Boa Vista - História de um jornalista e seu cachorro maluco. Emociona quem gosta de cães.
Mas o modelo objetivista de escrita norte-americana chega a ser agressivamente funcionalista.
Título: Marley & Eu
Autor: John Grogan
Editora: Ediouro
Páginas: 272
Preço: R$ 26,91
quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009
segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009
Minguante
Boa Vista - Entre os textos do número 13 da Minguante há preciosidades como esta:
ACERVO DE SOMBRAS
Meu marido ronca ao lado meu, levanto-me com os ossos do ofício, fico na solidão eletrônica apalpando webcam, repassando canais, desligada de modas que a tela esquecerá, nada de sonhos, isso não me cabe perfume, não me fala arrepios, minhas mãos já não pegam no falo-não-calo com aquela crença no mundo, meu marido ronca abraçado aos temperos dalgum sonho ou de outro pesadelo que não eu; detesto-o quando chega tarde, mais ainda quando nunca chega – mesmo tendo chegado com cinco palavras, miúdo como um gato molhado, isso é o que me lembra quando chega e fala uns mínimos contos diluídos nalgum sorriso que um dia me absorveu com framboesa, mas já não é tempo de framboesas, tempo é de alicate na alma, turquez na carne, alfinetes malditos, ainda vivo a esperança de matar algo em mim, para que, talvez, possa continuar deste lado da cama, do mundo, longe de ti, do meu marido já morto ao lado meu, arfando feito baleia arpoada, barco louco avariado. Creio em sombras, não em deus-pai, na assombração que é o Mundo, nada de réquiem. Sinto pelos bamboleios nas paredes da mente que o medo existe, e assombra a ação.
(Darlan Cunha - Minguante)
ACERVO DE SOMBRAS
Meu marido ronca ao lado meu, levanto-me com os ossos do ofício, fico na solidão eletrônica apalpando webcam, repassando canais, desligada de modas que a tela esquecerá, nada de sonhos, isso não me cabe perfume, não me fala arrepios, minhas mãos já não pegam no falo-não-calo com aquela crença no mundo, meu marido ronca abraçado aos temperos dalgum sonho ou de outro pesadelo que não eu; detesto-o quando chega tarde, mais ainda quando nunca chega – mesmo tendo chegado com cinco palavras, miúdo como um gato molhado, isso é o que me lembra quando chega e fala uns mínimos contos diluídos nalgum sorriso que um dia me absorveu com framboesa, mas já não é tempo de framboesas, tempo é de alicate na alma, turquez na carne, alfinetes malditos, ainda vivo a esperança de matar algo em mim, para que, talvez, possa continuar deste lado da cama, do mundo, longe de ti, do meu marido já morto ao lado meu, arfando feito baleia arpoada, barco louco avariado. Creio em sombras, não em deus-pai, na assombração que é o Mundo, nada de réquiem. Sinto pelos bamboleios nas paredes da mente que o medo existe, e assombra a ação.
(Darlan Cunha - Minguante)
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