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sábado, 23 de junho de 2007
Epílogo
Belém - A Amazônia tem a pior distribuição de renda, os piores índices de educação e algumas das piores condições de vida do Brasil. Por aqui temos uma imensa riqueza concentrada nas mãos dos coronéis políticos, das grandes mineradoras e do agronegócio. Nossas populações carecem de saúde, educação e moradia.
A Amazônia Legal ocupa 2/3 do Brasil. Vinte milhões de pessoas vivem aqui, pressionados por grupos que algumas vezes se igualam em radicalismo. Entre as necessidades ambientais mais urgentes está a necessidade de conservação da floresta e a produção sustentada. Mas exigir ações ecologicamente corretas de quem vive em condições sub-humanas não gera o mesmo apelo que a distribuição de moto-serras, camisetas, bonés, cestas básicas e outras moedas eleitorais. É que às vezes a ciência não cobra políticas públicas adequadas com medo de perder as poucas verbas disponíveis nos orçamentos. Mas de pouco adianta um vistoso campus em meio à cidade partida.
A pesquisa científica na região tem sido tão direcionada pelas grandes indústrias que pouco se produz sobre as populações que habitam este imenso lugar. Índios, profissionais liberais, ribeirinhos, funcionários públicos e latifundiários convivem forçosamente com todo tipo de intempérie. As principais são os políticos locais, tão ricos e tão cegos para os problemas sociais, como os do bairro Guamá, um dos mais pobres da capital paraense, a maior metrópole da Amazônia, com 1,5 milhão de habitantes. A UFPA fica no Guamá. Basta sair dos limites da cidade universitária para mergulhar num mundo insalubre e medieval, com as pessoas vivendo sobre os próprios dejetos.
Minha profissão já me levou a bairros pobres em Porto Alegre, São Paulo, Rio de Janeiro, Salvador, Juiz de Fora, Manaus. Já estive em favelas na Venezuela, em bairros sem nenhuma infraestrutura em Georgetown e vi a pobreza extrema nos redutos orientais de Paramaribo. Masos extensos canais de podridão que substitutem as calçadas dos moradores da periferia de Belém são imbatíveis. Por ali, crianças brincam entre urubus. Açougues, oficinas, escolas, lanchonetes, toda a organização urbana suspensa sobre um grosso caldo formado por esgotos, restos de animais, garrafas plásticas e todo tipo de lixo doméstico.
Enquanto na periferia o saneamento é zero, o centro de Belém viceja com praças bem cuidadas e vigiadas contra vagabundos. O centro-histórico de quase 400 anos é um dos mais bem-conservados do Brasil. Na margem da baía, a Estação das Docas (projeto de 20 milhões de reais) se destaca como área de lazer e movimentação cultural e turística. Tem 11 bares e restaurantes e músicos suspensos sobre a platéia.
A cidade conta ainda com um grande complexo para eventos, feiras, congressos e convenções, o Hangar (98 milhões de reais), engrossa o rol de grandes obras junto com o parque ecológico Mangal das Garças, que custou 15 milhões de reais. Mas a grande expectativa por aqui chama-se Portal da Amazônia, uma via de seis quilômetros na orla da cidade que concentrará centros comerciais diversos, pretende melhorar o trânsito e vai custar mais de 100 milhões de reais.
Pergunta: quanto custaria sanear o Guamá, pelo menos no entorno da universidade, para justificar a sua existência ali? A Belém dos turistas luta contra a Belém real, mas o combate é injusto.
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