segunda-feira, 22 de agosto de 2016

Sonhava trabalhar na Der Spiegel, mas não falava alemão. Hoje vende salsichas com temperos especiais na Neumann Straße, indiferente à crise econômica e aos jovens de cabeça raspada que chegaram de repente.

segunda-feira, 18 de julho de 2016

Montreal, Julho de 1976. Nadia Comaneci tem apenas 14 anos e está concentrada ao lado das barras assimétricas, para onde olha com seriedade. Do outro lado, uma enorme câmera de TV a distrai por um décimo de segundo, mas ela logo se posiciona, respira fundo e dá uma pequena corrida de três passos. Salta com os dois pés sobre o propulsor e voa sobre a primeira barra, as pernas num ângulo de 180 graus. Agarra-se à barra mais alta, faz um controlado movimento de pêndulo inicialmente acelerado, como mostrariam depois as imagens em câmera lenta. Usa os pulsos para controlar a velocidade. Três movimentos obrigatórios depois, choca os quadris contra a barra menor, os pés quase a tocar o rosto. Passa três vezes de uma barra a outra a executar os movimentos obrigatórios, antes de tomar impulso e aterrissar cravada no chão, os braços erguidos, um sorriso consciente do trabalho bem-feito. Pela primeira vez a ginástica olímpica atingia a pontuação perfeita, a nota 10. Há quarenta anos, hoje.

segunda-feira, 4 de julho de 2016

Sei bem o que é o desencanto por assistir um projeto de nação ir por água abaixo. Desencanto que não começou agora. O que vemos agora é o rescaldo, a ressaca, a maré baixa, as consequências de um conjunto de erros e conjunturas (que vão da concentração midiática ao aparelhamento de grupos religiosos) às nossas divisões internas que sempre nos afetaram mais que os ataques da direita.

Claro, a dialética é da nossa natureza e assim seguiremos. Mas em algum momento é preciso unir as diferentes esquerdas em torno de um bloco coeso. Não se trata da negociação com o centro - tem coisa pior que o centro? -  que gora governos desde sempre. Mas da superação de microfilosofias, orgulhos desnecessários.

A guinada à direita é mundial, e quer queiramos ou não, o Brasil protagonizou um dos maiores episódios de ascensão internacionalista da direita. Irradiador. Contribui para a instabilidade de uma série de lugares, da Argentina à Polônia. O que vemos na Áustria agora é GOLPE com todas as letras. A França caminha perigosamente para um governo de intolerância. É questão de tempo. E Donald Trump não é piada.

Enfim, não sou filiado a nenhum partido e não voto há quatro eleições porque além do desastroso segundo governo de Lula, não houve reforma no sistema político e o poder deve continuar concentrado e dependente do financiamento de corporações. Penso humildemente que um "Fora, Temer" está imbricado diretamente a um "Volta, Dilma". Não que devamos adotar esses slogan, longe disso. Mas reconhecer que o estado de direito foi interrompido e que uma pessoa pública contra quem lutei em duas greves e não recebeu nossa comissão, precisa voltar ao cargo para o qual foi eleita, com dinheiro da Odebrecht ou não (quem não?), para que voltemos a lutar com ela. Porque o golpista Temer não nos merece enquanto adversários. Tem que sair e rápido. #ForaTemer
Se tivesse nascido num certo lugar da América, o historiador e cientista político Guðni Jóhannesson seria considerado pária porque abandonou a igreja. Filho de uma jornalista e professora politicamente socialistas ganharia a alcunha "comunista" na nova gramática do singular Brasil hodierno. Recém-eleito presidente do seu país, foi um dos 30 mil islandeses que foram À França apoiar a equipe das bancadas.
“Por que ir para aos camarotes VIP, saborear champanhe quando posso fazer isso em qualquer lugar do mundo?”, disse à CNN.

terça-feira, 28 de junho de 2016

Ouvi Always Somewhere pela primeira vez num intervalo de ensaio da Naja, graças ao Odely Sampaio. Fomos levados até o impressionante estúdio caseiro, Marcelo Fortes e eu, pelo insubstituível Mário Wander (IM). Foi há tanto tempo que parece ter sido noutra vida. Hoje tem show do Scorpions em Lisboa. A banda completa 50 anos em atividade.

quinta-feira, 23 de junho de 2016

Aos meus filhos

A História supera hipóteses. História é ciência testada e avaliada no mais alto grau de refinamento. A única que enterra todas as verdades temporárias que tentam nos encabrestar.

sábado, 18 de junho de 2016

As condições sob as quais sou compreendido, sob as quais sou necessariamente compreendido – conheço-as muito bem. Para suportar minha seriedade, minha paixão, é necessário possuir uma integridade intelectual levada aos limites extremos. Estar acostumado a viver no cimo das montanhas – e ver a imundície política e o nacionalismo abaixo de si. Ter se tornado indiferente; nunca perguntar se a verdade será útil ou prejudicial... Possuir uma inclinação – nascida da força – para questões que ninguém possui coragem de enfrentar; ousadia para o proibido; predestinação para o labirinto. Uma experiência de sete solidões. Ouvidos novos para música nova. Olhos novos para o mais distante. Uma consciência nova para verdades que até agora permaneceram mudas. E um desejo de economia em grande estilo – acumular sua força, seu entusiasmo... Auto-reverência, amor-próprio, absoluta liberdade para consigo...

Friedrich Nietzsche - O Anticristo

sexta-feira, 17 de junho de 2016

Astrolábio
(Orblua)
Oh mar, doce mar, que segredos tu escondes?
Ninguém sabe quem ou o que é que tu és
O velho no cimo do monte avistava
Um navio partia sem rumo ao destino
Apenas um velho astrolábio guiava
Aquele frágil barco que por certo naufragava
Astrolábio, velho lobo do mar
Tu que tornas redondo este plano mundo
Ensina-me o rumo a tomar como certo
Conduz-nos a todos por marés e por mares
Que marinheiros nós somos deste mar oceano
Habitantes nós somos deste Grã Portugal
Portugal, Portugal, nobre país de mar
Tão parco de terra e tão rico de água
O fogo já extinto, no ar paira saudade
No oceano encontramos a certeza de estar
E tens um astrolábio e uma vela de pano
E nós navegaremos por esse mundo nosso

segunda-feira, 13 de junho de 2016

Sobre crianças e armas

A empresa chama-se Fairchild. Child significa criança. Fair é feira, mas pode significar justo, correto. Ambas as traduções são interessantes.

Nos anos 1950, a Fairchild desenvolveu a ideia de Eugene Stoner para um fuzil de assalto leve, que permitia matar mais em menos tempo. O fuzil chama-se AR-15. Ao longo do tempo passou de 4 para pouco mais de 2 quilos de peso. Aperfeiçoado, hoje mata pessoas com impecável qualidade a 600 metros de distância. Despeja 800 balas por minuto. Quando disparadas, as balas voam a 3,5 mil quilômetros por hora. Cada bala pesa 20 gramas. É o fuzil preferido de assassinos em série, responsável por 14 massacres nos últimos 10 anos. Dezenas de vítimas eram crianças. Fairchild...

No último fim de semana, o norte-americano Omar Mateem saiu de casa em Port St. Lucie e dirigiu 200 quilômetros para matar gays na Boate Pulse, em Orlando. Usou o fuzil e outras armas. Foi bem-sucedido em 50 assassinatos. Deixou 53 feridos e alcançou um novo recorde com a maior chacina individual do país. A título de comparação, no Brasil 50 pessoas são assassinadas de 8 em 8 horas. O país do samba promove três massacres-recorde a cada dia.

Quanto a Eugene Stoner, é considerado o maior designer de armas de fogo de todos os tempos. Morreu aos 75 anos em 1997, em paz, rico e ao lado da família. Tem lugar garantido na História. As vítimas de sua grande obra são esquecidas pouco depois de assassinadas. Exceto pelas famílias.

sexta-feira, 10 de junho de 2016

Sete samurais

Toda estrada tem um preço. A beleza que os olhos veem poucas vezes é partilhada com a família; a felicidade de ter muitos amigos convive com a frustração de nunca ver todos reunidos. Porque estão em toda parte: em cidades com nomes de santos, de pedras, de acidentes geográficos. Em clima equatorial, sub-tropical, temperado, desértico. São orientais, negros, mestiços, caucasianos, índios, hindus. Vivem nas alturas andinas, em praias, no alto de edifícios em super cidades, no meio da selva amazônica, em aldeias, savanas e planaltos. Uma lista interminável lembrou do 9 de junho. Não poderia nominá-los. Então pensei em listar as cidades, mas também seriam muitas. Listar países é maçante. Nunca poderei reuni-los, mas ontem em Faro um grupo representou bem a todos. Scott Fitzgerald dizia que as melhores reuniões têm sete convidados. A noite foi especial, e por isso agradeço Luís, Paula, Pedro, Laura, Nuno, Teresa e Rogério.

quinta-feira, 9 de junho de 2016

Jazz e novembros

Na noite de 9 de novembro do ano da graça de 1971 d.C., a boa, velha e fria Copenhague estremeceu diante de Thelonious Monk, Dizzy Gillespie, Art Blakey e outros monstros. 

Flanei pela velha e fria Copenhague e comprei CDs de jazz em novembro do ano errado.

sábado, 4 de junho de 2016

A intolerância e o pensamento obtuso crescem na mesma velocidade que morrem os que lutam por justiça. Um dia, só restarão lobos e cordeiros e haverá uma felicidade artificial por ver todos os pássaros mortos.

quinta-feira, 2 de junho de 2016

Educar pressupõe que salvar vidas e exercer a cidadania têm a mesma importância. O sucesso do Projeto Alemão deriva de uma habilidade rara na limitada selva do capitalismo: nunca reduzir o papel da educação na vida das pessoas.

sexta-feira, 27 de maio de 2016

Flôr Varela

Casal brasileiro. Terceira idade. Retirados. Aposentados. Férias. Restaurante. Melhor idade. Europa. Lugar-comum. Assoberbados. Elitistas. Impaciência. Crítica. Economia. Inconsciência. Neo politizados. Lugar-comum. Memória? Não. História? Não. Imóveis. Sim. Armas. Sim. Consumo. Sim. Memória? Não. História? Não.

quinta-feira, 26 de maio de 2016

Na era da informação de massas, a direita e a religião (separação retórica para fins didáticos) elevam o conceito de hipocrisia a patamares nunca atingidos. A aceitação só depende do prefixo "ex": ex-criminoso, ex-prostituta, ex-drogado, ex-umbandista, ex-homossexual, ex-qualquer coisa. Todos terão lugar em suas fileiras. A redenção torna-os fortes e militantes. Quando qualidade importa menos que número, a ciência perde significado

segunda-feira, 23 de maio de 2016

Um sonho

Sonhei que estava em Amsterdã, com minha mãe. Andávamos de mãos dadas, entre a Overtoom e o Vondelpark. Conversávamos sobre a minha infância. Chovia, mas não estava frio. Tão longe, tão perto. 

sexta-feira, 20 de maio de 2016






O ódio só faz mal a quem o sente. Rouba o ar. A pessoa que sofre de ódio engasga, sufoca, convive com o afogamento. Porém, o ódio pode ser criado artificialmente, manipulado, canalizado. Pode entranhar na cultura. Para isso, basta usar perversamente a comunicação de massa. Pelo poder, a elite dissemina o ódio sem nenhum remorso. Este será cada vez mais ampliado e direcionado até transformar-se em violência.

quinta-feira, 19 de maio de 2016

O pobre capitalista reclama
e nunca compreendeu
onde foi parar a grana
que pediu e Deus não deu
fica com ódio ao saber
que mesmo sem oração
qualquer socialista ateu
tem maior satisfação
é o azar de Prometeu
e a sorte de Pandora
o primeiro ora e chora
o outro aplica o que leu
um ajoelha e clama
o outro segue sem drama
um vive da vassalagem
e defende a opressão
no fim comerá lavagem
talvez um pouco de pão
pois quem louva o capital
perde de Deus o perdão
comete pecado mortal
e não vai para o céu, não

domingo, 15 de maio de 2016

O pobre capitalista reclama
e nunca compreendeu
onde foi parar a grana
que pediu e Deus não deu
fica com ódio ao saber
que mesmo sem oração
qualquer socialista ateu
tem maior satisfação
é o azar de Prometeu
e a sorte de Pandora
o primeiro ora e chora
o outro aplica o que leu
um ajoelha e clama
o outro segue sem drama
um vive da vassalagem
e defende a opressão
no fim comerá lavagem
talvez um pouco de pão
pois quem louva o capital
perde de Deus o perdão
comete pecado mortal
e não vai para o céu, não

(Milton Lagos)

sexta-feira, 6 de maio de 2016

Mudanças sociais não surgem da massa em sua eterna espera de comando, de direção. Surgem de um pequeno grupo de pessoas, ideias e vozes. Gente que se dedica a melhorar a vida dos que ignoram, criticam ou atacam a vanguarda. Mudanças sociais não devem ser confundidas com convulsões sociais.

quinta-feira, 5 de maio de 2016

Hoje é Dia da Língua Portuguesa. Dia da sonora, romântica, proparoxítona, musical, rica língua portuguesa, quinto maior idioma do mundo, com 280 milhões de falantes. São pelo menos 10 milhões (!) de palavras. Insondável idioma. Língua é pátria, não é umbigo. Essa visão coxinha de identidade nacional, que atinge todos os estratos, de políticos a cientistas; de artistas a religiosos; de poetas a escritores, é confete auto-indulgente. PAREM JÁ COM ISSO! A grandeza da pátria não é medida em cores, metros quadrados, linhas imaginárias, esse misto de ingenuidade e canalhice que manipuladores na política, nas artes, nos meios de comunicação chamam de patriotismo. Pátria é outra coisa. Valorizar a língua portuguesa é valorizar o ouvido. Não é valorizar o umbigo. Chega desse comportamento obsequioso, alto-indulgente, orgulhoso. Dessa incapacidade de diálogo com a América Hispânica. Dessa incapacidade de diálogo inter-regional. Dessa incapacidade de diálogo com lusófonos de África, Ásia e Europa. Parabéns a quem escreve, que mantém a língua viva. Mas não há mérito nenhum no desconhecimento de outras. O monoglota morre de uma fome que não sabe que é fome, porque escolheu ignorar outros sons, outras palavras. Ou em bom português (brasileiro): chega de papo furado, cambalacho, disse-me-disse, babaquice, essa bagunça cívica sem sentido. Português é lindo. Ridículo é o fascismo.

sexta-feira, 29 de abril de 2016

No ano passado o Facebook subiu sem parar. Sessenta milhões de novos usuários entraram na rede. Lucro maior que o PIB do Suriname. Acionistas curtem isso. Mas no fim, bem lá no fim, o que interessa são as pessoas. O que fazem na rede. Se compreendem o fim.

terça-feira, 26 de abril de 2016

A ciência da adaptação

Faro - O lobo temporal é uma região fascinante do cérebro humano. Cada um dos lobos (esquerdo e direito) concentra funções como olfato, habilidade discursiva, memória de longo prazo e resoluções de conflitos.

Há cerca de 10 anos, estudos feitos por duas universidades norte-americanas comprovaram que o processamento neurocognitivo é reduzido em pessoas politicamente à direita. Quando confrontadas com uma situação nova ou diferente da habitual, estas sofrem dificuldades de adaptação e tendem a apresentar um comportamento sistemático e persistente.

As observações com ressonância magnética e leitura de sinais elétricos mostraram  que em pessoas de orientação politicamente liberal há mais neurônios na região conhecida como circunvolução cingulada anterior. Pessoas de esquerda têm mais facilidade para lidar com novas situações e mudanças sociais por conta dessas diferenças. A avaliação neurofisiológica foi certeira que serviu para prever com bastante exatidão se os participantes tinham votado em John Kerry ou George Bush na eleição de 2004 nos Estados Unidos.

Há uma matéria interessante aqui.

segunda-feira, 25 de abril de 2016

Just a perfect day



Faro - Abril é um mês importante para nossos países, unidos pelo mar, pelo idioma e pelo futebol. Mas as semelhanças entre Brasil e Portugal acabam aí. Estamos em margens opostas não apenas do oceano. Hoje vivemos duas realidades distintas. Somos povos que escolheram viver sob diferentes perspectivas.

O Brasil amanheceu sob uma ditadura militar em primeiro de abril de 1964. Convencidos pelas elites, pelos meios de comunicação, setores religiosos e militares, o povo foi às ruas contra o socialismo e apoiou um regime que subtraiu o direito de escolher presidentes por 35 anos.

Portugal viveu mais de 40 anos sob o Estado Novo, regime ditatorial que impôs ao país uma nova idade das trevas e silenciou artistas e intelectuais. Muitos morreram, outros buscaram o exílio. Os anos de chumbo no Brasil também foram anos de chumbo aqui. Brasileiros que fugiam para a Europa buscavam França, Alemanha, Itália e outros países menos sujeitos à perseguição.

Foi numa manhã de 25 de abril, em 1974, que Portugal escolheu a liberdade, num evento que ficou conhecido como a Revolução dos Cravos. Militares rebeldes depuseram o salazarismo sem guerra civil e saíram de cena em nome da democracia. Dois anos depois foi promulgada a Constituição Nacional, em 25 de abril de 1976. Este dia é feriado em Portugal. É o Dia da Liberdade. Todos comemoram este dia. Em todo o país, praças e espaços públicos são ocupadas com teatro, música e dança.

Em pleno 2016, uma semana antes do Dia da Liberdade em Portugal, o Brasil viu-se diante de um golpe branco promovido pelas mesmas elites, pelos mesmos meios de comunicação, pelos mesmos setores religiosos e militares. Portugal comemora a liberdade. O Brasil comemora a perda da liberdade.

Ontem o dia estava frio e cinzento, mas à noite a lua apareceu e as comemorações começaram. Grupos folclóricos, coros e uma banda com músicos de Brasil, Portugal e Angola mostravam nossa integração possível e desejada. Hoje o sol apareceu, brilhante. Caminhei com amigos na praia, De Faro, olhei o mar na tentativa de ver um país que naufraga. Mas já não o vejo. Tanto mar.


domingo, 24 de abril de 2016

Brasil redefine o conceito de escravidão

Faro - Enquanto o brasileiro neo politizado celebra ruralistas, pentecostais e torturadores, avança na Câmara o projeto mais nefasto desde que se decretou o fim da escravidão em 1888. Vejamos seus personagens:
Princesa Isabel do Brasil foi a primeira mulher a administrar o país. Há anos D. Pedro II tentava dar fim à escravidão, mas não obtinha sucesso porque os ruralistas não deixavam. Havia muita pressão internacional. O país era visto como atrasado. Isabel sancionou durante viagem de D. Pedro ao exterior. Isso foi nos estertores do século 19, época em que ainda vivem nossos congressistas e o povo.
Deputado Moreira Mendes (PSD-RO)

Deputado Rubens Moreira Mendes (PSD-RO) foi condenado em 2014 a perda de direitos políticos por fraude a licitação e improbidade administrativa: vendia passagens aéreas à Assembleia Legislativa de Rondônia ao mesmo tempo em que era procurador da casa. Sua mulher também era funcionária de lá, talvez por coincidência. Ele é pai do ex-vereador de Porto Velho, Guilherme Erse (PPS-RO), tio do deputado estadual Davi Erse (PC do B) e cunhado do ex-prefeito de Porto Velho, Chiquilito Erse.

Família é a base de tudo. O filho de Moreira Mendes, o ex-vereador de Porto Velho, Guilherme Erse (PPS-RO), teve sua candidatura a deputado cassada pelo TRE-RO.  Ele comprava eleitores com cursos na área de informática oferecidos pelo Instituto Guilherme Erse Moreira Mendes, uma entre milhares de entidades "sem fins lucrativos" mantidas por políticos para financiar suas campanhas em todo o país.

Moreira Mendes tem um sobrinho, o deputado estadual Davi Erse (PC do B), que já foi cassado por infidelidade partidária. Ele foi eleito vereador pelo PSB, mas resolveu "virar à esquerda" e pulou para o Partido Comunista do Brasil, que conhecemos apenas como PC do B. Perdeu o mandato e deixou o TRE em prantos, alegando injustiça. Essa mudança "ideológica" também é coisa de famiglia, Seu falecido pai foi prefeito de Porto Velho. Chamava-se Chiquilito Erse.

Chiquilito pertenceu ao PDS, partido de sustentação da ditadura militar. Ele é o motivo pelo qual o último presidente general, João Batista Figueiredo, passou a manter um gravador em cima da mesa. Figueiredo estava cético em relação ao candidato dos militares a presidente, Paulo Maluf. Confidenciou a sensação a Chiquilito, que botou a boca no trombone e usou a informação para mudar de lado e votar em Tancredo Neves. O general ficou em maus lençois e nunca mais confiou em ninguém.

Por algum motivo, o exemplar Moreira Mendes manteve seus direitos políticos, já que é deputado federal. Ele assina o PL 3842/12, que redefine o conceito de trabalho escravo. A semântica é simples: a pessoa não será considerada escrava se tiver buscado o trabalho (?). Ou seja, não poderá alegar que foi enganada e desconhecia as condições degradantes definidas em leis e acordos internacionais. Só se tiver sido sequestrada, amarrada e jogada na senzala.


Luís Carlos Heinze: mudanças são
 para impedir desapropriação de imóveis rurais.
O projeto foi aprovado na íntegra pela Comissão de Agricultura. O relator é Luís Carlos Heinze (PP-RS), sucesso no Youtube, onde afirma que quilombolas, índios, gays e lésbicas são "tudo que não presta". Heinze quer mudar a lei para impedir a desapropriação de imóveis rurais. O projeto já está na Comissão de Trabalho. Depois vai à Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania, e se aprovado, irá a Plenário. Como os latifundiários que dominam o Brasil desde o Império são maioria no Congresso, as chances de aprovação são grandes.

E finalmente, o último personagem, aquele incapaz de chegar ao segundo parágrafo de qualquer texto. O eleitor neo politizado que se diz escravo da corrupção pode acessar a íntegra do projeto aqui. Custa o mesmo que curtir a página de Jair Bolsonaro no Facebook: um simples clique.

sexta-feira, 22 de abril de 2016

Maldito Ouro Negro


Faro - O Tratado de Paris assinado hoje por 171 países cria nova esperança em ambientalistas de todo o mundo, mas ao longo do tempo alimentamos a pulga atrás da orelha. Afinal, o único avanço de Kyoto são os famigerados créditos de carbono, licença para matar que faz da Exxon um controverso Agente 007. Quase ao mesmo tempo da assinatura, um oleoduto rompeu ao sul de Gênova: maré negra no mar da Ligúria.

Enquanto isso, a exploração de petróleo no sul de Portugal enfrenta resistência. Ambientalistas cobram clareza do primeiro-ministro António Costa, que assinou o acordo mas manteve o projeto de fratura hidráulica no Algarve, região rica em pesca, fauna marinha e turismo sustentado. Costa diz que as plataformas não serão vistas pelos moradores e turistas porque serão submarinas. "A questão não é estética", rebatem. 

A destrutiva economia do petróleo devia estar morta há décadas, mas jazidas no Alasca, no Brasil e no oeste da Europa mantêm ricos os acionistas do "ouro negro" à custa da emissão de milhões de toneladas de metais pesados no ar a cada ano. Estamos de olho. Enquanto temos olhos.

quinta-feira, 14 de abril de 2016

Undying Love Fado



You're an impulsive unexpected sweet thing And I'm still that sad old clown bored to death Should I be wiser and not that Messing dog while you're spinning 'round I really forgot that you were there Never thought love vanishes in the air When a man's work arises, more can be less I spent my time writing, erasing and rewriting Hateful songs and poems and tales Tried to be your Mr. Writer till the end When it came, I was lost and ran away Sick of vengeance, found oblivion on Circe's tent Drank too much wine, shout over the celling Tumbling among the crowd, a life with no meaning You tried to save us from shrinking And then just broke our hearts that morning Stopped the time smashing things Maybe time is wise. Maybe it's just a dream I'm still writing meaningless words 'cause Never wanted lost my last love Never thought we could be just friends (Faro, Abril de 2016)

quarta-feira, 13 de abril de 2016

Faro - Vamos polemizar. O destituído FERNANDO COLLOR fez duas coisas boas e importantes em seu governo: modernizou a indústria automobilística, o que gerou competitividade e empregos. E criou uma gigantesca zona protegida na Amazônia, a Terra Iindígena Yanomami, com 96.650 km². A BURGUESIA RURAL de Roraima, acostumada a SURRUPIAR terras indígenas PIRA COM ISSO e até hoje não se recuperou.

O vice-presidente ITAMAR FRANCO, que assumiu no lugar do impedido, brecou a hiperinflação com um fusca. Criou uma equipe de técnicos que conseguiu fazer a transição de uma moeda podre para outra mais forte que o Dólar.

FERNANDO HENRIQUE CARDOSO manteve a estabilidade da moeda e usou seu prestígio acadêmico para colocar o Brasil no mapa mundi. As portas se abriram, as exportações cresceram e ganhamos uma estabilidade econômica que apesar do crescimento inflacionário, AINDA se mantém.

O ex-torneiro mecânico LULA DA SILVA mostrou que, contra todas as evidências, podemos eleger um operário presidente. Lula estabelece o BRAZILIAN DREAM e promove a maior distribuição de renda (sem ironias) que já houve: alterou definitivamente a pirâmide social. Lula criou a TI Raposa Serra do Sol, com 103.415 km². Os parentes hoje têm um país maior que a Islândia. E, sim, A BURGUESIA RURAL de Roraima, acostumada a SURRUPIAR terras indígenas, PIRA COM ISSO.

A primeira mulher a assumir o governo, DILMA ROUSSEFF, promoveu mudanças importantes nas relações de gênero e etnia. A burguesia rural de Roraima, acostumada a DIFAMAR OS ÍNDIOS NOS JORNAIS, pira com isso. Dilma comanda o segundo maior programa habitacional do mundo. O primeiro é conduzido por Nicolás Maduro.

É muito fácil promover uma agenda negativa. Difícil é observar sem paixões, perceber que o país melhorou, independente de siglas e hienas, porque os brasileiros assim DECIDIRAM. A noção de nação é mais importante que nossas vãs filosofias. Com ou sem Impeachment.

Um brazuca em Varsóvia

Faro - Era meu último dia em Varsóvia quando notei as sandálias havaianas com bandeiras do Brasil. Quem usaria isto, aqui, onde se fala mais russo que inglês e fica bem longe de Miami? Eu estava afastado da língua portuguesa há muitos dias, numa viagem chicobuarqueana, completamente analfabeto diante dos cartazes, placas, anúncios e conversas em polonês. E de repente encontro David Marques, que como eu é fã da Cortina de Ferro, Jazz, Pink Floyd e roteiros pouco ortodoxos. Falamos de Minsk e Tbilisi, nossos próximos roteiros. Já estou ao norte da África e ele continua por lá, país sem geladeiras e ar condicionados (pode existir, mas não vi), onde não se vê papel no chão. Provavelmente em Cracóvia ou Zakopane. Grande figura.

terça-feira, 12 de abril de 2016

Impeachment?

Faro - Algumas observações toscas e sem sentido sobre a complexa realidade de um país em crise:
1 - Impeachment não é golpe porque é constitucional, mas...
1.1 - Impeachment é golpe porque é feito por colégio eleitoral.
2 - A corrupção não foi inventada pelo PT, mas...
2.1 - A corrupção foi reinventada pelo PT.
3 - Opor-se ao governo é um ato de resistência à corrupção, mas...
3.1 - O governo será substituído pela própria corrupção.
4 - A crise é política e econômica, mas...
4.1 - A crise é moral.
5 - Eu estou com a razão, mas...
5.1 - Você também tem razão.

Impeachment?!

Faro - Tornei-me oposição ainda no primeiro mandato de Lula. Não voto há várias eleições. Não acredito que um partido com 15 segundos na TV tenha chances contra os 10 minutos de outro. Não acredito no presidencialismo. Não acredito em 37 partidos políticos, essa diversidade ideológica inexiste.

Fernando Collor não era o único vilão no primeiro impeachment. Dilma Rousseff não é a única no segundo. Não acredito em boas intenções da Câmara ou do Senado, porque seus integrantes são abjetos. Acredito que neste domingo haverá uma distribuição de dinheiro como nunca houve na história desse país.

Nem Privataria, nem Mensalão e muito menos o primeiro impeachment podem ser comparados. Deputados e senadores recebem dos dois lados. Negociarão até o último minuto e como terão sido regiamente pagos pela ala pró e pela ala contra, estarão livres para votar com suas consciências. De ratos que são.

segunda-feira, 11 de abril de 2016

Faro - "Polônia?!". A pergunta sobre o local para minhas férias, já encerradas, partiu de vários amigos e parentes, curiosos sobre o destino insólito. Bom, a Polônia conserva uma paixão inarredável pelas ciências e pelas artes clássicas. Graças a Nicolau Copérnico, o mundo descobriu que girava em torno do Sol e não o contrário. Uma das descobertas mais importantes da História, que permitiu trabalhos revolucionários e influenciou Isaac Newton e Albert Einstein, para não citar milhares de outros cientistas.

A Polônia havia sido um reino importante no século XV, o maior da Europa, mas passou por maus bocados nos 500 anos seguintes. Foi retalhada por Prússia, Áustria e Alemanha; conquistou a independência em 1918, mas foi invadida pela Alemanha Nazista em 1939. Teve seis milhões de habitantes exterminados no período, até que em 1944 vira república. Três anos depois, entra para a Cortina de Ferro por quase meio século. Foi num estaleiro de Gdansk que o Sindicato Solidariedade deu início a mudanças concretas no regime comunista e contribuiu para sua queda no fim dos anos 1980.

As imagens de Varsóvia não dão conta da beleza que é este país sem geladeiras e sem ar condicionados (podem até existir, mas não vi nenhum). A Polônia é um destino pouco procurado até por europeus. Mas a comida, os transportes, as grandes áreas públicas e a simpatia do povo ajudam a entender porque virei um fã. As estradas e ruas de todas as cidades são muito bem sinalizadas, até demais. Quando se pergunta uma informação a um polonês ele explica em detalhes, citando o número de metros para chegar ao local. Pães e queijos deliciosos, trutas temperadas com galhos de menta, doces diversos. Até o idioma é doce. Lembra russo com elementos latinos e sotaque carioca.

Roman Polanski é polonês. Krzysztof Kieslowski é polonês. Quer mais? Vá à Polônia e descubra por si mesmo. Conheci o sul, na fronteira eslovaca e Varsóvia. Mas volto lá em breve, para ficar mais tempo e aproveitar seus preços baixos: o Zloty equivale a um real e as coisas são ligeiramente mais baratas que no Brasil. Por que Polônia? Porque sim.

Impeachment

Faro - O programa 360 Graus (SIC) deu amplo destaque ao processo de Impeachment esta noite. Foram destacados o fato de Dilma Rousseff não ter sido responsabilizada criminalmente e o discurso antecipado de Michel Temer como novo presidente (Frank Underwood curtiu isso).

Além da impossibilidade de Rousseff governar, caso o impedimento não passe. O professor do Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa, Andrés Malamud, convidado para comentar o caso, parece conhecer a situação brasileira melhor que os nativos. Analisou a crise sob diversos aspectos e suas possíveis ramificações no continente. Atestou que a democracia não corre risco, que generais não governarão o país, mas que não há na lista de sucessão, ninguém confiável.

 "O presidente da Câmara, Eduardo Cunha, é o mais corrupto de todos", destacou. Acrescentou que a luta de classes é definitiva num país que tem 7 milhões de empregadas domésticas. Pelo conteúdo, é provável que os portugueses estejam mais informados que os brasileiros a respeito do tema.

sábado, 9 de abril de 2016

Faro - Tavira tem um castelo, escadarias, 37 igrejas históricas e apenas 27 mil habitantes. Tavira respira e transpira cultura. Álvaro de Campos, o heterônimo mais "selvagem" de Fernando Pessoa, nasceu em Tavira. A plateia do lançamento de um livro é formada por poetas, músicos e escritores. Na Casa Álvaro de Campos há livros, pinturas, souvenires e camisetas que fazem de Pessoa legítimo e merecido popstar. Porque assim devem ser tratados os poetas.

sexta-feira, 8 de abril de 2016


Virou a esquina da
Sete de Abril
e sumiu
disse que
tinha que ir embora
do Brasil
que não queria mais
ter que pagar
pra respirar.


Uma letra que comecei a escrever em São Paulo há muito anos. Como outras, é devir.

quinta-feira, 7 de abril de 2016

Lisboa - No começo do século éramos um punhado de escritores impublicáveis espalhados pelo mundo, mas orgulhosamente integramos (e mudamos o foco) da primeira geração de blogueiros. Comunidade pequena, mas respeitável, interligada, nossos blogues já surgiram com propostas novas, dos microcontos de Luís Ene aos metatextos deste aqui. 

Deixei São Paulo ao mesmo tempo em que Luís publicava o excelente A Justa Medida. Eu curtia dias tranquilos no interior de Minas quando o livro chegou por uma amiga que o comprou em Lisboa. Devorado em dias, considero A Justa Medida um grande livro, saraivada de sensações, filosofias e fino humor. Além de escritor, Luís é agitador cultural e junto com amigos portugueses criou uma revista eletrônica com vários colaboradores ibero-americanos, entre eles Ricardo Divino e Edgar Borges, que já publicou seu livro de microcontos. 

Depois que mudei para Belo Horizonte, Luís aportou no Brasil, um Estado acima, provavelmente por conta de uma namorada goiana. Não pudemos nos encontrar. E novo desencontro rolou em Portugal quando estive aqui no outono de 2014. Bom, neste abril de 16, em que lanço meu Índio na Rede por uma editora alemã, Luís faz lançamento de seu novo livro: "Escrever é dobrar e desdobrar palavras à procura de um sentido". Será em Tavira, na Casa Álvaro de Campos. É amanhã à noite. E eu vou.

quarta-feira, 6 de abril de 2016

Professor é agredido por dizer que é petista

Bruxelas - Salomão Nunes Santiago​ está sempre de bem com a vida. Ele é querido por todos no ANDES-SN por sua capacidade de trabalho e simpatia. Quando uma pessoa assim é atacada gratuitamente por quem perdeu o controle das finanças "graças ao PT", devemos reconhecer um princípio de convulsão social. Um episódio de desequilíbrio mental que não é isolado de outros, como o desequilíbrio moral do deputado que defende a suspensão armada da democracia ou o desequilíbrio ideológico de uma população repetidora de discursos de ódio, que adora televisão, mas odeia professores. A sequência de uma convulsão social é o estado de sítio, como o que vive esta cidade repleta de soldados do exército à caça de pessoas incapazes de conviver com as diferenças. A sequência de um estado de sítio é a anomia, a guerra civil. Os brasileiros que se cuidem: os canibais estão na sala de jantar. E eles são nossos vizinhos, colegas de trabalho, amigos e parentes. Os atentados de Bruxelas demonstraram que o inimigo não é mas externo. Ele está no meio de nós. Leia no Pragmatismo Político

terça-feira, 5 de abril de 2016

Varsóvia - "Ele recebe da Lei Rouanet, nhenhenhém. Ela recebe da Lei Rouanet, blá blá blá. Porque o Chico Buarque, Lei Rouanet, mi mi mi...". Essa impressão de que, de repente, ficou muito fácil comprar consciências, de onde veio? De um ambiente viciado, em que tudo está a venda, especialmente aqueles que dizem que tudo está à venda. Claudia Leitte recebe da Lei Rouanet. Alguém?! Pelo jeito, só os ídolos dos roteadores de memes podem receber financiamento público. Já não se trata mais de avaliações superficiais. Estamos na era da levitação magnética da produção de asneiras. Sílvio Brito, quero descer na mesma parada que você, falou?

segunda-feira, 4 de abril de 2016

Sobre Impeachment

Varsóvia - Informação nunca é demais. O texto de Felipe Pena, entretanto, é mais que isso. É educativo. Dialogar sobre a crise política exige conhecimento e desprendimento de preconceitos para os quais a maioria dos brasileiros neopolitizados está incapacitada porque é da nossa natureza ler pouco e assistir muita televisão. Quem gosta de aprender, lê Mein Kampf, Alcorao, bula de remédios, O Globo, Voltaire e o escambau. Quem não gosta, fica na plateia, assiste e levanta com a ola. Quem não gosta, veste o abadá, segue o trio elétrico, levanta a mãozinha, tira o pezinho do chão e grita. Mas, falando, sério, toda crise gera oportunidades, inclusive a de produzir textos excelentes e esclarecer o público. Esse é o papel de professores, jornalistas e intelectuais: porque um pouquinho de aufklarüng nunca fez mal a ninguém. Leia "Não é golpe, é muito pior", aqui.

domingo, 3 de abril de 2016





Zakopane - Há 15 anos o Canaimé surgiu como primeiro spotlight do racismo praticado em Roraima contra os povos indígenas, embora tenha sido criado entre cervejas e rockabilly no bar Little Darling, em Indianópolis, num já distante inverno paulista.
Varsóvia - A 9.163 quilômetros de casa, mas a apenas 8.599 quilômetros de Tóquio.

sábado, 2 de abril de 2016

Zdiar - O negócio é o seguinte: sou oposição a este governo porque ele retira direitos dos trabalhadores e abre o cofre para empreiteiros, banqueiros e outros saqueadores. Porque este governo quer construir uma hidrelétrica no rio Branco. Governo conivente com a corrupção histórica. Este governo NÃO TEM e NÃO TERÁ meu apoio. Mas se você, brasileiro, acha que os sujeitos de braços erguidos da foto (PMDB) salvarão o Brasil, por favor aceite um certificado de Idiota ou Mal-Caráter. O Brasil é um país surreal, mas acreditar que eles são herois ultrapassa qualquer absurdo. Não é nada pessoal, as carapuças só servem a quem as experimenta. Se você está descontente com o governo, vote no Aécio em 2018. Mas não puxe o tapete. Não seja revanchista. Aceite que existe um processo em curso e espere seus resultados. Eu NÃO apoio o GOLPE. Sou lobo da estepe egoísta e ensimesmado, sem apreço por ideologias baratas ou teleguiados de ocasião. É minha declaração e meu posicionamento político. O seu, brasileiro, é O SEU.
Ždiar - Na paz deste lugarejo encravado sob os Montes Cárpatos e um céu absurdamente azul, sento na colina e observo o passar do tempo. Silêncio. Dois falcões planam 300 metros acima de mim. Um homem empilha pedaços de lenha. Crianças passam de bicicleta. Carros na estrada, os faróis acesos sob o sol brilhante. Silêncio. Nenhum som. Meu corpo afunda lentamente entre pedras, grama e restos da neve que a primavera conservou em consideração ao inverno. Não sou ninguém. Não sou Avery Veríssimo. Não, este não sou eu. Avery Veríssimo é um canalha egoísta, uma aliteração desagradável. Um viajante solitário metido a Jack Kerouac. Lobo da estepe. Um escritor medíocre, um professor relapso, péssimo pai, filho e amigo. Inútil acúmulo temporário de átomos que um dia será completamente esquecido. Átomos que começam a se desintegrar. Homogênese com plantas, folhas e larvas de insetos à espera do calor que lhes permita voar. A grama cresce nos meus braços, peito, pernas e olhos. Desapareço lentamente sob a relva, desintegro-me. Em pouco tempo serei parte da colina e não lembrarei mais quem fui. Há muito tempo me desterritorializei, abandonei a província e me esgueirei na multidão de grandes cidades. Conheci oceanos e povos exóticos, escalei montanhas, cachoeiras, tepuys e vulcões, escrevi tolices, fui drogado por yanomamis e cristãos, fiz inimigos e fãs e filhos. Nada disso parece ter significado neste vilarejo e seu impronunciável Z com circunflexo invertido. Sou um pedaço de tábua da fantasmagórica casa de madeira abandonada entre os pinheiros secos à beira da estrada. Sou um monge franciscano. Um japonês que pesca. Um brasileiro que não reconhece mais o próprio país. Um viajante sem lar. Hoje todas as minhas roupas cabem numa mochila polonesa de 50 litros. Doei móveis, sapatos, tempo, roupas, livros e discos e conselhos que não foram seguidos. Busquei anonimato, mas encontrei fama. Busquei o socialismo, mas fui parar entre esnobes. Minha casa ainda é minha. E agora é meu este lugar. A desintegração se completa. Meus olhos merecem toda a beleza que já viram? Enfiados nas dobras de meu cérebro, 500 livros que não sei se devia ter lido. Minhas composições, letras, poemas, artigos, matérias e livro, a que servem? E se formos dizimados por asteroides, Hercolubus, Melancholia? E se tudo for sonho de Vishnu? E se Jesus destruir tudo para o bem da cristandade? E se o céu cair? Desapareço completamente. Sou pedra, grama e logo vento. Uma pinha obedece à gravidade e atinge o solo. Um galho seco sob o cotovelo me convoca à realidade. O silêncio é rompido. Pássaros gorjeiam como os de lá. Amazônia dos Tatras. A vida é caos e ordem e não sei o significado de progresso. Ao emergir do solo, sou tomado por tanta beleza que tudo o mais se perde. Levanto e caminho em direção à estrada. Pouco tempo depois cruzo a pé o rio Bialka até Polônia, que deixarei em três dias para voltar à tumultuada Bélgica. O valor de um homem é confirmado por sua trajetória. Construo a minha, ambições sob estreita vigilância. Sou um.

sexta-feira, 1 de abril de 2016

O insight

Homens de bem e herois do Brasil

Zakopane - Preciso de férias, mas o Brasil não permite. Meu país e sua corja de assassinos, covardes, estupradores e ladrões é também a nação de teleguiados que imagina ter atingido novo insight. Povo que idolatra televampiros, pastores, soldados e jogadores. Povo que maltrata intelectuais, artistas e professores. Somos o terceiro país mais ignorante do mundo apenas por enquanto. Ainda seremos  primeiro. Porque somos marionetes de entidades sinistras, corporações acima da lei, sofismas e patos amarelos. Ontem sans-culotte, hoje sans-savantE se há algo pior que o cheiro de 1963 é a sensação de anomia.

quinta-feira, 31 de março de 2016

A vida em alerta laranja

Varsóvia - As coisas estavam calmas pela manhã. Bandeiras da Bélgica, poucas, pendiam das sacadas. A Grand Place esvaziada devido aos últimos acontecimentos. Os mesmos mendigos de anos atrás, nos mesmos lugares. Turistas visitavam o Atomium. Uma feira multiétnica coloria as ruas próximas da estação Carmelite. Garotos exibiam a nova moda do Cabelo Boi Lambeu.

Um pouco desbotada, a lateral do edifício com o Tintin gay gigante guardava a área GLS. Soldados patrulhavam as estações de metrô, prédios públicos e outros pontos nevrálgicos da capital belga. Gentis, posavam para fotos.

Por volta das 13 horas, as sirenes começaram. Inicialmente, poucas e raras. Depois se multiplicavam, se sobrepunham, soavam em uníssono. Carros da polícia e de forças especiais percorriam velozmente a Boulevard, principal avenida do centro. Sim, havia algo de errado. Instalado num hotel a 1,5 quilômetro da estação Malbeek, evitei o local porque dentro de cinco horas deveria estar de cinto afivelado na fileira 32 do voo da Ryanair para Varsóvia.

O voo sairia do Aeroporto Charleroi, que fica a 42 quilômetros de Bruxelas e passou a receber todo o serviço destinado ao bombardeado Zaventen. A corrida para deixar a Bélgica começaria às 14 horas na Garre du Nord, onde os trens nunca atrasam a não ser quando se está em Alerta Laranja. Informes em francês e holandês diziam que havia um atraso programado de 15 minutos para o IC12, que leva direto ao aeroporto. Por motivos óbvios: segurança, vigilância, revistas. Mas havia algo mais.

De 15h17, o trem mudou para 15h32. Depois 15h38, 15h42, 15h44, 15h48, 15h52 e finalmente chega, às 16h02, mas na IC11, o que provoca uma corrida de passageiros por escadas para o outro lado da linha. Embarcamos ao mesmo tempo em que um alerta de bomba no Charleroi é confirmado.
O trem fica imóvel por 3 minutos e sai lentamente. Um aviso (desta vez também em inglês) desanimador sai dos alto falantes: o trem até o aeroporto foi cancelado. As alternativas para não perder voos e reservas em hoteis para centenas de pessoas eram táxis a 120 euros (mais de R$ 500), ônibus lentos a 17 euros ou a melhor descoberta do dia: lotações a 15 euros. Me uno a uma italiana e um coreano com o mesmo problema. Fretamos um lotação junto com dois portugueses e um escocês e corremos em direção ao Charleroi.

O tempo voa. São 17h20. A primeira entrada do aeroporto foi fechada, o que nos obriga a dar uma grande volta. Muitos soldados na entrada. Revistas. Exatamente 45 minutos antes do aviaão decolar faço o check-in e pago uma estranha multa de 45 euros  por "mudança de voo". Sinto que fui enganado. Mas a viagem para a Polônia estava garantida. Sento no fundo da aeronave que deixa um país abalado para seguir rumo aos Cárpatos.
Faro - A Casa Grande sofre com as mudanças sociais, aceitemos o fato. E parte da Senzala, solidária, late em sua defesa. É emocionante ver a patinha levantada, o deitar e rolar obediente, na esperança de que sinhozinho lhe afague a cabeça. Porque as transformações sociais dos últimos anos serviram até para isso: deu dinamismo aos dormentes; o direito de rosnar por uma classe/espécie a qual não pertencem. O fenômeno do escravo contente não é novo, mas a Sociologia agradece. Eis porque prefiro gatos a cães.

quarta-feira, 30 de março de 2016

Bruxelas - Uma semana depois dos atentados, a vida segue normal na capital da União Europeia.
Pessoas circulam, normais.
A temperatura é normal.
Trens e metrôs pontualmente normais.
Bruxelas é a mesma da semana passada a não ser um pequeno acréscimo no policiamento. É provável que o ataque tenha sido mais direcionado à capital da União Europeia que à capital da Bélgica.
A estação Maalbeek fica a poucos metros da sede do governo. Entretanto o recado ainda é confuso. O que querem provar os fanáticos religiosos da Europa?
O que querem provar os fanáticos religiosos do Brasil? 








terça-feira, 29 de março de 2016

Amsterdam - O Experimento Brasil, realizado com sucesso há 50 anos pelas Organizações Globo, ensina como criar artificialmente a identidade nacional via futebol, jornalismo e telenovelas. Nesse experimento nazistóide-orwelliano, a nação teleguiada aprende a odiar os vilões de telenovela  como aprende a odiar as personae non gratae do telejornalismo. O desconhecimento programado da linha que separa realidade e ficção leva o brasileiro neopolitizado a amar o Grande Irmão, ainda que não entenda seu significado.

terça-feira, 22 de março de 2016

Boa Vista - Vinte e oito mortos e 106 feridos em explosões no aeroporto e no metrô de Bruxelas. Milhares de imigrantes do oriente médio, europeus do leste, sírios e turcos encontram trabalho e vida digna neste belo e receptivo país. O terrorismo é mais inveja que ódio.

terça-feira, 15 de março de 2016

Boa Vista - Meu livro "Índio na Rede: Ciberativismo e Amazônia" será lançado oficialmente em 19 de abril (Dia do Índio), na Alemanha. A primeira leitura ocorre daqui a pouco na sala 140 do Bloco I (CCLA) da UFRR. No Colóquio "Ciberativismo e Amazônia", teremos a participação de profissionais de diversas áreas do conhecimento. Debateremos ambiente, povos originários e tecnopolítica.

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2016

Wouldn't it be nice


Cinebiografias de músicos são facas de dois gumes, como provam Bird e Dois Filhos de Francisco. No ano passado, Jimi Hendrix e Brian Wilson tiveram suas vidas transplantadas para o cinema.

O primeiro (All is by my side) vale pela interpretação de André Benjamin, também conhecido como André 2000 do Outkast (Hey Yaaaaa!). Mas tem direção irregular, silêncios deslocados e desfocagens sem sentido, talvez na tentativa de recriar uma atmosfera lisérgica.

Já o filme sobre Brian Wilson acerta no alvo. Love & Mercy recria casas, ambientes e shows com acuidade. Mostra a doença mental do talentoso músico sem clichês e com detalhes audiovisuais críveis. John Cusack está bem, mas a interpretação de Paul Dano é fina, brilhante Filme digno do compositor de algumas das mais belas melodias já criadas.

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2016

Polaris

Não é rotular, nem ideologizar. A oposição socialismo x capitalismo tem erro de natureza do julgamento. Não se trata de moeda, mas de outros valores que uma certa leitura/agenda liberal não encontra tempo (tempo é dinheiro) para refletir. O conceito de América Latina é mais complexo que uma nota do Radar:  não dá conta de que transformações culturais são mais importantes que crescimento econômico. O ser humano não precisa de dinheiro, precisa de Tecnologia. Inclusive na política. É bom que os dois lados, esquerda e direita, se acostumem à tecnopolítica. É o que farão no momento em que socializarem as ideias, o conhecimento, a lógica. Isso está além de sustentar um mercado fictício que não tem outro destino além da quebra. A sociedade é, naturalmente, socialista. Sem entrar no mérito político ou econômico. É um relacionamento, uma forma de convivência natural que surgiu do convívio. O capital é artificial e, pior ainda, fictício.

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2016

O cavalo mais bonito do mundo



Curioso com a imagem, busco informações sobre o cavalo mais bonito do mundo de 2013 e descubro uma história de glória e tristeza. Ele pertence a Kurbanguly Berdimuhamedow, presidente do Turcomenistão, e é um dos pouco mais de 3,5 mil cavalos Akhal Teke vivos: a raça está em risco de extinção. Criadores ao redor do mundo reproduzem-no para salvar a espécie. Kurbanguly Berdymukhamedow é dentista, doutor em Ciências Médicas, foi ministro da Saúde e coleciona cavalos. Eleito presidente em 2006, foi reeleito em 2012 com 97 por cento dos votos. Se isso parece pouco democrático, convém lembrar que o antecessor, Saparmurat Niyazov, passou 20 anos no poder e chegou a mudar os nomes dos dias da semana e dos meses do ano para homenagear poetas, militares e a própria mãe. Mudou o Juramento de Hipócrates para um juramento a si mesmo. Cancelou 10 mil aposentadorias durante crise econômica. Concursos de música e dança eram promovidos em sua homenagem cada vez que visitava as aldeias do interior do país. Proibiu ópera, balé e circo. Desviou 3 bilhões de dólares para contas no exterior e morreu no poder, mas sua cara ainda estampa cédulas de Manat, a moeda local.

O presidente atual desfez a maioria das excentricidades do ditador e goza de prestígio popular. Apesar de reduzir o culto à personalidade, ainda mantém características pouco ocidentais no trato democrático.

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2016

Deus

O homem
cada vez mais
des-homem
lobisomem
maquinomem
oferece holocaustos

ao deus dinheiro
pede como FaUSTo 

fim da McFome
diante do clamor
o deus dinheiro 

fica sensível
e cada vez mais invisível
some

terça-feira, 26 de janeiro de 2016

Escola brasileira pública de qualidade? Sim, isso existe.

Venezuela, Guiana, Estônia, Barbados, Cazaquistão, Mongólia e outros 60 países estão à frente do Brasil em índices educacionais. Dois terços de nossos alunos de 5º ano não diferenciam formas geométricas básicas como círculos, triângulos e retângulos e 70 por cento dos estudantes no 3º ano do ensino médio não identifica a informação principal em uma notícia curta.
ENTRETANTO, quatro escolas públicas no interior do Ceará, Rio de Janeiro e São Paulo atingem índices de excelência superiores aos de Suíça e Canadá. Como conseguiram? Veja aqui.

terça-feira, 12 de janeiro de 2016

Da ostentação



A perda de memória causa efeitos dolorosos, o que é estranho num brasileiro: povo que se lixa para tradições e memória histórica e só costuma lembrar do último Carnaval, quando lembra. A mídia não contribui com isso. Apenas comanda. Reedifica o Grande Irmão em programas feitos para se pensar que o que acontece ali é realidade. E vomita uma quantidade de "informação" calculada para o efeito amnésico. Aos domingos, a profusão de cores berrantes e os dois ou três estilos musicais determinam a "diversidade". Algaravia, mistureba de lixo pós-moderno, reciclado, tornado lavagem e empurrado goela abaixo de telespectadores gansos, logo transformados em foie-gras.

Recentemente, perdi dois HDs com cerca de 20 mil fotografias. A soma de backups em DVDs e na nuvem salvou cerca de 10 mil imagens. Programas de recuperação de dados escavaram mais 5 mil. Desapareceram definitivamente cerca de 5 mil fotos. A maioria dispensável, mas há pelo menos 500 perdas significativas, registros que jamais voltarão. Como há 10 anos em Minas Gerais, quando roubaram meu notebook repleto de imagens de família. Efeitos da vida digital que me tornaram mais cuidadoso e a fazer backups perenes. Mas os arquivos ficam maiores a cada ano e exigem HDs e dispositivos externos que quebram com frequência capitalista.

Só há duas memórias-arquivo: uma no cérebro, outra em dispositivos físicos e eletrônicos. Para a primeira, decoro sequências numéricas, letras de músicas e brinco com idiomas na Netflix. O segtredo de Jeremias Nascimento, por exemplo, é ouvir músicas do século 20. Os dispositivos eletrônicos entopem seu cérebro com informação desnecessária, mas podem ser úteis. Precisamos das duas memórias, mas como garantir a sobrevivência dos arquivos?

É aí que entra a Schirley e o Projeto Ostentação: estávamos na casa dela a falar sobre nossas viagens - sabiam que ela morou em Aruba? Num certo momento, Schirley diz com seu sotaque gaúcho jamais lapidado: "Mas Averyyyyy, você faz tantas viagens interessantes, por que não publica no Facebook?". "Schirley, isso é turismo-ostentação. Sou mochileiro e mochileiros detestam ser confundidos com turistas". Semanas depois dessa conversa, dou total razão à minha amiga.

Os programas de recuperação de dados (usei o Wondershare) não são perfeitos, mas ajudam muito. Depois de algumas horas, fotos apagadas há tempos, por acidente ou vontade própria, saltam na tela e oferecem novo significado à vida e à memória de longo prazo. Imagens que ficaram apenas na retina pulam na sua tela e trazem um mundo novo dentro de um velho mundo. Lembranças que serão usadas por algum tempo e depois, de mortos, vaporizadas na grande nuvem.

De agora em diante, usarei mais o blog e o Facebook para "upar" fotos e evitar novas perdas. Portanto, Timeline, preparai-vos para o Projeto Ostentação.

Post Scriptum: Sobre os programas de domingo, ainda me pergunto se o sujeito de chapeu-coco e óculos sem lentes veio de uma festa com Spike Lee e Russel Westbrook ou se ele não tem ideia de onde veio seu "personal style".

Guerra fria