Trabalho com a palavra há 30 anos. Entrevistei músicos, políticos, homicidas, lendas vivas e mortas. O jornalismo ameaçava morrer, virei professor. E novamente estudante. Ainda trabalho com a palavra. Ainda ganho por falar e escrever. Ainda que não acredite. Ainda que a palavra tenha sido usurpada por hordas ágrafas e mantida refém em redes antissociais.
O time chama-se Canelas. Um nome pouco atraente para os adversários inscritos na série D do campeonato português. Nos últimos dias, 12 times da Associação de Futebol do Porto recusaram-se a enfrentar o Canelas. Vão arcar com derrota por não-comparecimento e multa de 750 euros por jogo. Motivo: o Canelas é bruto; seus jogadores e diretoria são violentos, aéticos e ameaçadores. Os times Oliveira do Douro e Varzim B só não anunciaram a decisão oficialmente porque a pena é cair de divisão. Ao saber do boicote, Bruno Canastro, o dirigente do Canelas, declarou estar "estupefacto" e com "um brutal sentimento de injustiça". Hoje, durante a madrugada, duas carrinhas (vans) do Pedrouços Atlético Club foram queimadas. Ninguém sabe, ninguém viu. O Canelas lidera o campeonato com seis vitórias e um empate