vai ter jeito? Isso aqui não tem jeito, não. Falta pouco pra gente explodir de vez. Só porque tenho meios para evitar que isso aconteça comigo, não posso ser responsabilizada. Bom, não falta mais nada. Pronto. Com isso concluo a liquidação da empresa. Ai, que cansaço. Hum-hum-hum-hum-hum (cantarola uma música). Pela manhã esta companhia estará dividida em milhares de pequenos papéis, resultando em mais uma generosa comissão de seis dígitos. Um belo trabalho, tenho que admitir. Mas o que eu gostaria mesmo era de estar bem longe daqui, fazendo qualquer outra coisa. Liberdade. Não, não, nada disso. Nasci pra isto, morro assim.

domingo, 22 de fevereiro de 2004


Contos da Anta
George W. Bush pretende reeleger-se presidente dos Estados Unidos, apoiado por wasps ultraconservadores e pelo sistema financeiro. O joystick da maior máquina de guerra do planeta não pode permanecer em mãos erradas. Cristão fundamentalista, belicoso e anti-protocolo de Kyoto, não pode ser a melhor opção para governar o país que governa o mundo. Vamos secá-lo.

sábado, 21 de fevereiro de 2004

Crônica urbana (1) - primeira parte de obra composta por uma trilogia e um epílogo
Mendigos. Os malditos ficam no meio da calçada e somos obrigados a desviar, como se eles fossem os donos da rua. Esses parasitas deviam estar trabalhando. Os aleijados são os piores, exibindo as feridas horríveis. Gente inútil. Esses pregadores me deixam surdo, esses gritos me irritam. Sai da frente. São uns exibicionistas que querem falar da própria vida e não encontram oportunidade. Babacas. Olha só esses dois, parecem viados. Não são, mas parecem. Querem parecer. Olha só. Escrotos. O cabelo já tá crescendo, tenho que rapar de novo. Sai da frente, idiota. Isso mesmo, não reclama, não, senão leva. Essa é gostosa, mas estica o cabelo, deve ter sangue negro. Distante, mas tem. Podia dar uma lição nela, daquelas pra não esquecer. Pra respeitar. Ela ia ver só. É aqui. Agora é só esperar. Saco. Uns 25, mas tá melhor que ontem. Putz, essas comadres vão falar até encher minha paciência e eu arrebentar uma. E o imbecil ali tá olhando o quê? Não é pra mim, ele olha o ar, o panaca, enquanto espera o gerente. Mais um falido tentando um empréstimo. Vai dançar, pela cara do gerente. Por que ele acha que tá sem dinheiro?, por que é que ele acha que tá sem emprego? Eu te digo, por causa dos parasitas, das raças inferiores. Que roubam nossos empregos e estupram nossas filhas, que você sabe quem são. Por causa desses camelôs aí na porta do banco, idiota. Vê se faz alguma coisa, seu porco, ou sai da área. Eu estou fazendo alguma coisa. Eu estou. Isso aqui não vai andar, não? Olha só esse guardinha. Não dá conta de ninguém com essa arma de brinquedo, com essa cara de quem apanha da mulher. Ridículo. A madame agora vai deixar as jóias ou pegar mais grana. É sempre assim. Tá chegando. Falta só essa gorda. Que baleia. Quem despreza o próprio corpo merece todo o meu desprezo. Tenho que fazer umas sessões mais tarde. Calibrar os músculos, rapar a cabeça. Vou falar com os cara, hoje. Chegou a minha vez. O caixa tá me perguntando se o depósito é pra hoje, se eu vou pagar mais de uma parcela dos carnês do doutor, se eu tenho trocado... eu só queria esganar esse idiota. Entreguei tudo, com o dinheiro da firma contado e o mané ainda tá fazendo pergunta. Como é que eu vou saber? Como é que eu vou aprender a somar agora? Vê se anda logo, palhaço, que se eu chegar mais cedo ganho uma gorjeta do doutor Fernando. Hoje eu não tô bom.

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2004

O Processo
Repórter - O senhor é um arquivo vivo?
Juiz - Sou.
Repórter - Se morrer, as denúncias vão embora com o senhor?
Juiz - Não. Há quem possa revelá-las.


João Carlos da Rocha Matos, juiz preso por corrupção, formação de quadrilha, peculato e venda de sentenças, em entrevista à TV Bandeirantes.

Não é preciso ser especialista em análise do discurso para perceber que JCRM ocupa apenas um posto na hierarquia dos criminosos de toga.

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2004

Futuros amantes
Chico Buarque/1993

Não se afobe, não
Que nada é pra já
O amor não tem pressa
Ele pode esperar em silêncio
Num fundo de armário
Na posta-restante
Milênios, milênios
No ar

E quem sabe, então
O Rio será
Alguma cidade submersa
Os escafandristas virão
Explorar sua casa
Seu quarto, suas coisas
Sua alma, desvãos

Sábios em vão
Tentarão decifrar
O eco de antigas palavras
Fragmentos de cartas, poemas
Mentiras, retratos
Vestígios de estranha civilização

Não se afobe, não
Que nada é pra já
Amores serão sempre amáveis
Futuros amantes, quiçá
Se amarão sem saber
Com o amor que eu um dia
Deixei pra você

domingo, 15 de fevereiro de 2004

Jazz after midnight
Amplificadores Pevey, Chico (baixo), Guido (bateria), Mauro (teclados), Paulo (voz), eu (guitarra) e o rock n’ roll. Sons raros na noite mais longa do ano.

domingo, 8 de fevereiro de 2004

Causa
Guilherme Arantes, no Bem Brasil, esclarece que sua crítica às duplas neosertanejas que gravaram Planeta Água era um convite para que o agribusiness investisse na causa ambiental.

Claro que o interesse dos neosertanejos pela produção de botas de couro supera qualquer brio ecológico.

O músico fez uma interessante comparação entre o Big Brother Brasil e o neoliberalismo, dizendo tratar-se de um grupo de pessoas que não lêem livros, submetidas a um jogo que valoriza armação, golpes baixos, corrupção. Gente bonita de pouco conteúdo, submetida à arena do capital.

Mora na Bahia, atualmente, onde conduz um projeto de educação ambiental com crianças que vivem em áreas de mangue.

Ativista é quem faz.

sábado, 31 de janeiro de 2004

Na vitrola
Luciana Pestano
Gentle Giant - Three friends
Kings of leon - Youth and young manhood
Leio
Tempos Interessantes - Eric Hobsbawm

Li Mar sem fim, de Amyr Klink
Relato da circunavegação terrestre que o brasileiro Amyr Klink fez a bordo do bom e velho Paratii, pelos três oceanos. Nesta aventura, Amyr navega em torno do Continente Antártico, enfrentando tempestades, icebergs e os limites físicos e psicológicos de quem resolve fazer esse tipo de loucura. Não por falta de aviso.

O espírito que predomina no radioamadorismo,
de solidariedade e apoio, não existe em nenhum outro
meio de comunicação, incluídos os meios da web.
A internet e os meios individuais de comunicaçao certamente
afetarão o trânsito-rádio no mundo. Não tão cedo no mar.
O uso das ondas eletromagnéticas não custa nada e,
com paciência e perícia, as maiores proezas de intercâmbio
entre seres humanos são possíveis. (p. 62)


Para fãs de aventuras náuticas de todos os tempos.
Uma imagem

quinta-feira, 29 de janeiro de 2004

Na tela
Dogville é a fábula americana, por excelência, provando que à exceção de Noam Chomsky, Susan Sontag e Michael Moore, os Estados Unidos ainda precisam do olhar estrangeiro para se enxergar. Falta tirar a venda.

O novo filme de Von Trier é mais "profissional" que obras anteriores, embebidas de Dogma 95. Novamente a mulher que sofre (Ondas do Destino, Medéia, Dançando no Escuro...) protagoniza o trabalho do cineasta dinamarquês. Menos manifesto feminista que realismo. Três horas de filme depois, a sensação é de que já estive em Dogville.

sábado, 24 de janeiro de 2004

Sobre o Ministério da Educação
Poucas pessoas entendem de educação neste País como Cristovam Buarque, cujos projetos foram copiados no governo passado e implementados no atual. É dele o projeto Bolsa-Escola e de erradicação do analfabetismo. É dele o cálculo do número de analfabetos a partir dos cinco anos (idade em que famílias de renda razoável alfabetizam suas crianças), sem contar uma série de livros, ensaios e projetos ligados à educação – cujas deficiências históricas influenciam diretamente na má distribuição de renda. Fico perplexo (não sou o único) com a demissão por telefone de uma pessoa reconhecidamente competente para favorecer o fisiologismo político. Parece Roraima. Parece Washington. A desculpa de que “a notícia se espalhou” é absurda. Melhor seria o silêncio.

Cristovam Buarque é doutor em Economia pela Sorbonne, foi reitor da UnB, governador do Distrito Federal e é consultor das Nações Unidas. Tarso Genro escreveu vários livros sobre política, marxismo e Direito e foi prefeito de Porto Alegre. Espero que faça um bom trabalho, mas dizer que esse é o seu maior desafio político-administrativo não ajuda. Educação é menos administrar que amar.

quarta-feira, 21 de janeiro de 2004

domingo, 18 de janeiro de 2004

Leio
Mar sem fim – Amyr Klink

Li A Festa, de Ivan Ângelo
A incrível e triste história de uma geração derrotada pela resistência e pela inércia, pela ação e pela omissão, tudo ao mesmo tempo.

Ivan Ângelo é hábil redator, artífice de obra em construção, nem tanto a Joyce nem tanto a Woolf. As descrições são econômicas, as palavras precisas, a narrativa fragmentária. Recortes do caos que paralisou os grandes centros urbanos durante a virada da década de 1960 para 1970, quando o “país do futuro” tentava avançar movido pelas mesmas forças conservadoras que ensejaram ditaduras passadas. Em meio a tudo isso, retirantes esfomeados, déspotas esclarecidos, DOPS, jornalistas, cocaína, socialites e personagens de um Brasil que não deu certo numa obra atual, passados quase 30 anos do seu lançamento.

A estrutura experimental e a metalinguagem fazem de A festa um livro especial para leitores de primeira grandeza e escritores bloqueados.

quinta-feira, 15 de janeiro de 2004

Esse jogo é 1 a 1
Os chilenos (puf, puf) jogaram bem, aproveitaram as oportunidades (puf) e foram felizes nas finalizações. Agora é correr atrás do prejuízo (puf, puf), esfriar a cabeça e pensar no nosso objetivo (puf, puf) que é a conquista de uma vaga nas Olimpíadas e ir pra (puf) Atenas.

terça-feira, 13 de janeiro de 2004

Vintage
- Diz que é vintage.
- É?
- É.

(As consumidoras)



- Diz que é vintage.
- É?
- É.

(Os publicitários)



- Diz que é, Vintage.
- É?
- É.

(O Vintage)

sábado, 10 de janeiro de 2004

Este blog está em obras
Prossegue a investigação sobre o misterioso desaparecimento do template.

terça-feira, 6 de janeiro de 2004

Leio
A festa – Ivan Ângelo

Li O homem duplicado, de José Saramago
O que aconteceria se você encontrasse alguém exatamente igual a... você? Noutra de suas premissas célebres (e se todos ficassem cegos?), José Saramago leva o leitor a uma estranha viagem entre nomes (Tertuliano Máximo Afonso detesta o próprio nome) (Antônio Claro é o verdadeiro nome do ator Daniel Santa-Clara) (o próprio autor chamar-se-ia José Sousa, não tivesse o oficial de registros acrescentado o apelido da família - nome da erva daninha da região do Ribatejo), relacionamentos, despersonalização e deslizes morais.

Aos que vêm o fantasma de Kafka a cada livro seu, o escritor português responde que "existem estórias Kafkianas desde antes de Kafka". E, sim, este senhor de quase 80 anos segue a linha direta dos que romperam com as estruturas formais do romance. Por isso, como artista do século 21, dá-se ao direito de beber na fonte da grande arte coletiva. E sampleia histórias, não autores. Saramago é bricolage.

Saramago, todos sabem, é fã da cantora norte-americana Edie Brickell, e teve a idéia de escrever o livro a partir da letra de The Wheel:


Somewhere there's somebody who looks just like you do.
Acts just like you do - feels the same way.
Somewhere there's a person in a far away place
with a different name and a face that looks like you


Não, nada disso. O escritor gosta de HQs da Marvel e da antológica série “O que aconteceria se...”, que entre outras proezas ressuscitou Fu-Manchu e libertou o Surfista Prateado da prisão invisível imposta por Galactus. Doutra feita, levou Marcelo Rubens Paiva (Blecaute) a congelar o tempo numa São Paulo em decomposição.

Não, não. Saramago gosta mesmo é de Roberto Carlos. A inspiração vem, portanto, da letra de O sósia, de Roberto Carlos e Erasmo Carlos:

Tudo começou quando um certo dia
Eu liguei pro broto que há tempos eu não via
E o que ela disse me deixou zangado
Deixe de tolice, já tenho namorado
Fui a casa dela e lhe falei então
Para essa história quero explicação
Quando olhei pro lado, eu perdi a fala
Descobri um cara que tinha a minha cara
E até seu nome era igual ao meu
Um era demais eu sei não era eu
E na confusão meu broto desmaiou


O insight que determina a obra pouco interessa, nesses casos. Os seres humanos, em algum momento da vida, pensam na existência de um clone seu andando por aí. Um ser fisicamente idêntico e não as múltiplas personalidades plasmadas por nossos pensamentos contraditórios - como nas hilárias conversas entre Tertuliano Máximo Afonso e o senso comum.

O livro leva o leitor a refletir sobre o indivíduo não mais sob a chancela da filosofia, mas de uma metafísica de ateu, que não exige maiores explicações.
Uma imagem

segunda-feira, 5 de janeiro de 2004

Brasil, ano 504
A política econômica beneficiou os nichos de sempre e não merece maiores elogios. Diferente é o caso da política externa, em que o Brasil foi primoroso. A diplomacia foi o que tivemos de melhor no primeiro ano do governo Lula. A visita a nações belicosas (incluindo os Estados Unidos) e mercados em expansão atestam.

A melhor notícia do ano novo é o fichamento de norte-americanos nos aeroportos brasileiros. Nada contra os caras. Mas o princípio de reciprocidade diplomática alegado pelo juiz Julier Sebastião da Silva - o mesmo que mandou prender o chefe do crime organizado em Mato Grosso, João Arcanjo Ribeiro -, admitamos, é genial. Um avanço no combate à biopirataria.

sábado, 3 de janeiro de 2004

Bola ao cesto
Hoje tem basquete da NBA na TV aberta.

Coube à Rede TV assumir a transmissão dos jogos do melhor basquete do mundo, suprindo a lacuna da ESPN no fim de semana.

O primeiro jogo será Detroit Pistons x Golden State Warriors. Em seguida, Atlanta Hawks x Denver Nuggets.

O brasileiro Nenê defende os Nuggets e tem feito 11,5 pontos por partida.

Update às 0h: Que jogo!

terça-feira, 30 de dezembro de 2003

Ano novo
O governo Lula termina o primeiro ano de mandato com elogios de Maílson da Nóbrega e do mercado financeiro em geral.

George W. Bush autorizou o desmatamento de reserva ambiental no Alasca, para aquecer a economia americana. Também vai explorar petróleo no santuário ecológico.

Marcelo D2 consolida-se como poeta popular e ativista.

O preço do CD caiu.

Marco Maciel na Academia Brasileira de Letras.

O Dólar caiu.

O general Augusto Pinochet goza sua aposentadoria tranqüilamente, no Chile.

Saddam Husseim caiu.

Os Estados Unidos terminam o ano com mais um estado: o Iraque.

segunda-feira, 29 de dezembro de 2003

Blogs
Blogs são singelos. Dolls e GIFs animados reeditam os anos 80. Blogs podem ser asquerosos. Pop-ups de patrocinadores assaltam a tela. Blogs são hype passageiro nas tardes de algumas pessoas, brincadeira eletrônica da burguesia escolarizada. Terapia, insônia, obsessão. Blogs são o outro lado do espelho. Blogs são um mistério. De cada 10 pessoas que utilizam a internet, menos de duas sabem o que é blog. E só uma em cada 50 já leu algum. Blogs são efêmeros. Mais de hum milhão de weblogs não sobrevivem às primeiras 24 horas. Bloggers pagam pau e descem a lenha.
Um dia, tudo estará à venda.

quarta-feira, 24 de dezembro de 2003

Sobre datas pagãs adotadas pelo cristianismo
Então Feliz Natal, seja lá o que isso possa lhe significar.

domingo, 21 de dezembro de 2003

Leio
O homem duplicado - José Saramago


Li Budapeste, de Chico Buarque
José Costa, ghost-writer e personagem principal de Budapeste, tem pinta de blogger.

Autor anônimo que vê seu trabalho assinado por outros e vive feliz com isso, enlouquece em Budapeste entre palavras magiares indecifráveis. Ou enlouquece num Hotel do Rio de Janeiro, tanto faz. Importa é que Szoze Kósta, literato de fina estirpe cujo trabalho só é reconhecido por um seleto grupo de colegas de profissão, tem na incomunicabilidade com os que lhe cercam seu maior obstáculo.

O enredo fluido, a pesquisa dedicada e o amor pelas palavras e sua sonoridade fazem de Chico Buarque candidato ao time dos grandes escritores brasileiros da atualidade.

terça-feira, 16 de dezembro de 2003

O BlogGlob revela sua face
A Globo acaba de definir novas regras para seu serviço de blogs. Agora todos terão publicidade (pop-ups, forma mais nefasta impossível) e poderão ser usados para divulgar o serviço (produto?) em qualquer meio ou lugar.

A partir de agora, o serviço será pago. Os usuários podem criar até no máximo cinco páginas, desde que sejam assinantes da globo.com. Os conteúdos podem ser apagados a qualquer momento, se ferirem o código de conduta (palavrões nos logins, blogs do tipo "eu odeio qualquer artista do casting", fotos de nudez ou sexo, críticas diversas.)

O mais terrível: pelo contrato, o autor permite o usufruto perpétuo dos textos publicados, concedendo royalties às Organizações Globo. Para contestar as novas leis, fica eleito o Foro do Estado do Rio de Janeiro.

A medida atinge cidadãos portugueses e lusófonos mundo afora, que utilizam o BlogGlob.

Assombre-se aqui.
Leio
Budapeste – Chico Buarque


Li Dublinenses, de James Joyce
Os primeiros contos de James Joyce, espécie de short-cuts da própria família, dos amigos, dos desafetos. Ácidas referências a tradições e maneirismos irlandeses em livro que pouco lembra o esteta do período pós-Ulisses. Política, pedofilia, embriaguez e provincianismo em contos da velha Irlanda. Fundamental.

domingo, 14 de dezembro de 2003

Descaradamente copiando Angeli: três coisas que odeio e uma que adoro
1 - Eu odeio comerciais de cerveja;

2 - Eu odeio filas;

3 - Eu odeio a hora do rush;

4 - Eu adoro Curb your enthusiasm

sábado, 13 de dezembro de 2003

Os intocáveis
Prefeitos cassados na Bahia, políticos presos em Roraima, policiais presos no Paraná, juízes e empresários presos em São Paulo. Acredite, isto é Brasil.

sexta-feira, 12 de dezembro de 2003

Ask the dust
- Estou pensando em lançar minha candidatura a governador de Roraima.

Diogo Mainardi, na Veja

domingo, 7 de dezembro de 2003

Mondo cane
- Tive o consentimento dele. Está gravado em vídeo.

Armin Meiwes, o Canibal de Rotenburg, ao dirigir-se à corte alemã. Ele admite ter recrutado (via internet) e comido o engenheiro Bernd-Jurgen Brandes. Antes de morrer, Brandes teria autorizado o banquete e experimentado pedaços da própria carne. Juízes e jurados terão que assistir às fitas.

quarta-feira, 3 de dezembro de 2003

Fábula
Então o artista finalmente percebeu que o povo só queria ver televisão. E ele lhes deu. Uma televisão imensa, a maior já construída, em pleno centro da cidade, com comerciais, noticiários, esportes, cultura inútil e pessoas paradas assistindo, dia após dia, ano após ano, a maior platéia jamais alcançada em qualquer outra época. Ele envelheceria e sobreviveria a fama, dinheiro e algumas dependências, embalado pelo sucesso de sua obra maior, a tal TV gigante. Arte democrática, a TV podia ser usada por todos. Filas gigantescas eram formadas na esperança de poder usar o controle remoto. Alguns passaram a morar perto do aparelho. Párias de todos os tipos e lugares vinha experimentar a novidade. O local passou a abrigar centenas, depois milhares de pessoas. Virou caso de saúde pública, insurreição popular, represálias governamentais, milícias armadas, grupos de extermínio, ultraviolência. Decretou-se toque de recolher e a repressão virou rotina. O artista, protegido pelo aparato tecnológico-informacional que somente a era do mercado nos concede, sobrevive.

terça-feira, 2 de dezembro de 2003

Blogs
Vinte mil acessos depois admite-se perguntas do tipo: o que é ser blog? O que é ter blogger? Na zona que chamamos ciberespaço, os verbos podem confundir-se e a propriedade virar pessoa, que vira propriedade, como num desenho de Escher. Criatura que almeja ser criador. Por que no começo, bem no início, éramos a tela e eu, escondidos nas geocities (ou fortunecities) da vida, monotonamente ruminando obviedades. No começo era o verbo. E os gifs animados, espécie de orc da época.

A velha home-page, ao tornar-se blog, trouxe como efeito colateral a observação silenciosa de leitores nos Estados Unidos, Malásia, Canadá, Espanha, Japão... Brasileiros, talvez, já que o País tinha 9 mil blogs, dos quais dois terços inativos.

Havia, como ainda há, um voyeurismo exasperante, mas não havia, como ainda não há, o que fazer.

Os sistemas de comentários trouxeram alguma interação a este ambiente de egolatria e pixels, enquanto amigos (Vandré, Rubinho, Nei, Humberto, Sidenia, Saraiva) se desmaterializavam, viravam seres digitais. Cmo os faraós, nos encontramos em outra outra vida.

Linkei e fui linkado, diz a novilíngua. Outros criaram links para cá (com o perdão dos que não foram citados) e os mantêm, mesmo sem receber outro "em troca".

Blogs amigos, amigos bloggers.
A desgraça do insone é o acesso discado.

segunda-feira, 1 de dezembro de 2003

Na vitrola
Arnaldo Batista - Loki?
The Coral - Magic and medicine
Ian Brown - Music of the Spheres
The Rapture - The Rapture

sexta-feira, 28 de novembro de 2003

É, Norma
- É o dinheiro da corrupção que você quer, não é?
- É, Norma.

(Transcrição de telefonema entre o juiz João Carlos da Rocha Mattos, acusado de corrupção ativa e venda de sentenças e sua ex-mulher, Norma Regina Cunha.)

quinta-feira, 27 de novembro de 2003

Reunião de bacana
(Os Originais do Samba)

Todo mundo cantando esse refrão
Se gritar pega ladrão
Não fica um meu irmão
Se gritar pega ladrão
Não fica um

Você me chamou para esse pagode
Nem me avisou aqui não tem pobre
Até me pediu pra pisar de mansinho
Porque sou da cor eu sou escurinho
Aqui realmente está toda a nata
Doutores senhores até magnata
Com a bebedeira e a discussão
Tirei a minha conclusão

Lugar meu amigo é minha baixada
E ando tranquilo e ninguém me diz nada
E lá camburão não vai com a justiça
Pois não há ladrão e é boa a polícia
Lá até parece a Suécia bacana
Se leva o bagulho e se deixa a grana
Não é como esse ambiente pesado
Que voce me trouxe para ser roubado

quarta-feira, 26 de novembro de 2003

Aeroporto
(Fellini)
Na entrada não se podia ver nem mesmo um espirro

Eles foram, eles foram
Uma foto deles algemados no aeroporto
Eles foram, eles foram
Não se viaja sempre solo per lavoro

No círio um garoto nos sapatos de um homem

Eles foram, eles foram
Um outro deles já estava morto
Não se viaja sempre solo per lavoro

Pelo tamanho dos cinzeiros, foi só um pequeno avião

Eles foram, eles foram
Uma foto deles algemados no aeroporto

Não se viaja sempre solo per lavoro

quinta-feira, 13 de novembro de 2003

Leio
Dublinenses - James Joyce

Li Viver para contar, de Gabriel García-Márquez
O interesse pela vida alheia, padrão característico em todos os estratos sociais, revela-se de muitas formas. Ao consumir a vida das celebridades julgamos estar mais próximos delas, íntimos e arbitrários, quebrando sua divindade.

A leitura de uma biografia, portanto, não será muito diferente de assistir ao TV Fama. As histórias de vida dignas de serem publicadas – qualidade discutível que satisfaz nossos instintos de caça às celebridades – solucionam esse incontrolável interesse pela intimidade alheia, mas privilegiam a indigência intelectual.

Esse não é o caso da biotrilogia do escritor colombiano Gabriel García-Márquez, cuja primeira parte já está disponível nas livrarias. Viver para contar (Record, 474 páginas) é muito diferente de suas obras de ficção. Não envereda pelo realismo fantástico de A incrível e triste história da Cândida Erêndira e sua avó desalmada, Olhos de cão azul, Doze contos peregrinos, e Cem anos de solidão. Não é um romance como O amor nos tempos do cólera e Do amor e outros demônios, nem o flerte com a História de O general em seu labirinto. O estilo é semelhante ao de Notícia de um seqüestro, mas a comparação ainda será ineficiente.

O fio narrativo, entre uma ou outra volta ao presente, concentra-se na juventude pobre, nos primeiros experimentos literários, na boemia interminável dos literatti nos anos 1950. Quase jornalismo, com serifas literárias de grande valor.

domingo, 9 de novembro de 2003

Três notas e meia sobre rock n'roll
The Vines tenta ser Beatles, mas só consegue um efeito razoavelmente Oasis.
The Hives tenta ser Stones, mas acaba relendo Sex Pistols.
Coldplay, tentando Nick Cave, desandou em Radiohead.
De novidade do front, discos novos de bandas velhas, como Sonic Youth e New Order.
Certo pelo duvidoso, Vandré Fonseca foi à Galeria 24 de Maio e comprou aquele Jefferson Airplane importadão.

(Publicado há um ano, neste blog)
A queda
Se os juízes Rocha Mattos, Casem Mazloun e Ali Mazloun ainda não leram A Queda, de Albert Camus, deveriam aproveitar o momento favorável.

segunda-feira, 3 de novembro de 2003

Spam
Valium, Viagra, Xanax? Não, obrigado. Desculpe, investidor estrangeiro que pretende depositar milhares de dólares na minha conta bancária, mas hoje não dá. Não, não preciso de mais tempo com minha família, senhores do Trabalhe em Casa. Não tenho a menor idéia do que você está falando, Bruno Solano. Caro gerente da agência de viagens de Santa Catarina, infelizmente moro longe. E quanto a você, saiba que não falo servo-croata.

sexta-feira, 31 de outubro de 2003

Persona non grata
O documentário de Oliver Stone sobre o conflito árabe-israelense é interessante, mas limitado aos últimos acontecimentos.

O filme de 67 minutos carece de informação histórica, mas acerta ao apresentar um panorama atualizado da situação. Peca, entretanto, pelo excesso de fontes israelenses em detrimento das poucas entrevistas com palestinos - Yasser Arafat não estava disponível.

O que mais choca em Persona non grata são as declarações absurdas do prêmio Nobel da Paz, Shimon Perez. Para ele, não é a pobreza que gera o terrorismo, mas o terrorismo que gera a pobreza. Ameaça sionista clássica. Na prática, significa a
demolição das casas dos parentes dos terroristas.

Quanto aos territórios ocupados em 1967, Perez é sarcástico: "Deixe que eles sonhem".
Dia do Saci
Halloween que nada. Hoje é dia do Saci.

terça-feira, 21 de outubro de 2003

Bike (Syd Barrett)
I've got a bike. You can ride it if you like.
It's got a basket, a bell that rings and
Things to make it look good.
I'd give it to you if I could, but I borrowed it.

You're the kind of girl that fits in with my world.
I'll give you anything, ev'rything if you want things.

I've got a cloak. It's a bit of a joke.
There's a tear up the front. It's red and black.
I've had it for months.
If you think it could look good, then I guess it should.

You're the kind of girl that fits in with my world.
I'll give you anything, ev'rything if you want things.


I know a mouse, and he hasn't got a house.
I don't know why. I call him Gerald.
He's getting rather old, but he's a good mouse.

You're the kind of girl that fits in with my world.
I'll give you anything, ev'rything if you want things.

I've got a clan of gingerbread men.
Here a man, there a man, lots of gingerbread men.
Take a couple if you wish. They're on the dish.

You're the kind of girl that fits in with my world.
I'll give you anything, ev'rything if you want things.

I know a room of musical tunes.
Some rhyme, some ching. Most of them are clockwork.
Let's go into the other room and make them work.
Quem é esse cara? Syd Barrett.

domingo, 19 de outubro de 2003

Altiplano
E a Bolívia, heim? Agora Sánchez de Lozada sabe com quantos índios se derruba um governo...

sábado, 18 de outubro de 2003

Jaz
Que dizem os homens-bomba quando explodem a si mesmos diante de espectadores perplexos? Que discurso guardam para esse momento? Que palavras conservam em sua curta memória de jovem suicida? Palavras políticas, cruéis, cínicas, pessoais?

Como reagem os eleitos para desvendar, com o homem-bomba, os mistérios da morte? O filme da sua vida passa-lhe diante dos olhos? Que dizem ao mujahedin?

No futuro, os homens-bomba se converterão em repórteres-bomba, com seus repórteres-cinematográficos-bomba, e transmitirão via satélite as carnificinas mais espetaculares da televisão. O discurso, antes só disponível para os infelizes que eram despedaçados, poderá ser apreciado em diversos formatos.

sexta-feira, 10 de outubro de 2003

A transgenia, para leigos
Todo alimento que tem sua estrutura orgânica modificada em laboratório representa perigo iminente para a saúde dos consumidores. A quebra do código genético das espécies é para sempre, mas os testes desses produtos são realizados em ratos pelos próprios fabricantes por tempo demasiado curto - medido em semanas - e não incluem verificação dos efeitos de médio e longo prazo na saúde humana. Dessa forma, ingerir alimento transgênico equivale a praticar roleta russa.

O caso da soja RR é emblemático. Graças à pressão de latifundiários gaúchos, já temos em território nacional os experimentos mengelianos da Monsanto, corporação norte-americana de estreito relacionamento com a Casa Branca, responsável pela brilhante idéia de incluir um gene humano (!) no DNA da soja. Se canibalismo é uma expressão exagerada, aceito sugestões.

Para quem acha que entramos para o clubinho dos transgênicos somente agora, lembramos que vários produtos largamente consumidos no Brasil já contêm alimentos geneticamente modificados. Segue a lista fornecida pelo Greenpeace:

- Nestogeno, da Nestle do Brasil, fórmula infantil a base de leite e soja para lactentes contaminado com 0,1% de soja RR;

- Pringles Original, da Procter & Gamble, batata frita contaminada com milho Bt 176 da Novartis;

- Salsicha Swift, da Swift Armour, salsichas do tipo Viena contaminadas com 3,9% de soja RR;

- Sopa Knorr, da Refinações de Milho Brasil, mistura para sopa sabor creme de milho verde contaminada com 4,7% de soja RR;

- Cup Noodles, da Nissin Ajinomoto, macarrão instantâneo sabor galinha contaminado com 4,5% de soja RR;

- Cereal Shake Diet, da Olvebra Industrial, alimento para dietas contaminado com 1,5% de soja RR;

- Bacos da Gourmand Alimentos (2 lotes diferentes), chips sabor bacon contaminados com 8,7% de soja RR;

- ProSobee, da Bristol-Myers, formula nao lactea a base de proteína de soja contaminada com 1,9% de soja RR;

- Soy Milk, da Ovebra Industrial, alimento a base de soja contaminado com menos de 0,1% de soja RR;

- Supra Soy, da Jospar, alimento a base de soro de leite e proteina isolada de soja contaminado com 0,7% de soja RR.

segunda-feira, 29 de setembro de 2003

Li Stupid white men, de Michael Moore
O provocador Moore escreve sobre tudo o que boa parte da população dos Estados Unidos gostaria de dizer sobre seu país, mas não pode ou não quer falar.

Se a terra das liberdades civis gera descontentes como MM e sua prosa ferina, pode gerar um movimento de massas que defenda idéias simples como saúde pública, assistência social e a preservação do meio-ambiente.

Segundo o dicionário político do verde Michael Moore, democratas fingem que vão fazer alguma coisa boa e depois traem a todos enquanto republicanos mostram que vão fazer o mal desde o princípio. Um livro de ativismo.

Leio
Viver para contar - Gabriel García-Márquez

segunda-feira, 22 de setembro de 2003

Um Fausto
- Faço um pacto com você, disse Robert Johnson.
- Prossiga, disse Mefistófeles
- ...se todos escutarem minha música.
- De acordo, disse Mefistófeles.

No dia seguinte, um marido traído mata Robert Johnson. Sua música, eternizada como um blues bastante original está na raiz da raiz do rock n' roll. Anos depois, em entrevista à Rolling Stone, Mefistófeles admitiria que seu serviço de reclamações não lhe encaminhara nenhuma queixa, razão pela qual já havia substituído os responsáveis.

sábado, 20 de setembro de 2003



Barney
Quem é Barney? Quem é Barney??
Barney é o produtor do Gugu!!

O que faz Barney? O que faz Barney??
Forja entrevistas com o PCC!!

Onde está Barney? Onde está Barney??
Barney está depondo na delegacia!!

sexta-feira, 19 de setembro de 2003

Leio
ABRAMO, Cláudio. A regra do jogo. São Paulo, Cia. das Letras, 1988.

ARENDT, Hanna. Entre o passado e o futuro. São Paulo, Perspectiva, 1972.

BENVENISTE, E. O aparelho formal da enunciação. Problemas de Lingüística Geral. Campinas, Pontes, 1989.

CANCLINI, Nestor. Culturas híbridas. São Paulo, Edusp, 1997. (Ensaios Latino-Americanos nº 1).

CHAPARRO, M.C.C. Sotaques d?Aquém e d?Além Mar ? Percursos e Gêneros do Jornalismo Português e Brasileiro. Santarém, Portugal, Jortejo Editora, 1998.

DYSON, Esther. Release 2.0: A design for living in a digital age. New York, Broadway Books, 1997.

FREITAS, Jeanne Marie Machado de. Comunicação e psicanálise. São Paulo, Ed. Pulsional, 1994.

FREUD, S. O mal-estar da civilização. Obras Completas, vol.XIV. Rio de Janeiro, Imago, 1983.

GANS, H. Deciding What?s news. New York, Vintago Parks, 1980.

GOMES, Mayra Rodrigues. Jornalismo e Ciências da Linguagem. São Paulo, Edusp & Hacker Editores, 2000.

GRAMSCI, Antônio. Os intelectuais e a organização da cultura. Rio de Janeiro, Civilização, 1968.

HABERMAS, Jürgen. Teoría de la acción comunicativa I y II. Madrid, Taurus, 1987.

HAGEL, John III, and ARMSTRONG, Arthur G. net.gain: expanding markets through virtual communities. Boston: Harvard School Press, 1997.

KOYRÉ, A. Estudos de história do pensamento científico. Brasília, Ed. Unb, 1982.

KRISTEVA, J. História da Linguagem. Portugal, Edições 70, 1994.

KUCINSKI, Bernardo. Jornalistas e revolucionários; nos tempos da imprensa alternativa. São Paulo, Scritta, 1991.

KUHN, Thomas. A estrutura das revoluções científicas. São Paulo, Perspectiva, 1976.

LÉVI-STRAUSS, C. Introdução à obra de Marcel Mauss. MAUSS, M. Antropologia e Sociologia, vol. I, São Paulo, Edusp, 1974.

LÉVY, Pierre. As tecnologias da inteligência: o futuro do pensamento na era da informática. São Paulo, Editora 34, 1993.

LÉVY, Pierre. O que é o virtual? São Paulo, Editora 34, 1996.

LYOTARD, J.F. O pós-moderno. Rio de Janeiro, José Olympio, 1988.

MARCONDES, Ciro. Jornalismo ?fin de siècle?. São Paulo, Scritta, 1993.

MARTIN-BARBERO, Jesus. Dos meios às mediações ? comunicação, cultura e hegemonia. Rio de Janeiro, UFRJ, 1997.

MEDINA, Cremilda de Araújo. Entrevista, o diálogo possível. São Paulo, Ática, 1986

MEDINA, Cremilda. Notícia, um produto à venda. Jornalismo na sociedade urbana industrial. São Paulo, Summus, 3a.ed., 1989.

NEGROPONTE, Nicholas. A vida digital. São Paulo, Cia. das Letras, 1995.

ORTIZ, Renato. Mundialização e cultura. 2.ed. São Paulo, Brasiliense, 1994.

PERRONE, L. Rumor da língua. São Paulo, Razão Social, 1992.

SANTAELLA, Lúcia. Cultura das mídias. São Paulo, Razão Social, 1992.

SANTOS, Boaventura de Souza. Introdução a uma ciência pós-moderna. Rio de Janeiro, Graal,

1989.

SFEZ, L. Crítica da comunicação. Trad. Gonçalves, M. Sobral. São Paulo, Ed. Loyola, 1994.

TAPPSCOTT, Don. Economia digital. São Paulo, Makron Books, 1997.

TUCHMAN, G. La producción de la notícia. Estudios sobre la construcción de la realidad. México, Gustavo Gilli, 1983.

WEBER, M. A política como vocação. Rio de Janeiro, Zahar, 1963.
Alimente a caixa, idiota


Leia a íntegra da entrevista exclusiva de Gugu Liberato ao Cocadaboa

sábado, 13 de setembro de 2003

Gente que escreve
André Moncaio, Marcela (Tchela) Vaz Silva, Sidenia Pereira e Edileuson Almeida.
P2P ameaçado
A perseguição começou com o Napster. Agora Kazaa e outros programas de trocas de arquivos estão sendo alvo de investigação policial. Já houve inquérito que virou processo que virou sentença que virou condenação nos Estados Unidos.

Desconheço se havia "produção industrial" de CDs que justificasse a condenação dos usuários desses programas. Talvez até comandassem um esquema de vendas de MP3 e sejam considerados criminosos, mas a medida tem como objetivo inibir o usuário direto, que pelo menos em teoria é proprietário do que compartilha.

E assim, o tráfego (tráfico?) de arquivos em programas do tipo P2P (peer to peer ou person to person ou de pessoa para pessoa) entra para a lista das atividades ilegais. O caráter coercitivo, entretanto, não diminui os picos de 4 milhões de usuários trocando arquivos e tornando-se (por que não?) consumidores potenciais da desconfiada indústria fonográfica.

quinta-feira, 11 de setembro de 2003

Novilíngua
Militares ligados ao Governo dos Estados Unidos forjaram os atentados de 11 de Setembro de 2001. Tudo não passou de uma grande farsa.

Quem disse?Ele.

quarta-feira, 10 de setembro de 2003

Libere um livro
O atentado poético deste 11 de setembro, como todos já sabem, é abandonar um livro dedicado a um desconhecido em qualquer lugar livre de umidade. Felicidade é encontrar seus preferidos.

sexta-feira, 5 de setembro de 2003

Seinfeld!



Amanhã, a partir das 13 horas.



Maratona Seinfeld.



180 horas de inutilidade inteligente.




Do piloto ao último episódio.




Somente para irrecuperáveis.


quinta-feira, 4 de setembro de 2003

Leio
Stupid White Men - Michael Moore


Li Leviatã, de Paul Auster
A narrativa em primeira pessoa define o projeto desta novela, em que narrador e narrado dividem - dividem com o sentido de conviver, compartilhar - a consciência do autor. Este joga com o leitor o tempo todo, brincando de arte que imita a vida. Não existem trechos do livro dentro do livro, mas aprendemos a respeitar a obra desconhecida por conta do autor-personagem Benjamin Sachs. E talvez seja melhor assim. O recurso afasta o leitor das especulações em torno da morte De Sachs. Como em Crônica de uma morte anunciada, de Gabriel García-Marquez, sabemos quem morre desde o início.

Diferente da bandeira que parece tanto dividir quanto unir as pessoas, a estátua (da Liberdade) é um símbolo que não causa controvérsia. Se muitos americanos têm orgulho de sua bandeira, outros se envergonham dela; para cada pessoa que a tem como um símbolo sagrado, há outra que gostaria de cuspir sobre ela ou atear-lhe fogo, ou arrastá-la pela lama. (p. 212)

segunda-feira, 1 de setembro de 2003

Sobre Wanderley, Takamine e o Diabo
Um flash-mob na madrugada de sábado reuniu num fliperama da Vila Madalena os escribas do Zhuada, Um dia Gnóstico e e-pístolas. Os três, que assinam o famigerado Canai, produziram na algaravia sonora da madrugada o primeiro de uma série de manifestos dadaístas chamados apropriadamente de Wanderley, Takamine e o Diabo. O resto é lenda do ciberespaço.

sábado, 30 de agosto de 2003

Wanderley, Takamine e o Diabo

São Paulo - Vamos registrar o que estamos conversando. É tudo que foi gravado até aqui, neste século, não sei, talvez sabão, projetos gráficos, sabão, tem a mesma origem gráfica, mas time levou tudo praticamente, depois do, de, do, mestre de lá, não é cuteireres, gutem, pô cara, literatura pura, dez, treze, 834, minha, talvez, ... leitura, muito louca, louco, objetivo, litero, absoluto, tudo e nada, língua, será?, qual? Não sou tudo, só poesia, você sempre registra, você sintetiza, ideologia, Leminski, Boldo, Jorge, todos podemos fazer, afinal, o vivo. E outra, espero que ele escreva não isso mesmo que vai acontecer, mas você tem que falar um pouquinho, buraco desse jeito, aquele lance todo que aconteceu, o carro tem que ter digitamento para escrever o que vier na memória é um tormento é uma frase, é uma fase. Uma fase que a gente. Uma fase que a gente... que a gente. Senta o pé, senta a pua. A centopéia está na rua.

sexta-feira, 29 de agosto de 2003

terça-feira, 19 de agosto de 2003

Adeus a Vieira de Melo
O diplomata brasileiro Sérgio Vieira de Melo, alto comissário das Nações Unidas para os Direitos Humanos, morreu num atentado a bomba hoje, em Bagdá.

Vieira de Melo chefiou equipes humanitárias em Kosovo e Ruanda, atuou na reconstrução e nas primeiras eleições livres do Timor Leste e era o representante oficial da ONU no Iraque ocupado. Um brasileiro exemplar.


Update às 21h - Imolação
O diplomata brasileiro morreu por culpa exclusiva de uma, no máximo duas pessoas. E não falo de homens-bomba.

Vê-se que o prédio da ONU foi atacado por algum grupo obtuso e desprovido de qualquer ideologia política. A ação é lamentável e descabida. O terrorismo original é atitude extrema de sacrifício, mas nasce da opressão e da consciência de que a opressão pode ser interminável. Se há atentados contra as tropas norte-americanas, é fato compreensível. O ataque às Nações Unidas é estranho. Até hoje, somente Estados Unidos e Grã-Bretanha trataram a ONU como lixo, ao invadir o país de Saddam Husseim.

Os acéfalos que atacaram a ONU sacrificam indefesos mas os únicos responsáveis pelo banho de sangue no Iraque chamam-se George W. Bush e Tony Blair. O sangue de Sérgio Vieira de Melo mancha suas mãos.

sexta-feira, 15 de agosto de 2003

Kafka pop
Rubens Rusche, que fez competente montagem de Fim de Jogo, de Samuel Beckett, agora dirige um dos mais famosos textos de Franz Kafka, em cartaz no Teatro da ECA/USP (Avenida Prof. Luciano Gualberto, Travessa J, nº 215, Cidade Universitária – São Paulo - 5ª a Sábado às 21h e Domingo às 20h), grátis, até domingo.

Em O Processo, Rusche fragmentou a mente de Josef K. em mil pedaços e a recompôs em diferentes pontos do palco, fazendo desta peça um exercício de imaginação e humor que pode até desagradar a fiéis leitores do escritor tcheco (fiéis a ele ou às suas obsessões?), mas soluciona um problema clássico nas montagens de textos kafkianos: a dificuldade de adaptar trechos que são demasiados sensoriais para o palco.

Fica a questão: encenar Kafka de uma maneira pop criará interesse nos espectadores pela obra escrita? Em caso positivo, a surpresa terá sido agradável?
Li Os Versos Satânicos, de Salman Rushdie
Talvez Salman Rushdie seja um dos poucos escritores em quem podemos depositar nossas esperanças de uma literatura de transição, que assuma a pós-modernidade que desejamos: human(ist)a sem prescindir da tecnologia, inteligente sem sectarismo. Não se trata de Willian Gibson, para quem é cômodo falar do futuro, ainda que imediato, nem de experimentalismos léxicos joyceanos. Trata-se de secularização.

No livro, dois homens caem de um avião em alucinada aventura entre o Ocidente e o Oriente. Peregrinos sedentos, poetas eunucos, comerciais de televisão, províncias metropolitanas, metrópoles provincianas, despersonalização e cultura pop completam o quadro. Impossível entender porque a interpretação livre do Alcorão lhe valeu uma condenação à morte.

As reflexões do escritor sobre identidade, cultura e exílio, não por acidente inundam a mente da personagem Saladin Samcha. Versos Satânicos traz o incrívelfantásticoextraordinário para a sala de jantar, o que é convite para devorá-lo imediatamente. Mas deve-se consumir em pequenas doses.

Leio
Leviatã - Paul Auster

quarta-feira, 13 de agosto de 2003

Na tela
O novo filme de Woody Allen, Dirigindo no escuro, é bastante comercial, o que sugere análises instantâneas do tipo Allen consegue equilibrar inteligência com humor banal. Na falta de explicação melhor para a história do diretor de cinema que fica temporariamente cego, digamos que o último filme de Woody Allen é menos inteligente e muito, muito mais engraçado.

domingo, 10 de agosto de 2003

Dia dos filhos

Filhos
Melhor não tê-los
Mas se não os temos
Como sabê-lo?
(Fragmento de Poema Enjoadinho - Vinicius de Morais)

quinta-feira, 7 de agosto de 2003

Morto
Aconteceu. O patriarca das Organizações Globo morreu de verdade. Roberto Marinho foi um dos caras que mais vezes morreu nos trotes entre jornalistas, um dos cadáveres mais aguardados de todos os tempos. Marinho entra para a história como um dos maiores empresários de comunicação do Brasil, áulico de Willian Randolph Hearst, proxeneta da Ditadura, lobista-mor do país do Carnaval.
Bola ao cesto
O Brasil é ouro no basquete.

Kobe Bryant é acusado de estuprar uma camareira.

quarta-feira, 6 de agosto de 2003

90 a 82
Que o time de basquete masculino seja recebido com honras militares na volta ao Brasil. Derrotar os Estados Unidos é feito digno de louvor. Marcelinho, Guilherme, Tiago, Demetrius, Varejão e companhia, orgulho nacional, agora só têm que ganhar da República Dominicana (hoje às 22) para levar o ouro no Panamericano.

segunda-feira, 4 de agosto de 2003

Na tela
Assisto a filme trash sobre cientista louco e sibilino que descobre a fórmula da invisibilidade. Mortes, explosões e situações-limite.

sábado, 2 de agosto de 2003

Gêmeos [23 mai a 22 jun]
Você é comunicativo, curioso, bem humorado, inteligente e tem duas caras. Sua inconstância e preguiça fazem de você um manipulador de primeira. Você não liga pro que os outros sentem e adora distribuir chifres por aí. Geminianos costumam fazer muito sucesso como professores, na política, no circo, na novela das oito e pulando cerca.

Os outros 11 signos, sem piedade, aqui.

quinta-feira, 31 de julho de 2003

Coisas que deveria ter escrevido ontem, mas só lembrei agora
No Estadão de ontem, uma foto excelente de Roberto Castro, mostra Lula sob balões vazios.

O tratamento profissional está no fato do fotógrafo dar menos atenção ao resultado previsível que ao olhar do presidente, início de frase retido na boca fechada, que congela o discurso e lhe confere olhar vazio, desatento, servindo maravilhosamente bem à linha editorial do jornal.

Trabalhar na oposição é sempre mais produtivo.

terça-feira, 29 de julho de 2003

Blogs
Leãdro Wojak escreve sobre Lou Ferrigno, enquanto o Supply+ de Humberto Cruz renasce das cinzas. Tchela relembra Alphonsus de Guimaraens e Renata Augusta aposta em Lázaro Ramos. Mozart, como sempre, dispensa comentários.
Maluf na berlinda
Um dia a casa cai.
Quando isso acontecer, Paulo Maluf entrega a reforma para as empreiteiras de sempre.

domingo, 27 de julho de 2003

Canaimé
O Canaimé é um blog coletivo não-apócrifo, feito por escribas dos quatro cantos do Brasil, dispostos a discutir política, religião e futebol.

Eu escrevo no Canaimé.

sábado, 26 de julho de 2003

Uma imagem

Blogs
Blogs de escritores, blogs de músicos, blogs de poetas, blogs de internautas, blogs de jornalistas, blogs de ascetas, blogs de fotógrafos, blogs de diagramadores, blogs de estetas.
Diploma
Aos jornalistas, uma feliz notícia: caiu a liminar da juíza-que-não-merece-ter-seu-nome-aqui-mencionado que permitia a qualquer pessoa obter o registro de jornalista e atuar na profissão. Com o fim da vigência de tão torpe decisão, o diploma volta a ser exigido para o exercício profissional. Portanto, se você não estudou jornalismo e pretende seguir essa profissão, VÁ ESTUDAR.

A queda da liminar deve ser comemorada, mas nem sempre a regulamentação profissional é respeitada no Brasil, que está repleto de "jornalistas" irregulares, recebendo salários idem. Isso exige, mais do que mera fiscalização, a criação de uma Ordem nos moldes da OAB, que puna exemplarmente os maus profissionais (a fila seria enorme) e impeça, definitivamente, a entrada de aventureiros. Porque se aventureiros do jornalismo grassam aqui no Sudeste, imagine nos mais distantes rincões deste país, onde lei é só uma palavra de três letras.

domingo, 20 de julho de 2003

El Ciclón
(Cafe Tacuba)

Yo, flecha
flor, polen, flecha
abeja, oso, pez

Flecha, agua,
sube, nube,
llueve, arbol, flecha,
oxigeno, flecha, pulmon

Nopiltze, hija mia
¿Acaso Dios nunca muere?
A que dios te refieras
Todo de eso depende.
Hay dioses que pensaron
que el mundo era infinito, y
no hay un equilibrio entre los reinos hijo mio

Gira y da vueltas y rueda girando
Gira y da vueltas y rueda, y rueda

Quiero hacerla un cuadrado,
deformarla en un triangulo
pero la vida siempre vuelve
a su forma circular

La unica que puede darnos vueltas es Dios
Hay tan pocas flores ya, peces, agua que pense
que la vuelta no daría,
Hoy tu hijo me respira.

Si el equilibrio es Dios, y el equilibrio murio,
¿Que paso con Dios?

(A Nagisa Veríssimo)

quarta-feira, 16 de julho de 2003

Projeto Igor
Se o rock n' roll, como a alta costura ou a indústria automobilística, dependesse de "tendências", o Projeto Igor certamente não existiria. Isento de qualquer culpa, confortavelmente influenciado pelos mestres do gênero e escrito como se tanto o excesso literário quanto as letras simplórias fossem inimigos mortais da mensagem, o Projeto Igor oferece reflexão (Ah, eu vou embora um dia / Vou levar só o que carregar (...) sei que agora estou dormindo / tanto vento: tu estás vindo - Avenida Principal, 777), política (Levante as mãos quem acreditou / o futuro éramos nós / perdidos e sem voz - Bandeiras vermelhas) e ironia (Não pude conter um sorriso / quando contaram para mim / que ele tinha ido embora - Vingança). Com a psicodelia da última faixa, tem-se tudo que é necessário para fazer o bom rock. Autofagia em dose certa, por Leãdro Wojak.

segunda-feira, 14 de julho de 2003

Três perguntas
Se Beethoven era surdo, como auscultou a melodia?
Se Borges e Joyce eram cegos, como enxergaram o limiar da literatura?
Se Nietzsche era louco, que dizer de seus editores?

quinta-feira, 10 de julho de 2003

Das diferenças entre ricos e pobres
Pobres pagam suas contas.
Ricos renegociam.
Pobres são como podres.
Ricos são como Gorgonzola.
Pobres morrem na inflação.
Ricos morrem na recessão.

terça-feira, 8 de julho de 2003

Sobre jornalismo

São Paulo - Em discussão, no Observatório da Imprensa, a Lei da Mordaça. Entre visados, um jornalista condenado a pagar mil salários mínimos de indenização (R$ 240 mil) a um juiz ofendido. Cartunistas processados, jornais reservando recursos para os processos...

Se o ataque ao bolso do jornalista - que lhe suprime a tão cara liberdade de consumo - não surtir efeito na era (de consumo) da informação, nada mais.

domingo, 6 de julho de 2003

Uma imagem

São Paulo - O rio Tietê, que passa por dentro de São Paulo e é uma das coisas mais imundas que temos, corre para a pequena Pirapora do Bom Jesus e causa isso que se vê na foto.

quarta-feira, 2 de julho de 2003

Google e Deus

São Paulo -  O colunista do New York Times, Thomas L. Friedman, compara o Google a Deus. Sim, o Todo-poderoso. Fascinado com a central de controle do Google (quem não gostaria de entrar lá?), Friedman deifica o rastreador de conteúdos.

Com mais de 200 milhões de buscas diárias em 89 línguas, a ferramenta de busca atende a quase todas as preces. Num futuro próximo, quando a internet sem fio estiver suficientemente popularizada, o fascínio pelo óraculo eletrônico deve aumentar. Não à toa os independentes do Google Watch classificam o buscador de instrumento do mal. O que tem certo sentido.

O que aconteceria se...


São Paulo - Considere que Lars Von Trier é o Glauber Rocha do ano 2000. Agora eleja os correspondentes para Stanley Kubrick, Charles Chaplin e Alfred Hitchcock.

O que aconteceria se...

São Paulo - Considere que Radiohead é o Pink Floyd do ano 2000. Agora eleja os correspondentes para Jefferson Airplane, Yes, Beatles, The Doors e Led Zeppelin.

sábado, 28 de junho de 2003

Small Town
(Lou Reed & John Cale)

When you're growing up in a small town
When you're growing up in a small town
When you're growing up in a small town
You say no one famous ever came from here
When you're growing up in a small town
and you're having a nervous breakdown
and you think that you'll never escape it
Yourself or the place that you live
Where did Picasso come from
There's no Michelangelo coming from Pittsburgh
If art is the tip of the iceberg
I'm the part sinking below

When you're growing up in a small town
Bad skin, bad eyes - gay and fatty
People look at you funny
When you're in a small town
My father worked in construction
It's not something for which I'm suited
Oh - what is something for which you are suited?
Getting out of here

I hate being odd in a small town
If they stare let them stare in New York City
as this pink eyed painting albino
How far can my fantasy go?
I'm no Dali coming from Pittsburgh
No adorable lisping Capote
My hero - Oh do you think I could meet him?
I'd camp out at his front door
There is only one good thing about small town
There is only one good use for a small town
There is only one good thing about small town
You know that you want to get out

When you're growing up in a small town
You know you'll grow down in a small town
There is only one good use for a small town
You hate it and you'll know you have to leave
Na vitrola
Radiohead - Hail to the thief

sábado, 21 de junho de 2003

Apocalípticos integrados
Há algo perverso no hábito de ler spam com o assunto "Signs of God". Risco de encontrar conteúdo desprezível - não é brilhante nem atinge os domínios do trash - ou tornar-se crente fervoroso. Se isso é crueldade, o que não dizer da mensagem enviada por este site, que embala propaganda anti-germânica e anti-americana em religião. Classificam os Estados Unidos como nação de cegos guiada por um cego e que guerras na Terra Sagrada só nos aproximam do juízo final. Mas como ia dizendo, há qualquer coisa perversa no hábito de ler spam com o assunto "Signs of God"...

sexta-feira, 20 de junho de 2003

segunda-feira, 16 de junho de 2003

Bloomsday
Jaagora que a versão bilelíngüe do Finnegans Wake está inconticompleta nas livroarias, chega o meomento de consumprar o primeiro de cinco volumes. Ao $acrofício.

domingo, 15 de junho de 2003

Spurs vencem
O San Antonio tinha mais time. Lakers e Mavericks atropelados nas semifinais atestam que Tim Duncan, Manu Ginobili, David Robinson, Tony Parker e demais compreendem o sentido de equipe, superando times como Philadelphia 76Ers (Alan Iverson), Los Angeles Lakers (Kobe Bryant e Shaquille O 'Neal) e o derrotado New Jersey Nets (Jason Kidd), calcados em um, no máximo dois jogadores.

sexta-feira, 13 de junho de 2003

Walking on the wild side
Assisti a um assalto na Avenida Paulista, há umas duas horas. Três adolescentes cercaram um carro e levaram dinheiro de um motorista solitário. Do meio do trânsito eu observava a cena, tão banal na metrópole, e me perguntava quem era o motorista. Seria um especulador? Um político corrupto? Um assalariado? Quem eram os garotos? Quantos anos de escola? Quantos anos nas ruas? O dono do carro seguiu em frente, cabelos brancos a mais e quantia insignificante de dinheiro a menos. A essa altura, com o dinheiro arrecadado, três garotos de São Paulo fumam crack e sonham com um carro parado no engarrafamento da Paulista. Estão apontando o dedo para o motorista e esperam dinheiro, mas preferiam estar do lado de dentro. Quem é ladrão? Quem é Mané?

domingo, 1 de junho de 2003

Li
Bin Laden: O Homem que declarou guerra à América - Yossef Bodansky.
São Paulo. Ediouro. 2001. 503 páginas.


ou...

O terrorismo, segundo a América
O autor se propôs a escrever a biografia de Osama Bin Laden, mas este livro não diz quase nada sobre o saudita, a não ser o que é de conhecimento público: sua riqueza, sua determinação política. Bodansky foi diretor da Força-Tarefa sobre Terrorismo e Guerra não-Convencional dos Estados Unidos por 10 anos e definitivamente não tem méritos de escritor, mas de autor de relatórios.

O que o livro procura é tão-somente denunciar o terrorismo como ação direta de "Estados terroristas": Arábia Saudita, Irã, Iraque, Sudão, Palestina, Afeganistão, Paquistão... e quando o funcionário público da Defesa de um país escreve contra as atividades militares e faz sérias acusações a outros países, é porque propõe a guerra.

Bin Laden é pouco citado nesse intenso relatório de investigação, cuja maior parte das informações não pode ser comprovada por se tratar de "fontes anônimas". Tais "fontes anônimas" informam bastante sobre a organização de ataques terroristas, como frases ditas em reuniões e um histórico operações abortadas. A política de alguns países do Oriente Médio é considerada "nociva". Atitudes "antiamericanas" são veementemente contestadas.

Escrito em 1999, o livro trata os ataques norte-americanos contra Kosovo, Iraque e Somália como simples "bombardeio", palavra "positiva", geralmente ligada à ação do "nosso exército". Enquanto isso, "terrorismo" é o termo mais utilizado para definir a guerra "dos outros". Um palestino que se explode junto com outras pessoas num ônibus faz "terrorismo". Tropas de Israel demolindo casas de famílias palestinas fazem retaliação, como a mídia bem ensina.

Essa é a lógica de Bodansky, cujo compêndio de informações municiou o gabinete dos belicosos George W. Bush e Donald Runsfeld (o verdadeiro presidente) para efetuar sua "guerra anti-terror" contra o Afeganistão e Iraque, entre 2001 e 2003. O livro traz, em quase todas as páginas menções à palavra terror e seus derivados: terrorismo, terrorista etc, além do neologismo "islamita", para ofender sem ofensa a religião alheia - o que às vezes é impossível e leva Bodansky a classificá-los de islâmicos, mesmo.

Há expressões caricatas, como Devotos e radicais (p. 68), Fúria islamita (p. 13, 394, 397, 450), Fervor islamita (p. 88, 89) e as engraçadíssimas Operações inconfessáveis (p. 148) e Operações menores de molestamento (p. 154). No final do livro, o autor agradece às principais fontes (anônimos desconhecidos de identidades secretas), setores da Defesa dos Estados Unidos e, principalmente aos recortes de jornais enviados de Israel por sua mãe. Ah, bom.

Abaixo, as expressões mais "cativantes" de Bodansky:

Ataque(s) terrorista(s) (p. 13, 15, 20, 26, 208, 215, 216, 217, 238, 261, 271, 273, 345, 402, 402, 405, 420, 421, 422, 450, 465, 472)
Ataque(s) terrorista(s) espetaculares (p.151, 163, 188, 215, 235, 254, 302, 394, 420, 424, 435, 445, 468)
Ações terroristas (p. 254, 309)
Ações terroristas espetaculares (p. 151)
Atentados terroristas (p. 15, 197)
Atentados terroristas espetaculares (p. 156, 458)
Atividades terroristas (p. 111, 124, 143, 158, 164, 245, 318)
Atos terroristas ou Atos de terrorismo (p. 17, 29, 29, 190, 191, 231, 366, 376, 406, 448)
Campanha de terrorismo (p. 57, 150, 169, 196, 223, 271, 305, 310, 366, 441)
Campanha(s) terrorista(s) (p. 152, 156, 208, 253, 267, 320, 421, 423, 423, 435, 435, 484, 485)
Células islamitas clandestinas (p. 480, 482)
Células terroristas (de terrorismo) (p. 13, 151, 164, 165, 225, 302, 376)
Comandantes terroristas (p. 157, 167, 167, 266, 276, 423, 444, 468, 484, 486)
Elite (dos) terrorista(s) (p. 137, 154, 191, 215, 320, 348, 357, 358, 428, 440, 459, 472)
Entidades terroristas (p. 152, 270)
Establishment terrorista (p. 94)
Força(s) terrorista(s) (p. 224, 271, 355, 466, 473, 483, 485)
Grupos terroristas (p. 14, 120, 173, 174, 287, 440)
Líder(es) ou liderança(s) terrorista(s) (p. 83, 154, 157, 158, 254, 265, 267, 282, 296, 305, 417, 433)
Movimento(s) terrorista(s) (p. 83, 167, 174, 219, 348, 356, 419)
Ofensiva terrorista (p. 154, 254, 266, 420)
Onda de terrorismo ou Onda terrorista (p. 218, 222, 222, 240, 277, 282, 313, 334, 335, 420, 432)
Operação(ões) clandestina(s) (p. 297, 302)
Operações islamitas (p. 297, 387)
Operações mortíferas de terrorismo (p. 151)
Operação (ões) terrorista(s) (p. 65, 152, 155, 185, 191, 192, 199, 200, 201, 218, 252, 295, 362, 364, 385, 445, 461, 484, 484)
Operações terroristas audaciosas (p.165)
Operações terroristas espetaculares (p. 65, 151, 162, 167, 204, 241, 309, 320, 322)
Organização(ões) terrorista(s) (p. 77, 78, 79, 81, 169, 173, 210, 237, 252, 271, 295, 344, 388, 416, 443, 444, 444, 459, 486, 486)
Patrocinadores ou patrocínio do terrorismo (p. 32, 155, 159, 174, 209, 209, 210, 221, 223, 225, 229, 241, 262, 267, 287, 293, 297, 305, 326, 330, 337, 338, 339, 342, 344, 380, 392, 399, 411, 413, 413, 417, 461, 487, 489)
Rede(s) clandestina(s) (p. 295, 295)
Rede(s) islamita(s) (p. 225, 227, 227, 227, 295, 302, 317, 395)
Rede(s) terrorista(s) (p. 77, 122, 143, 223, 225, 266, 303, 367, 443, 467)
Sistema de terrorismo ou sistema de terroristas (p. 86, 227, 244, 268, 282, 376, 421, 424, 473, 486)
Subversão (p. 146, 154, 160, 160, 162, 168, 175, 186, 186, 188, 220, 258, 294, 471)
Superterrorismo indiscriminado (p. 16)
Treinamento (de) terrorista(s) ou Treinamento para o terrorismo (p. 65, 86, 90, 93, 121, 229, 244, 253, 253)

Terror (p. 154, 192, 234, 267)
Terrorismo (p. 14, 21, 26, 68, 68, 114, 117, 119, 120, 121, 125, 130, 152, 158, 158, 167, 167, 168, 173, 190, 195, 198, 200, 209, 209, 209, 210, 210, 218, 221, 225, 226, 231, 231, 234, 237, 241, 245, 245, 258, 261, 261, 262, 265, 267, 267, 274, 294, 301, 301, 303, 305, 309, 310, 311, 317, 318, 333, 333, 334, 342, 342, 344, 345, 348, 349, 359, 360, 372, 389, 399, 408, 408, 411, 416, 416, 416, 423, 430, 430, 431, 436, 441, 442, 458, 469, 485, 485, 486, 486)
Terrorismo antiamericano (p. 232, 339, 432, 439)
Terrorismo e subversão (p.18, 35, 57, 113, 258, 277, 284, 298, 347, 397, 459, 466)
Terrorismo espetacular (p.18, 32, 249, 320, 320, 410, 413, 427, 486)
Terrorismo indiscriminado (p. 447)
Terrorismo internacional (p.20, 65, 68, 81, 93, 150, 154, 183, 183, 200, 200, 208, 208, 233, 241, 259, 262, 266, 272, 290, 291, 294, 342, 394, 307, 409, 411, 440, 454, 469, 487, 487, 487)
Terrorismo islâmico (p. 217, 244, 265)
Terrorismo islamita (p. 13, 20, 69, 96, 158, 167, 167, 168, 190, 198, 199, 200, 201, 216, 220, 234, 241, 254, 261, 272, 272, 274, 275, 283, 283, 293, 306, 358, 375, 411, 427, 430, 439, 458, 471)
Terrorismo islamita internacional (p. 66, 121, 208, 409, 410)
Terrorismo radical árabe (p. 68)
Terrorismo sunita (p. 209, 265)

Terrorista(s) (p. 33, 41, 78, 78, 78, 80, 84, 86, 96, 96, 98, 98, 110, 111, 112, 114, 119, 119, 122, 122, 126, 127, 149, 150, 150, 155, 156, 157, 164, 164, 164, 165, 176, 177, 179, 179, 179, 182, 183, 185, 199, 202, 208, 208, 208, 208, 212, 214, 214, 218, 223, 224, 224, 226, 231, 240, 243, 244, 245, 246, 246, 255, 255, 258, 267, 267, 271, 271, 272, 273, 281, 284, 295, 296, 296, 296, 297, 303, 310, 312, 319, 323, 324, 324, 324, 325, 325, 325, 325, 325, 325, 325, 325, 326, 327, 327, 327, 330, 330, 330, 330, 330, 333, 344, 350, 353, 353, 354, 355, 356, 356, 357, 358, 358, 358, 358, 359, 367, 367, 376, 380, 380, 381, 398, 399, 400, 401, 401, 403, 413, 415, 415, 424, 424, 424, 424, 427, 433, 436, 436, 436, 439, 443, 443, 445, 455, 455, 455, 455, 455, 459, 460, 461, 461, 467, 467, 467, 468, 474, 474, 482, 482, 484)
Terroristas afegãos (p. 65, 96, 266, 394)
Terroristas árabes (p. 66, 245, 246, 329, 372, 474)
Terroristas da Caxemira (p. 199)
Terroristas de elite (p. 137, 223)
Terroristas de primeira linha (p. 224)
Terroristas egípcios (p. 212, 282, 317, 472, 473, 474, 486)
Terroristas especialistas ou especializados (p. 227, 258, 401, 424, 460, 467)
Terroristas experientes (p. 124)
Terrorista(s) iraniano(s) (p. 266)
Terrorista(s) indiano(s) (p. 460)
Terrorista(s) islâmico(s) (p. 68, 319, 319)
Terrorista(s) islamita(s) (p. 65, 66, 68, 83, 88, 89, 89, 96, 119 121, 124, 125, 131, 160, 196, 204, 204, 209, 210, 246, 272, 274, 284, 291, 319, 338, 358, 358, 380, 394, 399, 400, 413, 439, 450, 465, 468, 484, 486, 487)
Terroristas palestinos (p. 124)
Terroristas paquistaneses (p. 394)
Terroristas somalis (p. 111, 122)
Terrorista(s) sunita(s) (p. 208, 208, 208, 215)

Guerra fria