Por favor, não venham me dizer que professor universitário não trabalha. Você, aluno, que pensa que a vida do professor é uma maré mansa sem fim: pense melhor, e pense bem se você quer isso, se deseja algo assim para si – pois eu tenho visto desejos de fama, fortuna, importância, prestígio, carro importado, e sempre muitos desejos sem fim de auto-engrandecimento, mas ainda não vi um de vocês lendo Don DeLillo pelos corredores, ou escrevendo um blog que não envergonhe a mim, que não o escrevi, que sou apenas seu leitor. Vejo, alunos, seus mil desejos escancarados, pendurados no pescoço pelos corredores, e peço a vocês apenas que trabalhem comigo e com os outros professores a partir de desejos minimamente compatíveis com esse negócio que vocês, em tese, vão fazer na Universidade. Por favor, ofereçam a este, e aos outros professores, a benesse de se defrontar casualmente com a excelência discreta e intempestiva; dêem – como um dom maussiano, sabendo que vai e volta – a seus professores a grande dádiva que será lidar com vocês sem ter de amaciar seus egos cotidianamente, ou pisar em ovos todo o tempo para não ferir suas sumamente situadas, apesar de quase universais, vaidades, ou simplesmente para nos permitir um tempo de trabalho sem que tenhamos de pensar quanto de nosso exercício é consumido no cobrar.
(Do amigo bovarista Antonio Marcos Pereira)
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