quarta-feira, 22 de dezembro de 2004

Natal

Belo Horizonte - Tan-tan-tan
tan-tan-tan
tan-tan-tan-tan-tan
tan-tan-tan
tan-tan-tan
tan-tan-tan-tan-tan

(Desça um tom na última nota e nunca mais esqueça os compassos de Jingle Bells).

Ei, irmão
vamos seguir com fé
tudo que ensinou
o homem de Nazarééééééé

(Chitãozinho e Xororó, para ouvidos menos sensíveis a altos decibéis).

Natal, Natal das crianças
Natal da noite de luz
Natal da estrela-guia
Natal do Menino Jesus
Blim, blão, blim, blão, blim, blão...
Bate o sino da matriz
Papai, mamãe rezando
Para o mundo ser feliz

(Simone, no slowmotion CD 25 de dezembro, só para cristãos muito pacientes).

So this is Christmas
And what have you done
Another year over
And a new one just begun

(Veja, John Lennon, o pior de tudo é que a maioria dos comerciais só usa a primeira estrofe e encobre o resto da letra com ofertas e prazos de pagamento. Ninguém agüenta mais os comerciais. Nem a música)

Esquecem o espírito do Natal e valorizam o consumo etc.
(Lugar-comum preferido entre jornalistas sem assunto nos seus enfadonhos artigos diários).

terça-feira, 21 de dezembro de 2004

segunda-feira, 20 de dezembro de 2004

Plagiários de todo o mundo, uni-vos!

Belo Horizonte - Depois do Googlealert, que nos informa sobre buscas com determinados temas, o Google está divulgando o lançamento do Copyscape, que pretende ser um localizador de plágios na rede.

O serviço ainda precisa ser aperfeiçoado. Na pesquisa sobre o e-pístolas foram indicados textos de minha autoria reproduzidos com crédito em outros blogs, assim como textos com crédito que reproduzi no e-pístolas.

sexta-feira, 17 de dezembro de 2004

As mulheres da minha vida

Belo Horizonte - A ansiedade dos aeroportos. A voz soft-robótica ouvida no check-in, nos corredores, nos banheiros. Saltos altos riscam o chão encerado. Vozes altas ao telefone móvel. Malas deslizam sobre rodas. Quatro horas de atraso, a sina dos vôos longos. Ruído de turbinas que pousam. Abraços há muito esperados sufocam crianças, velhos, amigos. Entre os sorrisos, cintilam os de minha mãe e minha filha. Aqui, neste não-lugar, onde vidas se separam e se reúnem, resvalo em lânguida pieguice familiar.

terça-feira, 14 de dezembro de 2004

Sobre imprensa

Belo Horizonte - Recentemente, o governo de Minas divulgou em todos os grandes jornais mineiros e brasileiros, o tão almejado "déficit zero" no Estado. No jornal "Estado de Minas" (que se transformou em um editorial do governo) a matéria teve grande destaque, com aplausos e ovações ao governo mineiro. (...) Em Minas, jornalistas e veículos de imprensa são "censurados" pelo governo Aécio, que pressiona e "pune" jornalistas que mostram as falhas do governo. Recentemente, como já havia sido denunciado aqui, o professor e jornalista do "Estado de Minas", Fernando Massote, teve sua coluna semanal suspensa e foi posteriormente desligado do jornal. Motivo: críticas sistemáticas ao governo Aécio Neves.

Leia mais no Geógrafos sem fronteiras.

quinta-feira, 2 de dezembro de 2004

quarta-feira, 1 de dezembro de 2004

Aids

Uma luta mundial.
Uma tragédia africana.
Uma preocupação do Brasil.

Só dá valor quem tem

Belo Horizonte - A amizade é como um navio no horizonte. Nós o vemos recortando contra o céu, e em seguida ele avança, desaparece de vista, mas isto não significa que não continue lá. A amizade não é linear. Ela se move em todas as direções, nos ensinando sobre nós mesmos e sobre cada um de nós. É por isto que no transcurso de longas amizades estamos presentes um para o outro, mesmo que nem sempre estejamos visíveis.

cia Araújo, amiga virtual de Brasília que brilha no breu.

segunda-feira, 29 de novembro de 2004

Cesta básica

Um mini iPod tem 4000 megas. Cada música (depende do que você escuta) tem mais ou menos 3,5 megas. Então dentro de um mini iPod cabe mais ou menos 1.142 músicas. Certo? Certo. Continuemos. Supondo que cada musica custe 0,99 euros, encher o seu mini iPod com musicas legalmentes compradas sai por nada mais nada menos que 1.131,42 euros. Chegamos à conclusão que um mini iPod para ser usado legalmente por um brasileiro sai por mais ou menos 4.110,70 reais. Vai encarar?

O texto acima é do Israel Barros, que põe na ponta do lápis o investimento necessário para quem deseja ouvir música durante uma caminhada no parque.

Se alguém ainda tinha dúvidas sobre as reais intenções da indústria fonográfica ao vender arquivos de MP3, uma dica: é como comprar o equivalente às velhas fitas-cassete piratas dos anos 1980. Alguém ainda se lembra?

domingo, 28 de novembro de 2004

Coisas detestáveis em bliteratura

Belo Horizonte - As tentativas de imitar Bukowski via descrição dos acontecimentos mundanos. Um certo gosto pelo bizarro que se completa com a publicidade. A imobilidade impercebida das comunidades de direita, cuja veleidade de ler somente a si próprias lhes torna serpente que engole o próprio rabo.

quinta-feira, 25 de novembro de 2004

Coisas detestáveis em literatura

Divinópolis - Bukowski. Sei que com isso incomodo pessoas bacanas, que lêem de tudo um pouco e curtem proscritos de toda ordem chafurdando no mundo-cão, etc. Mas Bukowski carece de qualidade literária em sua prosa irregular, seus gostos duvidosos, suas falsas verdades de bêbado. A literatura etílica é desbocada e sem horizontes intelectuais mais ambiciosos, com a parca capacidade descritiva dos consumidores de whiskey travestida de fluxo de consciência. Quase sempre relação de coisas e pessoas que compõem o universo dos alcoólatras: brigas de prostitutas em becos sujos, lixo espalhado e bares de péssima reputação. Bukowski está num limbo cognitivo no qual não podemos entrar sem assumir sua postura looser de cordeiro em pele de lobo.

Bukoswski jamais seria Henry Miller porque nunca foi um grande leitor e se interessava mais pelas garrafas que pelas mulheres. Nem William Burroughs porque, convenhamos, Burroughs é de erudição e decadência insuperáveis. Jamais seria Jack Kerouak porque pôr o pé na estrada significaria uns goles a menos na imobilidade dos bares. Ernest Hemingway não fazia do álcool sua única profissão de fé: tinha mais assunto. Scott Fitzgerald também, mas tinha classe. James Joyce tomava todas, mas se os seus livros porventura são interpretados como resultado de bebedeira falta vinho a seus detratores.

segunda-feira, 22 de novembro de 2004

A lista do Francis

Divinópolis - A frase é batida, mas Paulo Francis foi mesmo um dos maiores e mais polêmicos intelectuais brasileiros. Crítico contundente e acidíssimo, homem das letras que não cursou universidade, podia travar batalhas gnósticas com qualquer livre docente. Não tinha diploma, mas ainda é usado como exemplo por alguns boçais que confundem autodidatismo com opção pela ignorância. Comparar-se a Paulo Francis é sempre uma heresia.

Guardava artigos de PF publicados na Folha, no Estadão. Lia e relia descobrindo aforismos, hipérboles novas, no seu texto encontrava palavras desconhecidas que me faziam correr até o dicionário e ler sempre mais de um verbete - como fazem os que lêem dicionários. Dentre os achados, a sua sugestão de biblioteca básica:
Os Sertões, de Euclides da Cunha;
Memórias Póstumas de Brás Cubas e O Memorial de Aires, de Machado de Assis;
A Apologia e Simpósio, de Platão;
As Vidas, de Plutarco;
A Guerra do Peloponeso, de Tucídides;
Os Doze Césares, de Suetônio;
Declínio e Queda do Império Romano, de Gibbon;
Lógica da Pesquisa Científica, de Karl Popper;
Prefácio do Novum Organum, de Francis Bacon;
Prefácio dos Princípios Matemáticos da Filosofia Natural, de Isaac Newton;
Prefácio de Bertrand Russell e Alfred North Whitehead de seus Princípios da Matemática;
História da Filosofia Ocidental, de Bertrand Russell;
o capítulo sobre Positivismo Lógico;
Hamlet, de Shakespeare;
Antígona, de Sófocles;
Pequena História do Mundo, de H.G.Wells;
As Confissões, de Santo Agostinho;
A Origem das Espécies e Viagens de um Naturalista ao redor do Mundo, ambos de Darwin;
Cidadãos, de Simon Schama;
Rumo à Estação Finlândia, de Edmund Wilson;
História da Revolução em França, de Edmund Burke;
A Revolução Russa, de Trotski;
History of the United States of America, de Hugh Brogan;
Dicionário de Economia, da Abril;
Guerra e Paz, de Tolstói; Crime e Castigo, de Dostoievski;
A Montanha Mágica e Dr. Fausto, de Thomas Mann.

Dizia: "A lista que fiz me parece o básico. Em algumas semanas, duas horas por dia, se lê tudo. Duvido que se ensine qualquer coisa de semelhante nas nossas universidades. Se eu estiver enganado, dou com muito prazer a mão à palmatória."

Não é razão para deixar de estudar. Mas PF tem razão.

terça-feira, 16 de novembro de 2004

Li A trilogia de Nova Iorque, de Paul Auster

Divinópolis - Item importantíssimo da série "como ainda não tinha lido isso?", o livro reúne três novelas que se imbricam num momento e se repelem no outro, que se afastam e se reaproximam a cada página, num interessante jogo de espelhos, novidade na narrativa de literatura policial. Um roteiro pré-Pulp fiction (o filme) e pós pulp-fiction (a verve), se é que me faço entender.

Auster tem grandeza intelectual indiscutível, mas aqui ela é apenas insinuada. O autor não a deixa emergir, para não prejudicar o andamento aparentemente simples das três histórias. Cidade de Vidro começa com um telefonema recebido tarde da noite por um escritor de contos policiais que é confundido com um detetive particular chamado... Paul Auster. Em Fantasmas reúnem-se paranóias de investigadores e investigados nos anos 1940, em clima noir, onde os nomes não importam, todos substituídos por cores como Blue, Black, White, Brown e os papéis se invertem: loucura entra em cena.

O quarto fechado é a última novela e quase explica o início do livro, mas faz bem em não cumprir a missão. Melhor procurar o escritor maluco que não quer ser encontrado e ficar à mercê do mistério que a previsibilidade da literatura fácil dos que desconhecem Milton e não entendem porque o Harvey Keitel insiste em fotografar sempre a mesma cena em Smoke, o filme.

quinta-feira, 11 de novembro de 2004

Uma canção

Cowboy do amor
(Bob Nelson)

Quando monto em meu cavalo e jogo o laço
prendo logo, prendo logo um coração
sou cowboy, gosto muito de um abraço
mãos ao alto e não vá dizer que não

Sou vaqueiro, capataz de uma fazenda
nas horas vagas também toco um violão
o meu cavalo é ensinado
leva bilhete para a filha do patrão

Ubíqüo

Divinópolis - O Blogger agora tem interface em português. O Google tudo pode.

quarta-feira, 10 de novembro de 2004

O poema

Divinópolis - Ler Mickiewitz é ser assaltado pela sensação de que o ato de escrever estará sempre associado às verdades universais. Comprovam-no as letras no encarte do Mande minhas lembranças ao onze, todas do Leãdro, que dedico respectivamente a Orib, Edgar, Mário, Humberto e Josimar.

Todo mundo quer amor / eu só quero a dor / todo mundo quer ter paz / eu vivo na espera / e no fim das contas / vou aonde meu nariz aponta (Stoney)

Ah, eu vou embora um dia / vou levar só o que carregar / bem assim eu me vejo indo / claro outono / a chuva caindo (Avenida Principal, 777)

Ouviram do Ipiranga / o brado redundante / viva o Brasil / onde o povo manda / Terra de santa Cruz / viveiro de urubus / a cuidar da vida alheia / bandeiras vermelhas / O futuro acabou / levante as mãos quem acreditou / o futuro éramos nós / perdidos e sem voz (Bandeiras vermelhas)

Vai ser tão bom, o maior som / deixar a Babilônia / deixar pra trás, sem outros que tais / a azia e a insônia (O chão encontra as nuvens)

Na margem do grande mar violeta / cavalos alados disparam siderais / sons e fúria tomam a luz do planeta / lâminas de fogo avançam mais e mais (Os novos deuses)

terça-feira, 9 de novembro de 2004

Um poema

Choveram-me lágrimas limpas, ininterruptas
Na minha infância campestre, celeste
Na minha juventude de loucuras e de alturas
Na idade adulta, idade de desdita
Choveram-me lágrimas limpas, ininterruptas


Adam Mickiewicz (1798-1855), traduzido por Paulo Leminski e reproduzido no encarte do Mande minhas lembranças ao onze, primeiro CD do Projeto Igor.

sexta-feira, 5 de novembro de 2004

A little bit more

Divinópolis - At least, we discover that Bush electors ignore history, politics and human rights. Stupid White Man. Perhaps Michael Moore is understood only abroad. Perhaps we all are wrong. But, if happiness is a warm gun, what is unhappiness?

Vengeange means a cold dinner.

Check it out.

quinta-feira, 4 de novembro de 2004

Sad, sad day (ou como Bush estragou o dia)

Divinópolis - Sorry, dears readers, but unhappiness and rock n' roll are better told in english.

That's it. Intollerance wins. Homophobia wins. Barbarians win. Fundamentalism wins. Rich people wins. Ignorant people, also. So good-bye rock n' roll, hello Garth Brooks. Good-bye books, hi E! Entertainement Television. Good-bye yellow brick road, what's up, oil fields?

Choosing racism, greed and self-destruction, american people proofs, time after time, that 'civilization' as we know is going down. The president seems like an hibrid of Doctor Drake Ramoray (Friends) and Doctor Strangelove.

terça-feira, 2 de novembro de 2004

Almas Gêmeas

Além de atração física, tinham gostos e desgostos em comum. Os livros, por exemplo, foram tema de um dos primeiros passeios do casal. "A gente tinha dado uns beijos, mas ainda não estava nada certo. Então eu perguntei pro Davi (Moraes): 'você lê?' Como ele titubeou, fui logo dizendo: 'eu não leio. Não vem com papo furado de Clarice Lispector que não cola'. Aí ele confessou que também não curtia ler".

Ivete Sangalo, na Veja.

sexta-feira, 29 de outubro de 2004

Inteligência coletiva

Divinópolis - Em agosto de 2003, os blogs Um Dia Gnóstico, Zhuada e e-pístolas publicaram o post dadaísta "Wanderley, Takamine e o Diabo", direto da Vila Madalena, em São Paulo. Em setembro deste ano, a webnovela Totem começa com um post do Luís Ene, transformado em membro de uma improvável psicanálise de grupo. Agora, com base no post "Horror, horror!!", que publiquei há alguns dias, Ene escreveu mais uma de suas 1001 microestórias.

quinta-feira, 28 de outubro de 2004

sexta-feira, 22 de outubro de 2004

Mulheres desaparecidas

Divinópolis - O que teria acontecido a Sidenia, Chris, Conce e Karina?

a) Resolveram seguir carreira musical, adotaram o visual afro e fazem backing vocal para o Paul Simon?
b) Integram a nova formação de As Panteras (Charlie's Angels)?
c) Entraram em crise com o excesso de exposição e agora só escrevem diários fechados?
d) Todas as respostas anteriores.

quinta-feira, 21 de outubro de 2004

Persona virtual

Divinópolis - Na próxima quarta-feira, dia 27, ministro uma oficina sobre weblogs, comunidades virtuais e micronações em Divinópolis, como parte da IV Semana de Comunicação da Fadom. Promessas de hipóteses interessantes sobre diários em rede, realidade e simulacro e o homo digitalis. Bases da minha pesquisa de doutorado sobre a persona virtual, o pós-humano, etc, etc, etc.

quarta-feira, 20 de outubro de 2004

TCP Ipê

TCP Ipê


Na tela

Divinópolis - David Gilmour in Concert. Para fãs. O líder do Pink Floyd em trabalho solo toca Shine on you crazy diamond com violão e o sax de Dick Parry. Tudo bem, tudo bem, havia um tecladinho inaudível ao fundo. Surpreende a preferência da platéia por faixas do discutível Division Bell, o último trabalho do PF. Gilmour toca com uma banda arrasa-quarteirão com coral, cordas, guitarra e baixo acústico mais convidados tipo Bob Geldof, Robert Wyatt e Rick Wright no Royal Festival Hall de Londres. Se visse o Rick Wright na rua não o reconheceria com seu cabelo curto e prateado e os óculos de vovô. Gilmour continua em forma. É um dos melhores guitarristas de sua geração e causa nobres sensações ao espírito com o ainda indefectível solo de Confortably numb.

sexta-feira, 15 de outubro de 2004

Na tela

Divinópolis - Olga é um belo filme brasileiro, de produção e direção competentes. Fernanda Montenegro permanece acima das críticas, mesmo coadjuvando. Impressiona figurinos, direção de arte e fotografia. A atriz Camila Morgado, em seu melhor papel, encarna a revolucionária alemã com esmero. Depois do filme, fica a lembrança do terror em seus olhos no campo de concentração.

O tema do holocausto é sempre muito caro a Hollywood e pode favorecer a produção na sua entourage pela Academy Awards, na esperança de disputar o Oscar de melhor filme estrangeiro. Mas além das qualidades técnicas, a história de Olga Benario, mulher, judia, comunista e revolucionária é um libelo anti-mediocridade. Um alerta de que nossas vidas precisam de alguma justificativa, porque viver só vale a pena com ideais.

Olga é dirigido por Jayme Monjardim.

segunda-feira, 11 de outubro de 2004

Das cidades

Belo Horizonte - A capital de Minas é como o Japão. Consegue preservar tradições em meio ao caos metropolitano. Belo Horizonte seria uma cidade de direita, como a convergência das ruas indica? A programação cultural atende à maioria dos gostos. Na Feira Hippie, aos domingos, uma infinidade de artistas, artesãos, fabricantes de jóias e roupas fecha uma das principais avenidas para comercializar sua produção a preços lúcidos. Nos parques, obras de Nienmeyer e Portinari convivem ao lado de pescadores urbanos da Lagoa da Pampulha. Nas lan-houses e boates, a tecnologia é de última geração. Só falta wi-fi. Apesar de ter rodado algumas horas pelo centro, shoppings e regiões menos óbvias, não encontrei redes wireless para exercitar o warchalking. A caçada continua. Aceito sugestões.

domingo, 10 de outubro de 2004

88 loucos ou Kill Bill 2

Belo Horizonte - Algaravia audiovisual egoísta e provocativa, uma insanidade de humor esquisito. Como se Kubrick, Lynch e Peckimpah tomassem chá na casa do lago em As Invasões Bárbaras. Tudo em Tarantino é uma grande aposta de pós-cinema.

terça-feira, 5 de outubro de 2004

Decoração

Divinópolis - Li no blog do Cláudio Costa que o travesseiro-namorado é o mais novo item da lista de paraísos artificiais que o dinheiro pode comprar. E no André Muggiati sobre a angústia que nos assalta quando percebemos a miséria. E no mesmo post, um comentário do Luís Ene dizia que podemos prescindir de alguns móveis, coincidindo com nossa mudança de São Paulo e os móveis que deixamos com os 10 milhões de vizinhos que nos fazem valorizar mais o espaço. Infelizmente livrar-se dos móveis é como limpar as gavetas: um dia elas terminam cheias novamente.

segunda-feira, 4 de outubro de 2004

As invasões bárbaras

Divinópolis - Centenas de imigrantes africanos foram expulsos ontem, algemados, da Itália. Pela lei, imigrantes pobres devem ser deportados, medida geralmente usada em casos de extradição de criminosos, expulsão de estrangeiros que tenham cometido crime de lesa-pátria ou jornalistas sensacionalistas que desonram presidentes. O governo do PT, que defendia a causa indígena, cede em favor do agribussiness e congela decisão sobre a terra indígena Raposa Serra do Sol. Uma cidade do interior de São Paulo (Porto Ferreira) elegeu o prefeito na cadeia. Ele está preso por pedofilia. O apresentador de TV Gugu Liberato, que levou ao ar reportagem falsa onde jornalistas eram ameaçados de morte, continua na TV. No Rio de Janeiro, a esquerda votou em peso no PFL, para salvar o estado da teocracia pentecostal. Em São Paulo o PT vai unir-se a Paulo Maluf para derrotar o ex-presidente da UNE e ex-exilado da ditadura, José Serra, que é apoiado pelos mais ricos. Repórteres por um dia - não se trata de uma defesa corporativa, mas de uma observação óbvia - fazem o trabalho jornalístico, o direito à informação de qualidade, parecer brincadeira. A blogosfera, antes território das idéias, passou a abrigar a intolerância e a hipocrisia de deformadores de opinião com seus sítios patrocinados. A espiritualidade é confundida com religião, dogmas, intifada. O protestantismo, que surgiu em contraposição ao catolicismo poderoso, avança contra os cultos afro-brasileiros. O Islã, outrora poético, intelectual, caridoso e filosófico sucumbe ao radicalismo selvagem de jovens suicidas e degoladores no Iraque invadido. É a nova revolução cultural, desmontando inteligências e ideologias: miríades de consumidores indômitos em não-lugares enfrentam filas em busca de necessidades artificiais. Desejos e povos estão se misturando por baixo. Uma hibridação que, perdoe-me Canclini, não me trate como um velho e reacionário Aldous Huxley, cheira a degeneração.

sexta-feira, 1 de outubro de 2004

Vote nulo...

Divinópolis - ... se quiser. Ninguém é obrigado a votar em candidatos inúteis, corruptos ou fracos só porque estes se candidataram. O voto nulo protesta contra a falta de opção. Se o número de votos nulos for superior ao de votos válidos, podem ser convocadas novas eleições e candidatos novos podem surgir.

Políticos de baixa qualidade estão no poder, entre outras razões, pela (des)orientação comandada por imprensa e Judiciário, que só concebem o ato de votar em candidatos. Desconsideram o voto que não lhes favorece. O voto útil é disseminado, por ignorância ou por má-fé, como equivalente ao voto em branco. Votar em branco é apoiar o candidato com maior número de votos. É aceitar. É como deixar de votar.

Há 90 municípios no Brasil com candidato único a prefeito. Vi no Jornal Nacional que na última eleição um município votou assim: 45 por cento de votos para o candidato único, 53 por cento de votos em branco e 2 por cento de votos nulos. O TSE decidiu que o candidato único deveria ser eleito porque a maioria de votos em branco só podia significar uma coisa: que o povo queria o candidato único. Um absurdo, considerando que o desejo da população era outro.

Que as urnas eletrônicas sejam dotadas de tecla para anular o voto. Votar nulo é um recado: mostra que a sociedade está descontente com o quadro atual. Que quer novas opções. Vote para prefeito e vereador, se quiser. Mas se seus candidatos não servem, clique num número inexistente e anule seu voto. Votar nulo é um exercício de cidadania. Em branco, de obediência.

quinta-feira, 30 de setembro de 2004

Na Tela

Divinópólis - Bowling for Columbine ou o debate Kerry x Bush? Por um momento, a dúvida. Os dois programas trariam o belicismo à sala de TV. Escolho o debate: a transmissão em inglês é recebida mais rápido que e a traduzida para o espanhol e esta, por sua vez, chegava antes da versão traduzida da Bandnews. Sugestivo.

Kerry é um gentle giant, veterano do Vietnã que gosta de jactar-se quanto à capacidade guerreira e superioridade estratégica. Disse que existe uma maneira certa e uma maneira errada de defender Uncle Sam. Bush estaria insistindo na errada. No contra-ataque, Bush lançava olhares sibilinos e desqualificava o discurso do democrata. Em todas as suas falas (transmitidas para um palmtop no púlpito e um ponto eletrônico produzido com o melhor da nanotecnologia) insistiu que Kerry muda de idéia facilmente, assumindo a máxima de que só os idiotas não mudam de idéia. Como troco, Kerry ironizava a queda nos investimentos na segurança interna e os gastos montruosos nas guerras de expansão no Iraque e no Afeganistão.

Bush irritado, investia no medo, dizendo que o senador é muito indeciso para assumir o comando da nação num momento de crise como o atual. Kerry vingava-se afirmando que a primeira providência na invasão ao Iraque foi proteger os poços de petróleo. Bush retrucava dizendo que prevenir é melhor que remediar. Kerry ironizava dizendo que atacar o Iraque por causa do 11 de Setembro equivale a Roosevelt atacar o México por causa de Pearl Harbor. Bush vacilava entre o texto que aparecia no palm e o que chegava ao seu ouvido e ficou confuso, mas Kerry não percebeu. Kerry demonstrou maior inteligência, o que não é grande coisa diante do fundamentalista texano. O problema é que o povo norte-americano valoriza mais a astúcia que a inteligência. É provável que o selvagem vença o gentle giant. Seja qual for o resultado, o mundo não se tornará mais seguro.

terça-feira, 28 de setembro de 2004

A idade de Cristo

A idade de Cristo

Relato de uma internação


Ar. Só o valorizamos quando nos falta. Meu peito dói. A respiração é curta. Tenho febre. Náuseas. Encolhido numa cadeira de rodas, tento respirar. As costelas esmagadas por uma pressão abissal. Os pensamentos em espasmos. Tento me concentrar, saber como vim parar aqui. Olho em volta. Um corredor de hospital. Odeio hospitais. Frase feita, odiar hospitais. Ofende-se a quem trabalha neles. É como me dissessem odiar universidades. E há quem o diga.

Começo a lembrar. Árvores passavam pela janela. Andréa dirigia, um olho em mim outro no volante. Perguntava como eu me sentia. Tentava me manter acordado. Me deixou numa entrada de emergência e foi estacionar. Entrei cambaleando pela porta da frente. Disse à recepcionista que não conseguia respirar. Fui encaminhado para uma maca. Deitei. Esperei uma eternidade. Um médico veio e me fez perguntas. Respondi o que pude. Colocaram-me nesta cadeira de rodas. Tenho frio e dores por todo o corpo. Sensação de desmaio. Parece um ataque de pânico. Preciso sobreviver. Para contar.


Continua

sexta-feira, 17 de setembro de 2004

Frases para se desconfiar

Divinópolis - Essas são (in)falíveis:

1 - Vamos deixar as coisas como estão.

2 - É bom, mas tem um problema.

3 - Entraremos em contato.

4 - É só uma pequena intervenção.

quinta-feira, 16 de setembro de 2004

Do conservadorismo

Divinópolis -

A vida é constante movimento. As tentativas de interromper esse fluxo, por mais assimétrico, desconcertante e vertiginoso que seja, devem ser consideradas crime contra a humanidade. Mudar está previsto no código genético de todos os seres. A própria palavra ser indica inconstância. Em inglês, francês e italiano os verbos ser e estar têm o mesmo significado. Em português têm interpretações diferentes, mas isso, longe de ser ruim, só amplia o signifcado. Todo estar é momentâneo. Nós estamos mais do que somos.

Mudar a disposição dos móveis, mudar de lugar, de cabelo, de cidade, de leitura, mudar de canal, mudar de moda sem entrar na moda da mudança não é mero exercício de vaidade, mas uma proposta de retorno à natureza. Porque assim como a natureza, somos seres em permanente transformação.

Tudo se transforma, mas é da natureza do ser humano achar que pode viver de forma independente da... natureza. E julgar-se extra-natureza é como declarar-se extra-terrestre. A tentativa de se conservar explorando os recursos naturais (recursos em mutação) traz conseqüências já conhecidas. A natureza, como os homens-bomba, vinga-se indiscriminadamente.

Nossa necessidade de mudança não precisa ser necessariamente uma renúncia ao que gostamos. Ficam os bons livros, os bons discos, os bons amigos, as boas maneiras. Manter um estado de coisas somente "porque é mais fácil" atesta nossa falência enquanto seres. Todo conservadorismo é uma opção pela barbárie. Resistir às mudanças é barbárie. Religiões dão a medida da barbárie. Códigos penais reproduzem a barbárie. A política partidária é a barbárie.

Entendo a necessidade da quietude e da meditação, esse esporte para evitar o pensamento, quando a velocidade das mudanças parece ter perdido o controle. Mas essa postura não deve ser estendida a todos os momentos da vida. O conservadorismo é absurdo porque tenta dar ordem ao que foi feito para ser apenas caos. A vida é o Samba do Lavoisier doido: Na natureza (na natureza!) Nada se cria (nada se cria!) Nada se perde (nada se perde!) Tudo se transforma (transforma!! transforma!!).

A vida é um rio.

Guerra fria