quinta-feira, 10 de março de 2022

Neuropa

Boa Vista - Em artigo publicado hoje num jornal português, Boaventura Sousa Santos sintetiza a ignorância europeia que observamos nos últimos anos e em especial desde 24 de Fevereiro, quando a propaganda da máquina de guerra ocidental tomou proporções literalmente nazistas. 

Para uma autocrítica da Europa
Boaventura Sousa Santos
Público, 10/03/2022

Somos forçados a concluir que os líderes europeus não estavam nem estão à altura da situação que vivemos. Ficarão na história como as lideranças mais medíocres que a Europa teve desde o fim da Segunda Guerra Mundial.

Porque não soube tratar das causas da crise da Ucrânia, a Europa está condenada a tratar das suas consequências. A poeira da tragédia está longe de ter poisado, mas mesmo assim somos forçados a concluir que os líderes europeus não estavam nem estão à altura da situação que vivemos. Ficarão na história como as lideranças mais medíocres que a Europa teve desde o fim da Segunda Guerra Mundial. 

Esmeram-se agora na ajuda humanitária, e o mérito do esforço não pode ser questionado. Mas fazem-no para salvar a face ante o escândalo maior deste tempo. Governam povos que nos últimos setenta anos mais se manifestaram contra a guerra em qualquer parte do mundo. E não foram capazes de os defender da guerra que, pelo menos desde 2014, germinava dentro de casa. As democracias europeias acabam de provar que governam sem o povo.

Esta guerra estava a ser preparada há muito tempo tanto pela Rússia como pelos EUA. No caso da Rússia, é notória a acumulação de imensas reservas de ouro nos últimos anos e a prioridade dada à parceria estratégica com a China, nomeadamente no plano financeiro, com vista à fusão bancária e à criação de uma nova moeda internacional, e no plano de trocas comerciais onde são enormes as possibilidades de expansão com a nova Rota da Seda, conhecida como Belt and Road Iniciative, por toda a Eurásia.

Nas relações com os parceiros europeus, a Rússia revelou-se um parceiro credível, ao mesmo tempo que foi tornando claras as suas preocupações de segurança. Preocupações legítimas, se por um momento pensarmos que no mundo das superpotências não há bons nem maus, há interesses estratégicos que devem ser acomodados. 

Foi assim na crise dos mísseis de 1962 com a linha vermelha posta pelos EUA a não querer mísseis de médio alcance instalados a 70 km da sua fronteira. Não se pense que foi apenas a União Soviética a ceder. Os EUA também desistiram dos mísseis médio alcance que tinham na Turquia. Cedência recíproca, acomodação, acordo duradouro. Porque não foi possível o mesmo no caso da Ucrânia? Vejamos a preparação do lado dos EUA.

Os EUA buscam consolidar zonas de influência a todo o custo, que garantam facilidades comerciais para as suas empresas e o acesso às matérias-primas. A política do regime change não visa criar democracias, apenas governos fiéis aos interesses dos EUA. Não foram Estados democráticos que emergiram das sangrentas intervenções no Vietname, Afeganistão, Iraque, Síria, Líbia.

Não foi para promover a democracia que incentivaram golpes que depuseram presidentes democraticamente eleitos nas Honduras (2009), no Paraguai (2012), no Brasil (2016), na Bolívia (2019), para não falar do golpe de 2014 na Ucrânia. No caso da Europa, a estratégia dos EUA tem dois pilares: provocar a Rússia e neutralizar a Europa.

A Rand Corporation, conhecida organização de estudos estratégicos, publicou em 2019 um relatório elaborado a pedido do Pentágono, intitulado Extending Russia. Nele se analisa como provocar países de modo a que a provocação possa ser explorada pelos EUA. 

No que respeita à Rússia, lê-se: “Analisamos uma série de medidas não violentas capazes de explorar as reais vulnerabilidades e ansiedades da Rússia como meio de pressionar o exército e a economia da Rússia e o estatuto político do regime no país e no estrangeiro. 

Os passos que analisamos não teriam a defesa ou a dissuasão como objectivo principal, embora pudessem contribuir para ambas. Pelo contrário, tais passos são pensados como elementos de uma campanha concebida para desestabilizar o adversário, forçando a Rússia a competir em campos ou regiões onde os Estados Unidos têm vantagem competitiva, levando a Rússia a expandir-se militar ou economicamente, ou levando o regime a perder prestígio e influência nacional e/ou internacionalmente”.

É preciso saber mais para perceber o que se está a passar na Ucrânia? A Rússia provocada a expandir-se para depois ser criticada por fazê-lo. A expansão da NATO para leste, contra o que tinha sido acordado com Gorbatchov em 1990, foi a peça-chave inicial da provocação. A violação dos acordos Minsk foi outra peça. Note-se que a Rússia começou por não apoiar a reivindicação da independência de Donetsk e Lugansk depois do golpe de 2014. Preferiu uma forte autonomia dentro da Ucrânia, como está estabelecido nos acordos de Minsk. Estes acordos foram rasgados pela Ucrânia com o apoio dos EUA, não pela Rússia.

Quanto à Europa, o princípio é consolidar a condição de parceiro menor que não se aventure a perturbar a política das zonas de influência. A Europa tem de ser um parceiro fiável, mas não pode esperar reciprocidade. É por isso que a UE, para surpresa ignorante dos seus líderes, foi excluída do AUKUS, o tratado de segurança para a região do Índico e do Pacífico.

A estratégia do parceiro menor exige que se aprofunde a dependência europeia, não só no plano militar (já garantido pela NATO) mas também no plano económico, nomeadamente no plano energético. 

A política externa (e a democracia) dos EUA é dominada por três oligarquias (não há apenas oligarcas na Rússia e na Ucrânia): o complexo militar-industrial; o complexo do gás, petróleo e mineração; e o complexo bancário-imobiliário. Estes complexos têm lucros fabulosos graças às chamadas rendas de monopólio, situações privilegiadas de mercado que lhes permitam inflacionar os preços. Os seus objectivos são manter o mundo em guerra e criar maior dependência dos fornecimentos norte-americanos, sobretudo de armas.

A dependência energética da Europa em relação à Rússia era algo inaceitável. Do ponto de vista da Europa, não se tratava de dependência, tratava-se de racionalidade económica e de diversidade de parceiros. Com a invasão da Ucrânia e as sanções, tudo se consumou como previsto, e a imediata valorização das cotações das acções dos três complexos tinham o champanhe à sua espera. 

Uma Europa medíocre, ignorante e sem visão estratégica cai desamparada nas mãos destes complexos, que agora lhe vão falar dos preços a cobrar.

A Europa empobrece e desestabiliza-se por não ter tido líderes à altura do momento. Ainda por cima, apressa-se a armar nazis. Nem se recorda de que, em Dezembro de 2021, a Assembleia Geral da ONU aprovou, por proposta russa, uma resolução contra a “glorificação do nazismo, neo-nazismo”. Dois países votaram contra, EUA e Ucrânia.

As negociações de paz em curso são um equívoco. Não faz sentido serem entre a Rússia e a Ucrânia. Deviam ser entre a Rússia e EUA/NATO/União Europeia. A crise dos mísseis de 1962 foi resolvida entre a URSS e os EUA. Alguém se lembrou de chamar Fidel Castro para as negociações?

É cruel ilusão pensar que haverá paz duradoura na Europa sem cedências do lado ocidental. A Ucrânia, cuja independência todos queremos, não deve entrar para a NATO. A NATO foi até agora necessária à Finlândia, à Suécia, à Suíça ou à Áustria, para se sentirem seguras e se desenvolverem?

De facto, a NATO devia ter sido desmantelada logo que acabou o Pacto de Varsóvia. Só assim a UE poderia ter criado uma política e uma força militar de defesa que respondesse aos seus interesses, e não aos interesses dos EUA. Que ameaça havia para a segurança da Europa que justificasse as intervenções da NATO na Sérvia, em 1999, no Afeganistão, em 2001, no Iraque, em 2004, na Líbia, em 2011? Depois de tudo isto, será possível continuar a considerar a NATO uma organização defensiva?

segunda-feira, 7 de março de 2022

No future

Boa Vista - The growth of the far right with austerity neoliberalism, is certain in a Europe frightened by years of psychological terrorism and pressured by inflation. Countries on the periphery of the continent, like Portugal, will be targeted first, with their moderate lefts rapidly declining while social inequalities sharp. 

sábado, 5 de março de 2022

Concentric Neocolonialism

Boa Vista - European Union, this unstable set of countries measuring different levels of education, economy and culture, tried to be the best multicultural organisation of the contemporary era, rivaling the Soviet Union, but apparently failed in its purpose. 

The EU put independent countries under her wings and, guess what, the inequality emerged stronger than ever. While Germany, France and their vessels Belgium and Netherlands rule the continent, countries like Portugal, Spain, Greece and Bulgary occupy a second class. Some countries outside the big group, like Ukraine and Moldova, provide cheap workers even for the poorest South. Mentioned as lazy, confused and anti austerity, the South states act like puppets on northern hands.

In the other hand, Europe Union turned into a puppet of the United States, and have been used to invade small countries without an atomic arsenal. Now that US has found a worthy opponent, Russia, are leaving Ukraine (and Europe) to its own devices. A war by proxy in the heart of a continent apparently free and civilized, but discovers itself neither one nor the other.

sexta-feira, 4 de março de 2022

Mythology, a small one

Europe, mother of colonialism and cradle of fascism, became pregnant with her own grandson, American neocolonialism, and gave birth to Ukronazism.

segunda-feira, 28 de fevereiro de 2022

Propaganda

Boa Vista - Average Brazilians are taught from an early age to love United States, while the European equivalent is taught to hate Russia. Doctrines that fuel a growing tropical hatred of distant Russia and Europe's unwavering passion for the American empire. 

In this confusion of meanings, democrats march alongside far right wing and ignore the ethnic cleansing of Ukrainian-Russians in Donbass and Odessa. Asia realises that there will be no opportunities for peace in a propaganda-driven unipolar world and is already preparing to face the West on all fronts. Nothing will be like before.

sexta-feira, 14 de janeiro de 2022

sábado, 26 de junho de 2021

segunda-feira, 21 de junho de 2021

About History and forgiveness

Boa Vista - A startling and unequivocal historical fact: the neo-fascist cycle started in Brazil in 2019 was only possible with the decisive help of 100 million collaborators. It is a surprising and cruel number, but it is there, materially proven. Two years after ignoring the racist discourse, the growing femicide, the massacres of teenagers, the invasions of indigenous lands and the condition of an international pariah, the country despairs because the pandemic has already wiped out a population equal to that of the state of Roraima. In this June 2021, when I turn 50 and two thousand people suffocate to death daily, repentant collaborationists try to glue millions of pieces of the broken nation, in search of a redemption that will not come. They want to move on, but they ask for too much. Brazil has never debated the slavery that continued into the 20th century or the permanent indigenous genocide; it did not investigate the crimes, torture, disappearances and deaths of military governments. Without clarifying past horrors, we will not be able to deal with everyday horrors. Forgiving, on the other hand, is a function that falls to the deities, always willing to help afflicted souls and repent of their atrocious crimes. As for me, poor and insignificant insurgent, I lack the divine haughtiness to forgive collaborators and Nazis. We don't sit at the same table.

sábado, 13 de março de 2021

Sobre matos e gentes

Boa Vista - Romério Briglia estreia na literatura de ficção com um série de contos ambientados na Amazônia, que apresentam a aventura humana pontuada por ganância e desalento em situações limítrofes no meio da floresta. Personagens misteriosos, destemidos, simplórios, covardes, aventureiros, esperançosos ou simplesmente loucos desfilam despidos de tempo ou consciência. Vivem em função de desejos básicos e subterrâneos, desprovidos de uma certa moralidade citadina que já não faz sentido ali, no Inferno Verde.

A prosa econômica de Briglia pode lembrar Graciliano Ramos e a soma de humor cáustico e bizarrices revelam influências que vão de Miguel de Cervantes a Quentim Tarantino. Mas seus contos são monolitos acabados, polidos e impermeáveis que não permitem divagações do leitor. Este será tragado para situações ora desconfortáveis ora absurdas, num crescendo de acontecimentos empolgantes que encerram o livro cedo demais. O que não ocorre por acaso e parece revelar uma obra em movimento. Romério Briglia deu início à construção de sua própria Macondo.

quarta-feira, 26 de agosto de 2020

Um poema

PIRATA

(Sophia de Mello Breyner Andresen)


Sou o único homem a bordo do meu barco.

Os outros são monstros que não falam,

Tigres e ursos que amarrei aos remos,

E o meu desprezo reina sobre o mar.


Gosto de uivar no vento com os mastros

E de me abrir na brisa com as velas,

E há momentos que são quase esquecimento

Numa doçura imensa de regresso.


A minha pátria é onde o vento passa,

A minha amada é onde os roseirais dão flor,

O meu desejo é o rastro que ficou das aves,

E nunca acordo deste sonho e nunca durmo.

terça-feira, 18 de fevereiro de 2020

Fascism, the Portugal turn

The Marega Case is quite revealing of how Portugal faces the awakening of contemporary technological fascism: with Brazil's lukewarmness and German resignation. They continue to believe in the fallacy of “freedom of expression” that gives rise to Trumps and Bolsonaros. In the Marega case, three characters stood out in addition to the footballer himself: André Ventura, unsurprisingly, claims that there is no racism in Portugal - perhaps because of the gypsies. Miguel Sousa Tavares, surprisingly on the left, strongly condemned the episode and has my respect despite the bullfighting. Marcelo Rebelo de Sousa, with the declaration that there should be no response or counter-manifestation to this crime against humanity, opens the way for fascism to pass.

segunda-feira, 10 de fevereiro de 2020

Havia bons filmes na disputa do Oscar e as categoria principais foram justas. Phoenix, Dern, Pitt e Zelwegger foram brilhantes. Assim como a direção e o roteiro ( Bong Joon-ho ganhou e havia o Baumbach - sempre torço pro Baumbach) de Parasita. Em Documentários venceu a prata da casa, mas achava que ganharia o filme da Macedónia,  que levou anos pra ser feito e parece um conto de tão bonito. Mas o melhor documentário é DEMOCRACIA EM VERTIGEM. O tempo demonstrará que também foi injustiçado. Porque trata-se da documentação de um golpe, passo a passo. As personagens que falam por si mesmas em declarações cada vez mais assombrosas. A derrocada de uma grande nação e a capitulação de um estado socialmente justo. Uma mulher, líder, martirizada. Um país em frangalhos. No futuro, o filme Dilma restabelecerá a História - porque a História é implacável- ao ligar factos com memória audiovisual. A ciência demonstra que, se pensamos por imagens, precisamos de imagens para pensar. 

domingo, 26 de janeiro de 2020

Morreu Kobe Bryant, um gênio do basquete.

Num acidente de helicóptero, como
Stevie Ray Vaughan e Ullysses Guimarães.

Deixa filhos e a beleza de suas jogadas.

terça-feira, 3 de dezembro de 2019

Flood

Lagos - By 2050, Meia Praia will no longer exist. The Climate Central study shows that the cliffs of Ponta da Piedade and Praia da Batata will be eroded and the Lagos Marina will be flooded, as will Avenida dos Descobrimentos. 

Scientists have been warning of global warming for more than three decades as the industrialized world burns oil and accelerates the production of consumer goods in polluting packaging that smothers marine life. 

After the extinction of so many species, homo sapiens (sic) diligently organises its own disappearance.

quarta-feira, 13 de novembro de 2019

Bolivian Teocracy or small coup


"Mi nombre es Raúl Rubén La Fuente Velázquez, soy creyente, hijo de Dios. Y como coronel del ejército de Bolivia, restablezco un nuevo tiempo y entendimiento en las Fuerzas Armadas de Bolivia para cumplir su misión fundamental; defender y conservar la estabilidad, la seguridad y la independencia del Estado, el honor y soberanía del país, asegurar el cumplimiento de la constitución política del Estado. "Y hoy, revindico y consagro a las Fuerzas Armadas de Bolivia para Jesucristo".

terça-feira, 12 de novembro de 2019

Evo Morales



Com a Cruz e a Espada
queimaremos tua casa
roubaremos teu ouro
e quando finalmente
conquistarmos a terra
que chamas de mãe
serás banido para sempre. Índio! 

domingo, 10 de novembro de 2019

Um poema de Manuel António Pina

ESPLANADA


Manuel António Pina

Naquele tempo falavas muito de perfeição,
da prosa dos versos irregulares
onde cantam os sentimentos irregulares.
Envelhecemos todos, tu, eu e a discussão,

agora lês saramagos & coisas assim
e eu já não fico a ouvir-te como antigamente
olhando as tuas pernas que subiam lentamente
até um sítio escuro dentro de mim.

O café agora é um banco, tu professora de liceu;
Bob Dylan encheu-se de dinheiro, o Che morreu.
Agora as tuas pernas são coisas úteis, andantes,
e não caminhos por andar como dantes.

terça-feira, 5 de novembro de 2019

Chega?!

Lagos - Culpar ciganos por uso de subsídios públicos, maltratar animais ou ter seus próprios negócios, além de escamotear sonegadores de impostos adeptos de touradas, é revelador de como André Ventura e o Chega levarão Portugal a se tornar a Alemanha dos anos 1930 ou algo pior, como o Brasil de 2019.

sexta-feira, 25 de outubro de 2019

Περιμένοντας τους βαρβάρους

Resultado de imagem para waiting for the barbarians poem in greek Κωνσταντίνος Πέτρου Καβάφης
Konstantíno Kafávis (1863-1933)
À espera dos Bárbaros 
Konstantíno Kafávis

O que esperamos nós em multidão no Forum?

Os Bárbaros, que chegam hoje.

Dentro do Senado, porque tanta inacção?
Se não estão legislando, que fazem lá dentro os senadores?

É que os Bárbaros chegam hoje.
Que leis haveriam de fazer agora os senadores?
Os Bárbaros, quando vierem, ditarão as leis.

Porque é que o Imperador se levantou de manhã cedo?
E às portas da cidade está sentado,
no seu trono, com toda a pompa, de coroa na cabeça?

 
Porque os Bárbaros chegam hoje.
E o Imperador está à espera do seu Chefe
para recebê-lo. E até já preparou
um discurso de boas-vindas, em que pôs,
dirigidos a ele, toda a casta de títulos.

E porque saíram os dois Cônsules, e os Pretores,
hoje, de toga vermelha, as suas togas bordadas?
E porque levavam braceletes, e tantas ametistas,
e os dedos cheios de anéis de esmeraldas magníficas?
E porque levavam hoje os preciosos bastões,
com pegas de prata e as pontas de ouro em filigrana?

Porque os Bárbaros chegam hoje,
e coisas dessas maravilham os Bárbaros.

E porque não vieram hoje aqui, como é costume, os oradores
para discursar, para dizer o que eles sabem dizer?

Porque os Bárbaros é hoje que aparecem,
e aborrecem-se com eloquências e retóricas.

Porque, subitamente, começa um mal-estar,
e esta confusão? Como os rostos se tornaram sérios!
E porque se esvaziam tão depressa as ruas e as praças,
e todos voltam para casa tão apreensivos?

Porque a noite caiu e os Bárbaros não vieram.
E umas pessoas que chegaram da fronteira
dizem que não há lá sinal de Bárbaros.

E agora, que vai ser de nós sem os Bárbaros?
Essa gente era uma espécie de solução.

terça-feira, 10 de setembro de 2019

Gatos

Adoram peixe porque é alimento raro que veio de um mundo inacessível. Peixes são as trufas dos gatos.

quarta-feira, 17 de julho de 2019

People who died

Paris - Père Lachaise, raro jardim de árvores e esculturas. Vi um corvo. O endereço de Isadora Duncan é ao rés-do-chão de um pequeno edifício. Havia pequenas pedras sobre o túmulo de Proust. Havia um bilhete em italiano sobre a lápide de Modigliani. Balzac estava severo e intocável. Havia presentes para Jim Morrison: flores e peluches. Deixei uma pulseira. Ouvi um corvo.



People who died

Paris - Vandré Fonseca morreu em Manaus semanas antes do Guillaume Franco morrer em Lagos. Nas nossas últimas conversas, falamos sobre a vida e sua inseparável companheira, a morte. 

- Vou a Paris. Com um guia nativo seria mais divertido. Vamos, Gui?
- Ah, pá, faz tanto tempo que já não lembro de quase nada. Eu seria mais um turista.
Quando Guillaume foi cremado e teve as cinzas jogadas no oceano, eu cruzava a França.

Vandré falou sobre amigos mortos e Jornalismo, sempre o Jornalismo, como ele pode comportar-se melhor. A cobertura da "Reforma da Previdência" no Brasil eufemizava a precarização da classe trabalhadora com um termo ligado à construção civil.

- Quando te aposentas agora, perguntei
- Acho que isso nunca vai acontecer.

Eu achava que Vandré seria parte de um bando de velhos divertidos a compartilhar boas memórias em bancos de praça. Mas agora Vandré é parte da grande memória. Vandré era um perfeccionista tranquilo.  Guillaume era fascinado pela morte.

Um infarto fulminante ou uma pneumonia aguda podem acabar com nossos amigos. Depois que silenciam, lembramos que sua passagem foi um aprendizado. "Vou viver 100 anos", disse o Gui na nossa última conversa.

terça-feira, 16 de julho de 2019

Selling England by the Pound

Londres - Não sou nenhum especialista, mas é provável que a cidade que criou o capitalismo como o conhecemos sobreviva actualmente de moeda supervalorizada e impostos pesados, mais o factor tradição, que não deve ser ignorado. A Inglaterra nunca perdeu, nem quando foi expulsa da China, Índia, África e Antilhas ou quando Hitler destruiu seus monumentos cirurgicamente reconstruídos. Seus acordos sempre foram irresistivelmente conciliadores. Suas saídas, honrosas. Suas indenizações, vultosas. Suas revoluções, industriais.

Milhões de imigrantes sustentam Londres há várias gerações. Vinham das ex-colónias e agora da União Europeia - A Efêmera. Há muitos empregos e poucos londrinos em Londres.  O trabalho não-especializado é abundante e todos ajudam as famílias em países de preços honestos. Trabalhadores italianos, romenos, espanhois, marroquinos, gregos, croatas e portugueses afirmam que o lugar é bom para se fazer dinheiro, mas you know, easy come, easy go.

Há um valor para as coisas e há um valor para as coisas em Londres. Nada vale o que pedem, mas pagamos assim mesmo. Os preços estão fora da realidade da maioria dos países europeus porque o endomarketing londrino é uma tradição tão longa quanto as disputadas cerimônias kitsch com cavalos no Household Cavalry. O que talvez explique o Brexit. Embora o resto do mundo classifique-o  como a maior estupidez britânica dos últimos tempos, a decisão conservadora quer reforçar o histórico de sobrevivência da Ilha.

Lagos está cheia de ingleses que deixaram Londres, como meu amigo Asher, que recomenda visitar a cidade, nada mais. Tínhamos um amigo comum, o Nathan, que morava em Lagos e resolveu voltar para Londres mas morreu semanas depois. People die.

sábado, 13 de julho de 2019

Young Neils

Londres - O que eu diria hoje para Neil Young: Old man, take a look at my life, I'm a lot like you. 

sexta-feira, 7 de junho de 2019

Le Monde descobre Bolsonaro


Lagos  - O presidente do Brasil é descrito como mais interessado em temas fálicos do que nas responsabilidades do cargo. Ou como o Brasil vive uma Idiocracia.

quinta-feira, 18 de abril de 2019

If We Must Die

If we must die, let it not be like hogs
Hunted and penned in an inglorious spot,
While round us bark the mad and hungry dogs,
Making their mock at our accursed lot.
If we must die, O let us nobly die,
So that our precious blood may not be shed
In vain; then even the monsters we defy
Shall be constrained to honor us though dead!
O kinsmen! we must meet the common foe!
Though far outnumbered let us show us brave,
And for their thousand blows deal one death-blow!
What though before us lies the open grave?
Like men we’ll face the murderous, cowardly pack,
Pressed to the wall, dying, but fighting back!

(If We Must Die - Claude McKay)

domingo, 14 de abril de 2019

Violência para conter a violência

Lagos - Em pouco mais de 100 dias no governo do Brasil, o novo regime desregulamentou o controle de armas e considera que isto não estimulou a chacina de crianças numa escola em Suzano por dois jovens bolsonaristas. Ou a execução de 11 assaltantes numa operação policial em Guararema. O novo regime também considera que os 80 tiros disparados por snipers do Exército contra o carro de uma família, matando um músico negro, sejam mero incidente.

O bem-sucedido experimento tecnológico do neofascismo no Laboratório Brasil agora pode ser aplicado com reduzida margem de erro na Europa. Os políticos escolhidos para conduzi-lo são bem conhecidos, inclusive em Portugal. E a pergunta "como parar isto?" permanece.

segunda-feira, 31 de dezembro de 2018

Marcelo e Bolsonaro

Marcelo Rebelo de Sousa vai à posse de Bolsonaro e testa os limites de sua popularidade. A conhecida empatia do presidente de Portugal em situações de calamidade explica sua presença em Brasília.

segunda-feira, 19 de novembro de 2018

sábado, 18 de agosto de 2018

Venezuelanos sofrem ataques xenófobos no Brasil

O título eufemiza a barbárie, mas as imagens mostram um caso explícito de xenofobia e violência contra venezuelanos em Pacaraima, na fronteira do Brasil com a Venezuela. Revoltados com um homicídio atribuído a um venezuelano, moradores queimaram roupas e objetos de refugiados da fome e desemprego que o bloqueio comercial norte-americano impõe à Venezuela.

Milhares de brasileiros num passado bem recente tiveram a vida transformada por minerais preciosos e oportunidades de negócios oferecidos pela Venezuela. Moradores de Roraima aproveitavam os preços subsidiados pelo governo boliviariano e compravam de tudo com a empáfia, a ostentação e a arrogância que nos são conhecidas.

As coisas mudaram. A Venezuela já não oferece as mesmas oportunidades de lucro fácil. Para quem perdeu vantagens econômicas que nunca teve direito - o subsídio era para o povo venezuelano - a decepção aumenta quando se percebe que a Venezuela "envia" seus "miseráveis prostitutas comunistas" para uma sociedade ordeira, cristã, pela família e pelas armas.

Poderia dizer que o desconhecimento da História, mesmo da mais recente, explica a falta de diplomacia e fraternidade, mas o conceito de bom senso não pode ser exigido ao povo quando a barbárie começa nos centros de poder e de comunicação. A criação de um ambiente inóspito para refugiados haitianos, venezuelanos, africanos e do oriente-médio é potencializada por discursos xenófobos em todas as redes de comunicação.

Ao mesmo tempo, a imigração europeia é isenta de críticas. O Brasil adora imigrantes, desde que sejam brancos e ajudem a "clarear" a pele do brasileiro como se tenta há 100 anos.

Pressionadas pela imigração, comunismo, laicismo e outros medos primais, as milícias fascistas se multiplicam em Roraima apoiadas por defensores da ditadura militar e Jair Bolsonaro. Já cometeram diversos crimes, como atentados a bomba, esfaqueamentos e espancamentos de venezuelanos. Não se tem notícia de punição ou investigação a respeito.

A colaboração da Polícia (que não impediu a violência contra os venezuelanos) não causa surpresa. Junto com o processo eleitoral suspeito, o judiciário venal e o ódio aos pobres, a omissão estratégica da Polícia integra um conjunto de ações deliberadas que visam à constituição de uma nação isolada e em acelerado retrocesso. As sementes de um estado autoritário foram lançadas. Germinarão?

sexta-feira, 17 de agosto de 2018

UN warns Brazil

Early today the UN Human Rights Comittee has requested Brazil for assure safety and avoid violations of human rights and political rights of Luís Inácio Lula da Silva, who runs for president of Brazil, jailed for four months on unproven corruption charges.

The UN pointed vices in the lawsuit conducted by Judge Sérgio Moro, who likes to appears in social photos with Lula's political opponents.

The UN reprimand comes days after Interpol refused to comply an arrest warrant issued by Sérgio Moro. For lack of evidence. As a house of cards, the coup d'etat in Brazil reveals itself in all its splendor.

Hoje a Comissão de Direitos da ONU censurou o Brasil por violações aos direitos humanos e direitos políticos de Luís Inácio Lula da Silva, candidato a presidente do Brasil que lidera as pesquisas e está preso há quatro meses por acusações de corrupção e lavagem de dinheiro nunca provadas.

A ONU apontou vícios no processo conduzido pelo juiz Sérgio Moro, que costuma aparecer em redes sociais a confraternizar com os adversários políticos de Lula.

A reprimenda da ONU acontece dias depois da Interpol negar-se a cumprir mandado de prisão expedido por Sérgio Moro. Por falta de evidências. Como  um castelo de cartas que rui, o golpe branco no Brasil revela-se em todo o seu esplendor.

domingo, 8 de abril de 2018

Lula da Silva in jail

An innocent man lies in a solitaire cell in Curitiba, Brazil. His crime? Create opportunities of job and school for black and indigenous people become real citizens in a colonized country ruled by an angry racist lascivious antinationalist elite.

Lula da Silva will die in a controversous way just like João Goulart, Juscelino Kubistscheck, Hugo Chávez. Confined alone, and isolated from his family in a strange city (he's not accused of any crime there), his life is in dangerous.

Who's making his food? Who's gonna take care of his health? This ex-president who left government with 80% approval, the brazilian biggest leader ever is abandoned to his own fate. 

quinta-feira, 5 de abril de 2018

The coup itself















And everyone has recourse to the law 
And no one kills the children anymore 
No one kills the children anymore

The coup is complete

The Supreme Court decided Lula da Silva must go to jail in a controvert judgment where two inconstitutional acts were hidden under president Carmen Lucia's desk. With her vote, the biggest brazilian leader ever was sentenced to jail. Carmen Lucia is the same judge that released Aecio Neves, who was caught in a telephone conversation ordering killings.

Now the extreme right wing has a free path to conquer brazilian government. With support of very known corrup politicians, antionationalists military, the Trump regime and american corporations like Exxon Valdez.

United States doesn't want just oil. They want bases to defy the increasing chinese and russian threaten of global expansion. Brazil is just a piece in geopolitician games. Our efforts to be a respected nation were useless because we have more thiefs and subservient deputies than opportunities to arise from darkness.

quarta-feira, 4 de abril de 2018

The coup is in on the table

General Eduardo Villas Boas threatens a military coup in Brazil. He said on Twitter the army is ready to take power if Lula da Silva runs for president in this year elections.

With full support of Trump regime and north-american corporations as Exxon (which are robbing brazilian oil in a very suspect contract by Michel Temer), the brazilian army destroys the Constitution and wants Lula da Silva in jail or else. 

There is no proofs against Lula da Silva. He is accused of receive an apartment by OAS, a big corrupt corporation sustained by the gang in power, but there's no evidences that it is true. Today Lula da Silva tries to escape the acusation on the Supreme Court. If it works, a bunch of anti-nationalists generals will sell us again to United States, just like 1964.

Guerra fria