segunda-feira, 18 de julho de 2016

Montreal, Julho de 1976. Nadia Comaneci tem apenas 14 anos e está concentrada ao lado das barras assimétricas, para onde olha com seriedade. Do outro lado, uma enorme câmera de TV a distrai por um décimo de segundo, mas ela logo se posiciona, respira fundo e dá uma pequena corrida de três passos. Salta com os dois pés sobre o propulsor e voa sobre a primeira barra, as pernas num ângulo de 180 graus. Agarra-se à barra mais alta, faz um controlado movimento de pêndulo inicialmente acelerado, como mostrariam depois as imagens em câmera lenta. Usa os pulsos para controlar a velocidade. Três movimentos obrigatórios depois, choca os quadris contra a barra menor, os pés quase a tocar o rosto. Passa três vezes de uma barra a outra a executar os movimentos obrigatórios, antes de tomar impulso e aterrissar cravada no chão, os braços erguidos, um sorriso consciente do trabalho bem-feito. Pela primeira vez a ginástica olímpica atingia a pontuação perfeita, a nota 10. Há quarenta anos, hoje.

segunda-feira, 4 de julho de 2016

Sei bem o que é o desencanto por assistir um projeto de nação ir por água abaixo. Desencanto que não começou agora. O que vemos agora é o rescaldo, a ressaca, a maré baixa, as consequências de um conjunto de erros e conjunturas (que vão da concentração midiática ao aparelhamento de grupos religiosos) às nossas divisões internas que sempre nos afetaram mais que os ataques da direita.

Claro, a dialética é da nossa natureza e assim seguiremos. Mas em algum momento é preciso unir as diferentes esquerdas em torno de um bloco coeso. Não se trata da negociação com o centro - tem coisa pior que o centro? -  que gora governos desde sempre. Mas da superação de microfilosofias, orgulhos desnecessários.

A guinada à direita é mundial, e quer queiramos ou não, o Brasil protagonizou um dos maiores episódios de ascensão internacionalista da direita. Irradiador. Contribui para a instabilidade de uma série de lugares, da Argentina à Polônia. O que vemos na Áustria agora é GOLPE com todas as letras. A França caminha perigosamente para um governo de intolerância. É questão de tempo. E Donald Trump não é piada.

Enfim, não sou filiado a nenhum partido e não voto há quatro eleições porque além do desastroso segundo governo de Lula, não houve reforma no sistema político e o poder deve continuar concentrado e dependente do financiamento de corporações. Penso humildemente que um "Fora, Temer" está imbricado diretamente a um "Volta, Dilma". Não que devamos adotar esses slogan, longe disso. Mas reconhecer que o estado de direito foi interrompido e que uma pessoa pública contra quem lutei em duas greves e não recebeu nossa comissão, precisa voltar ao cargo para o qual foi eleita, com dinheiro da Odebrecht ou não (quem não?), para que voltemos a lutar com ela. Porque o golpista Temer não nos merece enquanto adversários. Tem que sair e rápido. #ForaTemer
Se tivesse nascido num certo lugar da América, o historiador e cientista político Guðni Jóhannesson seria considerado pária porque abandonou a igreja. Filho de uma jornalista e professora politicamente socialistas ganharia a alcunha "comunista" na nova gramática do singular Brasil hodierno. Recém-eleito presidente do seu país, foi um dos 30 mil islandeses que foram À França apoiar a equipe das bancadas.
“Por que ir para aos camarotes VIP, saborear champanhe quando posso fazer isso em qualquer lugar do mundo?”, disse à CNN.

Guerra fria