Boa Vista - Deixei O Prisioneiro na estante por mais de dez anos, esperando
a chance de ser lido. Poderia tê-lo feito antes de 11 de setembro de 2001, da
invasão do Iraque e do Afeganistão pelos Estados Unidos e ampliaria ainda mais
minha propalada e turva verve anti-imperialista. Mas são águas passadas. Ou não,
já que as preocupações dos personagens invasores e invadidos (numa guerra que
não é identificada, mas sabemos que se trata do Vietnã) não mudaram.
Assim como os males da sociedade globalizada. “Não
estaria longe o dia em que os homens todos fossem apenas números num computador
descomunal. E esse computador bem poderia então transformar-se num deus duma
nova era”, diz o profético Verissimo à página 102.
Comprado em junho de 2001 num sebo em São Paulo, a 1ª edição
é de 1967 e foi produzida na deliciosa gramática pré-reforma de 1971 e contém atualíssimos apontamentos sobre o papel das grandes potências na mudança
de valores como liberdade, direitos civis, racismo. Percebemos que a consciência
de Verissimo está presente nas palavras de uma professora vítima da guerra. A
de seus inimigos podem ser ouvidas nas vozes do Coronel racista e assassino e
do Sargento torturador.
Erico Verissimo teve a ideia de escrever O Prisioneiro numa
tarde em Washington, observando os três netos (nascidos lá) brincando no
jardim. Na mente do escritor, a mangueira usada pelas crianças poderia muito
bem transformar-se, num futuro próximo, num lança-chamas nas mãos de jovens
enviados para morrer em países distantes.
Livro: O Prisioneiro
Autor: Erico
Verissimo
Editora: Globo
Ano: 1967
Páginas: 205
Preço: Esgotado