quarta-feira, 30 de novembro de 2011

Li No Direction Home, de Robert Shelton

A edição brasileira está cheia de erros, mas vale o investimento.
“Qualquer pessoa que pense se considerar um poeta, simplesmente não pode ser um poeta”, diz Bob Dylan na página 482 de No Direction Home, livro de Robert Shelton que é verdadeiro tratado polissêmico (uma quase-tese?) sobre vida e obra de Robert Zimmerman.

No Direction Home é uma mistura equilibrada de jornalismo, pesquisa bibliográfica e brilhantes interpretações histórico-filosóficas sobre movimentos de direitos civis, música folk e contracultura nos anos 1960s. As frases de Dylan estão lá. Sua polifonia está lá. Suas aparentes contradições, na verdade quebra-cabeças oferecidos aos interlocutores, algumas só compreendidas pelos amigos mais próximos, estão lá. Mas ele não está lá – piadinha com o filme do Michael Winterbottom. Dylanistas entenderão.

“Tenho relações com as pessoas. Pessoas como eu, que também são desligadas (...) Não acho que exista algum tipo de organização de pessoas desligadas.”, afirma Dylan durante um voo  na página 281.

A pesquisa e o compromisso de Shelton, jornalista do New York Times e agitador cultural da Nova Iorque pré-Aids, Pré-World Trade Center e pré-Occupy Wall Street é uma lição de dedicação para qualquer jornalista-escritor-biógrafo. Por isso considero abuso a presença na capa dos nomes da dupla que atualizou alguns dados e notas.  

A primeira edição brasileira, que foi vendida com uma camiseta de brinde, infelizmente é repleta de erros. Encontrei alguns nas páginas 122, 355, 384, 437, 447, 448, 482, 552, 566, 578, 591, 592, 596, 600, 620, 641 e 644. Nada que comprometa Robert Shelton e este livro-reportagem de altíssima qualidade. Mas a revisão da Larousse precisa se esforçar mais.

Livro: No Direction Home
Autor: Robert Shelton
Editora: Larousse
Ano: 2011
Páginas: 784
Preço: R$ 99,00

quinta-feira, 24 de novembro de 2011

Saddam Hussein morreu. 
Osama Bin Laden morreu.
Muamar Kadafi morreu. 
Hosni Mubarak caiu. 
Ali Abdullah Saleh caiu. 
Bashar Al Assad vai cair. 


A primavera árabe pode ser interpretada como mera alternância de poder em regiões onde o tempo de gestão é mais flexível. Mas é apenas parte de eventos maiores, onde culturas milenares vivem um mesmo refluxo social. Enquanto no Ocidente acentua-se o fundamentalismo religioso, o Oriente Médio usa tecnologias de comunicação para (re)viver a diversidade. Não falta muito para que o pentecostal Brasil comece a falar sobre a decadência do oriente e considere a teocracia uma opção.

quarta-feira, 9 de novembro de 2011

Uma canção


Os Tempos Estão Mudando (Bob Dylan)

Venha pessoal
Por onde quer que andem
E admitam que as águas
Á sua volta aumentaram (cresceram)
E aceitem que logo
Estarão cobertos até os ossos
Se seu tempo para você
Vale a pena ser poupado
Então é melhor começar a nadar
Ou irá se afundar como uma pedra
Pois os tempos estão mudando

Venham escritores e críticos
Aqueles que profetizam com sua caneta
E mantenham seus olhos abertos
A chance não virá novamente
E não falem tão cedo
Pois a roda ainda está girando
E não há como dizer
Quem será nomeado
Pois o perdedor de agora
Mais tarde vencerá
Pois os tempos estão mudando

Venham senadores, congressistas
Por favor escutem o chamado
Não fiquem parados no vão da porta
Não congestionem o corredor
Pois aquele que se machuca
Será aquele que nos impediu
Há uma batalha lá fora
E está rugindo
E logo irá balançar suas janelas
E fazer ruir suas paredes
Pois os tempos estão mudando

Venham mães e pais
De toda a terra
E não critiquem
O que não podem entender
Seus filhos e filhas
Estão além de seu comando
Sua velha estrada
Está rapidamente envelhecendo
Por favor saiam da nova
Se não puderem dar uma mãozinha
Pois os tempos estão mudando

A linha foi traçada
A maldição foi lançada
E lento agora
Será o rápido mais tarde
Assim como o presente agora
Será mais tarde o passado
A ordem está
Rapidamente se esvaindo
E o primeiro agora
Será o último depois
Pois os tempos estão mudando

Todo meu apoio aos estudantes da USP

Não, senhores. Os estudantes não deixaram de ser a vanguarda do pensamento, da liberdade e das artes para defender futilidades. Quem se perdeu foi a sociedade, que já não possui capacidade cognitiva para discernir temas como educação, política, liberdades individuais, moda, economia, música e cozinha sem a orientação da mídia.

A pentecostal sociedade brasileira, que ama carnaval, churros e não perde a novela porque depois tem futebol, desconhece a primavera democrática que ocorre no mundo todo. Uma sociedade que contamina deliberadamente crianças, jovens, comércio e meios de comunicação com uma ética bíblico-capitalista de vulto eminentemente repressor. Uma sociedade que tem Paulo Maluf e apresentadores de programas policialescos como heróis populares; que se corrompe em todos os níveis e é guiada por José Nêumane Pinto e Victor Civita pouco merece a consideração que os estudantes da USP lhes dedica

segunda-feira, 7 de novembro de 2011

Feedback post for two died friends


Murilo Souza comandou o Rock do Finado por duas edições na Pizzaria Ícaro's, que fundou depois que saímos do Jornal Última Hora, onde trabalhamos com Sylvio de Carvalho, Zuleida Viana, Flávio Rabello, Marcelo Bussachi, Alfredo Maia e escrevíamos ouvindo rock em nossos gravadores cassete sincronizados. Tocaram por ali Odely Sampaio, Mário Wander, Elton Russo e outros caras importantes para a cena rock local. Mário morreu. Sylvio também. Há uma semana, Murilo deixou de ouvir hard rock, ele que há mil anos me apresentou Deep Purple e aquele disco do Jon Lord com um elefante de tromba amarrada que ele quis me dar mas, não sei porque, recusei. Recentemente baixei o disco (Before I forget) e voltei a ouvir por vezes seguidas a interpretação de Elmer Gantry de Where are you. Ia dar uma cópia para o Murilo, mas não houve tempo.

Zequinha Neto 1960-2011
A morte de Zequinha Neto deixa o jornalismo de Roraima um pouco pior. Também deixa a Universidade Federal de Roraima menos combativa, ele que em suas últimas publicações defendia a renovação do pensamento acadêmico na UFRR. Zequinha era uma baliza ética e profissional que irritava, sim. Aos incompetentes, aos desqualificados. Defensor da formação superior para o jornalista, Zequinha desprezava o jabá, os erros de português e de informação, a diagramação tosca, o fotojornalismo e o telejornalismo amador e a empáfia dos que usam os meios de comunicação para a auto-promoção e ataques pessoais.

Guerra fria