domingo, 3 de abril de 2016





Zakopane - Há 15 anos o Canaimé surgiu como primeiro spotlight do racismo praticado em Roraima contra os povos indígenas, embora tenha sido criado entre cervejas e rockabilly no bar Little Darling, em Indianópolis, num já distante inverno paulista.
Varsóvia - A 9.163 quilômetros de casa, mas a apenas 8.599 quilômetros de Tóquio.

sábado, 2 de abril de 2016

Zdiar - O negócio é o seguinte: sou oposição a este governo porque ele retira direitos dos trabalhadores e abre o cofre para empreiteiros, banqueiros e outros saqueadores. Porque este governo quer construir uma hidrelétrica no rio Branco. Governo conivente com a corrupção histórica. Este governo NÃO TEM e NÃO TERÁ meu apoio. Mas se você, brasileiro, acha que os sujeitos de braços erguidos da foto (PMDB) salvarão o Brasil, por favor aceite um certificado de Idiota ou Mal-Caráter. O Brasil é um país surreal, mas acreditar que eles são herois ultrapassa qualquer absurdo. Não é nada pessoal, as carapuças só servem a quem as experimenta. Se você está descontente com o governo, vote no Aécio em 2018. Mas não puxe o tapete. Não seja revanchista. Aceite que existe um processo em curso e espere seus resultados. Eu NÃO apoio o GOLPE. Sou lobo da estepe egoísta e ensimesmado, sem apreço por ideologias baratas ou teleguiados de ocasião. É minha declaração e meu posicionamento político. O seu, brasileiro, é O SEU.
Ždiar - Na paz deste lugarejo encravado sob os Montes Cárpatos e um céu absurdamente azul, sento na colina e observo o passar do tempo. Silêncio. Dois falcões planam 300 metros acima de mim. Um homem empilha pedaços de lenha. Crianças passam de bicicleta. Carros na estrada, os faróis acesos sob o sol brilhante. Silêncio. Nenhum som. Meu corpo afunda lentamente entre pedras, grama e restos da neve que a primavera conservou em consideração ao inverno. Não sou ninguém. Não sou Avery Veríssimo. Não, este não sou eu. Avery Veríssimo é um canalha egoísta, uma aliteração desagradável. Um viajante solitário metido a Jack Kerouac. Lobo da estepe. Um escritor medíocre, um professor relapso, péssimo pai, filho e amigo. Inútil acúmulo temporário de átomos que um dia será completamente esquecido. Átomos que começam a se desintegrar. Homogênese com plantas, folhas e larvas de insetos à espera do calor que lhes permita voar. A grama cresce nos meus braços, peito, pernas e olhos. Desapareço lentamente sob a relva, desintegro-me. Em pouco tempo serei parte da colina e não lembrarei mais quem fui. Há muito tempo me desterritorializei, abandonei a província e me esgueirei na multidão de grandes cidades. Conheci oceanos e povos exóticos, escalei montanhas, cachoeiras, tepuys e vulcões, escrevi tolices, fui drogado por yanomamis e cristãos, fiz inimigos e fãs e filhos. Nada disso parece ter significado neste vilarejo e seu impronunciável Z com circunflexo invertido. Sou um pedaço de tábua da fantasmagórica casa de madeira abandonada entre os pinheiros secos à beira da estrada. Sou um monge franciscano. Um japonês que pesca. Um brasileiro que não reconhece mais o próprio país. Um viajante sem lar. Hoje todas as minhas roupas cabem numa mochila polonesa de 50 litros. Doei móveis, sapatos, tempo, roupas, livros e discos e conselhos que não foram seguidos. Busquei anonimato, mas encontrei fama. Busquei o socialismo, mas fui parar entre esnobes. Minha casa ainda é minha. E agora é meu este lugar. A desintegração se completa. Meus olhos merecem toda a beleza que já viram? Enfiados nas dobras de meu cérebro, 500 livros que não sei se devia ter lido. Minhas composições, letras, poemas, artigos, matérias e livro, a que servem? E se formos dizimados por asteroides, Hercolubus, Melancholia? E se tudo for sonho de Vishnu? E se Jesus destruir tudo para o bem da cristandade? E se o céu cair? Desapareço completamente. Sou pedra, grama e logo vento. Uma pinha obedece à gravidade e atinge o solo. Um galho seco sob o cotovelo me convoca à realidade. O silêncio é rompido. Pássaros gorjeiam como os de lá. Amazônia dos Tatras. A vida é caos e ordem e não sei o significado de progresso. Ao emergir do solo, sou tomado por tanta beleza que tudo o mais se perde. Levanto e caminho em direção à estrada. Pouco tempo depois cruzo a pé o rio Bialka até Polônia, que deixarei em três dias para voltar à tumultuada Bélgica. O valor de um homem é confirmado por sua trajetória. Construo a minha, ambições sob estreita vigilância. Sou um.

sexta-feira, 1 de abril de 2016

O insight

Homens de bem e herois do Brasil

Zakopane - Preciso de férias, mas o Brasil não permite. Meu país e sua corja de assassinos, covardes, estupradores e ladrões é também a nação de teleguiados que imagina ter atingido novo insight. Povo que idolatra televampiros, pastores, soldados e jogadores. Povo que maltrata intelectuais, artistas e professores. Somos o terceiro país mais ignorante do mundo apenas por enquanto. Ainda seremos  primeiro. Porque somos marionetes de entidades sinistras, corporações acima da lei, sofismas e patos amarelos. Ontem sans-culotte, hoje sans-savantE se há algo pior que o cheiro de 1963 é a sensação de anomia.

quinta-feira, 31 de março de 2016

A vida em alerta laranja

Varsóvia - As coisas estavam calmas pela manhã. Bandeiras da Bélgica, poucas, pendiam das sacadas. A Grand Place esvaziada devido aos últimos acontecimentos. Os mesmos mendigos de anos atrás, nos mesmos lugares. Turistas visitavam o Atomium. Uma feira multiétnica coloria as ruas próximas da estação Carmelite. Garotos exibiam a nova moda do Cabelo Boi Lambeu.

Um pouco desbotada, a lateral do edifício com o Tintin gay gigante guardava a área GLS. Soldados patrulhavam as estações de metrô, prédios públicos e outros pontos nevrálgicos da capital belga. Gentis, posavam para fotos.

Por volta das 13 horas, as sirenes começaram. Inicialmente, poucas e raras. Depois se multiplicavam, se sobrepunham, soavam em uníssono. Carros da polícia e de forças especiais percorriam velozmente a Boulevard, principal avenida do centro. Sim, havia algo de errado. Instalado num hotel a 1,5 quilômetro da estação Malbeek, evitei o local porque dentro de cinco horas deveria estar de cinto afivelado na fileira 32 do voo da Ryanair para Varsóvia.

O voo sairia do Aeroporto Charleroi, que fica a 42 quilômetros de Bruxelas e passou a receber todo o serviço destinado ao bombardeado Zaventen. A corrida para deixar a Bélgica começaria às 14 horas na Garre du Nord, onde os trens nunca atrasam a não ser quando se está em Alerta Laranja. Informes em francês e holandês diziam que havia um atraso programado de 15 minutos para o IC12, que leva direto ao aeroporto. Por motivos óbvios: segurança, vigilância, revistas. Mas havia algo mais.

De 15h17, o trem mudou para 15h32. Depois 15h38, 15h42, 15h44, 15h48, 15h52 e finalmente chega, às 16h02, mas na IC11, o que provoca uma corrida de passageiros por escadas para o outro lado da linha. Embarcamos ao mesmo tempo em que um alerta de bomba no Charleroi é confirmado.
O trem fica imóvel por 3 minutos e sai lentamente. Um aviso (desta vez também em inglês) desanimador sai dos alto falantes: o trem até o aeroporto foi cancelado. As alternativas para não perder voos e reservas em hoteis para centenas de pessoas eram táxis a 120 euros (mais de R$ 500), ônibus lentos a 17 euros ou a melhor descoberta do dia: lotações a 15 euros. Me uno a uma italiana e um coreano com o mesmo problema. Fretamos um lotação junto com dois portugueses e um escocês e corremos em direção ao Charleroi.

O tempo voa. São 17h20. A primeira entrada do aeroporto foi fechada, o que nos obriga a dar uma grande volta. Muitos soldados na entrada. Revistas. Exatamente 45 minutos antes do aviaão decolar faço o check-in e pago uma estranha multa de 45 euros  por "mudança de voo". Sinto que fui enganado. Mas a viagem para a Polônia estava garantida. Sento no fundo da aeronave que deixa um país abalado para seguir rumo aos Cárpatos.
Faro - A Casa Grande sofre com as mudanças sociais, aceitemos o fato. E parte da Senzala, solidária, late em sua defesa. É emocionante ver a patinha levantada, o deitar e rolar obediente, na esperança de que sinhozinho lhe afague a cabeça. Porque as transformações sociais dos últimos anos serviram até para isso: deu dinamismo aos dormentes; o direito de rosnar por uma classe/espécie a qual não pertencem. O fenômeno do escravo contente não é novo, mas a Sociologia agradece. Eis porque prefiro gatos a cães.

quarta-feira, 30 de março de 2016

Bruxelas - Uma semana depois dos atentados, a vida segue normal na capital da União Europeia.
Pessoas circulam, normais.
A temperatura é normal.
Trens e metrôs pontualmente normais.
Bruxelas é a mesma da semana passada a não ser um pequeno acréscimo no policiamento. É provável que o ataque tenha sido mais direcionado à capital da União Europeia que à capital da Bélgica.
A estação Maalbeek fica a poucos metros da sede do governo. Entretanto o recado ainda é confuso. O que querem provar os fanáticos religiosos da Europa?
O que querem provar os fanáticos religiosos do Brasil? 








terça-feira, 29 de março de 2016

Amsterdam - O Experimento Brasil, realizado com sucesso há 50 anos pelas Organizações Globo, ensina como criar artificialmente a identidade nacional via futebol, jornalismo e telenovelas. Nesse experimento nazistóide-orwelliano, a nação teleguiada aprende a odiar os vilões de telenovela  como aprende a odiar as personae non gratae do telejornalismo. O desconhecimento programado da linha que separa realidade e ficção leva o brasileiro neopolitizado a amar o Grande Irmão, ainda que não entenda seu significado.

terça-feira, 22 de março de 2016

Boa Vista - Vinte e oito mortos e 106 feridos em explosões no aeroporto e no metrô de Bruxelas. Milhares de imigrantes do oriente médio, europeus do leste, sírios e turcos encontram trabalho e vida digna neste belo e receptivo país. O terrorismo é mais inveja que ódio.

terça-feira, 15 de março de 2016

Boa Vista - Meu livro "Índio na Rede: Ciberativismo e Amazônia" será lançado oficialmente em 19 de abril (Dia do Índio), na Alemanha. A primeira leitura ocorre daqui a pouco na sala 140 do Bloco I (CCLA) da UFRR. No Colóquio "Ciberativismo e Amazônia", teremos a participação de profissionais de diversas áreas do conhecimento. Debateremos ambiente, povos originários e tecnopolítica.

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2016

Wouldn't it be nice


Cinebiografias de músicos são facas de dois gumes, como provam Bird e Dois Filhos de Francisco. No ano passado, Jimi Hendrix e Brian Wilson tiveram suas vidas transplantadas para o cinema.

O primeiro (All is by my side) vale pela interpretação de André Benjamin, também conhecido como André 2000 do Outkast (Hey Yaaaaa!). Mas tem direção irregular, silêncios deslocados e desfocagens sem sentido, talvez na tentativa de recriar uma atmosfera lisérgica.

Já o filme sobre Brian Wilson acerta no alvo. Love & Mercy recria casas, ambientes e shows com acuidade. Mostra a doença mental do talentoso músico sem clichês e com detalhes audiovisuais críveis. John Cusack está bem, mas a interpretação de Paul Dano é fina, brilhante Filme digno do compositor de algumas das mais belas melodias já criadas.

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2016

Polaris

Não é rotular, nem ideologizar. A oposição socialismo x capitalismo tem erro de natureza do julgamento. Não se trata de moeda, mas de outros valores que uma certa leitura/agenda liberal não encontra tempo (tempo é dinheiro) para refletir. O conceito de América Latina é mais complexo que uma nota do Radar:  não dá conta de que transformações culturais são mais importantes que crescimento econômico. O ser humano não precisa de dinheiro, precisa de Tecnologia. Inclusive na política. É bom que os dois lados, esquerda e direita, se acostumem à tecnopolítica. É o que farão no momento em que socializarem as ideias, o conhecimento, a lógica. Isso está além de sustentar um mercado fictício que não tem outro destino além da quebra. A sociedade é, naturalmente, socialista. Sem entrar no mérito político ou econômico. É um relacionamento, uma forma de convivência natural que surgiu do convívio. O capital é artificial e, pior ainda, fictício.

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2016

O cavalo mais bonito do mundo



Curioso com a imagem, busco informações sobre o cavalo mais bonito do mundo de 2013 e descubro uma história de glória e tristeza. Ele pertence a Kurbanguly Berdimuhamedow, presidente do Turcomenistão, e é um dos pouco mais de 3,5 mil cavalos Akhal Teke vivos: a raça está em risco de extinção. Criadores ao redor do mundo reproduzem-no para salvar a espécie. Kurbanguly Berdymukhamedow é dentista, doutor em Ciências Médicas, foi ministro da Saúde e coleciona cavalos. Eleito presidente em 2006, foi reeleito em 2012 com 97 por cento dos votos. Se isso parece pouco democrático, convém lembrar que o antecessor, Saparmurat Niyazov, passou 20 anos no poder e chegou a mudar os nomes dos dias da semana e dos meses do ano para homenagear poetas, militares e a própria mãe. Mudou o Juramento de Hipócrates para um juramento a si mesmo. Cancelou 10 mil aposentadorias durante crise econômica. Concursos de música e dança eram promovidos em sua homenagem cada vez que visitava as aldeias do interior do país. Proibiu ópera, balé e circo. Desviou 3 bilhões de dólares para contas no exterior e morreu no poder, mas sua cara ainda estampa cédulas de Manat, a moeda local.

O presidente atual desfez a maioria das excentricidades do ditador e goza de prestígio popular. Apesar de reduzir o culto à personalidade, ainda mantém características pouco ocidentais no trato democrático.

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2016

Deus

O homem
cada vez mais
des-homem
lobisomem
maquinomem
oferece holocaustos

ao deus dinheiro
pede como FaUSTo 

fim da McFome
diante do clamor
o deus dinheiro 

fica sensível
e cada vez mais invisível
some

terça-feira, 26 de janeiro de 2016

Escola brasileira pública de qualidade? Sim, isso existe.

Venezuela, Guiana, Estônia, Barbados, Cazaquistão, Mongólia e outros 60 países estão à frente do Brasil em índices educacionais. Dois terços de nossos alunos de 5º ano não diferenciam formas geométricas básicas como círculos, triângulos e retângulos e 70 por cento dos estudantes no 3º ano do ensino médio não identifica a informação principal em uma notícia curta.
ENTRETANTO, quatro escolas públicas no interior do Ceará, Rio de Janeiro e São Paulo atingem índices de excelência superiores aos de Suíça e Canadá. Como conseguiram? Veja aqui.

terça-feira, 12 de janeiro de 2016

Da ostentação



A perda de memória causa efeitos dolorosos, o que é estranho num brasileiro: povo que se lixa para tradições e memória histórica e só costuma lembrar do último Carnaval, quando lembra. A mídia não contribui com isso. Apenas comanda. Reedifica o Grande Irmão em programas feitos para se pensar que o que acontece ali é realidade. E vomita uma quantidade de "informação" calculada para o efeito amnésico. Aos domingos, a profusão de cores berrantes e os dois ou três estilos musicais determinam a "diversidade". Algaravia, mistureba de lixo pós-moderno, reciclado, tornado lavagem e empurrado goela abaixo de telespectadores gansos, logo transformados em foie-gras.

Recentemente, perdi dois HDs com cerca de 20 mil fotografias. A soma de backups em DVDs e na nuvem salvou cerca de 10 mil imagens. Programas de recuperação de dados escavaram mais 5 mil. Desapareceram definitivamente cerca de 5 mil fotos. A maioria dispensável, mas há pelo menos 500 perdas significativas, registros que jamais voltarão. Como há 10 anos em Minas Gerais, quando roubaram meu notebook repleto de imagens de família. Efeitos da vida digital que me tornaram mais cuidadoso e a fazer backups perenes. Mas os arquivos ficam maiores a cada ano e exigem HDs e dispositivos externos que quebram com frequência capitalista.

Só há duas memórias-arquivo: uma no cérebro, outra em dispositivos físicos e eletrônicos. Para a primeira, decoro sequências numéricas, letras de músicas e brinco com idiomas na Netflix. O segtredo de Jeremias Nascimento, por exemplo, é ouvir músicas do século 20. Os dispositivos eletrônicos entopem seu cérebro com informação desnecessária, mas podem ser úteis. Precisamos das duas memórias, mas como garantir a sobrevivência dos arquivos?

É aí que entra a Schirley e o Projeto Ostentação: estávamos na casa dela a falar sobre nossas viagens - sabiam que ela morou em Aruba? Num certo momento, Schirley diz com seu sotaque gaúcho jamais lapidado: "Mas Averyyyyy, você faz tantas viagens interessantes, por que não publica no Facebook?". "Schirley, isso é turismo-ostentação. Sou mochileiro e mochileiros detestam ser confundidos com turistas". Semanas depois dessa conversa, dou total razão à minha amiga.

Os programas de recuperação de dados (usei o Wondershare) não são perfeitos, mas ajudam muito. Depois de algumas horas, fotos apagadas há tempos, por acidente ou vontade própria, saltam na tela e oferecem novo significado à vida e à memória de longo prazo. Imagens que ficaram apenas na retina pulam na sua tela e trazem um mundo novo dentro de um velho mundo. Lembranças que serão usadas por algum tempo e depois, de mortos, vaporizadas na grande nuvem.

De agora em diante, usarei mais o blog e o Facebook para "upar" fotos e evitar novas perdas. Portanto, Timeline, preparai-vos para o Projeto Ostentação.

Post Scriptum: Sobre os programas de domingo, ainda me pergunto se o sujeito de chapeu-coco e óculos sem lentes veio de uma festa com Spike Lee e Russel Westbrook ou se ele não tem ideia de onde veio seu "personal style".

Guerra fria