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terça-feira, 16 de julho de 2002

Livros

São Paulo - O segundo trimestre de 2002 rendeu pouco. Li pouco. Escrevi pouco. Saí pouco. Ganhei pouco. Pouco is beatiful.

Leio Regresso ao Admirável Mundo Novo (Aldous Huxley) - Vinte e sete anos depois, o velho Huxley revisita seu livro mais controvertido e, diferente de gente como eu e você, que pode detestar tudo o que escreveu há um ano, faz uma análise precisa dos acontecimentos presentes e seus desdobramentos futuros.

Leio O Médico de Lhassa (Lobsang Rampa) - Continuação das loucas aventuras de um monge tibetano pela China. Leia com atenção as descrições cruas das torturas japonesas.

Leio A Hora dos Ruminantes (José J. Veiga) - Pavorosa história do sinistro J. Veiga, sobre figuras estranhas que acampam do outro lado do rio, deixando os moradores da pacata Manarairema em estado de pânico.

Leio A Morte Feliz (Albert Camus) - Camus, neste que foi um dos seus últimos escritos (embora tenha sido preparado na mesma época que O Estrangeiro) fala de amor de forma existencial e niilista, como sempre. Mas envolto num lirismo inesperado. Quem não gostaria de habitar a Casa Diante do Mundo?

Leio Vidas Secas (Graciliano Ramos) - Fui, provavelmente, o último brasileiro a ler as aventuras e desventuras de Fabiano, Sinhá Vitória e a cachorra Baleia. Antes tarde do que nunca. Graciliano é um mestre na arte da síntese. Felizmente ele nasceu na época certa, ou hoje seria obrigado a atuar na publicidade.

Leio Pemongon Patá: Território Macuxi, rotas de conflitos (Paulo Santilli) - A tese de doutorado de Santilli, sobre a organização política dos índios macuxi, me deixou com saudades de Roraima. O autor caiu em campo e trouxe lendas e guerras dos índios. E atinge, em cheio, o stablishment político e agrário de Roraima, dominado por um punhado de famílias de invasores da terra indígena que se perpetuam no poder até hoje. A luta pela demarcação da terra dos índios continua, em pleno Século 21.

Leio O Túnel (Ernesto Sábato) - Suspense argentino, pra levantar os ânimos. Sábato é o tipo intelectual-acadêmico-científico que enveredou pela ficção. O livro segue o modelo das "memórias do assassino", mas um assassino de classe, amante das artes e artista. Um criminoso assoberbado.

Leio Seis passeios pelos bosques da ficção (Umberto Eco) - Pra quem AMA literatura. Nesta obra, baseada na série de seis palestras que deu em Harvard, o velho Eco é, ao mesmo tempo, acadêmico e fã de literatura. Claro que ele trata de Ulisses, A Metamorfose, A Montanha Mágica, O Aleph e outras grandes obras. Pérola: "A imensa e antiga popularidade da Bíblia deve-se à sua natureza desconexa, resultante de ter sido escrita por muitos autores diferentes".

sexta-feira, 5 de abril de 2002

Letras devoradas

São Paulo - Li apenas nove livros no primeiro trimestre de 2002, o que é uma média razoável, mas ainda insatisfatória. Vamos a eles:

1 - O Falador (Mario Vargas Llosa)
2 - Uma estranha realidade (Carlos Castañeda)
3 - A terceira visão (Lobsang Rampa)
4 - Trópico de Capricónio (Henry Miller)
5 - Memórias do Cárcere I (Graciliano Ramos)
6 - Memórias do Cárcere II (Graciliano Ramos)
7 - O Diário de Bridget Jones (Helen Fielding)
8 - Cheiro de Goiaba - Diálogos com Gabriel García-Márquez (Plínio Apuleyo Mendoza)
9 - O Quarto de Jacob (Virginia Woolf)


O Falador, de Llosa é uma fabulosa (palavra que tem que ser entendida em seu significado original, e não em acordo com o adjetivismo primário de nossos dias) novela movida a turning points, com aquelas mudanças radicais que nos causam arrepio, embora sem muita surpresa. O que considero uma grande vantagem, já que a surpresa pura e simples pode ser bem decepcionante, enquanto algo que anuncia-se sorrateiramente, aproxima-se com cuidado, faz ameaças e recuos e, principalmente, provoca-nos a sensação de que pode não ser o que estamos imaginando, me parece muito mais satisfatório. Não confundir com previsível.

Uma estranha realidade é o segundo livro de Castañeda, feito sete anos depois de A Erva do Diabo (odeio o título em português), que foi traduzido em mil línguas e vendeu bilhões de livros mundo afora, tornando o antropólogo de nome fake Carlos Castañeda conhecido internacionalmente. Depois de curtir os louros da fama, ela volta ao Novo México e apresenta a obra ao velho mestre don Juan, que faz pouco caso dos conceitos de fame, fortune and glory de nosso amigo - que sempre se diz violentado pelas alucinações mas não deixa de mascar peiote e viajar por outras dimensões.

A terceira visão é um livro que deixei de ler na adolescência por causa de um Edgar Allan Poe sempre à mão. Acho que fiz bem. Ou não? Rampa tem uma escrita semelhante ao passo e ao fôlego dos orientais, o que é curioso. Assim como suas descrições cruas de rituais místicos tibetanos e de seu pouco caso com a morte. Comprei Entre os monges do Tibete, mas este é o último da trilogia que começa em A Terceira visão. Falta-me O médico de Lhasa.

Trópico de Capricórnio não merece comentários. Leiam. Se posso dizer qualquer coisa sobre esse livro é que talvez ele seja o tipo de obra que nós, espirantes a escritor, planejaremos durante toda uma vida e talvez venhamos a morrer sem fazê-la. Cru, amoral, machista, despótico, autêntico, sem freios. Li uma edição dos anos 60, com uns poucos grifos feitos pelo leitor da época, nas primeiras páginas. Depois não há mais grifos, provando que o livro conta mais sobre sua vida do que você possa imaginar. Encontrei milhões de motivos. Mas não fiz nenhum grifo.

As Memórias do Cárcere aqui consideradas como dois livros por imposição da Editora José Olympio, nessa edição do começo dos anos 70. Pungente. O cara é bom em descrições estóicas e, por incrível que pareça, muito pouco auto-comiserativas. Rachel de Queiroz, Nise da Silveira, José Lins do Rego, Jorge Amado, Olga Prestes e Sobral Pinto, entre outras figuras ilustres, obscuras e excêntricas, aparecem nas suas 676 páginas (373 do primeiro mais 303 do segundo volume). Só para abusar do lugar-comum, é o retrato de uma(s) época(s).

O Diário de Bridget Jones é um dos best-sellers do momento, mas não quer dizer que seja ruim. Humor inglês despretensioso, até meio novaiorquino, numa mescla de Woody Allen e Mike Leigh em comédia shakesperiana dirigida por Kenneth Branagh. Ou também pode não ser nada disso. Um livro mulher. Uma livra.

Cheiro de Goiaba, frase que não aparece no livro, é creditado a Gabriel García Márquez mas na verdade é de Plínio Apuleyo Mendoza, amigo íntimo de Gabo e autor de singela biografia desse colombiano-maluco-parecido-com-meu-pai. Altas revelações sobre técnicas literárias e superstições do Caribe.

O Quarto de Jacob marca o início da fase experimental de Virginia Woolf, com seu belo texto poético estilhaçado em mil pedaços, esculpindo personagens incompletos, omitindo emoções que depois são exteriorizadas violentamente. Uma saraivada. Grande livro. Um trecho, na página 80: "Ou somos homens ou somos mulheres. Ou somos frios, ou somos sentimentais. Ou somos jovens, ou estamos envelhecendo. Em qualquer caso, a vida não é senão uma procissão de sombras, e sabe Deus por que as abraçamos tão avidamente e as vemos partir com tal angústia, já que não passam de sombras."

Guerra fria