domingo, 26 de julho de 2015

Um poema

Não digo adeus 
Eduardo Galeano
 
Em 1872, por ordem do presidente do Equador, Manuela León foi fuzilada. Em sua presença, o presidente chamou Manuela de Manuel, para não deixar registro de que um cavalheiro como ele estava mandando uma mulher para o paredão, embora fosse uma índia bruta.
Manuela havia alvoroçado terras e povoados e havia alçado a indiada contra o pagamento de tributos e contra o trabalho servil. E como se tudo isso fosse pouco, havia cometido a insolência de desafiar para um duelo o tenente Vallejo, oficial do Governo, diante dos olhos atônitos dos soldados, e em campo aberto a espada dele tinha sido humilhada pela lança dela.
Quando este último dia chegou, Manuela enfrentou o pelotão de fuzilamento sem venda nos olhos. E perguntada se tinha algo a dizer, respondeu, em sua língua:
- Manapi (Nada)

sábado, 25 de julho de 2015

Eduardo Galeano

Faz pouco mais três meses, deixou-nos Eduardo Galeano, o mestre uruguaio que dedicou a vida a retratar o continente latino-americano sob uma perspectiva histórico-humanista como poucos conseguiram fazer. Texto econômico, jornalismo de profundidade, maestria acadêmica lhe caracterizavam. Era capaz de falar sobre qualquer coisa, desde que tivesse importância suficiente para desestabilizar os inertes e deleitar seus muitos fãs com análises precisas sobre sociedade, consumo, política, história. Seu legado permanece. Poucos seres humanos reuniram tantas qualidades ignoradas. Não troco minha vida por nenhuma outra: repleta de aventuras, viagens, paisagens e amigos que me fazem vivo e relevante. Trabalho com a palavra e não conseguiria fazer outra coisa. Tenho poucos desejos, porque estes são sofrimento. Mas um dia espero escrever como Galeano.

quarta-feira, 22 de julho de 2015

Brasília - Indignado com a morte de seu Rafael, que meu pai conheceu há 50 anos na fronteira norte, um vindo do maranhão, outro do Rio Grande do Norte. Atuaram na mineração artesanal na Venezuela e na Guiana, instalaram-se no bairro São Francisco em Boa Vista. Quando sua mulher deu sinais de que iria entrar em trabalho de parto, fretou um pequeno avião em Ourinduque e foi até Georgetown, Guyana, onde nasceu meu amigo Rubem Leite, que conheço de toda a vida. Rubinho é pai do Lucas, que é amigo da Nagisa, minha filha; assim como meu filho Liu é amigo do seu filho Mateus. Hoje, nossas netas Jasmim e Ísis já são amiguinhas. Famílias amigas há quatro gerações. Que os criminosos não fiquem impunes. Que a Polícia Civil faça bem seu trabalho e entregue os assassinos deste homem forte e trabalhador que escolheu viver perto da natureza.

terça-feira, 21 de julho de 2015

Pátria Educadora

Brasília - Permaneço como delegado no Comando Nacional de Greve pela Seção Sindical Dos Docentes Da Ufrr até 1 de agosto. Mandato confiado por companheiros de todo o Brasil que consideraram as peculiaridades regionais e distâncias continentais que caracterizam nosso imenso país. Represento, com responsabilidade, 571 professores efetivos e um sem-número de substitutos da UFRR. Minha ideologia é bem limitada: educação, política e liberdades individuais. Por isso o Andes-SN não é apenas meu sindicato. É meu time de futebol e meu partido político. Amanhã estaremos ao lado de 5 mil servidores da União numa grande marcha em Brasília. Por uma pátria que faça jus ao título de "Educadora".

quarta-feira, 15 de julho de 2015

Cinema

"Por que nos sentávamos tão perto? Provavelmente porque queríamos ser os primeiros a receber as imagens que chegavam, quando elas estavam ainda novas, ainda frescas, antes que saltassem para as fileiras seguintes. Antes que se espalhassem de fila em fila, de espectador em espectador, até que se esgotassem, em segunda mão, do tamanho de um selo e voltassem para a cabine do projetista."
Os pensamentos de Matthew (Michael Pitt) foram escritos por Gilbert Adair com base num provável estado de graça. Mas ao fazer a câmera despencar da Torre Eiffel ao som de 3rd stone from the sun (Jimi Hendrix), Bernardo Bertolucci mostra que seu maior barato é desafiar a literatura.

domingo, 12 de julho de 2015

Bola ao cesto


Boa Vista - Já temos dois campeões brasileiros na NBA: Leandro Barbosa e Gustavo Splitter. Na próxima temporada estreiam Cristiano Felício (que assinou hoje com o Chicago Bulls) e Raul Neto, que jogará pelo Utah Jazz, time que não anda bem das pernas desde o fim da era Malone-Stockton no começo dos 1990. 
Sou fã de basquete desde que me entendo por gente e não conheço esporte mais emocionante, estratégico, veloz, aéreo. O Brasil já foi uma potência do basquete, mas nos últimos anos, por força de uma Mídia comprometida e de uma sociedade indiferente, parece que praticamos apenas um esporte coletivo. Enquanto o primeiro é jogado com a cabeça, o segundo é conhecido por tirar meninos das escola
Sim, o Brasil já foi uma potência do basquete. Nossa seleção masculina estreou em 1922: antes do rádio! O Brasil foi vice-campeão mundial em 1954; campeão mundial em 1959 e em 1963, quando derrotamos os EUA por 85 a 81. Os ex-jogadores, treinados pelo lendário Kanela, ainda se encontram uma vez por ano.
Nas Olimpíadas, temos uma medalha de prata e quatro de bronze, além de outras quatro semifinais. Em Jogos Pan-Americanos, temos Medalha de Prata em 1963 e Medalha de Bronze em 1951, 1955 e 1959. Em 1970 conquistamos o vice-campeonato mundial. Em 1971, vencemos o Pan-Americano de Bogotá. Temos medalha de Bronze nos Jogos Olímpicos de 1960 e de ouro no Sul-Americano em 1959, 1960, 1961, 1963 e 1971. Ubiratan, "o rei do tapinha", foi nosso primeiro jogador a atuar no exterior, pelo Sprungen, da Itália. Foi eleito para o Basketball Hall of Fame da FIBA há cinco anos.
Em 1985, detonamos os EUA no pan-americano por 120 a 115, com brilhante atuação de Oscar Schmidt, considerado o maior pontuador deste esporte, com cerca de 49,7 mil pontos. Oscar já media 1,85 metro aos 13 anos. Foi campeão brasileiro e sul-americano inúmeras vezes. Jogou onze temporadas na Itália (algumas com o Joe, pai de Kobe Bryant) e outras duas na Espanha. Não ingressou na NBA porque até 1989 a liga não permitia que estrangeiros atuassem por suas seleções. Oscar pertence a dois Basketball Hall of Fame: da FIBA e da NBA, mesmo sem ter jogado nos EUA.
Em 1994, nossa seleção feminina ganhou o campeonato mundial. Dois anos depois, foi medalha de prata na Olimpíada de Atlanta. No sul-americano ganhamos medalha de ouro "apenas" em 1954, 1958, 1965, 1967, 1968, 1970, 1972, 1974, 1978, 1981, 1986, 1989, 1991, 1993, 1995, 1997, 1999, 2001, 2003, 2005, 2006, 2008, 2010, 2013 e 2014.
Cabem algumas perguntas: Por que o Ministério dos Esportes não investe no nosso basquete? Por que as grandes empresas não financiam o Novo Basquete Brasileiro? Por que não vemos notícias sobre esse esporte nas principais emissoras de TV aberta? Por que as quadras são tão poucas nas cidades e as que existem estão deterioradas?
No basquete, tudo pode mudar numa fração de segundos. É o mais competitivo e equilibrado (por conta dos tempo restrito de ataque) dos esportes coletivos. Pratiquei na escola e acompanho o que posso, da NBA à NBA; da Euroliga às peladas no Complexo Ayrton Senna. Infelizmente, pouco significa no Brasil contemporâneo, da uniformidade religiosa, cultural e política que nos esmaga.
O futebol brasileiro, corrompido e cheio de mazelas, programado para ter os mesmos campeões ano após ano, é nossa aposta equivocada de unidade nacional: nos identificamos com nossos craques semi-analfabetos; com cartolas mafiosos e com o jabaculê midiático que promove jogadores folgados e incapazes. Nosso futebol foi eliminado (7 a 1!) em casa pela Alemanha no ano passado e defenestrado há poucas semanas da Copa América pelo Paraguai. E ainda nos achamos os tais. Infelizmente, o Brasil continua a falhar gravemente em todos os campos. E em todas as quadras.

sábado, 11 de julho de 2015

Capitalistas

Brasília - A pobreza não é apenas de caráter, mas também de conhecimento e de... grana. Liberais contemporâneos são produzidos em linha de montagem, mas como bons replicantes (ah, essa polissemia), se consideram originais. Para Isaac Asimov, falta-lhes alma. Para Walter Benjamin, falta-lhes aura. Para socialistas convictos, alguma cultura e vergonha na cara.

sexta-feira, 10 de julho de 2015

Brasília - O cerco se fecha. Universidade Federal de Ouro Preto deflagra greve em três dias. Será a IFE número 42 a paralisar suas aulas. E aí, UFMG, que tal seguir o exemplo que vem do interior?
Brasília - O Ministério da Educação, cercado por edifícios militares na Esplanada, é uma triste alegoria sobre como o livre pensar está constantemente cercado pela repressão.
Brasília - Amanhece no Planato Central. Por enquanto, 17 graus, mas o dia promete ser quente, literal e figurativamente. A luta do ANDES-SN com o governo já se tornou um caso cabalístico e numerológico: Completamos 41 dias em greve, com 41 universidades e institutos federais sem aulas. A resposta do Executivo foi conceder aumentos de 61 por cento para o Legislativo e 72 por cento para o Judiciário. Aos professores, ofereceu 21 por cento para os próximos quatro anos. Isso é caso de polícia. Federal. ‪#‎patriaeducadorasqn‬

quarta-feira, 8 de julho de 2015

Enquanto o cone sul (Chile, Uruguai e Argentina) avança socialmente, elegemos pentecostais homofóbicos e racistas; enquanto lá as greves são iniciadas por estudantes, aqui professores furam greve com ajuda de alunos; Enquanto torturamos e matamos adolescentes infratores, países mais civilizados protegem suas crianças com educação universal. E sobre a questão das drogas, o óbvio nunca parece fazer sentido por aqui: "Podemos negar que, quando os jovens usam maconha e não podem cultivá-la devem recorrer ao tráfico para comprá-la, abrindo a porta para drogas mais pesadas como a cocaína e a pasta base? Todos nós sabemos que isso acontece, e quem não sabe provavelmente precisa ir mais às ruas" (Deputada chilena Camila Vallejo).

Por que os banqueiros não aparecem?

"O salário do servidor público não está na internet? Por que os detentores da dívida não estão? Nós temos que criar uma campanha nacional para saber quem é que está levando vantagem em cima do Brasil e provocando tudo isso."

terça-feira, 7 de julho de 2015

A imagem é horrível, mas este é o melhor momento para limpar a timeline de gente violenta. Os comentários estão disponíveis. Mas ao invés de me fazer perder tempo excluindo quem é favorável a esta barbaridade, faça a gentileza de sair por conta própria. Não me siga. Afinal, defendo os direitos humanos e isso inclui de criminosos famélicos como este até os parlamentares canalhas que as 'pessoas de bem' gostam de reeleger. Todos têm direito a um julgamento justo. Ninguém pode admitir a tortura. Ninguém tem direito de fazer justiça com as próprias mãos. A Idade Média acabou em 1453.

segunda-feira, 6 de julho de 2015

Café a Manhã Sindicial. É agora na UFRR. Depois de renovar as forças com cafezinho tem caminhada no Campus. Professores fura-greve e pelegos de toda ordem, correi para as montanhas. Se querem ser professores, lutem pela educação ou tornem-se personæ non gratæ. Traidores da própria classe não são dignos de indulgência.

domingo, 5 de julho de 2015

Em Brasília, é cada vez mais evidente o Efeito House of Cards: com greves em vários setores do governo, corrupção arraigada e sérias ameaças de impeachment, Dilma Rousseff sai do Brasil por uma semana e deixa o cargo com Michel 'Underwood' Temer. Este já declarou que a presidenta não corre nenhum risco. Kevin Spacey ficaria orgulhoso. A vida imita a arte.

sábado, 4 de julho de 2015

Boa Vista - Sobre futuros exilados: este novo Brasil conservador, violento, religioso e ignorante é resultado de uma sociedade que faz questão de demonstrar em seus automóveis, na moral adquirida e na espúria e manipuladora programação da TV, que a educação tem importância mínima. Essa guinada à direita e o pentecostalismo unido à Bancada da Bala prognosticam nossa reentrada na década de 1970. Com adolescentes pobres na cadeia, um livro sagrado que explica tudo e Regina Casé vendendo cultura no domingo, vai ser difícil salvar a nossa violentada, mas ainda de pé, educação pública
www.youtube.com/watch?v=7wL9NUZRZ4I

Sim, continuo a ouvir The Next Day, do David Bowie e sim, aquele site de letras com nome de inseto continua a usar o google translator. Dedicada a amigos expatriados; ex-expatriados; repatriados e a futuros exilados.
O AMOR ESTÁ PERDIDO
Esta é a hora mais escura, você tem 22
A voz da juventude, a hora do pavor
É a hora mais escura e sua voz é nova
O amor está perdido. Perdido é o amor
Seu país é novo. Seus amigos são novos
Sua casa e até mesmo seus olhos são novos
Sua empregada é nova e seu sotaque também
Mas seu medo é tão antigo quanto o mundo
Diga adeus às emoções da vida
Quando o amor era bom
Quando o amor era ruim
Diga adeus à uma vida sem dor
Diga olá, você é uma garota linda
Diga olá para os lunáticos
Conte-lhes seus segredos
Eles são um túmulo
Oh, o que você fez, oh o que você fez
O amor está perdido. Perdido é o amor
Você sabe tanto, que isto lhe faz chorar
Você se recusa a falar, mas pensa como louca
Você se livrou de sua alma e de sua face pensativa
Oh, o que você fez, oh o que você fez
Oh, o que você fez, oh o que você fez?

segunda-feira, 29 de junho de 2015

No final dos anos 90 ouvíamos uma série de bandas que misturava soul, jazz e techno para uma turma que ainda curtia Nirvana, Beck e Chico Science. O som multifacetado que chamávamos de jazz-rap fazia a cabeça da chamada Geração X, os últimos jovens do milênio, nascidos na virada dos 60 para os 70, turma que se encontrava para trocar ideias sobre música, livros, cinema, minorias e o algo mais, num tempo em que a internet não tinha a menor graça e não se cogitava o sucesso a qualquer preço. A fusion defendida pela Geração X se estendeu da música para as artes e logo implodiria os velhos conceitos de tribo, num big bang reverso que absorveria para sempre detritos culturais e ideológicos de décadas passadas, exauridos de sua aura e jogados no caldeirão que gerou a Cultura Smiley e todo aquele êxtase tomado nos anos 2000, quando o Verão do Apito já era uma distante lembrança. Ali, na fenda entre dois milênios, o jazz-rap virou acid jazz e depois desapareceRIA PARA SEMPRE. Ficaram os CDs do Jamiroquai, do US3 e do Digable Planets. Mas o que eu mais curtia na época era um cara chamado James Taylor e seu quarteto, que... ok, you've got a friend.

quarta-feira, 6 de maio de 2015

Panelaço Classe A

Boa Vista - Sim, todos temos preconceitos, mas a realidade é inegável em algumas circunstâncias. Temer pentecostais, torcidas de futebol organizadas e conservadores faz sentido porque são grupos dedicados mais ao ódio do outro que às próprias ideologias: conceitos morais que pretendem universalizar, embora a maioria desconheça o termo.
Não quero irritar ninguém (pelo menos 20 'amigos' de Facebook já me excluíram por conta de minhas opiniões. #vácomdeus), mas quando afirmo que o último intelectual de direita vivo é Delfim Netto é porque considero Arthur Gianotti seu áulico e Olavos, Azevedos, Pondés e Mainardis, meros bonecos de ventríloquo.
É essa falta de cabeças que gera manifestações absurdas, como a defesa de intervenção militar por monoglotas em inglês errado e panelaços (uma manifestação criada por famintos) promovidos nas grandes cidades pela Classe A #chatiada. Por isso Roraima não é um estado de absurdos políticos à toa. Tem a quem puxar. Será o Brasil um país sério?!

terça-feira, 7 de abril de 2015

Sem olhos em Gaza

Olho a estante e ele permanece lá, impávido, há quase 30 anos. Não esta edição, que comprei num sebo em São Paulo há apenas uma década e meia, mas a Obra em si. Nunca concluído desde que o conheci na Biblioteca da Escola Gonçalves Dias, adolescente. Não terminei de ler à época como não terminei de ler em mais seis ou oito tentativas. A verdade é que Sem olhos em Gaza (Aldous Huxley, de quem li quase tudo) me assombra menos pela perspectiva de ser concluído (e ainda será) que por ter influenciado um dos meus primeiros contos de ficção, lá pelos 16 anos, uma novela pretensiosa sobre seres manipulados geneticamente, dilemas bioéticos e as reflexões de um cientista inclinado a protagonista. Quanto ao livro do Huxley, continuo sem olhos para ele.

terça-feira, 10 de março de 2015

RBS defende legalização da maconha

http://diariocatarinense.clicrbs.com.br/sc/geral/noticia/2015/03/opiniao-contra-as-drogas-pela-legalizacao-da-maconha-4713971.html

quarta-feira, 14 de janeiro de 2015

Sociedade Hashtag

Facebook? O que ainda me mantém por ali é o contato com familiares e amigos espalhados pelo mundo. Vejo um maniqueísmo atroz crescer entre os usuários, como se tudo fosse cara e coroa, certo e errado, bom e mau. Jogados uns contra os outros, amizades e relacionamentos derivam num mar de insanidade burguesa, com os traumas de infância enterrados sob torrentes de selfies e autojactância. A inexplicável vaidade, seguida de elogios hipócritas, reifica o rótulo como forma de sobreviver na Sociedade Hashtag: sociedade cínica, sígnica.


Há oito anos, ao perceber que a profusão de comunidades de ódio era maior que as de música, troquei o Orkut pelo Facebook, que parecia uma opção mais interessante, com mais privacidade e sem propaganda. Havia poucos usuários e não precisávamos saber o que fulano comentou na publicação de um estranho, ou se ele segue a página de um banco aonde não tem conta. Hoje, a deliberada espionagem que chamam de propaganda direcionada e a propaganda de cursos de inglês e hebraico apostam no sionismo velado, uma nova revolução cultural para aumentar ainda mais o abismo entre Oriente e Ocidente.

Durante um tempo usei o Twitter. Mas o desafio dos 140 caracteres, que é interessante para escritores, jornalistas e publicitários, virou veículo de agressão fácil. Raciocinar em 140 caracteres pode ser dolorido. Preferem esculhambar. Nada contra, desde que haja justificativa. Defendo a crítica e a opinião embasada ou o silêncio perpétuo. Liberdade de expressão não é liberdade de agressão.

Nas duas redes, paguei pelo crime de pensamento. No Twitter, gente subalterna aos que me elegeram sua nêmesis vociferaram com ódio, manipulados pelos Charles Manson modernos. Queriam importância. Já no Facebook, gente de importância duvidosa como um deputado federal e um ruralista me ameaçaram. Normal, mas não desejo esta guerra. A defesa da ditadura militar, da homofobia, da expropriação de terras indígenas, do aborto e do conceito de família nuclear podem ser admitidas em qualquer espaço, desde que esse espaço dê margem ao diálogo e encerre com mecanismos de regulação de convivência da alteridade.


O episódio do assassinato dos jornalistas da Charlie é emblemático. Dizer que morreram muito mais pessoas na Nigéria, no World Trade Center, na queda da Bastilha ou na Segunda Guerra virou estribilho de um pseudoativismo de ocasião, que mais confunde que explica. Que enxerga na polêmica um combustível para a democracia, mas não reconhece que toda vida é preciosa e ignora que adquiriu esse raciocínio matemático das corporações de comunicação que tanto critica.
 
Somos Charlie, mas também somos a Palestina, a maior prisão do mundo: 5 milhões espremidos em 6 mil quilômetros quadrados. Densidade populacional de 830 pessoas por quilômetro quadrado. Somos Ahmed, o policial assassinado no ataque à Revista, mas também somos o Menino Ali, que perdeu os dois braços num bombardeio ao Iraque por forças americanas. Somos políticos sorridentes e perdulários e somos os telespectadores aviltados em suas concessões ilegais de rádio e televisão.

Somos a arrogante raça humana, que apesar de existir há apenas 150 mil anos, vive num planeta com 4,5 bilhões de anos e no último século dizimou os recursos naturais pelo extrativismo indiscriminado; esburacou a terra atrás de pedras preciosas, carvão mineral, petróleo e ferro; produz veículos de cinco lugares para apenas uma pessoa e lança dióxido de carbono na atmosfera para o deleite das corporações e seus governos marionetes. Somos o garimpeiro da Libéria, o lapidador israelense e a madame Toussard ou Ward ou Iglesias ou Marinho com seu colar de diamantes de sangue.

Somos tudo isso, mas meu direito à tranquilidade não pode ser exterminado pelo seu direito à iniquidade. Minha próxima rede será o Pinterest, onde a vida é fácil e divertida. Mas estas e-pístolas continuam. Há 14 anos online, é um dos blogs mais velhos e menos lidos do mundo. Aqui, na solidão do hipertexto, filtro o mundo por meu olhar. Nada pode ser mais tolo e demasiadamente humano, Mr. Nietzsche. E, francamente, Mr. Shankly, você é um pé no saco. Boa noite, Mr. Waldhein. Quem sair por último apaga a luz.

sábado, 20 de dezembro de 2014

Quadrilha Suprapartidária

Cascadura - O delator
Ao entregar uma quadrilha de 28 políticos de diversos estados e partidos, o ex-diretor de Abastecimento da Petrobras, Paulo Roberto Costa, presta-nos um serviço impagável: revela que no Brasil as siglas partidárias nada significam e que nossos representantes não têm pruridos ideológicos. Desviam, roubam, compram e vendem o país com tranquilidade e paciência. Nessa hora, a música do Cascadura me assalta os tímpanos - no melhor sentido. Leia, veja e escute O delator. O Brasil em cinco minutos.


O Delator
(Fábio Cascadura)

Só digo o que mandam e o que vejo
Só digo o que sei
Apontei o culpado com um beijo
Beijei mais de cem
Quem mais poderia resolver?
Quem mais poderia? Me diga! I’m in love!
Você sabe os detalhes, eu te contei
Esqueça o que eu disse...
Porque eu fiz por bem
Aquilo que eu fiz, foi por bem
E isso fica entre nós
Ninguém precisa saber
Não é confissão
É só porque eu preciso dizer
Na minha forca, o teu nó
Eu deveria saber
Minha língua tem trava, eu não ligo
Eu nem gaguejei
A minha verdade, eu não finjo
Minha voz é lei
Te olho no olho e você não vê
Eu chamo seu nome: meu bem, I’m in love!
Te disse, você sabe, eu te contei
E esqueça o que eu disse
Porque eu fiz por bem
Aquilo que eu fiz, foi por bem
Isso fica entre nós
Ninguém precisa saber
Não é confissão
É só porque eu preciso dizer
Na minha forca, o teu nó
Alguém tinha que sofrer

sexta-feira, 19 de dezembro de 2014

A doença da "normalidade"

Uma doença que se alastra no universo acadêmico, mas principalmente nas relações humanas. Quando o direito à alteridade é confundido com antipatia; amor com submissão; público com privado; ensino com educação. 
Vale a pena ler o texto de Renato Santos de Souza no Pragmatismo Político.  Uma análise lúcida sobre o reinado do quantitativismo no governo da papercracia.


quinta-feira, 4 de dezembro de 2014


Copenhague - A sobriedade é o que mais chama atencao na capital da Dinamarca. Nao há asfalto e os calcamentos privilegiam os pedestres e os ciclistas. As ciclovias cobrem todo o centro da cidade, onde podemos observar uma arquitetura sem os rococós belgas e holandeses - lindos, claro. A cidade resolveu ser mais Bauhaus.


A sobriedade, porem, acaba aí. København é repleta de bares, lojas de conveniências e restaurantes com bebidas locais, cervejas norueguesas, drinks caribenhos e as noites ficam repletas de bebados felizes. Sem falar de Chirstiania, um distrito independente coim legislacao propria que acolhe hippies desde o historico Festival de 1971. Cheech, digo Cheers!

terça-feira, 2 de dezembro de 2014


Amsterdam - As bicicletas têm preferência sobre os bondes, Os bondes têm preferência sobre os carros. E os pedestres, ou seja, as PESSOAS têm preferência sobre todos os demais meios de transporte. Na América privilegiamos grandes rodovias, ruas largas e estacionamentos em louvor aos carros, grandes pedacos de lata pesadíssimos que passam entre nós em alta velocidade e matam 50 mil pessoas por ano em países como o Brasil.

domingo, 30 de novembro de 2014

As Luzes

Bruxelas - A Grand Place iluminada com as luzes de Natal. Um espetaculo de luzes e som inesquecivel. 
Existem cidades belas em todo o mundo. 
Mas Bruxelas exagerou. 
Um païs socialista.

sábado, 22 de novembro de 2014

Puerto Evo Morales


Puerto Evo Morales O sol se põe em um lugar na Amazônia boliviana esquecido por Deus, mas não pelo presidente indígena mais popular do continente. Originalmente constituída como Puerto Montevideo, a pequena vila foi totalmente destruída num incêndio em 1997 e depois reerguida pela Defesa Civil, num trabalho coordenado pessoalmente por Evo Morales. Os moradores, agradecidos, rebatizaram a nova cidade - uma corrutela de ruas de barro umedecidas pela chuva constante - com o nome do presidente.Separada de Plácido de Castro (AC) por uma frágil ponte de madeira sobre o rio Abunã que se atravessa em 20 passos, oferece roupas e eletrônicos, mas os preços estão caros graças à queda do Real (a moeda circulante) diante do Dólar.
A flutuação do câmbio afugentou turistas e sacoleiros, mas Morales já tem um plano para revolucionar o pequeno distrito da Província de Cochabamba. No ano que vem, funda uma escola de Medicina e Odontologia com mensalidades entre 500 e 700 reais. Nada mal para os acreanos de Rio Branco, que pagam R$ 8 mil todos os meses para adquirir o diploma de médico no único curso particular do Estado
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Guerra fria