quinta-feira, 30 de setembro de 2004

Na Tela

Divinópólis - Bowling for Columbine ou o debate Kerry x Bush? Por um momento, a dúvida. Os dois programas trariam o belicismo à sala de TV. Escolho o debate: a transmissão em inglês é recebida mais rápido que e a traduzida para o espanhol e esta, por sua vez, chegava antes da versão traduzida da Bandnews. Sugestivo.

Kerry é um gentle giant, veterano do Vietnã que gosta de jactar-se quanto à capacidade guerreira e superioridade estratégica. Disse que existe uma maneira certa e uma maneira errada de defender Uncle Sam. Bush estaria insistindo na errada. No contra-ataque, Bush lançava olhares sibilinos e desqualificava o discurso do democrata. Em todas as suas falas (transmitidas para um palmtop no púlpito e um ponto eletrônico produzido com o melhor da nanotecnologia) insistiu que Kerry muda de idéia facilmente, assumindo a máxima de que só os idiotas não mudam de idéia. Como troco, Kerry ironizava a queda nos investimentos na segurança interna e os gastos montruosos nas guerras de expansão no Iraque e no Afeganistão.

Bush irritado, investia no medo, dizendo que o senador é muito indeciso para assumir o comando da nação num momento de crise como o atual. Kerry vingava-se afirmando que a primeira providência na invasão ao Iraque foi proteger os poços de petróleo. Bush retrucava dizendo que prevenir é melhor que remediar. Kerry ironizava dizendo que atacar o Iraque por causa do 11 de Setembro equivale a Roosevelt atacar o México por causa de Pearl Harbor. Bush vacilava entre o texto que aparecia no palm e o que chegava ao seu ouvido e ficou confuso, mas Kerry não percebeu. Kerry demonstrou maior inteligência, o que não é grande coisa diante do fundamentalista texano. O problema é que o povo norte-americano valoriza mais a astúcia que a inteligência. É provável que o selvagem vença o gentle giant. Seja qual for o resultado, o mundo não se tornará mais seguro.

terça-feira, 28 de setembro de 2004

A idade de Cristo

A idade de Cristo

Relato de uma internação


Ar. Só o valorizamos quando nos falta. Meu peito dói. A respiração é curta. Tenho febre. Náuseas. Encolhido numa cadeira de rodas, tento respirar. As costelas esmagadas por uma pressão abissal. Os pensamentos em espasmos. Tento me concentrar, saber como vim parar aqui. Olho em volta. Um corredor de hospital. Odeio hospitais. Frase feita, odiar hospitais. Ofende-se a quem trabalha neles. É como me dissessem odiar universidades. E há quem o diga.

Começo a lembrar. Árvores passavam pela janela. Andréa dirigia, um olho em mim outro no volante. Perguntava como eu me sentia. Tentava me manter acordado. Me deixou numa entrada de emergência e foi estacionar. Entrei cambaleando pela porta da frente. Disse à recepcionista que não conseguia respirar. Fui encaminhado para uma maca. Deitei. Esperei uma eternidade. Um médico veio e me fez perguntas. Respondi o que pude. Colocaram-me nesta cadeira de rodas. Tenho frio e dores por todo o corpo. Sensação de desmaio. Parece um ataque de pânico. Preciso sobreviver. Para contar.


Continua

sexta-feira, 17 de setembro de 2004

Frases para se desconfiar

Divinópolis - Essas são (in)falíveis:

1 - Vamos deixar as coisas como estão.

2 - É bom, mas tem um problema.

3 - Entraremos em contato.

4 - É só uma pequena intervenção.

quinta-feira, 16 de setembro de 2004

Do conservadorismo

Divinópolis -

A vida é constante movimento. As tentativas de interromper esse fluxo, por mais assimétrico, desconcertante e vertiginoso que seja, devem ser consideradas crime contra a humanidade. Mudar está previsto no código genético de todos os seres. A própria palavra ser indica inconstância. Em inglês, francês e italiano os verbos ser e estar têm o mesmo significado. Em português têm interpretações diferentes, mas isso, longe de ser ruim, só amplia o signifcado. Todo estar é momentâneo. Nós estamos mais do que somos.

Mudar a disposição dos móveis, mudar de lugar, de cabelo, de cidade, de leitura, mudar de canal, mudar de moda sem entrar na moda da mudança não é mero exercício de vaidade, mas uma proposta de retorno à natureza. Porque assim como a natureza, somos seres em permanente transformação.

Tudo se transforma, mas é da natureza do ser humano achar que pode viver de forma independente da... natureza. E julgar-se extra-natureza é como declarar-se extra-terrestre. A tentativa de se conservar explorando os recursos naturais (recursos em mutação) traz conseqüências já conhecidas. A natureza, como os homens-bomba, vinga-se indiscriminadamente.

Nossa necessidade de mudança não precisa ser necessariamente uma renúncia ao que gostamos. Ficam os bons livros, os bons discos, os bons amigos, as boas maneiras. Manter um estado de coisas somente "porque é mais fácil" atesta nossa falência enquanto seres. Todo conservadorismo é uma opção pela barbárie. Resistir às mudanças é barbárie. Religiões dão a medida da barbárie. Códigos penais reproduzem a barbárie. A política partidária é a barbárie.

Entendo a necessidade da quietude e da meditação, esse esporte para evitar o pensamento, quando a velocidade das mudanças parece ter perdido o controle. Mas essa postura não deve ser estendida a todos os momentos da vida. O conservadorismo é absurdo porque tenta dar ordem ao que foi feito para ser apenas caos. A vida é o Samba do Lavoisier doido: Na natureza (na natureza!) Nada se cria (nada se cria!) Nada se perde (nada se perde!) Tudo se transforma (transforma!! transforma!!).

A vida é um rio.

segunda-feira, 13 de setembro de 2004

Totem

Totem

- Gosto de jaquinzinhos e de petinga, gosto de lombos de salmão, ou de bifes de atum ou de espadarte. Se ainda não perceberam, gosto de comer aquilo de que nada fica, pois nada me desgosta, e enoja mais, do que ver os restos daquilo que estou a comer. Sou daqueles, devo esclarecer, que come o jaquinzinho da cabeça ao rabo, sem deixar qualquer vestígio, e nada me desgosta mais do que ter que não só deixar, mas conviver, com os restos daquilo que acabei de comer.

Luís Ene dá início a psicoterapia de grupo sobre idiossincrasias à mesa. Os participantes aplaudem-no. O cheiro de comida vem dos fundos, misto de vinho, pães e azeitonas. Ele deixa o púlpito, para onde sobe um homem de aproximadamente, cerca de, por volta de mais ou menos 33 anos. Ele olha ao redor, aparentemente nervoso, e começa:

- Oi, meu nome é Avery.

- (Todos respondem) Olá, Avery .

- Também não gosto de ficar perto dos restos de comida (agarra a lateral do púlpito, os dedos da mão esquerda em Dó maior), prefiro que desapareçam. Também não gosto de usar as mãos para comer, prefiro talheres ou hachi. Pão, tudo bem. Justifica tocar no alimento. Então...

- Não se preocupe, eu sempre cortava o pão depois de lavá-lo, diz uma voz se antecipando.

- Obrigado. Você ajudou bastante. Quem é o próximo?

- Espere, conte mais, diz uma adolescente muito magra que olha para o adolescente com espinhas sentado ao fundo.

- Bom, é isso, não sei mais o que dizer. (seca as mãos com sopros discretos) Talvez só que me meti numa confusão. Não dá pra sustentar uma história assim por muito tempo, entende? A idéia era manter o poema em movimento, construí-lo aos poucos partindo de um fragmento qualquer do grande livro humano; costurá-la com cultura pop e eventos bizarros perenemente, até que um dia ela acabe por si mesma. Meio Charlie Kaufman, que é paradigmático como Dali, entende? Só que mais obra em construção que obra aberta, como um Mahabharatha por Dante. Como um Decamerão pelos irmãos Campos, entende?. E no fundo tudo é a mesma coisa: romances, jornadas, buscas, sonetos, tudo está escrito, mas gostaria mesmo era que a construção pudesse ser acompanhada. A construção diz, ao mesmo tempo em que se auto-censura por dar-se o cacoete entende?, quando na verdade não fala entende? ou coisa do gênero. Mas não se faz entender.

- Pois bem, pois bem, então eu falo, diz o homem de nariz grande percebendo a indecisão do depoente. Façamos como nos velhos tempos, em que as turmas de colégio se encontram 20 anos depois e todos contam como foi sua vida nesse período, e aparecem aqueles que ganharam dinheiro com produtos de uso doméstico, o ídolo dos esportes, a perua incorrigível e os intelectuais beberrões. A câmera vai deslizando pelo salão e mostrando os rostos...

- Isso não fica muito Peggy Sue?, diz uma mulher de cabelo curto e óculos de aro negro, típica mulher de cabelo curto e óculos de aro negro e olhar penetrante. Não basta ficar aqui falando de nossas manias à mesa?, ainda temos que ouvir esses dircursos estilo obra aberta, em que um autorzinho egoísta conta como pode escrever sobre si mesmo planejando misturar sem coerência personagens e pessoas, ficção e realidade? E tem que ser como ELE imagina? Façam-me o favor, não me digam que somos obrigados a ficar ouvindo esses discursos estilo obra aberta...

- Ei, você já falou isso, interrompe a menina magra. Somos personagens nas mãos dele e isso quer dizer que ele tem poder sobre nossas vidas, sobre nossas falas aqui, sobre nossa existência, tá legal? É bom não irritá-lo!! E se ficou muito Peggy Sue, dane-se, tá?, começa a chorar.

- Calma, calma, diz Tigrão234, codinome usado na rede pelo empresário gordo obcecado por jovens muito magras que ouvia o atentamente o discurso de Luís Ene, mas perdeu o fio da meada na primeira menção aos jaquinzinhos, que lhe lembraram a infância marítima, a cozinha da casa sempre em uso, as brincadeiras com a vizinha anoréxica, o cheiro da comida da mãe, mas que só acordaria do transe para dizer calma, calma, não chore, menina magra, não vou te machucar, prometo que não vou mais te machucar. Aqui. Aqui está sua boneca, seu travesseiro, sua caixa de fósforos roídos, tome, não chore mais.

- Aí a câmera se aproxima e vai fechando com a imagem do grupo reunido, contrastando com uma velha foto preto e branco da época em que eles eram apenas um bando de jovens artistas engajados, que faziam teatro, que acreditavam no futuro, na solidariedade e no amor eterno, mas hoje convivem com a Aids e o terrorismo. Eles ficam em posição para que a câmera deslize em...

O homem não tem tempo de reiniciar suas idéias sobre a composição cinematográfica do reencontro de turma. Parece saudoso de épocas sem retorno. Sua discretamente na testa, porque pensa, porque pensa. Planeja falar sobre um novo plano-seqüência, mas não não consegue porque ouve que

- Isso não é muito Peter's Friends?, diz Tigrão234, surpreendendo pela cultura cinematográfica.

- É aquele filme com a Emma Thompson e o Kenneth Branagh?, pergunta a menina muito magra.

- O Kenneth Branagh dirigiu, corrige a mulher de cabelo curto e óculos de aro negro.

- E atuou também, ele é o marido da atriz americana que faz um sitcom horrível, explica Tigrão234, que havia lido sobre Peter's friends na véspera, no catálogo da locadora.

- É uma sitcom, corrige a mulher de cabelo curto, que está sem óculos.

- E tem o Stephen Fry, aquele que sumiu, diz Avery, querendo acalmar os ânimos dos personagens (as personagens?, pensa em gêneros e não consegue decidir se a palavra é um galicismo e caso o seja, se se deve aceitá-lo em nome do colonialismo lingüístico, se é que isso existe em english times) e procurando algum lugar para lavar as mãos, acreditando que alguém lembrará da música sobre o Stephen Fry. Ninguém lembra a não ser o adolescente de espinhas, que não fala nada.

- E tem o Hughie Laurie, parceirão do Stephen Fry naquele Fry and Laurie, diz o homem de nariz grande.

- ... e foi escrito pela Rita Rudner e pelo Martin Bergman, completa a mulher de cabelo curto e óculos de aro negro.

Luís Ene dá de ombros e abre o notebook para escrever qualquer coisa, enquanto o homem de nariz grande concorda com a mulher de cabelos curtos e óculos de aro negro e Avery finge que desconhece outros Bergmans que não Ingrid e Ingmar, mas confessa ter visto A bit of Fry & Laurie, The Awfull Truth e Curb your enthusiasm mais do que gostaria, e embora não corra o risco de ser interpretado como feliniano, mas malkovichiano em típica avaliação torta de quem percebe o roteiro mais que o roteirista, desiste.

O público cala. A mulher de cabelo curto e óculos de aro negro fala por último. Diz que prefere não jantar.

quarta-feira, 8 de setembro de 2004

Candidatos a vereador

Léia do Pão
Zé da Vó
Maria Alice do Foto Ásia
Arapinha
Dé Pasteleiro
Vicente Formigão
Divino da Babilônia
Dário Camelô
Antero Padeiro
Peroba
Moisés Trocador
Gilberto Examinador
Francisco da Telemensagem
Pateta
Careca da Água Mineral
Padre Pintor
Tião Pega Lobo
Paçoca
Geralda Mãe dos Trigêmeos

domingo, 5 de setembro de 2004

Redução de danos

São Paulo -

A Revista MTV de agosto traz uma matéria polêmica e necessária sobre um tema presente no cotidiano, nas escolas, nas ruas, nas boates: o uso de drogas atinge muitas famílias, mas é obscurecido por razões legais, religiosas, políticas. No centro da questão, a proposta da redução de danos, que provocou queda substancial nas infecções por HIV por usuários de drogas injetáveis mesmo sendo tratado como estímulo à estupefaciência pelo nem sempre lúcido Ministério Público.

A conclusão, quase nunca compartilhada pela sociedade, é de que dependentes de drogas não são criminosos, mas podem ser vítimas. E que precisam ter os riscos à saúde minimizados sem necessidade de intervenção policial.

Para pais, filhos, educadores e consumidores é material valioso, principalmente as dicas sobre redução de danos para usuários de drogas leves, injetáveis e sintéticas. Alguns trechos:

"Não há como consumir drogas sem correr riscos. Simplesmente pelo fato de que não existe droga inofensiva à saúde física e mental." Fernanda Mena, jornalista, autora da matéria.

"As propostas de erradicação das drogas parecem vindas de alguém que tomou um ácido. Não é possível que, em sã consciência, alguém acredite que isso vá acontecer." Fábio Mesquita, coordenador de DST e Aids da Cidade de São Paulo.

"Quem usa drogas pode até se matar. E pode ter problemas com a justiça, com o traficante, com a saúde, com a polícia, com a família, com a conta bancária e com o trabalho." Paulo Giacomini, coordenador de redução de danos do Centro de Convivência É de Lei.

"O que causa maior dano é a criminalização da droga". Maria Lúcia Karam, juíza aposentada

"A legislação brasileira parece ainda pouco adaptada a esta realidade. Mais do que isso, ela dá sinais de esquizofrenia: delibera que usar droga não é crime, mas que portá-la é um passaporte para a prisão com anos de validade". Fernanda Mena.

segunda-feira, 30 de agosto de 2004

Na tela

Na tela


Divinópolis - Cazuza é um bom filme, mas não atinge a excelência cinematográfica de um Oliver Stone em The Doors. A espera por uma superprodução tupininquim continua a frustrar os cinéfilos mais exigentes e lembra a cobrança ostensiva por um desempenho impecável dos atletas brasileiros em Olimpíada ou Copa do Mundo, como se a perfeição pudesse ser alcançada todos os dias. Não é.

A participação da TV Globo gerou os padrões de qualidade esperados, mas esmaeceu a direção de fotografia e criou clima folhetinesco. O figurino poderia ser melhor, assim como a direção de arte. Nada disso entretanto, comprometeu o trabalho de adaptação do livro as mães são felizes, de Regina Echeverría. O filme, pode-se dizer, é o livro em formato audiovisual.

O melhor de Cazuza é a interpretação do ator Daniel Oliveira, que incorporou os gestos, o riso debochado e a empáfia do jovem poeta morto pela Aids aos 32 anos, no auge da carreira. Cazuza cantou um país desconjuntado, com o egoísmo dos filhos únicos, o hedonismo dos poetas e a paixão da juventude. Suas letras foram interpretadas pelos maiores nomes da música brasileira. Sua mensagem, misto de crítica cruel e prazer sem culpa, soa eterna.

PS: Gean Queiroz (Joca), parceiro em várias canções do Carolina Cascão, faz uma ponta.

sexta-feira, 20 de agosto de 2004

Salve o Ministério Público

São Paulo - Entre as mais recentes contribuições do Judiciário para o crime em banda larga está a tentativa de reduzir os poderes de investigação do Ministério Público. Dois membros do Supremo Tribunal Federal já concordaram em limitar o trabalho de investigação do MP contra fraudes no Sistema Único de Saúde no Estado do Maranhão.

Um Ministério Público independente é fundamental para a defesa da ordem jurídica, do regime democrático e dos interesses sociais e individuais. A Justiça brasileira já contribuiu o suficiente com o crime organizado nos últimos anos, fornecendo pessoal especializado como os juízes Nicolau dos Santos Neto e João Carlos da Rocha Mattos. O primeiro comandou um esquema de superfaturamento nas obras do Tribunal Regional do Trabalho de São Paulo , deixando o prédio uns 50 milhões de Euros mais caro. Cumpre prisão domiciliar. Rocha Mattos negociava sentenças e livrava grandes criminosos da cadeia por quantias generosas e alguns eletroeletrônicos. Está preso e promete entregar mais bandidos de toga e distintivo.

A Transparência Brasil está coletando assinaturas contra a nefasta atitude do STF de limitar os poderes de investigação do Ministério Público. Leia o Manifesto e assine.

terça-feira, 17 de agosto de 2004

On the road

Nova Serrana - A capital do calçado em Minas Gerais agora sedia feiras de equipamentos de fabricação de sapatos. Outrora combinação eficiente de cidade pequena e fabril, começa a ingressar no circuito comercial pesado, com feiras de negócios e projetos de exportação. Como em Franca (São Paulo), aqui respira-se couro, lona e solas de borracha. A comida é barata e as igrejas têm bela arquitetura de ares contemporâneos. Apesar do perfil industrial, a vida é low-profile, como requerem as montanhas de Minas.

On the road

Oliveira - Tomo café com leite e bolo numa padaria em Oliveira. A conta dá 1 Real, ou cerca de 0,27 Euros. Faz frio e acabo de fazer uma palestra sobre Jornalismo para estudantes do ensino médio. Falar de vocação profissional e mercado de trabalho a adolescentes é estimulante, embora essa estranha combinação de infância prolongada com traços precoces da vida adulta nos surpreenda com singelos estados d'alma.

Esta cidade faz parte da História da Ciência graças a Carlos Chagas, que nasceu aqui em 1879 e tornou-se o único cientista do mundo a identificar uma doença (Mal de Chagas), descobrir-lhe o inseto hospedeiro (Barbeiro), o agente causador da enfermidade (Tripanosoma Cruzi) e o tratamento. Chagas trabalhou com outro grande pesquisador, Oswaldo Cruz, cujo sobrenome serviu para batizar o protozoário, numa homenagem do amigo oliveirense.

segunda-feira, 9 de agosto de 2004

Pobre Diabo

Divinópolis - Pablo Varela invade o blogverso com as insólitas aventuras do Diabo que fez pacto consigo mesmo.

Não pretendia nada que não fosse diabólico, afinal não abria mão de ser ele mesmo. Ao mesmo tempo deveria pegar leve pra não ser politicamente incorreto. Queria seu espaço, mostrar que era perfeitamente possível a convivência de beatas, putas, maconheiros, políticos, blasfemadores...

quarta-feira, 4 de agosto de 2004

Mudança 3

Divinópolis - Agora é definitivo. Este blog passa a ser atualizado de Divinópolis, cidade de 190 mil habitantes no Centro-Oeste de Minas Gerais, ao sul de Belo Horizonte e pouco mais de 500 quilômetros ao norte de São Paulo.

A economia local é baseada na indústria de vestuário e siderurgia. Depois da capital e de Juiz de Fora, Divinópolis é a cidade com melhor desempenho na economia mineira. Os índices sócio-econômicos são muito bons. As ruas são arborizadas, o trânsito tranqüilo, a poluição controlada e as pessoas amáveis: Se estão indo, dizem "fica com Deus". Se ficam, dizem "vá com Deus". Se estão falando, não são interrompidas. Se estão ouvindo, não interrompem. Se oferecemos chocolate ao cavalo da charrete, o condutor aceita com um sorriso.

Divinópolis rulez.

Mudança 2

São Paulo - Mudar é sempre complicado. Dizem que cada três mudanças equivalem a um incêndio. Não conseguimos encontrar nada e sempre notamos algumas perdas. Por outro lado, podemos fazer uma limpeza inesperada do lixo cultural (no bom sentido) que entope gavetas e estantes. Falta feng-shui às bibliotecas.

Ao ver as caixas de livros pelo escritório lembro de um texto chamado Ex Libris, que escrevi há alguns anos numa outra mudança, em que lembrava Walter Benjamin e seu "Desempacotando minha biblioteca". Abrir caixas de livros, mesmo que sejam seus velhos livros, é sempre um parto. É como trazer novamente à vida velhos vampiros fossilizados da literatura e das ciências.

Mudança

São Paulo - Entre pilhas de caixas, pedaços de madeira, parafusos, agendas, telefones, livros, discos, fotos, CPUs, quadros, violões, papéis, papéis, papéis, chaves de fenda, TV, copos descartáves, sacolas plásticas, fogão, caixas, teclado, caixas, caixas, garrafas de água mineral pela metade, sacos de lixo, disquetes, CDs, grampeador, lâmpadas fluorescentes, brinquedos, controles remotos, cifras, DVDs, botões, fotos, panelas, VHSs, sabonetes, mala, cuia...

segunda-feira, 2 de agosto de 2004

Uma canção

Ai, se Sêsse
(Zé Da Luz/Cordel Do Fogo Encantado)
Se um dia nóis se gostasse
Se um dia nóis se queresse
Se nóis dois se empareasse
Se juntim nóis dois vivesse
Se juntim nóis dois morasse
Se juntim nóis dois drumisse
Se juntim nóis dois morresse
Se pro céu nóis lá subisse
Mas porém acontecesse de São Pedro não abrisse
a porta do céu e fosse te dizer qualquer tolice
E se eu me arriminasse
E tu cum eu insistisse
pra que eu me arresolvesse
E a minha faca puxasse
E o bucho do céu furasse
Tavés que nóis dois ficasse
Tavés que nóis dois caísse
E o céu furado arriasse
e as virgi toda fugisse

quarta-feira, 28 de julho de 2004

terça-feira, 27 de julho de 2004

Pensamentos de rodoviária

São Paulo - Sete da manhã. O ônibus ainda não chegou na rodoviária. Melhor, que assim como alguma coisa antes da viagem. O bilhete que comprei me leva até o último povoado da rota. Será um longo caminho até deixar esta cidade...
São Paulo - Edgar Borges estréia na blogosfera.

quarta-feira, 21 de julho de 2004

Poster-busters: uma idéia a ser seguida

São Paulo - Lilian Alves, que integra a trupe dos Andarilhos das Letras, edita o Jornal da Praça Benedito Calixto e quando sobra tempo é estilista, participa de uma campanha que merece o apoio de toda a blogosfera. Trata-se da Ação cata-cartaz. A idéia é limpar a cidade de São Paulo dos cartazes e faixas de políticos colocados em locais proibidos pela Lei Eleitoral. Os grupos saem de madrugada munidos de objetos cortantes, alicates e escadas. O movimento tem conseguido novas adesões e vai ser mantido com regularidade e compromisso. 

"Somos apartidários e retiramos propaganda de qualquer candidato. Certamente passaremos a incomodar os caras e a a população vai perceber que é sacana esse gesto de sujar a cidade para tentar se eleger. Temos a Democracia a nosso favor. É maravilhoso olhar uma rua por onde passamos e limpamos. E também receber os elogios dos passantes, que dão uma buzinada ou ficam simplesmente admirando", diz a Lilian.

A ação já aconteceu na Zona Leste (av. Paes de Barros), Oeste (Pinheiros, rua Henrique Schaumann) e imediações do Hospital do Servidor Público (Zona Sul). Hoje de madrugada tem mais. Lilian, estivesse aí e certamente participaria da ACC. Coisas assim provocam a pouco crível saudade de Sampa.

PS: Colabore, cidadão. Crie seu próprio grupo de caça à sujeira da propaganda eleitoral.

segunda-feira, 19 de julho de 2004

Ame-o ou deixe-o

São Paulo - Uploads de fotografias ainda não estão disponíveis no Blogspot, mas quem achava que poderia viver sem a participação da gigante Google nas suas vidas, pode publicar seus textos e idéias mais facilmente no Grande Irmão do Século 21. O Blogger agora tem um editor de HTML semelhante ao da Netscape, que permite aos não-alfabetizados em Hypertext Markup Language sonhar com webdesigning.

terça-feira, 13 de julho de 2004

Dia do rock

São Paulo - Robert Johnson B.B. King Elvis Presley Chuck Berry Etta James Buddy Holly Beatles Beach Boys Rolling Stones Jefferson Airplane Lovin' Spoonful Mutantes Led Zeppelin Canned Heat Deep Purple Jimi Hendrix Black Sabbath Joelho de Porco Rush Uriah Heep Nazareth Ten Years After Moody Blues T. Rex Casa das Máquinas Free Sui Generis The Doors Thin Lizzy Iron Maiden O Terço Suzie Quatro Charly Garcia AC/DC Raul Seixas Celso Blues Boy Humble Pie Legião Urbana The Clash Patti Smith Soda Stereo Peter Frampton Joy Division Style Council The Police Paralamas The Smiths Plebe Rude The Cure Echo and the Bunnymen The Mission Prefab Sprout Cocteau Twins Talk Talk Nirvana Chico Science e Nação Zumbi Cafe Tacuba Pearl Jam Aterciopelados Smashing Pumpkins The Strokes Kings of Leon (... e continua)

sexta-feira, 9 de julho de 2004

Micronações

São Paulo - A rede assemelha-se cada vez mais ao mundo real, com o detalhe de que por aqui as semelhanças começam pelas esquisitices. Como as primeiras home-pages, repletas dos famigerados GIFs animados, que surgiram como praga no meio dos anos 90 e até hoje podem ser encontradas nos porões da web.

E os sites de maledicência contra tipos insuportáveis (Casas Bahia, Galvão Bueno)? Tem os que homenageiam RPG, O Senhor dos Anéis e Harry Potter, com vocabulários específicos e herméticos. Há os codificados com a escrita semiótica dos chats que lembram idiomas falados pelo C3PO. E há os blogs adolescentes, cheios de dolls e temas de importância universal, como a última ida ao cabeleireiro.

Mas nada se compara em matéria de estranheza ao fenômeno das micronações. Nesses ambientes virtuais, cidadãos criam personas, instituições públicas e governam seus reinos de pixel com dedicação de estadistas, ampliando o espaço nos discos rígidos que sustentam a ciberesfera e, claro, a lentidão da rede. Mas quem não contribui para o grande engarrafamento virtual que atire o primeiro mouse.

Nas micronações, os internautas podem atuar em profissões diferentes das que exercem na realidade. Participam da administração do país, caso dos funcionários públicos e candidatam-se a eleições, desde que tenham partido político. Os partidos, por sua vez, devem ter sítio próprio. Para fundar uma micronação, basta ter um computador, hospedagem gratuita e perfil de estadista.

Vejam um trecho da história da Monarquia Hereditária de Brunão, que subsiste em uploads feitos de Curitiba:

A História de Brunão remonta (sic) os tempos da Guerra do Golfo (1991), quando um menino com ainda 5 anos sonhava fundar seu próprio país. Mais adiante (10 de outubro de 1996) é criado um país com o nome de Monarquia Hereditária de Brunão que existe até hoje, tendo como rei Vossa Alteza Real Rei Bruno Quadros e Quadros. O brunaíno é um idioma artificial que está sendo desenvolvido pelo Rei e procura ter raízes portuguesas, inglesas, romenas, célticas, vikings e gaélicas.

A veterana Pasárgada tem versões em português, inglês e espanhol e possui estrutura administrativa impécavel, com cantões (Éfaté, Icária, Inverness e Sloborskaia) e constituição própria:

Verdadeiro ícone do sentimento democrático Pasárgado, a Constituição define Pasárgada como "um estado social e democrático de Direito, que tem como valores superiores de seu ordenamento jurídico a Liberdade, a Justiça, a Igualdade e o Pluralismo político", onde "a soberania nacional reside no Povo Pasárgado, do qual emanam todos os poderes do Estado".

Outras, como a Comunidade Cecília, cansada de nações virtuais autocráticas, tem propostas mais ousadas:

Diferente de algumas micronações, temos como objetivo fazer com que os cidadãos pensem sobre a própria sociedade do mundo real. Pensem e, se acharem algo de errado, que façam alguma coisa.

Alguns links:
Micro-Nations
Reino Unido de Portugal e Algarves
Reino Unido de Sayed
Reino da Normandia

terça-feira, 29 de junho de 2004

Leio A artista do corpo, de John Delillo

Um livro curto, um tempo longo. Pouco mais de 120 páginas de pequenos parágrafos em corpo 13. A artista do corpo envolve romances incompletos, sentimentos contraditórios, incomunicabilidade, body art e provação. Exige leitura lenta (exagerei nos quatro meses!), com suas frases inacabadas que nos levam a crer que essa história corre numa linha de tempo congelada, como a superfície de um lago, como os carros que deslizam na auto-estrada, como se.

segunda-feira, 28 de junho de 2004

America

São Paulo - Os norte-americanos acreditam que o mundo exterior se divide em duas categorias: países que são uma anarquia tal que nem vale a pena pensar neles, e aqueles cuja anarquia ameaça nossa segurança ou nossa sensibilidade moral. No último caso, devemos invadí-los, restabelecer a ordem, retornar imediatamente e não pensar mais neles.

Do livro Detonando a Notícia, do jornalista norte-americano James Fallows, p. 172

domingo, 27 de junho de 2004

Imagens

Divinópolis - Elas começaram a aparecer não se sabe de onde, circundando as árvores próximas de uma ponte sobre a linha férrea que liga o centro de Divinópólis ao bairro Esplanada. Fiz com uma Fuji S5000 o registro das belas e barulhentas garças do centro-oeste mineiro.

quinta-feira, 24 de junho de 2004

quarta-feira, 23 de junho de 2004

Textos sem autor

São Paulo - Pululam, na rede, textos apócrifos atribuídos a escritores de renome. Não sei qual a intenção dos autores de tais peças, ordinariamente escritas e com um toque pessoal aqui e ali, atestando-lhes a insipiênsia.

Seriam descendentes dos desafetos de James Joyce os autores das cartas escatológicas que tentam lhe copiar a fleuma? Seriam separatistas os responsáveis pelos textos falsos atribuídos a Luís Fernando Verissimo?

Teria sido Sérgio Brito (Titãs) o autor de versos moribundos atribuídos a Jorge Luís Borges? Que fundamentalistas escreveram as mensagens piedosamente cristãs atribuídas ao pouco religioso Gabriel García-Márquez?

segunda-feira, 21 de junho de 2004

São Paulo

São Paulo - Buzinas luzes carros trânsito luzes ruídos luzes ruas avenidas metrô vielas pessoas gente gente gente gente barulho vendedores pressa filas táxis vozes carros casas gritos luzes USP casa filho Liu mulher Andréa amor amor amor Pinheiros sábado Madalena sábado Dolores DJs Morrison bar rock n' roll Zeppelin Jack Daniels Aspicuelta Black Label Joplin Wisard tequila sal Blue Curaçao táxi domingo Play Center filas carros filas queda filas vôo filas roda gigante filas filas trenzinho filas elefantes filas filas pizza filas filas filas casa comida roupa mochila metrô terminal ônibus estrada estrada estrada

domingo, 20 de junho de 2004

O mundo é pequeno?


O mundo é pequeno
São Paulo - O mundo acadêmico é. Ontem encontrei no Terminal Tietê (eu chegando a São Paulo, ele saindo de) o pesquisador da Embrapa, especialista em orquídeas, Joaci Freitas. Joaci faz doutorado ardido em cidade de nome doce, Jaboticabal. Está pesquisando o DNA de uma espécie de pimenta nativa de Roraima, que os índios usam imemorialmente. Permanece, no entanto, fotografando e pesquisando Cattleyas violaceas e outras espécies de orquídea do Norte e do Sudeste. Nos velhos tempos de minha banda, Carolina Cascão, Joaci recebeu-nos em casa para uma turnê Brasil-Venezuela marcada por muita sede e rock n' roll.

quarta-feira, 16 de junho de 2004

Bloomscentury

São Paulo - Faz cem anos hoje que Stephen Dedalus flanou pelas ruas de Dublin, encontrou Leopold Bloom, que encontrou Gerty McDowell que não gosta de Blazes Boylan (quem gosta?), que pardelhas, pardelhas, é mesmo a bloody bastard.

Há cem anos ocorria o Bloomsday.

Para entender, leia o Ulisses de James Joyce. Mas depois... sua vida será outra, com você pensando de forma multifacetada, querendo escrever complicado só pra sentir o gostinho, com idéias revolucionárias sobre arte e estética. Depois ficará surpreso com a memória das coisas, a organização interna das gavetas, o orgulho nacional e achará que conhece a loquaz Molly Bloom. Depois descobrirá que a vida é menos complexa, que dá pra encarar um Fernando Sabino sem perder a calma, assistir a Jay e Silent Bob, Hermes e Renato...

100 a 87

São Paulo - Toda a glória aos pistões de Detroit.

Ben Wallace nas alturas.

O abalado Los Angeles Lakers estava irreconhecível em quadra. Tinha que perder mesmo.

Sofrimento dobrado para Karl Malone, que apostou errado trocando os US$ 18 milhões de renovação com o Utah Jazz por 1/10 desse valor para jogar no Lakers.

Duelo de técnicos é um termo apropriado para a final da NBA. Ao derrotar o laureado Phil Jackson, Larry Brown (laureado de outrora) prova que no basquete, diferente da política externa, toda supremacia tem limites.

terça-feira, 15 de junho de 2004

Igualzinho

São Paulo - Essa eu vi num post do Israel Barros no Cabuloso Destino: com o singelo subtítulo de Star Estimator, o Analogia localiza celebridades que se pareçam com você. Isso mesmo, você. Basta ter uma foto no micro. O resultado nem sempre é fiel a nosso fenótipo. Ou então pareço com Diego Armando Maradona e Timothy Dalton. Encontre seu sósia-celebridade aqui.

segunda-feira, 14 de junho de 2004

Do ofício

São Paulo - Custa-me a acreditar que sejamos quem fomos; somos quem somos a cada momento, mas a história de quem fomos tem muitas vezes de ser contada para que possamos verdadeiramente ser quem somos. As pequenas histórias que aqui podem ser lidas contam elas mesmas a história deste sítio, e fazem-no muito melhor do que eu alguma vez poderei, mas existem outras histórias por trás destas que eu mesmo quero contar.

Luís Ene, escritor português em visita ao Brasil, autor dos blogs 1000 e uma e Ene coisas, de quem tomo palavras escritas aqui.

sexta-feira, 11 de junho de 2004

Sobre blogs

São Paulo -
1 - Blogs são coleções de textos preparados por uma ou mais pessoas (podem ser pessoas preparando diferentes textos ou textos a quatro, seis mãos). Blogs são escritos.

2 - Bloggers escrevem blogs. Logo, bloggers são blogueiros e blogs são blogs. Blogs normalmente são diários, mas também podem ser semanários, bissextos, hebdomadários...

3 - Blog não é blig ou blogger. Chamar aos blogs dessa forma equivale a chamar lã aço de Bombril e lâmina de barbear de Gillette. Blogs são blogs. Ponto.

4 - Blogs podem ter ferramentas auxiliares, como os sistemas de comentários, o Blogchalking, o Blogtree e os contadores.

5 - Sistemas de comentários são formas instantâneas de comunicação entre bloggers (ou blogueiros) e seus leitores (que também podem ser blogfans ou blogfreaks). São ferramentas democráticas que os jornais, por exemplo, não têm coragem de instalar.

6 - Blogchalking é um sistema de classificação geográfica criado por um brasileiro, o Daniel Pádua. A idéia é identificar o blogger (blogger é o blogueiro, não o blog) por cidade e até por bairro. Assim pode-se descobrir quem bloga na sua vizinhança. Aquele bonequinho na coluna à esquerda indica que sou um indivíduo do sexo masculino com idade entre 31 e 35 anos (quando comecei estava noutra faixa etária), morador de São Paulo, bairro Butantã, que passa cerca de 40 por cento do seu dia conectado à rede (um exagero, mas os índices disponíveis são 20, 40, 60 e 80 por cento).

7 - Os contadores registram o números de visitas à sua página, mas também registram a origem dos acessos (o país e em alguns casos a cidade), o sistema operacional dos computadores que abrem seu blog mundo afora (já fui lido em 76 países!) e o endereço IP, caso destas e-pístolas.

8 - Blogtree é um serviço criado no MIT (Massachussets Institute of Technology) que estabelece uma espécie de genealogia blogger. Funciona assim: você cria uma conta gratuita, inscreve-se e identifica que blogs influenciaram na criação do seu. Este aqui, por exemplo, foi inspirado no Internetc, no Taperouge e no Metafilter. Da mesma forma, influenciou no surgimento do Canaimé, que por sua vez inspirou o Laranja Podre. Assim, o e-pístolas é tão filho do Metafilter quanto este é bisavô do Laranja Podre.

9 - Ninguém é obrigado a adotar tais ferramentas, mas sabe-se que um blog é mais blog se não está isolado. Um blog só é blog se está numa rede, como seus correspondentes humanos em sociedade.

10 - Blogs podem ser meros depositários de devaneios pessoais sem nenhuma importância para o coletivo humano ou podem contribuir para a discussão de temas socialmente relevantes, como a guerra, a arte ou a arte da guerra.

11 - Nao convém publicar a própria foto num blog. Elas podem ser usadas em montagens obcenas ou ilustrar os posts dos seus inimigos.

12 - Blogs têm um tempo de vida útil. Um dia este blog irá morrer.

quarta-feira, 2 de junho de 2004

Na vitrola
Beto Guedes - Sol de primavera
Flávio Venturini - O andarilho
Lô Borges e Milton Nascimento - Clube da esquina 2

quinta-feira, 27 de maio de 2004

Reflexões numa manhã de quinta-feira
Toda cidade tem uma padaria com o nome da cidade
Toda cidade tem um Hotel Plaza
Toda cidade tem uma Relojoaria Pontual
Toda cidade tem uma Drogaria Avenida
Toda cidade tem um Salão Status
Toda cidade tem uma rua com o nome de outra cidade
Toda cidade tem suscetibilidades

quinta-feira, 20 de maio de 2004

Divinópolis
Pássaros pela manhã. Uma carroça conduzida com tranqüilidade. Sol. Luz de outono. Árvores. Flores amarelas. Uma ponte. Um rio. Montanhas. Um trampo. Um i-Mac. Um bom e velho PC. Um post slow-motion. Uma réstia de sol pela janela. Life is easy.

domingo, 16 de maio de 2004

Na tela
Diários de Motocicleta não apela para "um certo sentimentalismo de esquerda" ao contar a história da viagem de descoberta da América Latina pelo jovem Ernesto Guevara e seu companheiro Alberto Granado. O que este road-movie (ou river-movie) propõe não é panfletário - nem poderia, dada à origem burguesa do diretor Walter Salles -, por isso não deve aumentar significativamente a venda de camisetas com a efígie do revolucionário argentino. Diários de Motocicleta é o resgate do "caminho", que muitos acreditam estar entre a França e a Espanha, ou na trilha inca que conduz a Macchu Picchu. Como diria Carlos Castaneda (ou Belchior) o seu caminho (ou seu lugar) é aquele em que você está. Lembra-nos, entretanto, que a riqueza deste continente está mais nas pessoas que nas incríveis paisagens. A bela fotografia granulada acentua o período histórico e embeleza a tela.

quinta-feira, 6 de maio de 2004

Li Tempos Interessantes, de Eric Hobsbawm
Aqui a leitura do Século 20 por seu maior especialista ocorre de dentro para fora, como se os historiadores,

A história exige mobilidade e capacidade de
avaliar e explorar um vasto território, isto é,
a capacidade de ir além das próprias raízes.
Por isso é que não podemos ser plantas, incapazes
de deixar seu solo e habitat nativo, porque
nosso tema não pode esgotar-se em um único
habitat ou nicho ambiental (p. 451)


esses maravilhosos e poeirentos examinadores tardios das idiossincrasias humanas tivessem o direito de examinar a história por meio de suas experiências pessoais. Bom, Hobsbawm tem.

Os que têm a minha idade em alguns países
do hemisfério norte são a primeira geração de
seres humanos que efetivamente viveram como adultos
antes desse extraordinário lançamento da nave
espacial coletiva da humanidade em órbitas de
inaudita revolução social. (p. 434)


A formação multicultural (nascido em Alexandria, criado em Viena, jovem comunista em Berlim, fugiu para a Inglaterra, acompanhou a guerra fria, pôs o pé na estrada nos anos 60, assistiu à consolidação do imperialismo

O poder não corrompe necessariamente
as pessoas como indivíduos, embora não seja
fácil resistir a sua corrupção. O que o poder faz,
especialmente em tempos de crise e de guerra,
é tornar-nos capazes de realizar e justificar
coisas inaceitáveis se fossem feitas
por indivíduos privados. (p. 150)


e o surgimento da internet...) dá a Eric Hobsbawm essa característica única dos que conviveram (e aprenderam) com diferentes povos e línguas: reconhecer-se mais membro da espécie humana que tão-somente alemão, inglês, judeu etc. Fora o fato de ter acompanhado a época de maiores transformações na história, o sinistro século passado.

Em Tempos interessantes EH trabalha com uma infinidades de autores, escolas e movimentos que exigem dezenas de leituras complementares. Assim, vamos descobrindo um E. P. Thompson aqui,

... que seria registrado pelo Índice de
Citações de Artes e Humanidades (1976-1983)

como um dos cem autores do século 20 mais citados
em quaisquer dos campos cobertos pelo Índice. (p. 240)

um Ephraim Feuerlicht acolá,

Regressou à Áustria como membro
do bureau político do PC austríaco, escreveu
um livro curto e revelador sobre a França
e editou o jornal teórico do partido. (p. 164)

mas com o tempo, a bibliografia torna-se tão numerosa que chega a comprometer a própria conclusão do livro. Sorte têm os que chegam vivos às páginas finais que retratam um período da história mais conhecido, porquanto mais recente.

Para fãs do Século 20.

sexta-feira, 30 de abril de 2004

Na tela (As invasões bárbaras)
A vantagem de assistir a um filme meses depois do seu lançamento é não carregar os críticos para a sala de cinema. Dessa forma, podemos ver esta película sobre a brevidade da vida com o espírito livre dos cadernos de cultura. Assim o merece o bom e velho cinema de autor.

As invasões bárbaras dá seqüência a O declínio do império americano, filme de 1986 cujo título dispensaria comentários se fosse óbvio. Mas não é. E as razões pelas quais não é também não serão ditas. Diga-se apenas que os dois filmes, escritos e dirigidos pelo franco-canadense Dennys Arcand são a (auto)crítica de uma certa, como diria Carlos Saraiva, vã guarda.

Excepcionalmente bem-escritos, os diálogos são a marca das duas obras, que devem ser assistidas preferencialmente em seqüência. A segunda parte apresenta o mesmo grupo de amigos reunidos à margem do lago, desta vez para encarar a doença e morte iminente de um deles.

Discussões de pais e filhos distantes uma geração, distantes alguns livros, distantes uma carteira de capitais, distantes afetivamente em intervalos de sono na narcose dos hospitais, o 11 de setembro na TV e as considerações políticas do ácido grupo de fãs de trufas e vinho - há um trecho formidável, em que Rémy e o filho atravessam a fronteira e são saudados por uma sorridente moça loura, que lhes diz "Welcome to America" e ganha em resposta: "Aleluia", "Amém".

Para professores universitários, famílias em crise e todos aqueles que amam a vita brevis.

sábado, 24 de abril de 2004

Na tela (Kill Bill – Vol. 1)
Para quem conhece Anime, Electra, Mangá, Mortal Kombat, O Tigre e o Dragão, e Western Spaghetti, assistir a Kill Bill (Vol. 1) pode ser uma agradável experiência de transcendência pop. Ou um certificado de vítima da indústria cultural, dependendo do ponto-de-vista. Trata-se um filme conservador no sentido tarantinesco do termo: confirma-o a não-linearidade do roteiro, personagens doentes e a violência explícita.

Mas nada é real em Kill Bill - filme que sabe que é filme -, exceto o sentimento de vingança tão típico do ser humano. E nesse cinema pelo cinema, a ultra-violência comparece como caricatura, afastando-se da proposta de Cães de Aluguel (Michael Madsen tortura um policial) para trilhar caminhos de humor sibilino.

Quentin Tarantino - funcionário de videolocadora e freqüentador de cinemas de segunda categoria que virou cineasta - irrita quem não lhe alcança a fina ironia, mas é muito considerado no grupo dos que assistem 500 filmes por ano, lêem quadrinhos, gostam de filosofia oriental e artes marciais.

O quarto filme de QT traz movimentos de câmera abusados, referências a dezenas de filmes e HQs e uma trilha sonora tão esdrúxula quanto apropriada. E apesar da crítica média, aquela que conta todo o filme, seja por soberba ou limitações técnicas, trata-se de peça cinematográfica de indiscutível qualidade.

PS: Se você não leu Electra por Frank Miller, desconhece Mangá, nunca assistiu Akira, não jogou Mortal Kombat, não viu O tigre e o dragão nem sabe o que é western spaghetti, não se preocupe: Kill Bill tem muita ação.

quarta-feira, 21 de abril de 2004

Sem título
Era uma vez um partido tão democrático que cada membro tinha opinião própria. Jamais chegaram a um acordo.

quinta-feira, 15 de abril de 2004

Sem título
Ele queria escrever. E escreveu. Mas escreveu sobre não ter o que escrever,
como sempre fazem os que escrevem.

quinta-feira, 8 de abril de 2004


Smells like teen spirit
Há 10 anos Kurt Cobain se matava em Seattle, encerrando mais cedo os anos 90. O que viria depois no rock, de Radiohead a Smashing Pumpkins, de Beck Hansen a Belle and Sebastian, de Pizzicato Five a Coldplay, já encerrava um pouco do que ouvimos agora, nos 2000. Estou no time dos que acham que o Nirvana foi a salvação do rock nos anos 90, mas não culpo a geração anterior (Smiths, The Cure, Jesus and Mary Chain, Echo and the Bunnymen, The Cult, U2...) ou a atual (The Hives, The Vines, The Strokes, White Stripes, Kings of Leon) pela ausência de ícones. Talvez Cobain, imolado pelo maisntrean, fãs obtusos, depressão e drogas represente exatamente isso: o fim dos heróicos anti-heróis do rock n' roll.

terça-feira, 6 de abril de 2004

Réquiem
Ao professor Octavio Ianni, que morreu no domingo e reunia agudeza intelectual com afetividade, ativismo com temperança e muito colaborou na conclusão da minha pós-graduação. Suas sugestões ajudaram meu Índio na Rede a encontrar equilíbrio entre a sociedade da informação e o pensamento selvagem.

segunda-feira, 5 de abril de 2004

Cidadania
Para doações em dinheiro às vítimas do Catarina: Banco do Brasil (agência 3226-13 ­ conta-corrente 7.285­0) e BESC-Banco do Estado de Santa Catarina (agência 0680, conta-corrente 802.500-5).

terça-feira, 30 de março de 2004

Pelo telefone
Os grupos Telefônica, Telemar e Brasil Telecom uniram-se no Consórcio Calais para comprar a Embratel da falida MCI. Cobriram a oferta da Telmex argumentando que o consórcio é nacional (tem nome de cidade portuária da França), que o negócio será o melhor para o Brasil etc. A intempestiva reunião das gigantes da telefonia guarda o vírus do oligopólio, já visível na reduzida diferença entre preços nos serviços e a falta de transparência nas tarifas cobradas por cada empresa. A Telmex pode ser estrangeira, mas nenhuma das que já dividem os lucros da telefonia brasileira é genuinamente nacional. A entrada de novo grupo pode, eventualmente, evitar a disparada dos preços que essa estranha união de "concorrentes" pode provocar. A Anatel precisa exercer um papel pró-consumidor.
Sociedade alternativa
Isaías viu shows do cantor em São Paulo, Santos, Santo André, São Bernardo, por toda parte. Fotografava, colecionava reportagens, gravava entrevistas. Tinha discos que não acabava mais e fotos na sala, cozinha, banheiro, até em cima do tanque. "A casa dele parecia um museu", diz Valdenice. Depois que entrou para a Igreja Universal, Isaías encerrou esse capítulo. "Quebrei e botei fogo em tudo", conta. "A verdade é uma só: Jesus. Como eu não conhecia o superior a ele, para mim Raul era o máximo. Mas eu me libertei."

Isaías Sena Souza, marceneiro do Itaim Paulista (Zona Leste de São Paulo) que nos velhos tempos conseguiu batizar a própria rua com o nome de Raul Seixas, domingo, no Estadão.

sexta-feira, 26 de março de 2004

Na vitrola
Elza Soares - Do cóccix até o pescoço
George Harrisson - All things must pass
Laurie Anderson - Life on a string
Projeto Igor - Mande minhas lembranças ao Onze
Nico - Chelsea Girl

segunda-feira, 22 de março de 2004

Contos do extermínio
Ariel Sharon mandou matar o líder-fundador do grupo Hamas, o fanático Ahmed Yassin, que jaz em pequenos pedaços em algum lugar da Palestina. Simples como um ato de governo, o assassinato de um idoso tetrapélgico é visto como solução para o problema do terrorismo. Afinal, não será Sharon ou sua família que serão despedaçados pelos explosivos dos kamikazes palestinos na vingança já prometida. O corrupto Sharon evita a imprensa e a Justiça com a morte do líder do Hamas. No céu dos déspotas, faraós egípcios e velhos nazistas contentam-se em saber que seu trabalho prossegue pelas mãos de Ariel Sharon.

domingo, 21 de março de 2004

Farinha do mesmo saco
Charlie Brown Jr.
Skank
Matanza
KLB
Detonautas
Jota Quest
CPM22

continua...

sexta-feira, 19 de março de 2004

Os Ladrões
O ex-presidente da Câmara Municipal de São Paulo, Armando Melão, foi preso hoje pela Polícia Federal em flagrante de extorsão. Anda cobrando propina para proteger supostos envolvidos no escândalo do Banestado. Disse que era inocente. "Sou totalmente inocente. Eu estou assustado, não sei o que está acontecendo". O cheque nominal de R$ 531 mil, argumenta, é uma tentativa de incriminá-lo. Igual às contas milionárias que abriram, na Suiça, em nome de fiscais do Rio de Janeiro. Já Paulo Maluf nega todas as acusações.

segunda-feira, 15 de março de 2004

Notas internacionais
* O povo espanhol deu o troco a José María Aznar (eu azno, tu aznas...), que envolveu o país numa guerra inútil e provocou o atentado em Madri, na semana passada. José Luís Rodríguez Zapatero, o novo chefe de governo, já anunciou que vai desmobilizar as tropas espanholas no Iraque, a partir de abril. A melhor decisão política tomada pela Espanha nos últimos anos.

* A Polônia acredita que pode ser vítima de atentados porque apoiou a invasão do Iraque. Muito perspicaz, o presidente Aleksander Kwaśniewski.

* Vladimir Putin, o czar da Rússia, reelegeu-se presidente, apesar das acusações de corrupção, autoritarismo, cerceamento da imprensa e (não é acusação, mas de realidade) carnificina na Tchetchênia. Ex-agente da KGB, Putin segue o estilo Bush e não se preocupa em eliminar inocentes para atingir seus objetivos. Foi assim quando autorizou a matança de centenas de inocentes com gás venenoso durante o seqüestro no teatro de Moscou por separatistas tchetchenos. Quando o submarino Kursk afundou, a mãe de um dos marinheiros exaltou-se numa coletiva de imprensa e foi imediatamente sedada por droga injetável, aplicada por uma funcionária do governo. É o Gulag revisitado.

quinta-feira, 11 de março de 2004

Europa
Previsível, o atentado terrorista que matou 200 e deixou 1,4 mil feridos em Madri, hoje pela manhã. A Espanha deu apoio à invasão do Iraque em momento infeliz da História, tornando-se porta de entrada do terrorismo internacional, que se enraiza na Europa.

Mesmo com o povo (oito em cada dez) contra, o país de Colombo, de Pizarro e de Franco foi à guerra. Da mesma forma que o ouro asteca, os petrodólares falaram mais alto ao conservador José María Aznar, assim como já haviam seduzido o trabalhista Tony Blair e o retrô Silvio Berlusconi.

Em nome da unificação européia, o trio culpa os separatistas bascos, que preferem executar políticos e juízes. Mas pelas características, os inocentes nos trens foram imolados por radicais islâmicos enlouquecidos armados até os dentes, desses que tratam civis como peões, sacrificados para favorecer um xeque.

De olho nas próximas eleições, Aznar dificilmente assumirá que levou a guerra para seu país, deliberadamente. Intriga da oposição, dirá nos programas eleitorais, diante da queda na receita do Turismo.

Os responsáveis pelas 13 bombas instaladas no sistema de trens da capital da Espanha deixaram uma mensagem indicando os próximos alvos: Itália, Inglaterra, Japão...

quarta-feira, 10 de março de 2004

Fina ironia
Três anos à procura da matéria perfeita.

Marcelo D2, sobre a revista MTV, na MTV.
Os ladrões
Em Alfenas, cidade do sul de Minas Gerais com expressiva população universitária, filmaram o prefeito José Manso entregando maços de dinheiro para seus vereadores. O pronome possessivo (seus vereadores) se justifica. Parlamentar, no Brasil, é como notícia: um produto à venda (Cremilda Medina). Endinheirado que se preza tem o seu deputado, seu advogado, seu jornalista...

domingo, 7 de março de 2004

Michael Schumacher vence o GP da Austrália. Barrichello em segundo
Impressão minha ou a Fórmula 1 ficou muito, muito monótona?

sábado, 6 de março de 2004

Na tela
O filme O Poder e a fé apresenta-nos um vendedor de Bíblias de estilo incomparável. A mistura de religião, violência e humor é pura crônica urbana. O roteiro é insano, mas denuncia desemprego, charlatanismo e a solidão da metrópole. Cordel do Século 21.

quinta-feira, 4 de março de 2004

Contos da Anta (3)
Companheiro Bush
Tom Zé

Se você já sabe
Quem vendeu
Aquela bomba pro Iraque,
Desembuche:
Eu desconfio que foi o Bush.


Foi o Bush,
Foi o Bush,
Foi o Bush.


Onde haverá um recurso
Para dar um bom repuxo
No companheiro Bush?
Quem arranja um alicate
Que acerte aquela fase
Ou corrija aquele fuso?


Talvez um parafuso
Que tá faltando nele
Melhore aquele abuso.
Um chip que desligue
Aquele terremoto,
Aquela coqueluche.

terça-feira, 2 de março de 2004

O Poder e a Fé
O curta-metragem O Poder e a Fé, escrito e interpretado por Felipe Saraiva, estréia quinta-feira no The Bar, na Vila Olímpia, São Paulo, Brasil.

O autor-ator é filho do poeta Carlos Saraiva e radicaliza na estética urbana.

A direção é de Beto Schultz e Thiago Luciano.

sexta-feira, 27 de fevereiro de 2004

Gasp
Entre todas as onomatopéias dos quadrinhos, minha preferida sempre foi gasp.

Também gosto de humpf e chuif.
Na vitrola
John Cale - Paris 1919
Mumiy Troll - Morskaya*

*Glam-rock russo irado. Ouça Utekay, Vdrug ushli poezda e Vladivostok 2000 e caia na festa.

quarta-feira, 25 de fevereiro de 2004

Crônica urbana (Epílogo)
Muito bem, o fascista vai caminhar por esta calçada. Preciso medir a quantidade exata de passos e o tempo que ele vai levar. É neste ponto que ele cruza com os mendigos, vê as pessoas na rua e... no final da quadra... entra no banco. Em certo andar deste banco, uma executiva passou a noite fazendo seu trabalho, que é retalhar empresas e vendê-las etc, etc. Ela vai observá-lo durante dois segundos, do alto da janela, no momento em que vive suas reminiscências hippies. O banco é importante porque é aqui que duas das personagens se cruzam, favorecendo a construção de um quarto episódio. Sim, a história pode ser ampliada, é claro, usando os personagens periféricos. O discurso do candidato a pastor acontece na mesma quadra por onde caminha o fascista. O treino acontece com voluntários da própria igreja, que respondem aos chamados do candidato a pastor na hora da cura de todos os males. O olhar do candidato a pastor pousa, por dois segundos, sobre o fascista que anda pela calçada. No exato momento em que ele fala que o Diabo está à espreita, etc. etc. O fascista passa com nojo pelos mendigos da calçada, olha o candidato a pastor e o odeia. Depois que entra no banco, o fascista e a executiva trocam olhares. Ele na fila, ela saindo com pastas e bolsas e um olhar cansado de triunfo, de vitória. Surpreendentemente ele não pensa em nada sobre a mulher que cruza o saguão do banco apressada. Ela, por sua vez, imagina como seria encerrar a vida de solteira ao lado de um rapaz forte, pobre, mas trabalhador. Pensa melhor e resolve que pagar por uma companhia masculina oferece a melhor relação custo-benefício . A tetralogia (tautologia?) pode encerrar com o pastor já em atividade pregando na Praça da República, enquanto observa mulher de fino trato parar o carro diante de jovem de cabelos muito curtos que ali está à procura de uns trocados. Podemos chamar esse fim de um novo começo, como se faz no cinema de autor. É isso aí. Maravilha.

terça-feira, 24 de fevereiro de 2004

Contos da Anta (2)
Na última eleição presidencial norte-americana, que George W. Bush ganhou por impressionantes 537 votos, democratas culparam o Partido Verde de roubar votos (tiveram pouco mais de 2 por cento) e favorecer o Partido Republicano. O candidato dos verdes, Ralph Nader, tinha como cabo eleitoral nada menos que Michael Moore, que narra episódios interessantes dessa eleição no seu livro Stupid White Men. Bem, Nader está de volta, desta vez como candidato independente. Precisa conquistar eleitores em primárias por todo o país antes de arvorar-se candidato oficial. Mas se a apuração ficar travada na Flórida ou no Texas, Nader deve se preparar para ser enxovalhado pelos democratas outra vez. Se, por outro lado, os democratas vencerem, o homofóbico Bush deve declarar o ambientalista milionário culpado por associar-se aos comunistas, artistas de vanguarda, pacifistas, ativistas e alternativos de toda espécie contra a ordem natural do mundo.
Crônica urbana (3) - terceira e última parte de peça audiovisual em três atos e um epílogo
Quem ficou curado levante a mão em nome de Jesus. Isso, levantem as mãos para eu poder ver. Um, dois, quatro, cinco, seis, sete, nove, dez, doze, quatorze, dezesseis, vinte, vinte e dois, vinte e quatro, vinte e cinco, somente vinte e cinco?, vinte e sete, trinta, trinta e dois, trinta e quatro. Alguém mais? Vamos orar e pedir a Jesus para que cure todos os nossos males. E reconhecer, irmãos. Reconhecer que o sangue de Jesus tem poder, reconhecer como essas pessoas que estão aqui, que foram curadas. Ficar calado não adianta nada. É preciso revelar a ação de Jesus na sua vida. Trinta e seis, trinta e sete. Não vamos deixar que o mal volte, irmãos, porque se Jesus curar e você não reconhecer, o mal volta. O Maligno traz o mal de volta para a casa dos cristãos que são curados e não reconhecem isso na Casa de Deus. Vamos lá. Quarenta, quarenta e dois. A senhora ali em cima, quarenta e três. Quantas vezes você já ficou curado de uma dor de cabeça, de uma dor na coluna, de um aperto no peito, de nó nas tripas, de pneumonia, de febre braba, de cansaço e não reconheceu diante de Deus? E o que aconteceu depois, irmãos? A dor voltou, o mal voltou. O demônio lançou sua mão maligna sobre os filhos de Deus e os manteve na enfermidade. É assim que age o Diabo, nas nossas pequenas imperfeições, nas falhas que mais desprezamos. E ele está sempre à espreita, o Demônio. O cão. Mas não como Deus, que está com a gente o tempo todo. Desde que estejamos dispostos a estar com Ele. É nesses momentos de fraqueza, quando a gente não reconhece o que Deus faz por nossas vidas, quando nos perguntamos se o dízimo vale a pena, que o maligno nos ataca. Então é preciso ter fé. É preciso recusar toda essa informação errada que a televisão passa. Reconhecer a boa televisão também, como a TV Nova Graça, que transmite esse programa. Então oremos. Então? Ficou bom? Se quiser gravo de novo, olha minha mãe diz que eu sou muito bom com as palavras. Posso voltar na segunda-feira? O senhor fala sério? Obrigado, muito obrigado, Deus lhe pague. Vou contar para a minha mãe agora mesmo. O sonho dela sempre foi ter um filho missionário. Eu, um missionário.
Sem título

Encontrei no blog da .

segunda-feira, 23 de fevereiro de 2004

Crônica urbana (2) - segunda parte de narrativa literária ou peça em três atos e um epílogo
Aimeudeus, de novo. Já estou cansada disso. Toda vez é assim. Se eu conseguisse sair um pouquinho mais cedo talvez pegasse o final da novela. Mas todo dia acontece alguma coisa. Todo dia é um preço trocado, é uma conta que não fecha. Dia de liquidação é assim mesmo. Vidinha desgraçada, essa minha. Bom mesmo é ser como aqueles artistas lá embaixo, fazendo malabarismo nos sinais. Uma vida livre, sem tanta loucura, sem tanta preocupação. Mas que é isso que eu estou pensando? Eu não nasci pra isso. Eu nasci pra isso que estou fazendo. Condenada a ser o que sou para sempre. Ou a ser sempre o que fui. Reclamo porque estou viva, sei que tem gente em melhor situação, mas ter o que eu tenho é melhor do que nada. É melhor do que nada. Pronto, fechei a última conta. Agora é esperar a reunião dos acionistas e anunciar... que estou fora. Estou fora e vou viver de quê? Acorda, isso aqui é o melhor que você poderia conseguir. Os anos sessenta acabaram há muito tempo, cara mulher independente. Ah, mas aquela sim é que era época boa, de mudanças nos costumes, de liberdade. Hoje estamos aprisionados, assistindo à violência tomar conta de tudo. Meninos assassinos, ladrões de apartamentos, sequëstros-relâmpago, corrupção nos governos. Esse mundo não vai ter jeito? Isso aqui não tem jeito, não. Falta pouco pra gente explodir de vez. Só porque tenho meios para evitar que isso aconteça comigo, não posso ser responsabilizada. Bom, não falta mais nada. Pronto. Com isso concluo a liquidação da empresa. Ai, que cansaço. Hum-hum-hum-hum-hum (cantarola uma música). Pela manhã esta companhia estará dividida em milhares de pequenos papéis, resultando em mais uma generosa comissão de seis dígitos. Um belo trabalho, tenho que admitir. Mas o que eu gostaria mesmo era de estar bem longe daqui, fazendo qualquer outra coisa. Liberdade. Não, não, nada disso. Nasci pra isto, morro assim.

domingo, 22 de fevereiro de 2004


Contos da Anta
George W. Bush pretende reeleger-se presidente dos Estados Unidos, apoiado por wasps ultraconservadores e pelo sistema financeiro. O joystick da maior máquina de guerra do planeta não pode permanecer em mãos erradas. Cristão fundamentalista, belicoso e anti-protocolo de Kyoto, não pode ser a melhor opção para governar o país que governa o mundo. Vamos secá-lo.

sábado, 21 de fevereiro de 2004

Crônica urbana (1) - primeira parte de obra composta por uma trilogia e um epílogo
Mendigos. Os malditos ficam no meio da calçada e somos obrigados a desviar, como se eles fossem os donos da rua. Esses parasitas deviam estar trabalhando. Os aleijados são os piores, exibindo as feridas horríveis. Gente inútil. Esses pregadores me deixam surdo, esses gritos me irritam. Sai da frente. São uns exibicionistas que querem falar da própria vida e não encontram oportunidade. Babacas. Olha só esses dois, parecem viados. Não são, mas parecem. Querem parecer. Olha só. Escrotos. O cabelo já tá crescendo, tenho que rapar de novo. Sai da frente, idiota. Isso mesmo, não reclama, não, senão leva. Essa é gostosa, mas estica o cabelo, deve ter sangue negro. Distante, mas tem. Podia dar uma lição nela, daquelas pra não esquecer. Pra respeitar. Ela ia ver só. É aqui. Agora é só esperar. Saco. Uns 25, mas tá melhor que ontem. Putz, essas comadres vão falar até encher minha paciência e eu arrebentar uma. E o imbecil ali tá olhando o quê? Não é pra mim, ele olha o ar, o panaca, enquanto espera o gerente. Mais um falido tentando um empréstimo. Vai dançar, pela cara do gerente. Por que ele acha que tá sem dinheiro?, por que é que ele acha que tá sem emprego? Eu te digo, por causa dos parasitas, das raças inferiores. Que roubam nossos empregos e estupram nossas filhas, que você sabe quem são. Por causa desses camelôs aí na porta do banco, idiota. Vê se faz alguma coisa, seu porco, ou sai da área. Eu estou fazendo alguma coisa. Eu estou. Isso aqui não vai andar, não? Olha só esse guardinha. Não dá conta de ninguém com essa arma de brinquedo, com essa cara de quem apanha da mulher. Ridículo. A madame agora vai deixar as jóias ou pegar mais grana. É sempre assim. Tá chegando. Falta só essa gorda. Que baleia. Quem despreza o próprio corpo merece todo o meu desprezo. Tenho que fazer umas sessões mais tarde. Calibrar os músculos, rapar a cabeça. Vou falar com os cara, hoje. Chegou a minha vez. O caixa tá me perguntando se o depósito é pra hoje, se eu vou pagar mais de uma parcela dos carnês do doutor, se eu tenho trocado... eu só queria esganar esse idiota. Entreguei tudo, com o dinheiro da firma contado e o mané ainda tá fazendo pergunta. Como é que eu vou saber? Como é que eu vou aprender a somar agora? Vê se anda logo, palhaço, que se eu chegar mais cedo ganho uma gorjeta do doutor Fernando. Hoje eu não tô bom.

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2004

O Processo
Repórter - O senhor é um arquivo vivo?
Juiz - Sou.
Repórter - Se morrer, as denúncias vão embora com o senhor?
Juiz - Não. Há quem possa revelá-las.


João Carlos da Rocha Matos, juiz preso por corrupção, formação de quadrilha, peculato e venda de sentenças, em entrevista à TV Bandeirantes.

Não é preciso ser especialista em análise do discurso para perceber que JCRM ocupa apenas um posto na hierarquia dos criminosos de toga.

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2004

Futuros amantes
Chico Buarque/1993

Não se afobe, não
Que nada é pra já
O amor não tem pressa
Ele pode esperar em silêncio
Num fundo de armário
Na posta-restante
Milênios, milênios
No ar

E quem sabe, então
O Rio será
Alguma cidade submersa
Os escafandristas virão
Explorar sua casa
Seu quarto, suas coisas
Sua alma, desvãos

Sábios em vão
Tentarão decifrar
O eco de antigas palavras
Fragmentos de cartas, poemas
Mentiras, retratos
Vestígios de estranha civilização

Não se afobe, não
Que nada é pra já
Amores serão sempre amáveis
Futuros amantes, quiçá
Se amarão sem saber
Com o amor que eu um dia
Deixei pra você

domingo, 15 de fevereiro de 2004

Jazz after midnight
Amplificadores Pevey, Chico (baixo), Guido (bateria), Mauro (teclados), Paulo (voz), eu (guitarra) e o rock n’ roll. Sons raros na noite mais longa do ano.

domingo, 8 de fevereiro de 2004

Causa
Guilherme Arantes, no Bem Brasil, esclarece que sua crítica às duplas neosertanejas que gravaram Planeta Água era um convite para que o agribusiness investisse na causa ambiental.

Claro que o interesse dos neosertanejos pela produção de botas de couro supera qualquer brio ecológico.

O músico fez uma interessante comparação entre o Big Brother Brasil e o neoliberalismo, dizendo tratar-se de um grupo de pessoas que não lêem livros, submetidas a um jogo que valoriza armação, golpes baixos, corrupção. Gente bonita de pouco conteúdo, submetida à arena do capital.

Mora na Bahia, atualmente, onde conduz um projeto de educação ambiental com crianças que vivem em áreas de mangue.

Ativista é quem faz.

sábado, 31 de janeiro de 2004

Na vitrola
Luciana Pestano
Gentle Giant - Three friends
Kings of leon - Youth and young manhood
Leio
Tempos Interessantes - Eric Hobsbawm

Li Mar sem fim, de Amyr Klink
Relato da circunavegação terrestre que o brasileiro Amyr Klink fez a bordo do bom e velho Paratii, pelos três oceanos. Nesta aventura, Amyr navega em torno do Continente Antártico, enfrentando tempestades, icebergs e os limites físicos e psicológicos de quem resolve fazer esse tipo de loucura. Não por falta de aviso.

O espírito que predomina no radioamadorismo,
de solidariedade e apoio, não existe em nenhum outro
meio de comunicação, incluídos os meios da web.
A internet e os meios individuais de comunicaçao certamente
afetarão o trânsito-rádio no mundo. Não tão cedo no mar.
O uso das ondas eletromagnéticas não custa nada e,
com paciência e perícia, as maiores proezas de intercâmbio
entre seres humanos são possíveis. (p. 62)


Para fãs de aventuras náuticas de todos os tempos.
Uma imagem

quinta-feira, 29 de janeiro de 2004

Na tela
Dogville é a fábula americana, por excelência, provando que à exceção de Noam Chomsky, Susan Sontag e Michael Moore, os Estados Unidos ainda precisam do olhar estrangeiro para se enxergar. Falta tirar a venda.

O novo filme de Von Trier é mais "profissional" que obras anteriores, embebidas de Dogma 95. Novamente a mulher que sofre (Ondas do Destino, Medéia, Dançando no Escuro...) protagoniza o trabalho do cineasta dinamarquês. Menos manifesto feminista que realismo. Três horas de filme depois, a sensação é de que já estive em Dogville.

sábado, 24 de janeiro de 2004

Sobre o Ministério da Educação
Poucas pessoas entendem de educação neste País como Cristovam Buarque, cujos projetos foram copiados no governo passado e implementados no atual. É dele o projeto Bolsa-Escola e de erradicação do analfabetismo. É dele o cálculo do número de analfabetos a partir dos cinco anos (idade em que famílias de renda razoável alfabetizam suas crianças), sem contar uma série de livros, ensaios e projetos ligados à educação – cujas deficiências históricas influenciam diretamente na má distribuição de renda. Fico perplexo (não sou o único) com a demissão por telefone de uma pessoa reconhecidamente competente para favorecer o fisiologismo político. Parece Roraima. Parece Washington. A desculpa de que “a notícia se espalhou” é absurda. Melhor seria o silêncio.

Cristovam Buarque é doutor em Economia pela Sorbonne, foi reitor da UnB, governador do Distrito Federal e é consultor das Nações Unidas. Tarso Genro escreveu vários livros sobre política, marxismo e Direito e foi prefeito de Porto Alegre. Espero que faça um bom trabalho, mas dizer que esse é o seu maior desafio político-administrativo não ajuda. Educação é menos administrar que amar.

quarta-feira, 21 de janeiro de 2004

domingo, 18 de janeiro de 2004

Leio
Mar sem fim – Amyr Klink

Li A Festa, de Ivan Ângelo
A incrível e triste história de uma geração derrotada pela resistência e pela inércia, pela ação e pela omissão, tudo ao mesmo tempo.

Ivan Ângelo é hábil redator, artífice de obra em construção, nem tanto a Joyce nem tanto a Woolf. As descrições são econômicas, as palavras precisas, a narrativa fragmentária. Recortes do caos que paralisou os grandes centros urbanos durante a virada da década de 1960 para 1970, quando o “país do futuro” tentava avançar movido pelas mesmas forças conservadoras que ensejaram ditaduras passadas. Em meio a tudo isso, retirantes esfomeados, déspotas esclarecidos, DOPS, jornalistas, cocaína, socialites e personagens de um Brasil que não deu certo numa obra atual, passados quase 30 anos do seu lançamento.

A estrutura experimental e a metalinguagem fazem de A festa um livro especial para leitores de primeira grandeza e escritores bloqueados.

quinta-feira, 15 de janeiro de 2004

Esse jogo é 1 a 1
Os chilenos (puf, puf) jogaram bem, aproveitaram as oportunidades (puf) e foram felizes nas finalizações. Agora é correr atrás do prejuízo (puf, puf), esfriar a cabeça e pensar no nosso objetivo (puf, puf) que é a conquista de uma vaga nas Olimpíadas e ir pra (puf) Atenas.

terça-feira, 13 de janeiro de 2004

Vintage
- Diz que é vintage.
- É?
- É.

(As consumidoras)



- Diz que é vintage.
- É?
- É.

(Os publicitários)



- Diz que é, Vintage.
- É?
- É.

(O Vintage)

sábado, 10 de janeiro de 2004

Este blog está em obras
Prossegue a investigação sobre o misterioso desaparecimento do template.

terça-feira, 6 de janeiro de 2004

Leio
A festa – Ivan Ângelo

Li O homem duplicado, de José Saramago
O que aconteceria se você encontrasse alguém exatamente igual a... você? Noutra de suas premissas célebres (e se todos ficassem cegos?), José Saramago leva o leitor a uma estranha viagem entre nomes (Tertuliano Máximo Afonso detesta o próprio nome) (Antônio Claro é o verdadeiro nome do ator Daniel Santa-Clara) (o próprio autor chamar-se-ia José Sousa, não tivesse o oficial de registros acrescentado o apelido da família - nome da erva daninha da região do Ribatejo), relacionamentos, despersonalização e deslizes morais.

Aos que vêm o fantasma de Kafka a cada livro seu, o escritor português responde que "existem estórias Kafkianas desde antes de Kafka". E, sim, este senhor de quase 80 anos segue a linha direta dos que romperam com as estruturas formais do romance. Por isso, como artista do século 21, dá-se ao direito de beber na fonte da grande arte coletiva. E sampleia histórias, não autores. Saramago é bricolage.

Saramago, todos sabem, é fã da cantora norte-americana Edie Brickell, e teve a idéia de escrever o livro a partir da letra de The Wheel:


Somewhere there's somebody who looks just like you do.
Acts just like you do - feels the same way.
Somewhere there's a person in a far away place
with a different name and a face that looks like you


Não, nada disso. O escritor gosta de HQs da Marvel e da antológica série “O que aconteceria se...”, que entre outras proezas ressuscitou Fu-Manchu e libertou o Surfista Prateado da prisão invisível imposta por Galactus. Doutra feita, levou Marcelo Rubens Paiva (Blecaute) a congelar o tempo numa São Paulo em decomposição.

Não, não. Saramago gosta mesmo é de Roberto Carlos. A inspiração vem, portanto, da letra de O sósia, de Roberto Carlos e Erasmo Carlos:

Tudo começou quando um certo dia
Eu liguei pro broto que há tempos eu não via
E o que ela disse me deixou zangado
Deixe de tolice, já tenho namorado
Fui a casa dela e lhe falei então
Para essa história quero explicação
Quando olhei pro lado, eu perdi a fala
Descobri um cara que tinha a minha cara
E até seu nome era igual ao meu
Um era demais eu sei não era eu
E na confusão meu broto desmaiou


O insight que determina a obra pouco interessa, nesses casos. Os seres humanos, em algum momento da vida, pensam na existência de um clone seu andando por aí. Um ser fisicamente idêntico e não as múltiplas personalidades plasmadas por nossos pensamentos contraditórios - como nas hilárias conversas entre Tertuliano Máximo Afonso e o senso comum.

O livro leva o leitor a refletir sobre o indivíduo não mais sob a chancela da filosofia, mas de uma metafísica de ateu, que não exige maiores explicações.
Uma imagem

segunda-feira, 5 de janeiro de 2004

Brasil, ano 504
A política econômica beneficiou os nichos de sempre e não merece maiores elogios. Diferente é o caso da política externa, em que o Brasil foi primoroso. A diplomacia foi o que tivemos de melhor no primeiro ano do governo Lula. A visita a nações belicosas (incluindo os Estados Unidos) e mercados em expansão atestam.

A melhor notícia do ano novo é o fichamento de norte-americanos nos aeroportos brasileiros. Nada contra os caras. Mas o princípio de reciprocidade diplomática alegado pelo juiz Julier Sebastião da Silva - o mesmo que mandou prender o chefe do crime organizado em Mato Grosso, João Arcanjo Ribeiro -, admitamos, é genial. Um avanço no combate à biopirataria.

sábado, 3 de janeiro de 2004

Bola ao cesto
Hoje tem basquete da NBA na TV aberta.

Coube à Rede TV assumir a transmissão dos jogos do melhor basquete do mundo, suprindo a lacuna da ESPN no fim de semana.

O primeiro jogo será Detroit Pistons x Golden State Warriors. Em seguida, Atlanta Hawks x Denver Nuggets.

O brasileiro Nenê defende os Nuggets e tem feito 11,5 pontos por partida.

Update às 0h: Que jogo!

Guerra fria