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sábado, 11 de julho de 2015

Capitalistas

Brasília - A pobreza não é apenas de caráter, mas também de conhecimento e de... grana. Liberais contemporâneos são produzidos em linha de montagem, mas como bons replicantes (ah, essa polissemia), se consideram originais. Para Isaac Asimov, falta-lhes alma. Para Walter Benjamin, falta-lhes aura. Para socialistas convictos, alguma cultura e vergonha na cara.

quinta-feira, 29 de setembro de 2005

Leio Haxixe, de Walter Benjamin

Belo Horizonte - Ri à beça com as aventuras do excelso teórico da Escola de Frankfurt e seus colegas de pesquisa (Ernst Jöel e Fritz Fränkel) na embriaguez do haxixe. Como Edgar Morin, Benjamin acreditava no observador participante, uma forma de imersão no campo de pesquisa que vai além da mera transcrição de detalhes (o que está matando o jornalismo) e parte para a compreensão de todo o universo de significações, via observação direta, do comportamento do(s) indivíduo(s) pesquisado(s) em determinada situação. Um tipo de trabalho onde a participação não gera interferência direta nos resultados, mas uma metodologia de acompanhamento de cada experiência.

De modo assaz genérico, pode-se dizer que a noção de um "lá fora" ou de um "além" vem associada a um certo desprazer. Mas é preciso distinguir rigorosamente o "lá fora" do campo de visão extremamente vasto que, para a pessoa sob o efeito do haxixe, tem tão pouco a ver com o "lá fora" quanto, para o espectador de teatro, o palco e a rua fria. Insistindo nessa analogia, dir-se-ia que entre o drogado e seu campo de visão parece interpor-se uma espécie de proscênio por onde perpassa uma brisa bem diversa: o mundo exterior. (p. 52)

Bloch se dispõe a tocar-me de leve o joelho. Sinto o toque da mão muito antes que ela me alcance, e o gesto me choca como uma desagradável violação de minha aura. (p. 53)

Benjamin, como em outros experimentos, mantém o braço e o dedo indicador, apoiados no cotovelo, apontados para cima. "Talvez minha mão se transforme num pequeno ramo". É extraordinariamente significativo que, na imaginação de Benjamin, tenha se acrescentado a essa observação "se é que não se manifestou simultaneamente a ela" a idéia de que a mão ramificada se cobria de neve. (p. 107)

Além do ornamento porém, há na esfera banal das coisas observáveis certos objetos que transmitem ao êxtase o peso e o significado que os habitam. Entre eles incluem-se as cortinas e os rendados. As cortinas são intérpretes da linguagem dos ventos. Elas conferem a cada sopro o perfil e a sensualidade das formas femininas. Diante delas o fumante, absorto em seu jogo ondulatório, desfruta do mesmo prazer que lhe proporcionaria uma bailarina consumada. Mas, se a cortina estiver aberta de par em par, ela pode tornar-se instrumento de um jogo ainda mais extraordinário, pois essas rendas funcionarão para o fumante como padrões, que por assim dizer, seu olho imprimirá sobre a paisagem, transformando-a de maneira singular. (p. 38)

Embora a incoerência típica do êxtase resulte num texto vezooutra anárquico, Benjamin apresenta características da borracheira com a maestria literária e científica que lhe são próprias. Certas passagens são hilárias, como convém à estupefaciência. O livro ainda acrescenta experimentos com Mescalina produzida pelo Laboratório Merck, aquele mesmo, do Paracetamol.

Livro: Haxixe
Autor: Walter Benjamin
Editora: Brasiliense
Páginas: 126
Preço: Esgotado

Guerra fria