Faro - Abril é um mês importante para nossos países, unidos pelo mar, pelo idioma e pelo futebol. Mas as semelhanças entre Brasil e Portugal acabam aí. Estamos em margens opostas não apenas do oceano. Hoje vivemos duas realidades distintas. Somos povos que escolheram viver sob diferentes perspectivas.
O Brasil amanheceu sob uma ditadura militar em primeiro de abril de 1964. Convencidos pelas elites, pelos meios de comunicação, setores religiosos e militares, o povo foi às ruas contra o socialismo e apoiou um regime que subtraiu o direito de escolher presidentes por 35 anos.
Portugal viveu mais de 40 anos sob o Estado Novo, regime ditatorial que impôs ao país uma nova idade das trevas e silenciou artistas e intelectuais. Muitos morreram, outros buscaram o exílio. Os anos de chumbo no Brasil também foram anos de chumbo aqui. Brasileiros que fugiam para a Europa buscavam França, Alemanha, Itália e outros países menos sujeitos à perseguição.
Foi numa manhã de 25 de abril, em 1974, que Portugal escolheu a liberdade, num evento que ficou conhecido como a Revolução dos Cravos. Militares rebeldes depuseram o salazarismo sem guerra civil e saíram de cena em nome da democracia. Dois anos depois foi promulgada a Constituição Nacional, em 25 de abril de 1976. Este dia é feriado em Portugal. É o Dia da Liberdade. Todos comemoram este dia. Em todo o país, praças e espaços públicos são ocupadas com teatro, música e dança.
Em pleno 2016, uma semana antes do Dia da Liberdade em Portugal, o Brasil viu-se diante de um golpe branco promovido pelas mesmas elites, pelos mesmos meios de comunicação, pelos mesmos setores religiosos e militares. Portugal comemora a liberdade. O Brasil comemora a perda da liberdade.
Ontem o dia estava frio e cinzento, mas à noite a lua apareceu e as comemorações começaram. Grupos folclóricos, coros e uma banda com músicos de Brasil, Portugal e Angola mostravam nossa integração possível e desejada. Hoje o sol apareceu, brilhante. Caminhei com amigos na praia, De Faro, olhei o mar na tentativa de ver um país que naufraga. Mas já não o vejo. Tanto mar.
Sem comentários:
Enviar um comentário