domingo, 22 de fevereiro de 2004


Contos da Anta
George W. Bush pretende reeleger-se presidente dos Estados Unidos, apoiado por wasps ultraconservadores e pelo sistema financeiro. O joystick da maior máquina de guerra do planeta não pode permanecer em mãos erradas. Cristão fundamentalista, belicoso e anti-protocolo de Kyoto, não pode ser a melhor opção para governar o país que governa o mundo. Vamos secá-lo.

sábado, 21 de fevereiro de 2004

Crônica urbana (1) - primeira parte de obra composta por uma trilogia e um epílogo
Mendigos. Os malditos ficam no meio da calçada e somos obrigados a desviar, como se eles fossem os donos da rua. Esses parasitas deviam estar trabalhando. Os aleijados são os piores, exibindo as feridas horríveis. Gente inútil. Esses pregadores me deixam surdo, esses gritos me irritam. Sai da frente. São uns exibicionistas que querem falar da própria vida e não encontram oportunidade. Babacas. Olha só esses dois, parecem viados. Não são, mas parecem. Querem parecer. Olha só. Escrotos. O cabelo já tá crescendo, tenho que rapar de novo. Sai da frente, idiota. Isso mesmo, não reclama, não, senão leva. Essa é gostosa, mas estica o cabelo, deve ter sangue negro. Distante, mas tem. Podia dar uma lição nela, daquelas pra não esquecer. Pra respeitar. Ela ia ver só. É aqui. Agora é só esperar. Saco. Uns 25, mas tá melhor que ontem. Putz, essas comadres vão falar até encher minha paciência e eu arrebentar uma. E o imbecil ali tá olhando o quê? Não é pra mim, ele olha o ar, o panaca, enquanto espera o gerente. Mais um falido tentando um empréstimo. Vai dançar, pela cara do gerente. Por que ele acha que tá sem dinheiro?, por que é que ele acha que tá sem emprego? Eu te digo, por causa dos parasitas, das raças inferiores. Que roubam nossos empregos e estupram nossas filhas, que você sabe quem são. Por causa desses camelôs aí na porta do banco, idiota. Vê se faz alguma coisa, seu porco, ou sai da área. Eu estou fazendo alguma coisa. Eu estou. Isso aqui não vai andar, não? Olha só esse guardinha. Não dá conta de ninguém com essa arma de brinquedo, com essa cara de quem apanha da mulher. Ridículo. A madame agora vai deixar as jóias ou pegar mais grana. É sempre assim. Tá chegando. Falta só essa gorda. Que baleia. Quem despreza o próprio corpo merece todo o meu desprezo. Tenho que fazer umas sessões mais tarde. Calibrar os músculos, rapar a cabeça. Vou falar com os cara, hoje. Chegou a minha vez. O caixa tá me perguntando se o depósito é pra hoje, se eu vou pagar mais de uma parcela dos carnês do doutor, se eu tenho trocado... eu só queria esganar esse idiota. Entreguei tudo, com o dinheiro da firma contado e o mané ainda tá fazendo pergunta. Como é que eu vou saber? Como é que eu vou aprender a somar agora? Vê se anda logo, palhaço, que se eu chegar mais cedo ganho uma gorjeta do doutor Fernando. Hoje eu não tô bom.

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2004

O Processo
Repórter - O senhor é um arquivo vivo?
Juiz - Sou.
Repórter - Se morrer, as denúncias vão embora com o senhor?
Juiz - Não. Há quem possa revelá-las.


João Carlos da Rocha Matos, juiz preso por corrupção, formação de quadrilha, peculato e venda de sentenças, em entrevista à TV Bandeirantes.

Não é preciso ser especialista em análise do discurso para perceber que JCRM ocupa apenas um posto na hierarquia dos criminosos de toga.

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2004

Futuros amantes
Chico Buarque/1993

Não se afobe, não
Que nada é pra já
O amor não tem pressa
Ele pode esperar em silêncio
Num fundo de armário
Na posta-restante
Milênios, milênios
No ar

E quem sabe, então
O Rio será
Alguma cidade submersa
Os escafandristas virão
Explorar sua casa
Seu quarto, suas coisas
Sua alma, desvãos

Sábios em vão
Tentarão decifrar
O eco de antigas palavras
Fragmentos de cartas, poemas
Mentiras, retratos
Vestígios de estranha civilização

Não se afobe, não
Que nada é pra já
Amores serão sempre amáveis
Futuros amantes, quiçá
Se amarão sem saber
Com o amor que eu um dia
Deixei pra você

domingo, 15 de fevereiro de 2004

Jazz after midnight
Amplificadores Pevey, Chico (baixo), Guido (bateria), Mauro (teclados), Paulo (voz), eu (guitarra) e o rock n’ roll. Sons raros na noite mais longa do ano.

Guerra fria