sexta-feira, 6 de maio de 2016

Mudanças sociais não surgem da massa em sua eterna espera de comando, de direção. Surgem de um pequeno grupo de pessoas, ideias e vozes. Gente que se dedica a melhorar a vida dos que ignoram, criticam ou atacam a vanguarda. Mudanças sociais não devem ser confundidas com convulsões sociais.

quinta-feira, 5 de maio de 2016

Hoje é Dia da Língua Portuguesa. Dia da sonora, romântica, proparoxítona, musical, rica língua portuguesa, quinto maior idioma do mundo, com 280 milhões de falantes. São pelo menos 10 milhões (!) de palavras. Insondável idioma. Língua é pátria, não é umbigo. Essa visão coxinha de identidade nacional, que atinge todos os estratos, de políticos a cientistas; de artistas a religiosos; de poetas a escritores, é confete auto-indulgente. PAREM JÁ COM ISSO! A grandeza da pátria não é medida em cores, metros quadrados, linhas imaginárias, esse misto de ingenuidade e canalhice que manipuladores na política, nas artes, nos meios de comunicação chamam de patriotismo. Pátria é outra coisa. Valorizar a língua portuguesa é valorizar o ouvido. Não é valorizar o umbigo. Chega desse comportamento obsequioso, alto-indulgente, orgulhoso. Dessa incapacidade de diálogo com a América Hispânica. Dessa incapacidade de diálogo inter-regional. Dessa incapacidade de diálogo com lusófonos de África, Ásia e Europa. Parabéns a quem escreve, que mantém a língua viva. Mas não há mérito nenhum no desconhecimento de outras. O monoglota morre de uma fome que não sabe que é fome, porque escolheu ignorar outros sons, outras palavras. Ou em bom português (brasileiro): chega de papo furado, cambalacho, disse-me-disse, babaquice, essa bagunça cívica sem sentido. Português é lindo. Ridículo é o fascismo.

sexta-feira, 29 de abril de 2016

No ano passado o Facebook subiu sem parar. Sessenta milhões de novos usuários entraram na rede. Lucro maior que o PIB do Suriname. Acionistas curtem isso. Mas no fim, bem lá no fim, o que interessa são as pessoas. O que fazem na rede. Se compreendem o fim.

terça-feira, 26 de abril de 2016

A ciência da adaptação

Faro - O lobo temporal é uma região fascinante do cérebro humano. Cada um dos lobos (esquerdo e direito) concentra funções como olfato, habilidade discursiva, memória de longo prazo e resoluções de conflitos.

Há cerca de 10 anos, estudos feitos por duas universidades norte-americanas comprovaram que o processamento neurocognitivo é reduzido em pessoas politicamente à direita. Quando confrontadas com uma situação nova ou diferente da habitual, estas sofrem dificuldades de adaptação e tendem a apresentar um comportamento sistemático e persistente.

As observações com ressonância magnética e leitura de sinais elétricos mostraram  que em pessoas de orientação politicamente liberal há mais neurônios na região conhecida como circunvolução cingulada anterior. Pessoas de esquerda têm mais facilidade para lidar com novas situações e mudanças sociais por conta dessas diferenças. A avaliação neurofisiológica foi certeira que serviu para prever com bastante exatidão se os participantes tinham votado em John Kerry ou George Bush na eleição de 2004 nos Estados Unidos.

Há uma matéria interessante aqui.

segunda-feira, 25 de abril de 2016

Just a perfect day



Faro - Abril é um mês importante para nossos países, unidos pelo mar, pelo idioma e pelo futebol. Mas as semelhanças entre Brasil e Portugal acabam aí. Estamos em margens opostas não apenas do oceano. Hoje vivemos duas realidades distintas. Somos povos que escolheram viver sob diferentes perspectivas.

O Brasil amanheceu sob uma ditadura militar em primeiro de abril de 1964. Convencidos pelas elites, pelos meios de comunicação, setores religiosos e militares, o povo foi às ruas contra o socialismo e apoiou um regime que subtraiu o direito de escolher presidentes por 35 anos.

Portugal viveu mais de 40 anos sob o Estado Novo, regime ditatorial que impôs ao país uma nova idade das trevas e silenciou artistas e intelectuais. Muitos morreram, outros buscaram o exílio. Os anos de chumbo no Brasil também foram anos de chumbo aqui. Brasileiros que fugiam para a Europa buscavam França, Alemanha, Itália e outros países menos sujeitos à perseguição.

Foi numa manhã de 25 de abril, em 1974, que Portugal escolheu a liberdade, num evento que ficou conhecido como a Revolução dos Cravos. Militares rebeldes depuseram o salazarismo sem guerra civil e saíram de cena em nome da democracia. Dois anos depois foi promulgada a Constituição Nacional, em 25 de abril de 1976. Este dia é feriado em Portugal. É o Dia da Liberdade. Todos comemoram este dia. Em todo o país, praças e espaços públicos são ocupadas com teatro, música e dança.

Em pleno 2016, uma semana antes do Dia da Liberdade em Portugal, o Brasil viu-se diante de um golpe branco promovido pelas mesmas elites, pelos mesmos meios de comunicação, pelos mesmos setores religiosos e militares. Portugal comemora a liberdade. O Brasil comemora a perda da liberdade.

Ontem o dia estava frio e cinzento, mas à noite a lua apareceu e as comemorações começaram. Grupos folclóricos, coros e uma banda com músicos de Brasil, Portugal e Angola mostravam nossa integração possível e desejada. Hoje o sol apareceu, brilhante. Caminhei com amigos na praia, De Faro, olhei o mar na tentativa de ver um país que naufraga. Mas já não o vejo. Tanto mar.


domingo, 24 de abril de 2016

Brasil redefine o conceito de escravidão

Faro - Enquanto o brasileiro neo politizado celebra ruralistas, pentecostais e torturadores, avança na Câmara o projeto mais nefasto desde que se decretou o fim da escravidão em 1888. Vejamos seus personagens:
Princesa Isabel do Brasil foi a primeira mulher a administrar o país. Há anos D. Pedro II tentava dar fim à escravidão, mas não obtinha sucesso porque os ruralistas não deixavam. Havia muita pressão internacional. O país era visto como atrasado. Isabel sancionou durante viagem de D. Pedro ao exterior. Isso foi nos estertores do século 19, época em que ainda vivem nossos congressistas e o povo.
Deputado Moreira Mendes (PSD-RO)

Deputado Rubens Moreira Mendes (PSD-RO) foi condenado em 2014 a perda de direitos políticos por fraude a licitação e improbidade administrativa: vendia passagens aéreas à Assembleia Legislativa de Rondônia ao mesmo tempo em que era procurador da casa. Sua mulher também era funcionária de lá, talvez por coincidência. Ele é pai do ex-vereador de Porto Velho, Guilherme Erse (PPS-RO), tio do deputado estadual Davi Erse (PC do B) e cunhado do ex-prefeito de Porto Velho, Chiquilito Erse.

Família é a base de tudo. O filho de Moreira Mendes, o ex-vereador de Porto Velho, Guilherme Erse (PPS-RO), teve sua candidatura a deputado cassada pelo TRE-RO.  Ele comprava eleitores com cursos na área de informática oferecidos pelo Instituto Guilherme Erse Moreira Mendes, uma entre milhares de entidades "sem fins lucrativos" mantidas por políticos para financiar suas campanhas em todo o país.

Moreira Mendes tem um sobrinho, o deputado estadual Davi Erse (PC do B), que já foi cassado por infidelidade partidária. Ele foi eleito vereador pelo PSB, mas resolveu "virar à esquerda" e pulou para o Partido Comunista do Brasil, que conhecemos apenas como PC do B. Perdeu o mandato e deixou o TRE em prantos, alegando injustiça. Essa mudança "ideológica" também é coisa de famiglia, Seu falecido pai foi prefeito de Porto Velho. Chamava-se Chiquilito Erse.

Chiquilito pertenceu ao PDS, partido de sustentação da ditadura militar. Ele é o motivo pelo qual o último presidente general, João Batista Figueiredo, passou a manter um gravador em cima da mesa. Figueiredo estava cético em relação ao candidato dos militares a presidente, Paulo Maluf. Confidenciou a sensação a Chiquilito, que botou a boca no trombone e usou a informação para mudar de lado e votar em Tancredo Neves. O general ficou em maus lençois e nunca mais confiou em ninguém.

Por algum motivo, o exemplar Moreira Mendes manteve seus direitos políticos, já que é deputado federal. Ele assina o PL 3842/12, que redefine o conceito de trabalho escravo. A semântica é simples: a pessoa não será considerada escrava se tiver buscado o trabalho (?). Ou seja, não poderá alegar que foi enganada e desconhecia as condições degradantes definidas em leis e acordos internacionais. Só se tiver sido sequestrada, amarrada e jogada na senzala.


Luís Carlos Heinze: mudanças são
 para impedir desapropriação de imóveis rurais.
O projeto foi aprovado na íntegra pela Comissão de Agricultura. O relator é Luís Carlos Heinze (PP-RS), sucesso no Youtube, onde afirma que quilombolas, índios, gays e lésbicas são "tudo que não presta". Heinze quer mudar a lei para impedir a desapropriação de imóveis rurais. O projeto já está na Comissão de Trabalho. Depois vai à Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania, e se aprovado, irá a Plenário. Como os latifundiários que dominam o Brasil desde o Império são maioria no Congresso, as chances de aprovação são grandes.

E finalmente, o último personagem, aquele incapaz de chegar ao segundo parágrafo de qualquer texto. O eleitor neo politizado que se diz escravo da corrupção pode acessar a íntegra do projeto aqui. Custa o mesmo que curtir a página de Jair Bolsonaro no Facebook: um simples clique.

sexta-feira, 22 de abril de 2016

Maldito Ouro Negro


Faro - O Tratado de Paris assinado hoje por 171 países cria nova esperança em ambientalistas de todo o mundo, mas ao longo do tempo alimentamos a pulga atrás da orelha. Afinal, o único avanço de Kyoto são os famigerados créditos de carbono, licença para matar que faz da Exxon um controverso Agente 007. Quase ao mesmo tempo da assinatura, um oleoduto rompeu ao sul de Gênova: maré negra no mar da Ligúria.

Enquanto isso, a exploração de petróleo no sul de Portugal enfrenta resistência. Ambientalistas cobram clareza do primeiro-ministro António Costa, que assinou o acordo mas manteve o projeto de fratura hidráulica no Algarve, região rica em pesca, fauna marinha e turismo sustentado. Costa diz que as plataformas não serão vistas pelos moradores e turistas porque serão submarinas. "A questão não é estética", rebatem. 

A destrutiva economia do petróleo devia estar morta há décadas, mas jazidas no Alasca, no Brasil e no oeste da Europa mantêm ricos os acionistas do "ouro negro" à custa da emissão de milhões de toneladas de metais pesados no ar a cada ano. Estamos de olho. Enquanto temos olhos.

Guerra fria