segunda-feira, 13 de setembro de 2004

Totem

Totem

- Gosto de jaquinzinhos e de petinga, gosto de lombos de salmão, ou de bifes de atum ou de espadarte. Se ainda não perceberam, gosto de comer aquilo de que nada fica, pois nada me desgosta, e enoja mais, do que ver os restos daquilo que estou a comer. Sou daqueles, devo esclarecer, que come o jaquinzinho da cabeça ao rabo, sem deixar qualquer vestígio, e nada me desgosta mais do que ter que não só deixar, mas conviver, com os restos daquilo que acabei de comer.

Luís Ene dá início a psicoterapia de grupo sobre idiossincrasias à mesa. Os participantes aplaudem-no. O cheiro de comida vem dos fundos, misto de vinho, pães e azeitonas. Ele deixa o púlpito, para onde sobe um homem de aproximadamente, cerca de, por volta de mais ou menos 33 anos. Ele olha ao redor, aparentemente nervoso, e começa:

- Oi, meu nome é Avery.

- (Todos respondem) Olá, Avery .

- Também não gosto de ficar perto dos restos de comida (agarra a lateral do púlpito, os dedos da mão esquerda em Dó maior), prefiro que desapareçam. Também não gosto de usar as mãos para comer, prefiro talheres ou hachi. Pão, tudo bem. Justifica tocar no alimento. Então...

- Não se preocupe, eu sempre cortava o pão depois de lavá-lo, diz uma voz se antecipando.

- Obrigado. Você ajudou bastante. Quem é o próximo?

- Espere, conte mais, diz uma adolescente muito magra que olha para o adolescente com espinhas sentado ao fundo.

- Bom, é isso, não sei mais o que dizer. (seca as mãos com sopros discretos) Talvez só que me meti numa confusão. Não dá pra sustentar uma história assim por muito tempo, entende? A idéia era manter o poema em movimento, construí-lo aos poucos partindo de um fragmento qualquer do grande livro humano; costurá-la com cultura pop e eventos bizarros perenemente, até que um dia ela acabe por si mesma. Meio Charlie Kaufman, que é paradigmático como Dali, entende? Só que mais obra em construção que obra aberta, como um Mahabharatha por Dante. Como um Decamerão pelos irmãos Campos, entende?. E no fundo tudo é a mesma coisa: romances, jornadas, buscas, sonetos, tudo está escrito, mas gostaria mesmo era que a construção pudesse ser acompanhada. A construção diz, ao mesmo tempo em que se auto-censura por dar-se o cacoete entende?, quando na verdade não fala entende? ou coisa do gênero. Mas não se faz entender.

- Pois bem, pois bem, então eu falo, diz o homem de nariz grande percebendo a indecisão do depoente. Façamos como nos velhos tempos, em que as turmas de colégio se encontram 20 anos depois e todos contam como foi sua vida nesse período, e aparecem aqueles que ganharam dinheiro com produtos de uso doméstico, o ídolo dos esportes, a perua incorrigível e os intelectuais beberrões. A câmera vai deslizando pelo salão e mostrando os rostos...

- Isso não fica muito Peggy Sue?, diz uma mulher de cabelo curto e óculos de aro negro, típica mulher de cabelo curto e óculos de aro negro e olhar penetrante. Não basta ficar aqui falando de nossas manias à mesa?, ainda temos que ouvir esses dircursos estilo obra aberta, em que um autorzinho egoísta conta como pode escrever sobre si mesmo planejando misturar sem coerência personagens e pessoas, ficção e realidade? E tem que ser como ELE imagina? Façam-me o favor, não me digam que somos obrigados a ficar ouvindo esses discursos estilo obra aberta...

- Ei, você já falou isso, interrompe a menina magra. Somos personagens nas mãos dele e isso quer dizer que ele tem poder sobre nossas vidas, sobre nossas falas aqui, sobre nossa existência, tá legal? É bom não irritá-lo!! E se ficou muito Peggy Sue, dane-se, tá?, começa a chorar.

- Calma, calma, diz Tigrão234, codinome usado na rede pelo empresário gordo obcecado por jovens muito magras que ouvia o atentamente o discurso de Luís Ene, mas perdeu o fio da meada na primeira menção aos jaquinzinhos, que lhe lembraram a infância marítima, a cozinha da casa sempre em uso, as brincadeiras com a vizinha anoréxica, o cheiro da comida da mãe, mas que só acordaria do transe para dizer calma, calma, não chore, menina magra, não vou te machucar, prometo que não vou mais te machucar. Aqui. Aqui está sua boneca, seu travesseiro, sua caixa de fósforos roídos, tome, não chore mais.

- Aí a câmera se aproxima e vai fechando com a imagem do grupo reunido, contrastando com uma velha foto preto e branco da época em que eles eram apenas um bando de jovens artistas engajados, que faziam teatro, que acreditavam no futuro, na solidariedade e no amor eterno, mas hoje convivem com a Aids e o terrorismo. Eles ficam em posição para que a câmera deslize em...

O homem não tem tempo de reiniciar suas idéias sobre a composição cinematográfica do reencontro de turma. Parece saudoso de épocas sem retorno. Sua discretamente na testa, porque pensa, porque pensa. Planeja falar sobre um novo plano-seqüência, mas não não consegue porque ouve que

- Isso não é muito Peter's Friends?, diz Tigrão234, surpreendendo pela cultura cinematográfica.

- É aquele filme com a Emma Thompson e o Kenneth Branagh?, pergunta a menina muito magra.

- O Kenneth Branagh dirigiu, corrige a mulher de cabelo curto e óculos de aro negro.

- E atuou também, ele é o marido da atriz americana que faz um sitcom horrível, explica Tigrão234, que havia lido sobre Peter's friends na véspera, no catálogo da locadora.

- É uma sitcom, corrige a mulher de cabelo curto, que está sem óculos.

- E tem o Stephen Fry, aquele que sumiu, diz Avery, querendo acalmar os ânimos dos personagens (as personagens?, pensa em gêneros e não consegue decidir se a palavra é um galicismo e caso o seja, se se deve aceitá-lo em nome do colonialismo lingüístico, se é que isso existe em english times) e procurando algum lugar para lavar as mãos, acreditando que alguém lembrará da música sobre o Stephen Fry. Ninguém lembra a não ser o adolescente de espinhas, que não fala nada.

- E tem o Hughie Laurie, parceirão do Stephen Fry naquele Fry and Laurie, diz o homem de nariz grande.

- ... e foi escrito pela Rita Rudner e pelo Martin Bergman, completa a mulher de cabelo curto e óculos de aro negro.

Luís Ene dá de ombros e abre o notebook para escrever qualquer coisa, enquanto o homem de nariz grande concorda com a mulher de cabelos curtos e óculos de aro negro e Avery finge que desconhece outros Bergmans que não Ingrid e Ingmar, mas confessa ter visto A bit of Fry & Laurie, The Awfull Truth e Curb your enthusiasm mais do que gostaria, e embora não corra o risco de ser interpretado como feliniano, mas malkovichiano em típica avaliação torta de quem percebe o roteiro mais que o roteirista, desiste.

O público cala. A mulher de cabelo curto e óculos de aro negro fala por último. Diz que prefere não jantar.

quarta-feira, 8 de setembro de 2004

Candidatos a vereador

Léia do Pão
Zé da Vó
Maria Alice do Foto Ásia
Arapinha
Dé Pasteleiro
Vicente Formigão
Divino da Babilônia
Dário Camelô
Antero Padeiro
Peroba
Moisés Trocador
Gilberto Examinador
Francisco da Telemensagem
Pateta
Careca da Água Mineral
Padre Pintor
Tião Pega Lobo
Paçoca
Geralda Mãe dos Trigêmeos

domingo, 5 de setembro de 2004

Redução de danos

São Paulo -

A Revista MTV de agosto traz uma matéria polêmica e necessária sobre um tema presente no cotidiano, nas escolas, nas ruas, nas boates: o uso de drogas atinge muitas famílias, mas é obscurecido por razões legais, religiosas, políticas. No centro da questão, a proposta da redução de danos, que provocou queda substancial nas infecções por HIV por usuários de drogas injetáveis mesmo sendo tratado como estímulo à estupefaciência pelo nem sempre lúcido Ministério Público.

A conclusão, quase nunca compartilhada pela sociedade, é de que dependentes de drogas não são criminosos, mas podem ser vítimas. E que precisam ter os riscos à saúde minimizados sem necessidade de intervenção policial.

Para pais, filhos, educadores e consumidores é material valioso, principalmente as dicas sobre redução de danos para usuários de drogas leves, injetáveis e sintéticas. Alguns trechos:

"Não há como consumir drogas sem correr riscos. Simplesmente pelo fato de que não existe droga inofensiva à saúde física e mental." Fernanda Mena, jornalista, autora da matéria.

"As propostas de erradicação das drogas parecem vindas de alguém que tomou um ácido. Não é possível que, em sã consciência, alguém acredite que isso vá acontecer." Fábio Mesquita, coordenador de DST e Aids da Cidade de São Paulo.

"Quem usa drogas pode até se matar. E pode ter problemas com a justiça, com o traficante, com a saúde, com a polícia, com a família, com a conta bancária e com o trabalho." Paulo Giacomini, coordenador de redução de danos do Centro de Convivência É de Lei.

"O que causa maior dano é a criminalização da droga". Maria Lúcia Karam, juíza aposentada

"A legislação brasileira parece ainda pouco adaptada a esta realidade. Mais do que isso, ela dá sinais de esquizofrenia: delibera que usar droga não é crime, mas que portá-la é um passaporte para a prisão com anos de validade". Fernanda Mena.

segunda-feira, 30 de agosto de 2004

Na tela

Na tela


Divinópolis - Cazuza é um bom filme, mas não atinge a excelência cinematográfica de um Oliver Stone em The Doors. A espera por uma superprodução tupininquim continua a frustrar os cinéfilos mais exigentes e lembra a cobrança ostensiva por um desempenho impecável dos atletas brasileiros em Olimpíada ou Copa do Mundo, como se a perfeição pudesse ser alcançada todos os dias. Não é.

A participação da TV Globo gerou os padrões de qualidade esperados, mas esmaeceu a direção de fotografia e criou clima folhetinesco. O figurino poderia ser melhor, assim como a direção de arte. Nada disso entretanto, comprometeu o trabalho de adaptação do livro as mães são felizes, de Regina Echeverría. O filme, pode-se dizer, é o livro em formato audiovisual.

O melhor de Cazuza é a interpretação do ator Daniel Oliveira, que incorporou os gestos, o riso debochado e a empáfia do jovem poeta morto pela Aids aos 32 anos, no auge da carreira. Cazuza cantou um país desconjuntado, com o egoísmo dos filhos únicos, o hedonismo dos poetas e a paixão da juventude. Suas letras foram interpretadas pelos maiores nomes da música brasileira. Sua mensagem, misto de crítica cruel e prazer sem culpa, soa eterna.

PS: Gean Queiroz (Joca), parceiro em várias canções do Carolina Cascão, faz uma ponta.

sexta-feira, 20 de agosto de 2004

Salve o Ministério Público

São Paulo - Entre as mais recentes contribuições do Judiciário para o crime em banda larga está a tentativa de reduzir os poderes de investigação do Ministério Público. Dois membros do Supremo Tribunal Federal já concordaram em limitar o trabalho de investigação do MP contra fraudes no Sistema Único de Saúde no Estado do Maranhão.

Um Ministério Público independente é fundamental para a defesa da ordem jurídica, do regime democrático e dos interesses sociais e individuais. A Justiça brasileira já contribuiu o suficiente com o crime organizado nos últimos anos, fornecendo pessoal especializado como os juízes Nicolau dos Santos Neto e João Carlos da Rocha Mattos. O primeiro comandou um esquema de superfaturamento nas obras do Tribunal Regional do Trabalho de São Paulo , deixando o prédio uns 50 milhões de Euros mais caro. Cumpre prisão domiciliar. Rocha Mattos negociava sentenças e livrava grandes criminosos da cadeia por quantias generosas e alguns eletroeletrônicos. Está preso e promete entregar mais bandidos de toga e distintivo.

A Transparência Brasil está coletando assinaturas contra a nefasta atitude do STF de limitar os poderes de investigação do Ministério Público. Leia o Manifesto e assine.

terça-feira, 17 de agosto de 2004

On the road

Nova Serrana - A capital do calçado em Minas Gerais agora sedia feiras de equipamentos de fabricação de sapatos. Outrora combinação eficiente de cidade pequena e fabril, começa a ingressar no circuito comercial pesado, com feiras de negócios e projetos de exportação. Como em Franca (São Paulo), aqui respira-se couro, lona e solas de borracha. A comida é barata e as igrejas têm bela arquitetura de ares contemporâneos. Apesar do perfil industrial, a vida é low-profile, como requerem as montanhas de Minas.

On the road

Oliveira - Tomo café com leite e bolo numa padaria em Oliveira. A conta dá 1 Real, ou cerca de 0,27 Euros. Faz frio e acabo de fazer uma palestra sobre Jornalismo para estudantes do ensino médio. Falar de vocação profissional e mercado de trabalho a adolescentes é estimulante, embora essa estranha combinação de infância prolongada com traços precoces da vida adulta nos surpreenda com singelos estados d'alma.

Esta cidade faz parte da História da Ciência graças a Carlos Chagas, que nasceu aqui em 1879 e tornou-se o único cientista do mundo a identificar uma doença (Mal de Chagas), descobrir-lhe o inseto hospedeiro (Barbeiro), o agente causador da enfermidade (Tripanosoma Cruzi) e o tratamento. Chagas trabalhou com outro grande pesquisador, Oswaldo Cruz, cujo sobrenome serviu para batizar o protozoário, numa homenagem do amigo oliveirense.

segunda-feira, 9 de agosto de 2004

Pobre Diabo

Divinópolis - Pablo Varela invade o blogverso com as insólitas aventuras do Diabo que fez pacto consigo mesmo.

Não pretendia nada que não fosse diabólico, afinal não abria mão de ser ele mesmo. Ao mesmo tempo deveria pegar leve pra não ser politicamente incorreto. Queria seu espaço, mostrar que era perfeitamente possível a convivência de beatas, putas, maconheiros, políticos, blasfemadores...

quarta-feira, 4 de agosto de 2004

Mudança 3

Divinópolis - Agora é definitivo. Este blog passa a ser atualizado de Divinópolis, cidade de 190 mil habitantes no Centro-Oeste de Minas Gerais, ao sul de Belo Horizonte e pouco mais de 500 quilômetros ao norte de São Paulo.

A economia local é baseada na indústria de vestuário e siderurgia. Depois da capital e de Juiz de Fora, Divinópolis é a cidade com melhor desempenho na economia mineira. Os índices sócio-econômicos são muito bons. As ruas são arborizadas, o trânsito tranqüilo, a poluição controlada e as pessoas amáveis: Se estão indo, dizem "fica com Deus". Se ficam, dizem "vá com Deus". Se estão falando, não são interrompidas. Se estão ouvindo, não interrompem. Se oferecemos chocolate ao cavalo da charrete, o condutor aceita com um sorriso.

Divinópolis rulez.

Mudança 2

São Paulo - Mudar é sempre complicado. Dizem que cada três mudanças equivalem a um incêndio. Não conseguimos encontrar nada e sempre notamos algumas perdas. Por outro lado, podemos fazer uma limpeza inesperada do lixo cultural (no bom sentido) que entope gavetas e estantes. Falta feng-shui às bibliotecas.

Ao ver as caixas de livros pelo escritório lembro de um texto chamado Ex Libris, que escrevi há alguns anos numa outra mudança, em que lembrava Walter Benjamin e seu "Desempacotando minha biblioteca". Abrir caixas de livros, mesmo que sejam seus velhos livros, é sempre um parto. É como trazer novamente à vida velhos vampiros fossilizados da literatura e das ciências.

Mudança

São Paulo - Entre pilhas de caixas, pedaços de madeira, parafusos, agendas, telefones, livros, discos, fotos, CPUs, quadros, violões, papéis, papéis, papéis, chaves de fenda, TV, copos descartáves, sacolas plásticas, fogão, caixas, teclado, caixas, caixas, garrafas de água mineral pela metade, sacos de lixo, disquetes, CDs, grampeador, lâmpadas fluorescentes, brinquedos, controles remotos, cifras, DVDs, botões, fotos, panelas, VHSs, sabonetes, mala, cuia...

segunda-feira, 2 de agosto de 2004

Uma canção

Ai, se Sêsse
(Zé Da Luz/Cordel Do Fogo Encantado)
Se um dia nóis se gostasse
Se um dia nóis se queresse
Se nóis dois se empareasse
Se juntim nóis dois vivesse
Se juntim nóis dois morasse
Se juntim nóis dois drumisse
Se juntim nóis dois morresse
Se pro céu nóis lá subisse
Mas porém acontecesse de São Pedro não abrisse
a porta do céu e fosse te dizer qualquer tolice
E se eu me arriminasse
E tu cum eu insistisse
pra que eu me arresolvesse
E a minha faca puxasse
E o bucho do céu furasse
Tavés que nóis dois ficasse
Tavés que nóis dois caísse
E o céu furado arriasse
e as virgi toda fugisse

quarta-feira, 28 de julho de 2004

terça-feira, 27 de julho de 2004

Pensamentos de rodoviária

São Paulo - Sete da manhã. O ônibus ainda não chegou na rodoviária. Melhor, que assim como alguma coisa antes da viagem. O bilhete que comprei me leva até o último povoado da rota. Será um longo caminho até deixar esta cidade...
São Paulo - Edgar Borges estréia na blogosfera.

quarta-feira, 21 de julho de 2004

Poster-busters: uma idéia a ser seguida

São Paulo - Lilian Alves, que integra a trupe dos Andarilhos das Letras, edita o Jornal da Praça Benedito Calixto e quando sobra tempo é estilista, participa de uma campanha que merece o apoio de toda a blogosfera. Trata-se da Ação cata-cartaz. A idéia é limpar a cidade de São Paulo dos cartazes e faixas de políticos colocados em locais proibidos pela Lei Eleitoral. Os grupos saem de madrugada munidos de objetos cortantes, alicates e escadas. O movimento tem conseguido novas adesões e vai ser mantido com regularidade e compromisso. 

"Somos apartidários e retiramos propaganda de qualquer candidato. Certamente passaremos a incomodar os caras e a a população vai perceber que é sacana esse gesto de sujar a cidade para tentar se eleger. Temos a Democracia a nosso favor. É maravilhoso olhar uma rua por onde passamos e limpamos. E também receber os elogios dos passantes, que dão uma buzinada ou ficam simplesmente admirando", diz a Lilian.

A ação já aconteceu na Zona Leste (av. Paes de Barros), Oeste (Pinheiros, rua Henrique Schaumann) e imediações do Hospital do Servidor Público (Zona Sul). Hoje de madrugada tem mais. Lilian, estivesse aí e certamente participaria da ACC. Coisas assim provocam a pouco crível saudade de Sampa.

PS: Colabore, cidadão. Crie seu próprio grupo de caça à sujeira da propaganda eleitoral.

segunda-feira, 19 de julho de 2004

Ame-o ou deixe-o

São Paulo - Uploads de fotografias ainda não estão disponíveis no Blogspot, mas quem achava que poderia viver sem a participação da gigante Google nas suas vidas, pode publicar seus textos e idéias mais facilmente no Grande Irmão do Século 21. O Blogger agora tem um editor de HTML semelhante ao da Netscape, que permite aos não-alfabetizados em Hypertext Markup Language sonhar com webdesigning.

terça-feira, 13 de julho de 2004

Dia do rock

São Paulo - Robert Johnson B.B. King Elvis Presley Chuck Berry Etta James Buddy Holly Beatles Beach Boys Rolling Stones Jefferson Airplane Lovin' Spoonful Mutantes Led Zeppelin Canned Heat Deep Purple Jimi Hendrix Black Sabbath Joelho de Porco Rush Uriah Heep Nazareth Ten Years After Moody Blues T. Rex Casa das Máquinas Free Sui Generis The Doors Thin Lizzy Iron Maiden O Terço Suzie Quatro Charly Garcia AC/DC Raul Seixas Celso Blues Boy Humble Pie Legião Urbana The Clash Patti Smith Soda Stereo Peter Frampton Joy Division Style Council The Police Paralamas The Smiths Plebe Rude The Cure Echo and the Bunnymen The Mission Prefab Sprout Cocteau Twins Talk Talk Nirvana Chico Science e Nação Zumbi Cafe Tacuba Pearl Jam Aterciopelados Smashing Pumpkins The Strokes Kings of Leon (... e continua)

sexta-feira, 9 de julho de 2004

Micronações

São Paulo - A rede assemelha-se cada vez mais ao mundo real, com o detalhe de que por aqui as semelhanças começam pelas esquisitices. Como as primeiras home-pages, repletas dos famigerados GIFs animados, que surgiram como praga no meio dos anos 90 e até hoje podem ser encontradas nos porões da web.

E os sites de maledicência contra tipos insuportáveis (Casas Bahia, Galvão Bueno)? Tem os que homenageiam RPG, O Senhor dos Anéis e Harry Potter, com vocabulários específicos e herméticos. Há os codificados com a escrita semiótica dos chats que lembram idiomas falados pelo C3PO. E há os blogs adolescentes, cheios de dolls e temas de importância universal, como a última ida ao cabeleireiro.

Mas nada se compara em matéria de estranheza ao fenômeno das micronações. Nesses ambientes virtuais, cidadãos criam personas, instituições públicas e governam seus reinos de pixel com dedicação de estadistas, ampliando o espaço nos discos rígidos que sustentam a ciberesfera e, claro, a lentidão da rede. Mas quem não contribui para o grande engarrafamento virtual que atire o primeiro mouse.

Nas micronações, os internautas podem atuar em profissões diferentes das que exercem na realidade. Participam da administração do país, caso dos funcionários públicos e candidatam-se a eleições, desde que tenham partido político. Os partidos, por sua vez, devem ter sítio próprio. Para fundar uma micronação, basta ter um computador, hospedagem gratuita e perfil de estadista.

Vejam um trecho da história da Monarquia Hereditária de Brunão, que subsiste em uploads feitos de Curitiba:

A História de Brunão remonta (sic) os tempos da Guerra do Golfo (1991), quando um menino com ainda 5 anos sonhava fundar seu próprio país. Mais adiante (10 de outubro de 1996) é criado um país com o nome de Monarquia Hereditária de Brunão que existe até hoje, tendo como rei Vossa Alteza Real Rei Bruno Quadros e Quadros. O brunaíno é um idioma artificial que está sendo desenvolvido pelo Rei e procura ter raízes portuguesas, inglesas, romenas, célticas, vikings e gaélicas.

A veterana Pasárgada tem versões em português, inglês e espanhol e possui estrutura administrativa impécavel, com cantões (Éfaté, Icária, Inverness e Sloborskaia) e constituição própria:

Verdadeiro ícone do sentimento democrático Pasárgado, a Constituição define Pasárgada como "um estado social e democrático de Direito, que tem como valores superiores de seu ordenamento jurídico a Liberdade, a Justiça, a Igualdade e o Pluralismo político", onde "a soberania nacional reside no Povo Pasárgado, do qual emanam todos os poderes do Estado".

Outras, como a Comunidade Cecília, cansada de nações virtuais autocráticas, tem propostas mais ousadas:

Diferente de algumas micronações, temos como objetivo fazer com que os cidadãos pensem sobre a própria sociedade do mundo real. Pensem e, se acharem algo de errado, que façam alguma coisa.

Alguns links:
Micro-Nations
Reino Unido de Portugal e Algarves
Reino Unido de Sayed
Reino da Normandia

terça-feira, 29 de junho de 2004

Leio A artista do corpo, de John Delillo

Um livro curto, um tempo longo. Pouco mais de 120 páginas de pequenos parágrafos em corpo 13. A artista do corpo envolve romances incompletos, sentimentos contraditórios, incomunicabilidade, body art e provação. Exige leitura lenta (exagerei nos quatro meses!), com suas frases inacabadas que nos levam a crer que essa história corre numa linha de tempo congelada, como a superfície de um lago, como os carros que deslizam na auto-estrada, como se.

segunda-feira, 28 de junho de 2004

America

São Paulo - Os norte-americanos acreditam que o mundo exterior se divide em duas categorias: países que são uma anarquia tal que nem vale a pena pensar neles, e aqueles cuja anarquia ameaça nossa segurança ou nossa sensibilidade moral. No último caso, devemos invadí-los, restabelecer a ordem, retornar imediatamente e não pensar mais neles.

Do livro Detonando a Notícia, do jornalista norte-americano James Fallows, p. 172

domingo, 27 de junho de 2004

Imagens

Divinópolis - Elas começaram a aparecer não se sabe de onde, circundando as árvores próximas de uma ponte sobre a linha férrea que liga o centro de Divinópólis ao bairro Esplanada. Fiz com uma Fuji S5000 o registro das belas e barulhentas garças do centro-oeste mineiro.

quinta-feira, 24 de junho de 2004

quarta-feira, 23 de junho de 2004

Textos sem autor

São Paulo - Pululam, na rede, textos apócrifos atribuídos a escritores de renome. Não sei qual a intenção dos autores de tais peças, ordinariamente escritas e com um toque pessoal aqui e ali, atestando-lhes a insipiênsia.

Seriam descendentes dos desafetos de James Joyce os autores das cartas escatológicas que tentam lhe copiar a fleuma? Seriam separatistas os responsáveis pelos textos falsos atribuídos a Luís Fernando Verissimo?

Teria sido Sérgio Brito (Titãs) o autor de versos moribundos atribuídos a Jorge Luís Borges? Que fundamentalistas escreveram as mensagens piedosamente cristãs atribuídas ao pouco religioso Gabriel García-Márquez?

segunda-feira, 21 de junho de 2004

São Paulo

São Paulo - Buzinas luzes carros trânsito luzes ruídos luzes ruas avenidas metrô vielas pessoas gente gente gente gente barulho vendedores pressa filas táxis vozes carros casas gritos luzes USP casa filho Liu mulher Andréa amor amor amor Pinheiros sábado Madalena sábado Dolores DJs Morrison bar rock n' roll Zeppelin Jack Daniels Aspicuelta Black Label Joplin Wisard tequila sal Blue Curaçao táxi domingo Play Center filas carros filas queda filas vôo filas roda gigante filas filas trenzinho filas elefantes filas filas pizza filas filas filas casa comida roupa mochila metrô terminal ônibus estrada estrada estrada

domingo, 20 de junho de 2004

O mundo é pequeno?


O mundo é pequeno
São Paulo - O mundo acadêmico é. Ontem encontrei no Terminal Tietê (eu chegando a São Paulo, ele saindo de) o pesquisador da Embrapa, especialista em orquídeas, Joaci Freitas. Joaci faz doutorado ardido em cidade de nome doce, Jaboticabal. Está pesquisando o DNA de uma espécie de pimenta nativa de Roraima, que os índios usam imemorialmente. Permanece, no entanto, fotografando e pesquisando Cattleyas violaceas e outras espécies de orquídea do Norte e do Sudeste. Nos velhos tempos de minha banda, Carolina Cascão, Joaci recebeu-nos em casa para uma turnê Brasil-Venezuela marcada por muita sede e rock n' roll.

quarta-feira, 16 de junho de 2004

Bloomscentury

São Paulo - Faz cem anos hoje que Stephen Dedalus flanou pelas ruas de Dublin, encontrou Leopold Bloom, que encontrou Gerty McDowell que não gosta de Blazes Boylan (quem gosta?), que pardelhas, pardelhas, é mesmo a bloody bastard.

Há cem anos ocorria o Bloomsday.

Para entender, leia o Ulisses de James Joyce. Mas depois... sua vida será outra, com você pensando de forma multifacetada, querendo escrever complicado só pra sentir o gostinho, com idéias revolucionárias sobre arte e estética. Depois ficará surpreso com a memória das coisas, a organização interna das gavetas, o orgulho nacional e achará que conhece a loquaz Molly Bloom. Depois descobrirá que a vida é menos complexa, que dá pra encarar um Fernando Sabino sem perder a calma, assistir a Jay e Silent Bob, Hermes e Renato...

100 a 87

São Paulo - Toda a glória aos pistões de Detroit.

Ben Wallace nas alturas.

O abalado Los Angeles Lakers estava irreconhecível em quadra. Tinha que perder mesmo.

Sofrimento dobrado para Karl Malone, que apostou errado trocando os US$ 18 milhões de renovação com o Utah Jazz por 1/10 desse valor para jogar no Lakers.

Duelo de técnicos é um termo apropriado para a final da NBA. Ao derrotar o laureado Phil Jackson, Larry Brown (laureado de outrora) prova que no basquete, diferente da política externa, toda supremacia tem limites.

terça-feira, 15 de junho de 2004

Igualzinho

São Paulo - Essa eu vi num post do Israel Barros no Cabuloso Destino: com o singelo subtítulo de Star Estimator, o Analogia localiza celebridades que se pareçam com você. Isso mesmo, você. Basta ter uma foto no micro. O resultado nem sempre é fiel a nosso fenótipo. Ou então pareço com Diego Armando Maradona e Timothy Dalton. Encontre seu sósia-celebridade aqui.

segunda-feira, 14 de junho de 2004

Do ofício

São Paulo - Custa-me a acreditar que sejamos quem fomos; somos quem somos a cada momento, mas a história de quem fomos tem muitas vezes de ser contada para que possamos verdadeiramente ser quem somos. As pequenas histórias que aqui podem ser lidas contam elas mesmas a história deste sítio, e fazem-no muito melhor do que eu alguma vez poderei, mas existem outras histórias por trás destas que eu mesmo quero contar.

Luís Ene, escritor português em visita ao Brasil, autor dos blogs 1000 e uma e Ene coisas, de quem tomo palavras escritas aqui.

sexta-feira, 11 de junho de 2004

Sobre blogs

São Paulo -
1 - Blogs são coleções de textos preparados por uma ou mais pessoas (podem ser pessoas preparando diferentes textos ou textos a quatro, seis mãos). Blogs são escritos.

2 - Bloggers escrevem blogs. Logo, bloggers são blogueiros e blogs são blogs. Blogs normalmente são diários, mas também podem ser semanários, bissextos, hebdomadários...

3 - Blog não é blig ou blogger. Chamar aos blogs dessa forma equivale a chamar lã aço de Bombril e lâmina de barbear de Gillette. Blogs são blogs. Ponto.

4 - Blogs podem ter ferramentas auxiliares, como os sistemas de comentários, o Blogchalking, o Blogtree e os contadores.

5 - Sistemas de comentários são formas instantâneas de comunicação entre bloggers (ou blogueiros) e seus leitores (que também podem ser blogfans ou blogfreaks). São ferramentas democráticas que os jornais, por exemplo, não têm coragem de instalar.

6 - Blogchalking é um sistema de classificação geográfica criado por um brasileiro, o Daniel Pádua. A idéia é identificar o blogger (blogger é o blogueiro, não o blog) por cidade e até por bairro. Assim pode-se descobrir quem bloga na sua vizinhança. Aquele bonequinho na coluna à esquerda indica que sou um indivíduo do sexo masculino com idade entre 31 e 35 anos (quando comecei estava noutra faixa etária), morador de São Paulo, bairro Butantã, que passa cerca de 40 por cento do seu dia conectado à rede (um exagero, mas os índices disponíveis são 20, 40, 60 e 80 por cento).

7 - Os contadores registram o números de visitas à sua página, mas também registram a origem dos acessos (o país e em alguns casos a cidade), o sistema operacional dos computadores que abrem seu blog mundo afora (já fui lido em 76 países!) e o endereço IP, caso destas e-pístolas.

8 - Blogtree é um serviço criado no MIT (Massachussets Institute of Technology) que estabelece uma espécie de genealogia blogger. Funciona assim: você cria uma conta gratuita, inscreve-se e identifica que blogs influenciaram na criação do seu. Este aqui, por exemplo, foi inspirado no Internetc, no Taperouge e no Metafilter. Da mesma forma, influenciou no surgimento do Canaimé, que por sua vez inspirou o Laranja Podre. Assim, o e-pístolas é tão filho do Metafilter quanto este é bisavô do Laranja Podre.

9 - Ninguém é obrigado a adotar tais ferramentas, mas sabe-se que um blog é mais blog se não está isolado. Um blog só é blog se está numa rede, como seus correspondentes humanos em sociedade.

10 - Blogs podem ser meros depositários de devaneios pessoais sem nenhuma importância para o coletivo humano ou podem contribuir para a discussão de temas socialmente relevantes, como a guerra, a arte ou a arte da guerra.

11 - Nao convém publicar a própria foto num blog. Elas podem ser usadas em montagens obcenas ou ilustrar os posts dos seus inimigos.

12 - Blogs têm um tempo de vida útil. Um dia este blog irá morrer.

quarta-feira, 2 de junho de 2004

Na vitrola
Beto Guedes - Sol de primavera
Flávio Venturini - O andarilho
Lô Borges e Milton Nascimento - Clube da esquina 2

quinta-feira, 27 de maio de 2004

Reflexões numa manhã de quinta-feira
Toda cidade tem uma padaria com o nome da cidade
Toda cidade tem um Hotel Plaza
Toda cidade tem uma Relojoaria Pontual
Toda cidade tem uma Drogaria Avenida
Toda cidade tem um Salão Status
Toda cidade tem uma rua com o nome de outra cidade
Toda cidade tem suscetibilidades

quinta-feira, 20 de maio de 2004

Divinópolis
Pássaros pela manhã. Uma carroça conduzida com tranqüilidade. Sol. Luz de outono. Árvores. Flores amarelas. Uma ponte. Um rio. Montanhas. Um trampo. Um i-Mac. Um bom e velho PC. Um post slow-motion. Uma réstia de sol pela janela. Life is easy.

domingo, 16 de maio de 2004

Na tela
Diários de Motocicleta não apela para "um certo sentimentalismo de esquerda" ao contar a história da viagem de descoberta da América Latina pelo jovem Ernesto Guevara e seu companheiro Alberto Granado. O que este road-movie (ou river-movie) propõe não é panfletário - nem poderia, dada à origem burguesa do diretor Walter Salles -, por isso não deve aumentar significativamente a venda de camisetas com a efígie do revolucionário argentino. Diários de Motocicleta é o resgate do "caminho", que muitos acreditam estar entre a França e a Espanha, ou na trilha inca que conduz a Macchu Picchu. Como diria Carlos Castaneda (ou Belchior) o seu caminho (ou seu lugar) é aquele em que você está. Lembra-nos, entretanto, que a riqueza deste continente está mais nas pessoas que nas incríveis paisagens. A bela fotografia granulada acentua o período histórico e embeleza a tela.

quinta-feira, 6 de maio de 2004

Li Tempos Interessantes, de Eric Hobsbawm
Aqui a leitura do Século 20 por seu maior especialista ocorre de dentro para fora, como se os historiadores,

A história exige mobilidade e capacidade de
avaliar e explorar um vasto território, isto é,
a capacidade de ir além das próprias raízes.
Por isso é que não podemos ser plantas, incapazes
de deixar seu solo e habitat nativo, porque
nosso tema não pode esgotar-se em um único
habitat ou nicho ambiental (p. 451)


esses maravilhosos e poeirentos examinadores tardios das idiossincrasias humanas tivessem o direito de examinar a história por meio de suas experiências pessoais. Bom, Hobsbawm tem.

Os que têm a minha idade em alguns países
do hemisfério norte são a primeira geração de
seres humanos que efetivamente viveram como adultos
antes desse extraordinário lançamento da nave
espacial coletiva da humanidade em órbitas de
inaudita revolução social. (p. 434)


A formação multicultural (nascido em Alexandria, criado em Viena, jovem comunista em Berlim, fugiu para a Inglaterra, acompanhou a guerra fria, pôs o pé na estrada nos anos 60, assistiu à consolidação do imperialismo

O poder não corrompe necessariamente
as pessoas como indivíduos, embora não seja
fácil resistir a sua corrupção. O que o poder faz,
especialmente em tempos de crise e de guerra,
é tornar-nos capazes de realizar e justificar
coisas inaceitáveis se fossem feitas
por indivíduos privados. (p. 150)


e o surgimento da internet...) dá a Eric Hobsbawm essa característica única dos que conviveram (e aprenderam) com diferentes povos e línguas: reconhecer-se mais membro da espécie humana que tão-somente alemão, inglês, judeu etc. Fora o fato de ter acompanhado a época de maiores transformações na história, o sinistro século passado.

Em Tempos interessantes EH trabalha com uma infinidades de autores, escolas e movimentos que exigem dezenas de leituras complementares. Assim, vamos descobrindo um E. P. Thompson aqui,

... que seria registrado pelo Índice de
Citações de Artes e Humanidades (1976-1983)

como um dos cem autores do século 20 mais citados
em quaisquer dos campos cobertos pelo Índice. (p. 240)

um Ephraim Feuerlicht acolá,

Regressou à Áustria como membro
do bureau político do PC austríaco, escreveu
um livro curto e revelador sobre a França
e editou o jornal teórico do partido. (p. 164)

mas com o tempo, a bibliografia torna-se tão numerosa que chega a comprometer a própria conclusão do livro. Sorte têm os que chegam vivos às páginas finais que retratam um período da história mais conhecido, porquanto mais recente.

Para fãs do Século 20.

sexta-feira, 30 de abril de 2004

Na tela (As invasões bárbaras)
A vantagem de assistir a um filme meses depois do seu lançamento é não carregar os críticos para a sala de cinema. Dessa forma, podemos ver esta película sobre a brevidade da vida com o espírito livre dos cadernos de cultura. Assim o merece o bom e velho cinema de autor.

As invasões bárbaras dá seqüência a O declínio do império americano, filme de 1986 cujo título dispensaria comentários se fosse óbvio. Mas não é. E as razões pelas quais não é também não serão ditas. Diga-se apenas que os dois filmes, escritos e dirigidos pelo franco-canadense Dennys Arcand são a (auto)crítica de uma certa, como diria Carlos Saraiva, vã guarda.

Excepcionalmente bem-escritos, os diálogos são a marca das duas obras, que devem ser assistidas preferencialmente em seqüência. A segunda parte apresenta o mesmo grupo de amigos reunidos à margem do lago, desta vez para encarar a doença e morte iminente de um deles.

Discussões de pais e filhos distantes uma geração, distantes alguns livros, distantes uma carteira de capitais, distantes afetivamente em intervalos de sono na narcose dos hospitais, o 11 de setembro na TV e as considerações políticas do ácido grupo de fãs de trufas e vinho - há um trecho formidável, em que Rémy e o filho atravessam a fronteira e são saudados por uma sorridente moça loura, que lhes diz "Welcome to America" e ganha em resposta: "Aleluia", "Amém".

Para professores universitários, famílias em crise e todos aqueles que amam a vita brevis.

Guerra fria