terça-feira, 26 de janeiro de 2016

Escola brasileira pública de qualidade? Sim, isso existe.

Venezuela, Guiana, Estônia, Barbados, Cazaquistão, Mongólia e outros 60 países estão à frente do Brasil em índices educacionais. Dois terços de nossos alunos de 5º ano não diferenciam formas geométricas básicas como círculos, triângulos e retângulos e 70 por cento dos estudantes no 3º ano do ensino médio não identifica a informação principal em uma notícia curta.
ENTRETANTO, quatro escolas públicas no interior do Ceará, Rio de Janeiro e São Paulo atingem índices de excelência superiores aos de Suíça e Canadá. Como conseguiram? Veja aqui.

terça-feira, 12 de janeiro de 2016

Da ostentação



A perda de memória causa efeitos dolorosos, o que é estranho num brasileiro: povo que se lixa para tradições e memória histórica e só costuma lembrar do último Carnaval, quando lembra. A mídia não contribui com isso. Apenas comanda. Reedifica o Grande Irmão em programas feitos para se pensar que o que acontece ali é realidade. E vomita uma quantidade de "informação" calculada para o efeito amnésico. Aos domingos, a profusão de cores berrantes e os dois ou três estilos musicais determinam a "diversidade". Algaravia, mistureba de lixo pós-moderno, reciclado, tornado lavagem e empurrado goela abaixo de telespectadores gansos, logo transformados em foie-gras.

Recentemente, perdi dois HDs com cerca de 20 mil fotografias. A soma de backups em DVDs e na nuvem salvou cerca de 10 mil imagens. Programas de recuperação de dados escavaram mais 5 mil. Desapareceram definitivamente cerca de 5 mil fotos. A maioria dispensável, mas há pelo menos 500 perdas significativas, registros que jamais voltarão. Como há 10 anos em Minas Gerais, quando roubaram meu notebook repleto de imagens de família. Efeitos da vida digital que me tornaram mais cuidadoso e a fazer backups perenes. Mas os arquivos ficam maiores a cada ano e exigem HDs e dispositivos externos que quebram com frequência capitalista.

Só há duas memórias-arquivo: uma no cérebro, outra em dispositivos físicos e eletrônicos. Para a primeira, decoro sequências numéricas, letras de músicas e brinco com idiomas na Netflix. O segtredo de Jeremias Nascimento, por exemplo, é ouvir músicas do século 20. Os dispositivos eletrônicos entopem seu cérebro com informação desnecessária, mas podem ser úteis. Precisamos das duas memórias, mas como garantir a sobrevivência dos arquivos?

É aí que entra a Schirley e o Projeto Ostentação: estávamos na casa dela a falar sobre nossas viagens - sabiam que ela morou em Aruba? Num certo momento, Schirley diz com seu sotaque gaúcho jamais lapidado: "Mas Averyyyyy, você faz tantas viagens interessantes, por que não publica no Facebook?". "Schirley, isso é turismo-ostentação. Sou mochileiro e mochileiros detestam ser confundidos com turistas". Semanas depois dessa conversa, dou total razão à minha amiga.

Os programas de recuperação de dados (usei o Wondershare) não são perfeitos, mas ajudam muito. Depois de algumas horas, fotos apagadas há tempos, por acidente ou vontade própria, saltam na tela e oferecem novo significado à vida e à memória de longo prazo. Imagens que ficaram apenas na retina pulam na sua tela e trazem um mundo novo dentro de um velho mundo. Lembranças que serão usadas por algum tempo e depois, de mortos, vaporizadas na grande nuvem.

De agora em diante, usarei mais o blog e o Facebook para "upar" fotos e evitar novas perdas. Portanto, Timeline, preparai-vos para o Projeto Ostentação.

Post Scriptum: Sobre os programas de domingo, ainda me pergunto se o sujeito de chapeu-coco e óculos sem lentes veio de uma festa com Spike Lee e Russel Westbrook ou se ele não tem ideia de onde veio seu "personal style".

terça-feira, 22 de dezembro de 2015

Sou favorável ao colapso imediato e sem recuperação do sistema financeiro global. A onda de suicídios duraria pouco tempo. E deve ser encarada como seleção natural. A ideia é simples: Se tivermos que perder massa populacional, que dancem primeiro os consumidores compulsivos, que são responsáveis DIRETOS pela degradação ambiental. Todos os yuppies eliminados pela mesma praga: o bug no sistema.

sábado, 31 de outubro de 2015

People who died

Porlamar - Antonio Vieira dizia coisas engraçadas, como "jazz é um monte de sons pequenininhos, separadinhos, que fazem sentido" ou "tu é socialista porque nasceu na Amazônia, desconhece escassez", entre outras observações lúcidas/bizarras sobre vida, religião, economia e o algo mais e era exatamente por esse motivo que conseguíamos manter aqueles diálogos notáveis entre liberalismo e socialismo, quando atribuía meu bem-estar a Adam Smith, e claro que pensei sobre isso no sétimo andar daquele hotel no estrangeiro. O ateu Antônio é reintegrado à terra de onde saímos bilhões de anos atrás nalguma forma primitiva e ordinária até redundar no ser humano e seus feitos extraordinários, seus equívocos letais. E percebo que não vi mortos meu cunhado, o Mário Wander, nem o Simões ou o Laucides, somente Feutmann dias antes de Murilo e Zequinha, enterrados no mesmo horário em cemitérios diferentes, e todos se foram e porque caímos como moscas num Brasil polarizado entre o fascismo e o setentismo pré-revolucionário, eterna vítima de auto-indulgência, insensível ao cheiro de podre que vem da TV, ex-indústria cultural atual cultura bacteriológica, produtora de autômatos nessa inexplicável amálgama de niilismos yuppies, ruralistas, reacionários, religiosos, racistas, catequizadores, manipuladores e toda sorte de lunáticos dispostos a desinstalar o Iluminismo, jogar tudo fora, a certeza de que o tempo só é vencido pela fotografia, como a dos tênis na varanda em respeito à imaculada brancura do chão da minha sala.

domingo, 18 de outubro de 2015

Listen like thieves

http://m.jb.com.br/pais/noticias/2015/10/17/nova-denuncia-acusa-odebrecht-de-pagar-r-138-milhoes-em-propina/?from_rss=None

quinta-feira, 15 de outubro de 2015

Os Educadores

Hoje é dia do professor. Uma profissão cuja retórica geral reputa como importante. Na Câmara dos Deputados houve vários pronunciamentos. Na mídia, muito dinheiro investido pelo governo em propagandas institucionais. Nas escolas e universidades, homenagens, salgadinhos, pequenos discursos de auto-estima, tapinhas nas costas... Mas o que significa realmente esta data? O Brasil acaba de passar pela maior greve da educação na história. Foram 140 dias com universidades sem aula. Professores de norte a sul protestaram contra as condições de trabalho. Exigimos valorização salarial de carreira estruturada. Fomos tratados com total indiferença pelo Ministério da Educação. Nossos atos em Brasília foram reprimidos pela polícia, que atacou com cacetetes e bombas de gás professores, professoras e estudantes. Enquanto isso, a sociedade assistia tranquilamente sua novela, seu futebolzinho, seu programinha de polícia onde pode concordar com apresentadores ignaros que os problemas sociais serão resolvidos com a redução da maioridade penal. Também teve tempo de avaliar nas poucas e deturpadas notícias sobre a greve que professores são irresponsáveis vagabundos sem- vergonha que prejudicam a nação. Preocupada com as ameaças de impitimam, a presidente ignorou o caos na educação para cuidar do próprio cargo. Em resumo, assim é tratada no Brasil a atividade mais respeitada no Japão. Que este Dia do Professor por aqui seja o primeiro em que esta profissão retome seu papel, recupere suas forças e resgate sua honra. Os educadores estão vivos.

sábado, 10 de outubro de 2015

Um som

(Finis Africae - Ask the dust)
Atendendo a tua desilusão
Atendendo a tua desilusão
Roubaram as cores do meu reino
Roseiras murcharam no jardim
As dores aumentam no meu peito
Teus olhos são tão cruéis pra mim
Povos esqueceram suas lendas
Fendas se abriram pelo chão
Flechas de fogo incendiaram tendas
Atendendo a tua desilusão
Monges abandonaram templos
O vento não sabe aonde ir
Pararam teus movimentos
Teus pés, já não pisam mais aqui
Teus pés, já não pisam mais aqui
Atendendo a tua desilusão
Atendendo a tua desilusão

terça-feira, 22 de setembro de 2015

Bolsomita

http://www.msn.com/pt-br/noticias/nacional/bolsonaro-chama-refugiados-de-esc%C3%B3ria-do-mundo/ar-AAeCfze?li=AAaB4xI&ocid=mailsignoutmd

sexta-feira, 18 de setembro de 2015

Um texto de Eduardo Galeano

Barbie vai à guerra

Existe mais de um bilhão de Barbies. Só os chineses superam essa população tão enorme.

A mulher mais amada do mundo não poderia falhar. Na guerra do Bem, contra o Mal, Barbie se alistou, bateu continência e foi para a guerra do Iraque.

Chegou à frente de batalha vestindo fardas de terra, mar e ar, feitos sob medida, que o Pentágono examinou e aprovou.

Ela está acostumada a mudar de profissão, de penteado e de roupa. Também foi cantora, esportista, paleontóloga, dentista, astronauta, bailarina e sei lá mais o quê, e cada novo ofício implica um novo look e um novo vestuário completo, que todas as meninas do mundo estão obrigadas a comprar.

Em fevereiro de 2004, Barbie também quis mudar de par. Fazia quase meio século que estava ao lado de Ken, que não tem no corpo outra saliência além do nariz, quando foi seduzida por um surfista australiano que a convidou para cometer o pecado do plástico.

A empresa Mattel anunciou, oficialmente, a separação.

Foi uma catástrofe. As vendas desabaram. Barbie podia, e devia mudar de ocupação e de vestidos, mas não tinha o direito de dar mau exemplo.

Então a empresa Mattel anunciou, oficialmente, a reconciliação.

terça-feira, 1 de setembro de 2015

Bola ao cesto

Brasília - Finalmente veremos o brasileiro Marcelinho Huertas (ex-Barcelona) jogar na NBA. E finalmente, uma aquisição decente feita pelo Los Angeles Lakers. Na próxima temporada, haverá oito brasileiros no maior campeonato de basquete do mundo. Pena que o Brasil não valorize esse esporte e nossos atletas sejam obrigados a mostrar seu talento em quadras estrangeiras.

domingo, 30 de agosto de 2015

Da Plebe

Brasília - Hoje eles são Milton Santos, Eric Hobsbawn, Octavio Ianni, Edgar Morin, Florestan Fernandes, Karl Marx, Friederich Nietzsche e outros. Mas aos 15, 16 anos, minha formação política começa com duas bandas de Brasília: Legião Urbana e Plebe Rude. Depois eu descobriria Jean-Paul Sartre, Bob Dylan etc. Mas tudo começa aqui, a Torre de TV aonde acabo de ver Plebe Rude lançar seu primeiro CD (Nação Daltônica) em 2 milhões de anos.

sábado, 29 de agosto de 2015

Polícia para quem precisa

Brasília - "A presença ostensiva da polícia militar desde o início do ato, impedindo inclusive a entrada do carro de som e tensionando durante toda a manifestação, culminou em ação repressiva com lançamento de bombas e gás de pimenta e agressão corpórea a docentes e estudantes. Tais fatos revelam que este governo não hesita em recorrer à repressão policial contra a juventude e os trabalhadores que lutam contra as medidas econômicas que retiram direitos e precarizam os serviços públicos, notadamente, de saúde e educação. Foi bastante perceptível a disposição da categoria para a luta." 

(Trecho do Comunicado do ANDES-SN sobre os atos públicos em Brasília. Leia na íntegra aqui.) 

sexta-feira, 28 de agosto de 2015

Europa

Brasília - Refugiados sírios cruzam a fronteira da Macedônia com a Grécia. Imagens chocantes. Fronteiras, cercas elétricas, muros gigantes, nada detém o caos originado na concentração de renda, na exploração e na expropriação dos indefesos. O mundo ferve.

Sobre Política

Brasília - Definitivamente não entendo o eleitorado de Roraima. Talvez queira ultrapassar o de São Paulo como o mais irresponsável do país. Não vai ser fácil barrar uma cidade que elege Titirica, Paulo Maluf, Netinho de Paula, Afanásio Jazadji, Celso Russomano e terá Zé Luís Datena como candidato a prefeito. Mas os roraimenses se esforçam: elegem pastores e mais pastores, apresentadores de 'pograma de puliça', semi-analfabetos (há os que reúnem essas três virtudes), parentes de políticos e outras figuras aberrantes. O que esses políticos têm em comum em seu favor chama-se TELEVISÃO. O povo elege qualquer idiota que aparece na tela achando que o idiota é quem está na tela.

quinta-feira, 13 de agosto de 2015

Sobre a greve

O Conselho de Ensino, Pesquisa e Extensão (CEPE) da UFRR reúne-se amanhã às 14 horas no prédio da Reitoria para deliberar a suspensão do calendário acadêmico, dez semanas depois de iniciada a greve dos docentes federais. Não há risco de ocupação, como ocorreu na UFPA. O Campus Paricarana estará esvaziado. Homens encapuzados, com máscaras e jatos de veneno atacarão sem piedade mosquitos que infernizaram alunos, professores, técnicos e comunidade nos últimos meses. O combate acontecerá em plenas férias e época de reprodução, no final das chuvas, sob os trovões de agosto. Até as aulas retornarem, novas gerações de mosquitos terão história e cosmogonias próprias. Famílias de insetos contarão como seus ancestrais foram exterminados por homens impiedosos e como se tornaram mais fortes, Monsanto e HSBC do entomundo. Dispostos a tornar exangue a comunidade acadêmica. Ninguém assistirá à grande batalha, tipo Pink Floyd em Pompeia. Isolados no único prédio a não ser borrifado, os conselheiros decidirão. Neste 2015, enquanto empolávamos nos criadouros/salas de aula, o governo que mais precarizou o ensino na-história-desse-país retirou R$ 12 bilhões da educação pública. Destinou R$ 5 bilhões para instituições de ensino superior privadas, alegando crédito estudantil. Milhares de jovens trabalhadores tornaram-se reféns do sistema financeiro e de uma formação precária numa só cajadada. Na TV, o ministro da Educação descreveu um país irreal e todos acreditaram..

Sobre a juventude

Os estudantes não deixaram de ser a vanguarda do pensamento, da liberdade e das artes para defender futilidades. Quem se perdeu foi a sociedade, auto-incapacitada para discernir educação, política, liberdades, moda, economia, música e cozinha sem a orientação da mídia. Transforma suas crianças em filhas da tela. Rouba revistas dos consultórios e os talheres da Varig (Varig?!) mas culpa os políticos pela corrupção arraigada. Quem se perdeu foram papai e mamãe, crianças. Quem se perdeu foi o jornalismo. Quem se perdeu foram nossos representantes. Os jovens não se perdem. Se encontram. E viram as coisas de cabeça pra baixo, sempre que querem.

quarta-feira, 12 de agosto de 2015

Sabe aquele poema do Drummond?


Boa Vista - Renan amava José que amava Jader que amava Romero que amava aquele cara atrás dele que amava Henrique que amava Eduardo que amava Luís que amava Michel que amava Eunício, que não amava ninguém. Renan foi para os Estados Unidos com cartão institucional, José dominou o Amapá e Jader o Pará, Romero escapou de desastre, Eduardo cometeu suicídio eleitoral, Eunício continua a não amar ninguém e Michel casou-se com Marcela Tedeschi, que não tinha entrado na história.

segunda-feira, 10 de agosto de 2015

Educação em crise

A secretária de Educação de Roraima, Selma Mulinari, está neste momento no interior de três círculos concêntricos. O primeiro é seu gabinete de onde não sai desde as primeiras horas da manhã. Depois há um círculo com dezenas de policiais do grupo tático da PM, protegendo o prédio do lado de dentro dos portões. E, finalmente, do lado de fora, um círculo com professores, sindicalistas, movimentos sociais e estudantes indígenas indignados. Os professores da rede regular de ensino, iniciaram hoje uma greve, com 90 por cento de adesão e engrossaram as fileiras. Todos querem a cabeça da secretária, que é irmã da governadora Suely Campos. O ANDES-SN enviou representantes, que já prestaram seu apoio à causa dos professores indígenas em forma de moção e agora, pessoalmente, com membros do Comando Local de Greve. A greve é forte. A greve é multi-étnica. A greve é nacional. A greve é geral.

sexta-feira, 7 de agosto de 2015

Dilma em fuga

Boa Vista - Neste momento, são apenas 32 graus à sombra. Mas a sensação térmica sob o toldo de lona facilmente ultrapassava os 40, quando a presidenta discursou aos povos. Havia movimentos sociais "casca grossa", como o MST, quietinho, quietinho. Havia indígenas em seus trajes, LGBTs em tons dourados aproveitando a alta luminosidade e um punhado de servidores da Educação, Justiça Federal e Previdência. O protesto quase não se ouviu. Defensores do governo, olhar misto de espanto e indignação, vaiaram. Pedir "Justiça e Educação" aqui, com esse calor, onde já se viu?! 

Os clientes do plano habitacional de maior sucesso na-história-desse-país exultavam. E havia a imprensa. E convidados VIPs, cujo critério de escolha é mistério. E finalmente o palco, onde os donos do poder dividam a mesa principal. Dois senadores e uma senadora eleitos por Roraima conversavam alegremente num evento quase privado, dado o esquema de segurança. Não fosse o Exército, Polícia Federal, Polícia Rodoviária Federal, seguranças oficiais e espiões em meio à turba suada, facilmente se confundiria com espetáculo de música. Tipo Wesley Safadão ao vivo no Mané Garrincha. 

Antes da presidenta, houve falas. A prefeita foi simpática e gentil. Same as it ever was. A governadora exigiu menos terras indígenas e áreas de proteção ambiental. Same as it ever was. Um ministro/pastor perguntava à plateia quem pagava aluguel acima de 500 reais. E 400 reais?! E 300?! E 200?? E 100, quem pagava mais de 100 reais de aluguel, minha gente? Braços suados em riste. Assessores políticos de bracos erguidos também. Leni Riefenstahl se refestelaria. Leques com a logo do Município foram distribuídos. Ventos a 4km/h. A presidenta falou até as 13h, abatida pelo calor. Disse que já resistiu a muitas dificuldades e não admite que haja desestabilização política. Só econômica. E só um pouco. O Brasil é forte. E já esteve pior. Quando a oposição foi governo, por exemplo... 

Depois entrou num helicóptero e se mandou sem falar com jornalistas. Parecia ter adivinhado que entre microfones, filmadoras e bloquinhos de papel havia um não-credenciado que cruzou cada uma das barreiras de acesso, sem crachá, como o alien de Gilberto Gil. Ou talvez o assessor tenha notado a camiseta vermelha do Comando Nacional de Greve do ANDES num jornalista que por acaso é professor federal em greve, portanto gente da pior espécie. Cinejornalistas frustrados, fotógrafos suados e decepção geral para quem entrevistaria a primeira celebridade. Repórteres maquiadas e lívidas, perderam a paciência e silenciosamente decidiram não votar em Dilma na próxima eleição.

domingo, 26 de julho de 2015

Um poema

Não digo adeus 
Eduardo Galeano
 
Em 1872, por ordem do presidente do Equador, Manuela León foi fuzilada. Em sua presença, o presidente chamou Manuela de Manuel, para não deixar registro de que um cavalheiro como ele estava mandando uma mulher para o paredão, embora fosse uma índia bruta.
Manuela havia alvoroçado terras e povoados e havia alçado a indiada contra o pagamento de tributos e contra o trabalho servil. E como se tudo isso fosse pouco, havia cometido a insolência de desafiar para um duelo o tenente Vallejo, oficial do Governo, diante dos olhos atônitos dos soldados, e em campo aberto a espada dele tinha sido humilhada pela lança dela.
Quando este último dia chegou, Manuela enfrentou o pelotão de fuzilamento sem venda nos olhos. E perguntada se tinha algo a dizer, respondeu, em sua língua:
- Manapi (Nada)

sábado, 25 de julho de 2015

Eduardo Galeano

Faz pouco mais três meses, deixou-nos Eduardo Galeano, o mestre uruguaio que dedicou a vida a retratar o continente latino-americano sob uma perspectiva histórico-humanista como poucos conseguiram fazer. Texto econômico, jornalismo de profundidade, maestria acadêmica lhe caracterizavam. Era capaz de falar sobre qualquer coisa, desde que tivesse importância suficiente para desestabilizar os inertes e deleitar seus muitos fãs com análises precisas sobre sociedade, consumo, política, história. Seu legado permanece. Poucos seres humanos reuniram tantas qualidades ignoradas. Não troco minha vida por nenhuma outra: repleta de aventuras, viagens, paisagens e amigos que me fazem vivo e relevante. Trabalho com a palavra e não conseguiria fazer outra coisa. Tenho poucos desejos, porque estes são sofrimento. Mas um dia espero escrever como Galeano.

quarta-feira, 22 de julho de 2015

Brasília - Indignado com a morte de seu Rafael, que meu pai conheceu há 50 anos na fronteira norte, um vindo do maranhão, outro do Rio Grande do Norte. Atuaram na mineração artesanal na Venezuela e na Guiana, instalaram-se no bairro São Francisco em Boa Vista. Quando sua mulher deu sinais de que iria entrar em trabalho de parto, fretou um pequeno avião em Ourinduque e foi até Georgetown, Guyana, onde nasceu meu amigo Rubem Leite, que conheço de toda a vida. Rubinho é pai do Lucas, que é amigo da Nagisa, minha filha; assim como meu filho Liu é amigo do seu filho Mateus. Hoje, nossas netas Jasmim e Ísis já são amiguinhas. Famílias amigas há quatro gerações. Que os criminosos não fiquem impunes. Que a Polícia Civil faça bem seu trabalho e entregue os assassinos deste homem forte e trabalhador que escolheu viver perto da natureza.

terça-feira, 21 de julho de 2015

Pátria Educadora

Brasília - Permaneço como delegado no Comando Nacional de Greve pela Seção Sindical Dos Docentes Da Ufrr até 1 de agosto. Mandato confiado por companheiros de todo o Brasil que consideraram as peculiaridades regionais e distâncias continentais que caracterizam nosso imenso país. Represento, com responsabilidade, 571 professores efetivos e um sem-número de substitutos da UFRR. Minha ideologia é bem limitada: educação, política e liberdades individuais. Por isso o Andes-SN não é apenas meu sindicato. É meu time de futebol e meu partido político. Amanhã estaremos ao lado de 5 mil servidores da União numa grande marcha em Brasília. Por uma pátria que faça jus ao título de "Educadora".

quarta-feira, 15 de julho de 2015

Cinema

"Por que nos sentávamos tão perto? Provavelmente porque queríamos ser os primeiros a receber as imagens que chegavam, quando elas estavam ainda novas, ainda frescas, antes que saltassem para as fileiras seguintes. Antes que se espalhassem de fila em fila, de espectador em espectador, até que se esgotassem, em segunda mão, do tamanho de um selo e voltassem para a cabine do projetista."
Os pensamentos de Matthew (Michael Pitt) foram escritos por Gilbert Adair com base num provável estado de graça. Mas ao fazer a câmera despencar da Torre Eiffel ao som de 3rd stone from the sun (Jimi Hendrix), Bernardo Bertolucci mostra que seu maior barato é desafiar a literatura.

domingo, 12 de julho de 2015

Bola ao cesto


Boa Vista - Já temos dois campeões brasileiros na NBA: Leandro Barbosa e Gustavo Splitter. Na próxima temporada estreiam Cristiano Felício (que assinou hoje com o Chicago Bulls) e Raul Neto, que jogará pelo Utah Jazz, time que não anda bem das pernas desde o fim da era Malone-Stockton no começo dos 1990. 
Sou fã de basquete desde que me entendo por gente e não conheço esporte mais emocionante, estratégico, veloz, aéreo. O Brasil já foi uma potência do basquete, mas nos últimos anos, por força de uma Mídia comprometida e de uma sociedade indiferente, parece que praticamos apenas um esporte coletivo. Enquanto o primeiro é jogado com a cabeça, o segundo é conhecido por tirar meninos das escola
Sim, o Brasil já foi uma potência do basquete. Nossa seleção masculina estreou em 1922: antes do rádio! O Brasil foi vice-campeão mundial em 1954; campeão mundial em 1959 e em 1963, quando derrotamos os EUA por 85 a 81. Os ex-jogadores, treinados pelo lendário Kanela, ainda se encontram uma vez por ano.
Nas Olimpíadas, temos uma medalha de prata e quatro de bronze, além de outras quatro semifinais. Em Jogos Pan-Americanos, temos Medalha de Prata em 1963 e Medalha de Bronze em 1951, 1955 e 1959. Em 1970 conquistamos o vice-campeonato mundial. Em 1971, vencemos o Pan-Americano de Bogotá. Temos medalha de Bronze nos Jogos Olímpicos de 1960 e de ouro no Sul-Americano em 1959, 1960, 1961, 1963 e 1971. Ubiratan, "o rei do tapinha", foi nosso primeiro jogador a atuar no exterior, pelo Sprungen, da Itália. Foi eleito para o Basketball Hall of Fame da FIBA há cinco anos.
Em 1985, detonamos os EUA no pan-americano por 120 a 115, com brilhante atuação de Oscar Schmidt, considerado o maior pontuador deste esporte, com cerca de 49,7 mil pontos. Oscar já media 1,85 metro aos 13 anos. Foi campeão brasileiro e sul-americano inúmeras vezes. Jogou onze temporadas na Itália (algumas com o Joe, pai de Kobe Bryant) e outras duas na Espanha. Não ingressou na NBA porque até 1989 a liga não permitia que estrangeiros atuassem por suas seleções. Oscar pertence a dois Basketball Hall of Fame: da FIBA e da NBA, mesmo sem ter jogado nos EUA.
Em 1994, nossa seleção feminina ganhou o campeonato mundial. Dois anos depois, foi medalha de prata na Olimpíada de Atlanta. No sul-americano ganhamos medalha de ouro "apenas" em 1954, 1958, 1965, 1967, 1968, 1970, 1972, 1974, 1978, 1981, 1986, 1989, 1991, 1993, 1995, 1997, 1999, 2001, 2003, 2005, 2006, 2008, 2010, 2013 e 2014.
Cabem algumas perguntas: Por que o Ministério dos Esportes não investe no nosso basquete? Por que as grandes empresas não financiam o Novo Basquete Brasileiro? Por que não vemos notícias sobre esse esporte nas principais emissoras de TV aberta? Por que as quadras são tão poucas nas cidades e as que existem estão deterioradas?
No basquete, tudo pode mudar numa fração de segundos. É o mais competitivo e equilibrado (por conta dos tempo restrito de ataque) dos esportes coletivos. Pratiquei na escola e acompanho o que posso, da NBA à NBA; da Euroliga às peladas no Complexo Ayrton Senna. Infelizmente, pouco significa no Brasil contemporâneo, da uniformidade religiosa, cultural e política que nos esmaga.
O futebol brasileiro, corrompido e cheio de mazelas, programado para ter os mesmos campeões ano após ano, é nossa aposta equivocada de unidade nacional: nos identificamos com nossos craques semi-analfabetos; com cartolas mafiosos e com o jabaculê midiático que promove jogadores folgados e incapazes. Nosso futebol foi eliminado (7 a 1!) em casa pela Alemanha no ano passado e defenestrado há poucas semanas da Copa América pelo Paraguai. E ainda nos achamos os tais. Infelizmente, o Brasil continua a falhar gravemente em todos os campos. E em todas as quadras.

sábado, 11 de julho de 2015

Capitalistas

Brasília - A pobreza não é apenas de caráter, mas também de conhecimento e de... grana. Liberais contemporâneos são produzidos em linha de montagem, mas como bons replicantes (ah, essa polissemia), se consideram originais. Para Isaac Asimov, falta-lhes alma. Para Walter Benjamin, falta-lhes aura. Para socialistas convictos, alguma cultura e vergonha na cara.

sexta-feira, 10 de julho de 2015

Brasília - O cerco se fecha. Universidade Federal de Ouro Preto deflagra greve em três dias. Será a IFE número 42 a paralisar suas aulas. E aí, UFMG, que tal seguir o exemplo que vem do interior?
Brasília - O Ministério da Educação, cercado por edifícios militares na Esplanada, é uma triste alegoria sobre como o livre pensar está constantemente cercado pela repressão.
Brasília - Amanhece no Planato Central. Por enquanto, 17 graus, mas o dia promete ser quente, literal e figurativamente. A luta do ANDES-SN com o governo já se tornou um caso cabalístico e numerológico: Completamos 41 dias em greve, com 41 universidades e institutos federais sem aulas. A resposta do Executivo foi conceder aumentos de 61 por cento para o Legislativo e 72 por cento para o Judiciário. Aos professores, ofereceu 21 por cento para os próximos quatro anos. Isso é caso de polícia. Federal. ‪#‎patriaeducadorasqn‬

quarta-feira, 8 de julho de 2015

Enquanto o cone sul (Chile, Uruguai e Argentina) avança socialmente, elegemos pentecostais homofóbicos e racistas; enquanto lá as greves são iniciadas por estudantes, aqui professores furam greve com ajuda de alunos; Enquanto torturamos e matamos adolescentes infratores, países mais civilizados protegem suas crianças com educação universal. E sobre a questão das drogas, o óbvio nunca parece fazer sentido por aqui: "Podemos negar que, quando os jovens usam maconha e não podem cultivá-la devem recorrer ao tráfico para comprá-la, abrindo a porta para drogas mais pesadas como a cocaína e a pasta base? Todos nós sabemos que isso acontece, e quem não sabe provavelmente precisa ir mais às ruas" (Deputada chilena Camila Vallejo).

Por que os banqueiros não aparecem?

"O salário do servidor público não está na internet? Por que os detentores da dívida não estão? Nós temos que criar uma campanha nacional para saber quem é que está levando vantagem em cima do Brasil e provocando tudo isso."

terça-feira, 7 de julho de 2015

A imagem é horrível, mas este é o melhor momento para limpar a timeline de gente violenta. Os comentários estão disponíveis. Mas ao invés de me fazer perder tempo excluindo quem é favorável a esta barbaridade, faça a gentileza de sair por conta própria. Não me siga. Afinal, defendo os direitos humanos e isso inclui de criminosos famélicos como este até os parlamentares canalhas que as 'pessoas de bem' gostam de reeleger. Todos têm direito a um julgamento justo. Ninguém pode admitir a tortura. Ninguém tem direito de fazer justiça com as próprias mãos. A Idade Média acabou em 1453.

segunda-feira, 6 de julho de 2015

Café a Manhã Sindicial. É agora na UFRR. Depois de renovar as forças com cafezinho tem caminhada no Campus. Professores fura-greve e pelegos de toda ordem, correi para as montanhas. Se querem ser professores, lutem pela educação ou tornem-se personæ non gratæ. Traidores da própria classe não são dignos de indulgência.

domingo, 5 de julho de 2015

Em Brasília, é cada vez mais evidente o Efeito House of Cards: com greves em vários setores do governo, corrupção arraigada e sérias ameaças de impeachment, Dilma Rousseff sai do Brasil por uma semana e deixa o cargo com Michel 'Underwood' Temer. Este já declarou que a presidenta não corre nenhum risco. Kevin Spacey ficaria orgulhoso. A vida imita a arte.

sábado, 4 de julho de 2015

Boa Vista - Sobre futuros exilados: este novo Brasil conservador, violento, religioso e ignorante é resultado de uma sociedade que faz questão de demonstrar em seus automóveis, na moral adquirida e na espúria e manipuladora programação da TV, que a educação tem importância mínima. Essa guinada à direita e o pentecostalismo unido à Bancada da Bala prognosticam nossa reentrada na década de 1970. Com adolescentes pobres na cadeia, um livro sagrado que explica tudo e Regina Casé vendendo cultura no domingo, vai ser difícil salvar a nossa violentada, mas ainda de pé, educação pública
www.youtube.com/watch?v=7wL9NUZRZ4I

Sim, continuo a ouvir The Next Day, do David Bowie e sim, aquele site de letras com nome de inseto continua a usar o google translator. Dedicada a amigos expatriados; ex-expatriados; repatriados e a futuros exilados.
O AMOR ESTÁ PERDIDO
Esta é a hora mais escura, você tem 22
A voz da juventude, a hora do pavor
É a hora mais escura e sua voz é nova
O amor está perdido. Perdido é o amor
Seu país é novo. Seus amigos são novos
Sua casa e até mesmo seus olhos são novos
Sua empregada é nova e seu sotaque também
Mas seu medo é tão antigo quanto o mundo
Diga adeus às emoções da vida
Quando o amor era bom
Quando o amor era ruim
Diga adeus à uma vida sem dor
Diga olá, você é uma garota linda
Diga olá para os lunáticos
Conte-lhes seus segredos
Eles são um túmulo
Oh, o que você fez, oh o que você fez
O amor está perdido. Perdido é o amor
Você sabe tanto, que isto lhe faz chorar
Você se recusa a falar, mas pensa como louca
Você se livrou de sua alma e de sua face pensativa
Oh, o que você fez, oh o que você fez
Oh, o que você fez, oh o que você fez?

segunda-feira, 29 de junho de 2015

No final dos anos 90 ouvíamos uma série de bandas que misturava soul, jazz e techno para uma turma que ainda curtia Nirvana, Beck e Chico Science. O som multifacetado que chamávamos de jazz-rap fazia a cabeça da chamada Geração X, os últimos jovens do milênio, nascidos na virada dos 60 para os 70, turma que se encontrava para trocar ideias sobre música, livros, cinema, minorias e o algo mais, num tempo em que a internet não tinha a menor graça e não se cogitava o sucesso a qualquer preço. A fusion defendida pela Geração X se estendeu da música para as artes e logo implodiria os velhos conceitos de tribo, num big bang reverso que absorveria para sempre detritos culturais e ideológicos de décadas passadas, exauridos de sua aura e jogados no caldeirão que gerou a Cultura Smiley e todo aquele êxtase tomado nos anos 2000, quando o Verão do Apito já era uma distante lembrança. Ali, na fenda entre dois milênios, o jazz-rap virou acid jazz e depois desapareceRIA PARA SEMPRE. Ficaram os CDs do Jamiroquai, do US3 e do Digable Planets. Mas o que eu mais curtia na época era um cara chamado James Taylor e seu quarteto, que... ok, you've got a friend.

quarta-feira, 6 de maio de 2015

Panelaço Classe A

Boa Vista - Sim, todos temos preconceitos, mas a realidade é inegável em algumas circunstâncias. Temer pentecostais, torcidas de futebol organizadas e conservadores faz sentido porque são grupos dedicados mais ao ódio do outro que às próprias ideologias: conceitos morais que pretendem universalizar, embora a maioria desconheça o termo.
Não quero irritar ninguém (pelo menos 20 'amigos' de Facebook já me excluíram por conta de minhas opiniões. #vácomdeus), mas quando afirmo que o último intelectual de direita vivo é Delfim Netto é porque considero Arthur Gianotti seu áulico e Olavos, Azevedos, Pondés e Mainardis, meros bonecos de ventríloquo.
É essa falta de cabeças que gera manifestações absurdas, como a defesa de intervenção militar por monoglotas em inglês errado e panelaços (uma manifestação criada por famintos) promovidos nas grandes cidades pela Classe A #chatiada. Por isso Roraima não é um estado de absurdos políticos à toa. Tem a quem puxar. Será o Brasil um país sério?!

terça-feira, 7 de abril de 2015

Sem olhos em Gaza

Olho a estante e ele permanece lá, impávido, há quase 30 anos. Não esta edição, que comprei num sebo em São Paulo há apenas uma década e meia, mas a Obra em si. Nunca concluído desde que o conheci na Biblioteca da Escola Gonçalves Dias, adolescente. Não terminei de ler à época como não terminei de ler em mais seis ou oito tentativas. A verdade é que Sem olhos em Gaza (Aldous Huxley, de quem li quase tudo) me assombra menos pela perspectiva de ser concluído (e ainda será) que por ter influenciado um dos meus primeiros contos de ficção, lá pelos 16 anos, uma novela pretensiosa sobre seres manipulados geneticamente, dilemas bioéticos e as reflexões de um cientista inclinado a protagonista. Quanto ao livro do Huxley, continuo sem olhos para ele.

terça-feira, 10 de março de 2015

RBS defende legalização da maconha

http://diariocatarinense.clicrbs.com.br/sc/geral/noticia/2015/03/opiniao-contra-as-drogas-pela-legalizacao-da-maconha-4713971.html

quarta-feira, 14 de janeiro de 2015

Sociedade Hashtag

Facebook? O que ainda me mantém por ali é o contato com familiares e amigos espalhados pelo mundo. Vejo um maniqueísmo atroz crescer entre os usuários, como se tudo fosse cara e coroa, certo e errado, bom e mau. Jogados uns contra os outros, amizades e relacionamentos derivam num mar de insanidade burguesa, com os traumas de infância enterrados sob torrentes de selfies e autojactância. A inexplicável vaidade, seguida de elogios hipócritas, reifica o rótulo como forma de sobreviver na Sociedade Hashtag: sociedade cínica, sígnica.


Há oito anos, ao perceber que a profusão de comunidades de ódio era maior que as de música, troquei o Orkut pelo Facebook, que parecia uma opção mais interessante, com mais privacidade e sem propaganda. Havia poucos usuários e não precisávamos saber o que fulano comentou na publicação de um estranho, ou se ele segue a página de um banco aonde não tem conta. Hoje, a deliberada espionagem que chamam de propaganda direcionada e a propaganda de cursos de inglês e hebraico apostam no sionismo velado, uma nova revolução cultural para aumentar ainda mais o abismo entre Oriente e Ocidente.

Durante um tempo usei o Twitter. Mas o desafio dos 140 caracteres, que é interessante para escritores, jornalistas e publicitários, virou veículo de agressão fácil. Raciocinar em 140 caracteres pode ser dolorido. Preferem esculhambar. Nada contra, desde que haja justificativa. Defendo a crítica e a opinião embasada ou o silêncio perpétuo. Liberdade de expressão não é liberdade de agressão.

Nas duas redes, paguei pelo crime de pensamento. No Twitter, gente subalterna aos que me elegeram sua nêmesis vociferaram com ódio, manipulados pelos Charles Manson modernos. Queriam importância. Já no Facebook, gente de importância duvidosa como um deputado federal e um ruralista me ameaçaram. Normal, mas não desejo esta guerra. A defesa da ditadura militar, da homofobia, da expropriação de terras indígenas, do aborto e do conceito de família nuclear podem ser admitidas em qualquer espaço, desde que esse espaço dê margem ao diálogo e encerre com mecanismos de regulação de convivência da alteridade.


O episódio do assassinato dos jornalistas da Charlie é emblemático. Dizer que morreram muito mais pessoas na Nigéria, no World Trade Center, na queda da Bastilha ou na Segunda Guerra virou estribilho de um pseudoativismo de ocasião, que mais confunde que explica. Que enxerga na polêmica um combustível para a democracia, mas não reconhece que toda vida é preciosa e ignora que adquiriu esse raciocínio matemático das corporações de comunicação que tanto critica.
 
Somos Charlie, mas também somos a Palestina, a maior prisão do mundo: 5 milhões espremidos em 6 mil quilômetros quadrados. Densidade populacional de 830 pessoas por quilômetro quadrado. Somos Ahmed, o policial assassinado no ataque à Revista, mas também somos o Menino Ali, que perdeu os dois braços num bombardeio ao Iraque por forças americanas. Somos políticos sorridentes e perdulários e somos os telespectadores aviltados em suas concessões ilegais de rádio e televisão.

Somos a arrogante raça humana, que apesar de existir há apenas 150 mil anos, vive num planeta com 4,5 bilhões de anos e no último século dizimou os recursos naturais pelo extrativismo indiscriminado; esburacou a terra atrás de pedras preciosas, carvão mineral, petróleo e ferro; produz veículos de cinco lugares para apenas uma pessoa e lança dióxido de carbono na atmosfera para o deleite das corporações e seus governos marionetes. Somos o garimpeiro da Libéria, o lapidador israelense e a madame Toussard ou Ward ou Iglesias ou Marinho com seu colar de diamantes de sangue.

Somos tudo isso, mas meu direito à tranquilidade não pode ser exterminado pelo seu direito à iniquidade. Minha próxima rede será o Pinterest, onde a vida é fácil e divertida. Mas estas e-pístolas continuam. Há 14 anos online, é um dos blogs mais velhos e menos lidos do mundo. Aqui, na solidão do hipertexto, filtro o mundo por meu olhar. Nada pode ser mais tolo e demasiadamente humano, Mr. Nietzsche. E, francamente, Mr. Shankly, você é um pé no saco. Boa noite, Mr. Waldhein. Quem sair por último apaga a luz.

sábado, 20 de dezembro de 2014

Quadrilha Suprapartidária

Cascadura - O delator
Ao entregar uma quadrilha de 28 políticos de diversos estados e partidos, o ex-diretor de Abastecimento da Petrobras, Paulo Roberto Costa, presta-nos um serviço impagável: revela que no Brasil as siglas partidárias nada significam e que nossos representantes não têm pruridos ideológicos. Desviam, roubam, compram e vendem o país com tranquilidade e paciência. Nessa hora, a música do Cascadura me assalta os tímpanos - no melhor sentido. Leia, veja e escute O delator. O Brasil em cinco minutos.


O Delator
(Fábio Cascadura)

Só digo o que mandam e o que vejo
Só digo o que sei
Apontei o culpado com um beijo
Beijei mais de cem
Quem mais poderia resolver?
Quem mais poderia? Me diga! I’m in love!
Você sabe os detalhes, eu te contei
Esqueça o que eu disse...
Porque eu fiz por bem
Aquilo que eu fiz, foi por bem
E isso fica entre nós
Ninguém precisa saber
Não é confissão
É só porque eu preciso dizer
Na minha forca, o teu nó
Eu deveria saber
Minha língua tem trava, eu não ligo
Eu nem gaguejei
A minha verdade, eu não finjo
Minha voz é lei
Te olho no olho e você não vê
Eu chamo seu nome: meu bem, I’m in love!
Te disse, você sabe, eu te contei
E esqueça o que eu disse
Porque eu fiz por bem
Aquilo que eu fiz, foi por bem
Isso fica entre nós
Ninguém precisa saber
Não é confissão
É só porque eu preciso dizer
Na minha forca, o teu nó
Alguém tinha que sofrer

sexta-feira, 19 de dezembro de 2014

A doença da "normalidade"

Uma doença que se alastra no universo acadêmico, mas principalmente nas relações humanas. Quando o direito à alteridade é confundido com antipatia; amor com submissão; público com privado; ensino com educação. 
Vale a pena ler o texto de Renato Santos de Souza no Pragmatismo Político.  Uma análise lúcida sobre o reinado do quantitativismo no governo da papercracia.


quinta-feira, 4 de dezembro de 2014


Copenhague - A sobriedade é o que mais chama atencao na capital da Dinamarca. Nao há asfalto e os calcamentos privilegiam os pedestres e os ciclistas. As ciclovias cobrem todo o centro da cidade, onde podemos observar uma arquitetura sem os rococós belgas e holandeses - lindos, claro. A cidade resolveu ser mais Bauhaus.


A sobriedade, porem, acaba aí. København é repleta de bares, lojas de conveniências e restaurantes com bebidas locais, cervejas norueguesas, drinks caribenhos e as noites ficam repletas de bebados felizes. Sem falar de Chirstiania, um distrito independente coim legislacao propria que acolhe hippies desde o historico Festival de 1971. Cheech, digo Cheers!

terça-feira, 2 de dezembro de 2014


Amsterdam - As bicicletas têm preferência sobre os bondes, Os bondes têm preferência sobre os carros. E os pedestres, ou seja, as PESSOAS têm preferência sobre todos os demais meios de transporte. Na América privilegiamos grandes rodovias, ruas largas e estacionamentos em louvor aos carros, grandes pedacos de lata pesadíssimos que passam entre nós em alta velocidade e matam 50 mil pessoas por ano em países como o Brasil.

domingo, 30 de novembro de 2014

As Luzes

Bruxelas - A Grand Place iluminada com as luzes de Natal. Um espetaculo de luzes e som inesquecivel. 
Existem cidades belas em todo o mundo. 
Mas Bruxelas exagerou. 
Um païs socialista.

sábado, 22 de novembro de 2014

Puerto Evo Morales


Puerto Evo Morales O sol se põe em um lugar na Amazônia boliviana esquecido por Deus, mas não pelo presidente indígena mais popular do continente. Originalmente constituída como Puerto Montevideo, a pequena vila foi totalmente destruída num incêndio em 1997 e depois reerguida pela Defesa Civil, num trabalho coordenado pessoalmente por Evo Morales. Os moradores, agradecidos, rebatizaram a nova cidade - uma corrutela de ruas de barro umedecidas pela chuva constante - com o nome do presidente.Separada de Plácido de Castro (AC) por uma frágil ponte de madeira sobre o rio Abunã que se atravessa em 20 passos, oferece roupas e eletrônicos, mas os preços estão caros graças à queda do Real (a moeda circulante) diante do Dólar.
A flutuação do câmbio afugentou turistas e sacoleiros, mas Morales já tem um plano para revolucionar o pequeno distrito da Província de Cochabamba. No ano que vem, funda uma escola de Medicina e Odontologia com mensalidades entre 500 e 700 reais. Nada mal para os acreanos de Rio Branco, que pagam R$ 8 mil todos os meses para adquirir o diploma de médico no único curso particular do Estado
.

sexta-feira, 21 de novembro de 2014

Sobre educação, bárbaros e intelectuais suicidas

Rio Branco - No dia 18 de outubro deste ano a técnica de laboratório Célia Regina Leal Bezerra desistiu da vida. Há 14 anos ela lutava judicialmente contra a Universidade de São Paulo, numa ação de assédio moral que teve origem 20 anos antes, assim que ela entrou na USP. 

Ativista dos direitos humanos, Regina Célia estudava Direito e foi a primeira a ganhar um processo desse tipo, em agosto de 2011, mesmo ano em que Antonio Calvo, professor de língua espanhola na Universidade de Princeton, se matou. Depois de passar por uma Avaliação Institucional em que professores e alunos lhe deram notas mínimas, foi demitido. Três dias depois, cometeu suicídio.

Três outubros antes de Regina Célia, o professor Sandro Costa e Silva saltou do 11o andar de um prédio da Universidade Federal do ABC. Em seu blog, a última postagem: 
"É hora de fechar este blog: eu não sei mais escrever. Ontem cheguei ao fundo do poço. No começo do dia encarei o abismo por longos minutos, decidindo se dava um passo à frente ou não, depois vaguei o dia todo a pé sem rumo, sem lugar para ir e sem praticamente falar com qualquer pessoa, só para terminar o dia muito cansado."
Os bastidores das universidades brasileiras são sórdidos. Professores produtivos são perseguidos e não recebem apoio para seu trabalho. Núcleos de pesquisa que não pesquisam e cargos são negociados em troca de apoio político. Alunos bolsistas são usados como massa de manobra, delatores, espiões. 

No último 18 de outubro, depois de uma reunião na reitoria em que soube que mais uma vez a universidade recorreria da sentença, Regina foi até o laboratório e ingeriu uma dose mortal de arsênico. Quem assistiu ao filme Rainha Margot sabe como essa substância causa morte dolorosa, por forte hemorragia. A Associação dos Servidores da USP escreveu sobre o caso e deu nome aos bois. 

Visitei o Facebook de Regina Célia e vi que temos dois amigos em comum. Ambos professores, combativos, ativistas, gente que não se curva aos desmandos dos que desmantelam o ensino público. A resistência a esse modelo perverso não recua. 

As mortes de professores são o atestado de que a universidade pública fom oi inicialmente contaminada, invadida, dominada pela barbárie. E intelectuais não sabem lidar cm bem os bárbaros. Acreditam nas diferenças e no diálogo. Não na clava e no apedrejamento. 

A última publicação de Regina Célia foi quatro dias antes de sua morte. Era um convite. Aqui está republicado o cartaz que não precisa de comentários.
“Todos conhecem a verdade das práticas científicas
e todos continuam a fingir não saber e a acreditar que isso
se passa de outro modo” (Pierre Bourdieu, 2004)

sexta-feira, 14 de novembro de 2014

Audiência

Hoje alguém leu este blog na Indonésia. Foi o leitor 92.815 em 12 anos de e-pístolas.
Provavelmente não sou nenhum sucesso de público. E fico curioso sobre que tema pode ter atraído os 413 acessos da Alemanha; os 113 da Holanda e os 4.269 dos Estados Unidos.

segunda-feira, 10 de novembro de 2014

Família?

Uma enquete pública na Câmara Federal quer estabelecer o conceito nuclear de família como o único aceitável no Brasil. Como não é possível discutir o conceito de família na contemporaneidade com esses retrógrados sem projetos, simplesmente vote NÃO. Famílias são compostas de diversas formas: mães solteiras; pais solteiros; dois pais; duas mães... Há famílias formadas por pais e mães que se casam e reúnem todos os filhos com o nascimento de um irmãozinho e assim por diante. Vote contra. Neste momento, o NÃO vence com 51.09 % (1.733.507 votos). O SIM perde com 48.6 % (1.648.782 votos).  VOTO NÃO!

sábado, 1 de novembro de 2014

Amsterdam - Um lugar onde as pessoas nao se preocupam com maquiagem, chapinha, carroes e aparencias. Em que se anda de madrugada sem medo. Em que todas as tribos sao aceitas sem preconceito. A cidade mais cosmopolita do mundo eh uma licao para certas provincias.

terça-feira, 19 de agosto de 2014

Sobre o tempo

O tempo passa, relógios derretem, as folhas caem, cabelos branqueiam, amigos morrem, surgem novos amigos, nascem filhos e netos. Mudamos de casa, de cidade, de região, de país, de aparência, de carro, de moda. Amores vêm e vão e voltam. O tempo é implacável e ilusório. Modifica as pessoas apenas externamente. Envelhecemos por fora enquanto nossa criança interior permanece a mesma. Olhamos o céu à noite e vemos o passado na forma de luz, enquanto o planeta gira e se afasta cada vez mais, numa corrida infinita pelo universo. Insignificantes e precários e efêmeros, cultivamos nossos defeitos com zelo, esperando compreensão, compaixão, respeito e outros sinônimos para o amor, este inexplicável sentimento com sístole e diástole; esse isótopo radioativo cuja meia-vida desconhecemos. O tempo ilusório mas implacável, agita oceanos, redesenha desertos, dissolve montanhas e a cada nascer do sol, tira-nos mais um dia de vida. Talvez isso explique porque buscamos, às vezes esbarramos e não percebemos ou simplesmente nos deparamos com essa sensação vital. E nada pior desperdiçá-la. All we need is love. E não temos tempo a perder.

segunda-feira, 9 de junho de 2014

Brasília, Boa Vista, Manaus e São Luís - A política é uma arena onde ingressamos com nosso modelo de mundo ideal e a mais nobre das armas para conquistá-lo: a palavra.

Com ela expressamos a visão de mundo mais ética, correta e democrática que existe: a nossa. Nesta arena, descobrimos muitas outras visões éticas, corretas e democráticas, embora bem diferentes da nossa. E somos obrigados a avaliar pela lente do eu o que vem do outro.

Aos poucos, o processo de negociação sugere, altera e finalmente dilui nossas propostas até que fechamos um acordo repleto de cláusulas (causas?) que jamais pensaríamos defender. Ao recuarmos de nossas posições originais e nos rendermos à maioria em torno de uma pretensa unidade, verificamos o quanto os avanços sociais são freados por esse processo sobremaneira lento.

Um processo que exigirá muitos reparos ao longo dos anos. Reparos que serão propostos por especialistas que se fossem ouvidos no princípio, tornariam a arena desnecessária. Não que a arena seja sempre dispensável, o todo da população precisa ser ouvido em questões essenciais que digam respeito à vida digna, o direito ao trabalho, saúde e educação. Mas talvez a definição de política como a "Arte do possível" seja imprecisa. Ou limitada a poucos afortunados.

quarta-feira, 28 de maio de 2014

Military Madness

'E depois que as guerras tiverem terminado, e a contagem dos corpos estiver organizada, eu espero que o Homem descubra o que está tornando as pessoas selvagens'.


Military Madness - Graham Nash

terça-feira, 13 de maio de 2014




“Sinto falta da possibilidade de conversar com o senhor. Espero que esteja bem e tranquilo. Nas minhas melhores horas eu também estou e procuro fazer justiça em toda as coisas. Certamente que existe aí uma coisa certa, um germe de algo social e historicamente necessário, só que a roupagem fio em parte roubada, e está em parte desoladamente relaxada e desbotada.”

(Thomas Mann em carta a Herman Hesse, Junho de 1933)

Guerra fria